Intraempreendedorismo

A vida (real) de trabalhar em startups

Com média de 1 unicórnio para quase 900 startups, a vida empreendedora exige resiliência e desapego. E algo mais
Alexandre Waclawovsky, o Wacla, é um hacker sistêmico, especialista em solucionar problemas complexos, através de soluções criativas e não óbvias. Com 25 anos de experiência como intraempreendor em empresas multinacionais de bens de consumo, serviços e entretenimento, ocupou posições de liderança em marketing, vendas, mídia e inovação no Brasil e América Latina. Wacla é pioneiro na prática da modalidade Talento sob Demanda no Brasil, atuando como CMO, CRO e Partner as a Service em startups e empresas de médio porte, desde 2019. Atua também como professor convidado em instituições renomadas, como a Fundação Dom Cabral, FIAP e Miami Ad School, além de autor de dois livros: "Guide for Network Planning" e "invente o seu lado i – a arte de

Compartilhar:

Você sabia que o Brasil se encontra entre os dez países com o maior número de startups avaliadas acima de US$1 bilhão, com 16 unicórnios surgidos em meio a 13.465 startups registradas em todo o país, de acordo com a Startup Base?

Isso significa que, em média, temos um unicórnio para cada 841 startups.

Acredito que apresentar essa correlação é importante, principalmente nestes tempos em que, cada vez mais se dissemina uma visão romantizada sobre o que significa trabalhar em uma startup. Capas de revista celebram grandes empreendedores, liquidez de investimento para novos modelos de negócios, novos fundos, vendas e fusões milionárias, porém mostram apenas uma pequena, ou melhor, minúscula parte desse ecossistema e escondem a dinâmica real – e dura – de se trabalhar em uma startup.

Uma empresa que ultrapassou o faturamento de U$ 1 bilhão e tornou-se um unicórnio tem, na minha opinião, desafios diferentes e mais próximos aos das empresas grandes e já estabelecidas no mercado, do que se comparada a uma startup. No lugar de olhar para os 0,1% que já estão na capa das revistas, quero tratar da dinâmica das outras 99,9% das startups.

Em 2019, fiz a opção, na época talvez por falta de uma melhor, de mergulhar e explorar o ecossistema de startups pequenas, com equipes de no máximo 25 pessoas e faturamento anual na casa dos R$ 2,5 milhões.

Confesso que foi um choque grande de cultura e operação, além de uma reflexão sobre o que havia aprendido e praticado nos 25 anos anteriores da minha carreira.

Em uma analogia rápida, sinto como se tivesse desembarcado de um grande transatlântico que navegava em velocidade controlada e de cruzeiro e tinha abundância de recursos e possibilidades, direto em um jet-ski, sem recursos, solto e em mar aberto.

Pode até parecer libertador, mas – acredite – trocar o conforto da abundância pelo desconforto da escassez é um grande aprendizado e exigiu muita resiliência e desapego.

## Runaway

Nesses últimos três anos, tenho vivido na pele esse “empreendedorismo raiz”, trabalhando em startups em busca de seu modelo de crescimento ideal/exponencial e equilíbrio financeiro.

No mundo de startups existe um termo, o “runaway”, que indica quantos meses de caixa o negócio tem para operar por conta própria. Enquanto nas multinacionais a preocupação é com o lucro do acionista no final do ano, no ecossistema de startups, a dor é com a sobrevivência do negócio. E não é incomum um runaway de dois a seis meses. Ou seja, se não for encontrada uma solução de equilíbrio financeiro, o negócio morre.

E é desse lugar de experiências reais e práticas que gostaria de compartilhar dois aprendizados importantes, que não se enquadram naquele empreendedorismo romântico, mas no mundo real das pequenas startups.

## 1. Abrace o desconforto!

Trabalhar em uma startup pequena é viver em desconforto constante. Vivi isso liderando ou atuando em posições diversas nas áreas de operações, recursos humanos, customer success, vendas e atendimento.

É muito comum o profissional viver uma rotina em startups que dificilmente aconteceria em uma empresa mais consolidada. A cada dia, um desafio ou uma surpresa. Por isso, a habilidade de aprender rápido e se virar é muito mais valorizada do que ter total conhecimento em determinada área ou posição.

Enquanto em empresas consolidadas, grande parte do nosso tempo é usado em negociar e alinhar politicamente várias áreas e pessoas, em uma startup o tempo é investido em tarefas e execução.

Confesso que, quando migrei para as startups, não me sentia preparado para atuar nesse perfil de tarefas. Foi desconfortável por um tempo, mas hoje percebo que minha compreensão sobre negócios aumentou justamente por ter experimentado vários ângulos e desafios reais.

Supreendentemente, minha falta de conhecimento específico muitas vezes acabou sendo até favorável e não limitadora, como seria de se esperar. Sem os vieses, eu conseguia enxergar os acontecimentos sob outra ótica e conseguia melhorar processos e fluxos. Fui desenvolvendo uma capacidade horizontal de entender e conseguir gravitar e atuar em várias conversas, decisões e desafios.

Hoje vejo com clareza que nossa educação nos forçou (e ainda força), desde cedo, a fazer escolhas limitadas – e limitantes – ao ingressar no mercado profissional que, ao longo de nossa carreira, nos “carimbam” e nos restringem a um olhar vertical: ou sou de marketing ou do jurídico ou do comercial ou de operações ou de recursos humanos e por aí vai.

Refletindo sobre essa vivência, noto como me autossabotei e fui sabotado pelas inúmeras avaliações anuais de desempenho que apontavam minhas deficiências e propunham planos de melhoria para aquilo que eu não era talentoso no lugar de exaltar minhas fortalezas e oportunidades de aprendizado e crescimento.

## 2. Acostume-se com o caos e as incertezas

Deixar um mundo recheado de processos e políticas para integrar um negócio em formação no qual a governança ainda não está implementada pode até soar libertador, mas, acredite, é também assustador.

Acostumado às descrições de cargos, fluxos entre áreas, processos e políticas, aprendi a abandonar todas essas amarras ao longo do tempo.

Em uma startup, não existem descrições de cargos ou funções, simplesmente porque são artefatos que funcionam para o mundo externo e não para o interno. Você está a serviço do crescimento e da organização do negócio, logo não vai guardar uma posição, mas atuar em várias.

Políticas e processos estarão em formação o tempo todo. Assim, a capacidade de viver e operar no caos e no meio de muita incerteza é essencial. Existirão mais perguntas que respostas, e tudo bem. Conviver com a falha passa a fazer parte do dia a dia, afinal estamos imersos no processo de construção de algo novo, onde não existem guias.

Tentar e falhar, corrigir e prosseguir são parte da jornada e todos aceitam essa regra do jogo.

E agora, você pode estar com a seguinte pergunta em mente: afinal, trabalhar em uma startup é para todos? Quando me perguntam isso, costumo sugerir as seguintes reflexões:

– Você está preparado para operar na incerteza e no desconforto de um negócio instável?
– Você consegue se imaginar em uma empresa onde seu cargo não diz nada e sua rotina é incerta, podendo gravitar entre lidar com um tema muito estratégico, como conversar com um investidor e, no momento seguinte, ter que cuidar de um assunto totalmente operacional, como fazer e aprovar um adesivo?
– Você está preparado ou preparada para o desapego e o desconforto?

*Gostou do artigo de Alexandre Waclawovsky? Confira conteúdos semelhantes [assinando nossas newsletters](https://www.revistahsm.com.br/newsletter) e escutando [nossos podcasts](https://www.revistahsm.com.br/podcasts) em sua plataforma de streaming favorita.*

Compartilhar:

Alexandre Waclawovsky, o Wacla, é um hacker sistêmico, especialista em solucionar problemas complexos, através de soluções criativas e não óbvias. Com 25 anos de experiência como intraempreendor em empresas multinacionais de bens de consumo, serviços e entretenimento, ocupou posições de liderança em marketing, vendas, mídia e inovação no Brasil e América Latina. Wacla é pioneiro na prática da modalidade Talento sob Demanda no Brasil, atuando como CMO, CRO e Partner as a Service em startups e empresas de médio porte, desde 2019. Atua também como professor convidado em instituições renomadas, como a Fundação Dom Cabral, FIAP e Miami Ad School, além de autor de dois livros: "Guide for Network Planning" e "invente o seu lado i – a arte de

Artigos relacionados

Liderança
14 de novembro de 2025
Como dividir dúvidas, receios e decisões no topo?

Rubens Pimentel - CEO da Trajeto Desenvolvimento Empresarial

2 minutos min de leitura
Sustentabilidade
13 de novembro de 2025
O protagonismo feminino se consolidou no movimento com a Carta das Mulheres para a COP30

Luiza Helena Trajano e Fabiana Peroni

5 min de leitura
ESG, Liderança
13 de novembro de 2025
Saiba o que há em comum entre o desengajamento de 79% da força de trabalho e um evento como a COP30

Viviane Mansi - Conselheira de empresas, mentora e professora

3 minutos min de leitura
Inovação & estratégia
12 de novembro de 2025
Modernizar o prazo de validade com o conceito de “best before” é mais do que uma mudança técnica - é um avanço cultural que conecta o Brasil às práticas globais de consumo consciente, combate ao desperdício e construção de uma economia verde.

Lucas Infante - CEO da Food To Save

3 minutos min de leitura
Inovação & estratégia, ESG
11 de novembro de 2025
Com a COP30, o turismo sustentável se consolida como vetor estratégico para o Brasil, unindo tecnologia, impacto social e preservação ambiental em uma nova era de desenvolvimento consciente.

André Veneziani - Vice-Presidente Comercial Brasil & América Latina da C-MORE Sustainability

3 minutos min de leitura
Gestão de pessoas & arquitetura de trabalho
10 de novembro de 2025
A arquitetura de software deixou de ser apenas técnica: hoje, ela é peça-chave para transformar estratégia em inovação real, conectando visão de negócio à entrega de valor com consistência, escalabilidade e impacto.

Diego Souza - Principal Technical Manager no CESAR, Dayvison Chaves - Gerente do Ambiente de Arquitetura e Inovação e Diego Ivo - Gerente Executivo do Hub de Inovação, ambos do BNB

8 minutos min de leitura
Bem-estar & saúde
7 de novembro de 2025
Investir em bem-estar é estratégico - e mensurável. Com dados, indicadores e integração aos OKRs, empresas transformam cuidado com corpo e mente em performance, retenção e vantagem competitiva.

Luciana Carvalho - CHRO da Blip, e Ricardo Guerra - líder do Wellhub no Brasil

4 minutos min de leitura
Cultura organizacional, Gestão de pessoas & arquitetura de trabalho
6 de novembro de 2025
Incluir é mais do que contratar - é construir trajetórias. Sem estratégia, dados e cultura de cuidado, a inclusão de pessoas com deficiência segue sendo apenas discurso.

Carolina Ignarra - CEO da Talento Incluir

5 minutos min de leitura
Liderança
5 de novembro de 2025
Em um mundo sem mapas claros, o profissional do século 21 não precisa ter todas as respostas - mas sim coragem para sustentar as perguntas certas. Neste artigo, exploramos o surgimento do homo confusus, o novo ser humano do trabalho, e como habilidades como liderança, negociação e comunicação intercultural se tornam condições de sobrevivência em tempos de ambiguidade, sobrecarga informacional e transformações profundas nas relações profissionais.

Angelina Bejgrowicz - Fundadora e CEO da AB – Global Connections

12 minutos min de leitura
Bem-estar & saúde
4 de novembro de 2025
Na era da hiperconexão, encerrar o expediente virou um ato estratégico - porque produtividade sustentável exige pausas, limites e líderes que valorizam o tempo como ativo de saúde mental.

Tatiana Pimenta - Fundadora e CEO da Vittude

3 minutos min de leitura

Baixe agora mesmo a nossa nova edição!

Dossiê #169

TECNOLOGIAS MADE IN BRASIL

Não perdemos todos os bondes; saiba onde, como e por que temos grandes oportunidades de sucesso (se soubermos gerenciar)

Baixe agora mesmo a nossa nova edição!

Dossiê #169

TECNOLOGIAS MADE IN BRASIL

Não perdemos todos os bondes; saiba onde, como e por que temos grandes oportunidades de sucesso (se soubermos gerenciar)