Uncategorized

A voz no Brasil

Pesquisa realizada pela empresa de ciência de dados Ilumeo Brasil revela que o uso de assistentes de voz é cada vez mais presente na nossa realidade – o que não surpreende, diante da intimidade dos brasileiros com esse tipo de tecnologia
Felipe Senise é partner e head of strategy na Ilumeo Data Science Company.

Compartilhar:

Se você já usou o comando de voz do seu celular para fazer alguma pesquisa rápida, você não está sozinho. Segundo pesquisa recente realizada pela Ilumeo, os brasileiros têm utilizado cada vez mais assistentes de voz em suas rotinas. Cerca de 87% das pessoas declaram já ter usado e 48% o fazem semanalmente. Embora 42% dos respondentes tenham começado a usar a função por curiosidade, o uso hoje já é mais funcional, seja para tirar dúvidas, seja para criar lembretes, gravar listas, tocar música e muito mais.

Se de um lado o nível de adoção surpreende, de outro é até previsível, diante do modo como o brasileiro se relaciona com tecnologias que usam voz como interface. Nos anos 2000, o Brasil era um dos mercados mais importantes do mundo para a Nextel, que usava tecnologia à base de ondas de rádio e transformava o aparelho celular em uma espécie de walkie talkie moderno. Muitas classes profissionais praticamente só usavam Nextel. Em seguida, com a incorporação das mensagens de voz no WhatsApp, a função se tornou a queridinha dos brasileiros. Hoje vivemos mandando áudios para lá e para cá. Diante desse histórico, fica mais fácil entender como os assistentes de voz têm tudo para decolar por aqui.

## Intimidade histórica
Voltando um pouco no tempo, para 2013, ano seguinte ao lançamento do iPhone 4S, por onde a Siri deu as caras pela primeira vez, um estudo da Intelligent Voice realizado com 2 mil estadunidenses apontou que 46% dos entrevistados achavam que a Apple havia superestimado as capacidades da IA. Hoje, em 2020, é notável a tremenda evolução que a funcionalidade teve, assim como o mercado de voz.

Arriscando um palpite, o uso da voz tem bastante chance de se tornar uma interface dominante no meio tecnológico. No passado, essa interface era o teclado. Era muito estranho para alguém usar um mouse para abrir um software na tela. Hoje em dia, é completamente normal. A ponto de começar a ficar ultrapassado, pensando que o touchscreen já reina absoluto em celulares e tablets, e começa a avançar para laptops, monitores e quase todo tipo de gadget.

Passar a usar a voz para comandar nossos aparelhos é um próximo passo quase natural, e as pessoas já estão incorporando isso em suas rotinas – a começar pelos mais jovens. Os dados da pesquisa revelam que 35% dos usuários de comando de voz têm entre 18 e 24 anos de idade. Os consumidores entre 25 e 29 aparecem em segunda posição, com 28%, seguidos daqueles na faixa etária de 30 a 39 anos, com 26%. A adoção da nova tecnologia é tão notável que 60% dos brasileiros afirmam ter um conhecimento abrangente sobre ela.

## Muito a evoluir
Porém, essa é uma tecnologia que ainda está distante de mostrar o seu verdadeiro potencial, tanto técnico quanto cultural. Do ponto de vista da própria funcionalidade, ainda falta bastante precisão e naturalidade para lidar com os assistentes. Culturalmente, apesar de 78% declararem que já viram outras pessoas usando, o brasileiro ainda não consegue observar a presença massiva desse tipo de tecnologia nas suas referências de mundo. Em filmes de ficção científica é comum, mas ainda não ligamos a televisão e deparamos com personagens da novela usando assistentes de voz naturalmente, como parte do seu dia a dia.

Além disso, será muito importante que as pessoas percebam cada vez mais como essa tecnologia pode ser útil no dia a dia delas. Imagine que você está cozinhando ou ao volante de seu carro voltando para casa e precisa checar alguma informação ou responder uma mensagem importante. Em ambos os casos seria necessário pausar a atividade que está sendo exercida, mas, com o assistente de voz, a possibilidade de ser multitarefas de forma segura se torna real. Hoje, 87% das pessoas declaram usar assistentes de voz para buscar alguma informação na internet, 82% para tirar uma dúvida e 67% para tocar músicas e verificar a previsão do tempo. E 55% daqueles que responderam à pesquisa fazem parte dessa demanda de usuários que desejam realizar múltiplas ações ao mesmo tempo de forma simples e rápida.
Conforme a tecnologia se desenvolve, essa demanda tende apenas a aumentar. Hoje, metade dos brasileiros desejam usar a função cada vez mais. Cerca de 24% deles afirmam que, caso seja possível, gostariam de utilizar a tecnologia em todos os gadgets disponíveis, enquanto 26% sentem o desejo de usá-la em mais aparelhos eletrônicos do que atualmente.

## Oportunidades pela frente
A influência de tal demanda também chega ao mercado, obviamente, criando oportunidades para serem exploradas. Um dado muito interessante é que 70% dos respondentes da pesquisa veem com melhores olhos as marcas que oferecem assistente de voz, e 52% dos usuários estão dispostos a pagar um pouco mais pela presença da funcionalidade.

Do ponto de vista das empresas, além de oferecer uma boa interface de atendimento, os assistentes de voz também são uma valiosa fonte de captura de dados comportamentais. Varejistas como a Amazon utilizam essas informações para moldar experiências de compra customizadas, adequando a oferta àquilo que faz mais sentido para o cliente.

Levando em conta todo esse contexto e que a tecnologia continuará a ser aprimorada com a crescente sofisticação das técnicas de machine learning e inteligência artificial, veremos cada vez mais os assistentes de voz presentes na vida cotidiana da população e, possivelmente, ditando novas tendências para diferentes mercados e novas tecnologias.

Compartilhar:

Artigos relacionados

Amy Webb SXSW 2025

O que são sistemas multiagentes, biologia generativa e o inteligência viva, destacados por Amy Webb no SXSW 2025

A palestra de Amy Webb foi um chamado à ação. As tecnologias que moldarão o futuro – sistemas multiagentes, biologia generativa e inteligência viva – estão avançando rapidamente, e precisamos estar atentos para garantir que sejam usadas de forma ética e sustentável. Como Webb destacou, o futuro não é algo que simplesmente acontece; é algo que construímos coletivamente.

Liderança
As tendências de liderança para 2025 exigem adaptação, inovação e um olhar humano. Em um cenário de transformação acelerada, líderes precisam equilibrar tecnologia e pessoas, promovendo colaboração, inclusão e resiliência para construir o futuro.

Maria Augusta Orofino

4 min de leitura
Finanças
Programas como Finep, Embrapii e a Plataforma Inovação para a Indústria demonstram como a captação de recursos não apenas viabiliza projetos, mas também estimula a colaboração interinstitucional, reduz riscos e fortalece o ecossistema de inovação. Esse modelo de cocriação, aliado ao suporte financeiro, acelera a transformação de ideias em soluções aplicáveis, promovendo um mercado mais dinâmico e competitivo.

Eline Casasola

4 min de leitura
Empreendedorismo
No mundo corporativo, insistir em abordagens tradicionais pode ser como buscar manualmente uma agulha no palheiro — ineficiente e lento. Mas e se, em vez de procurar, queimássemos o palheiro? Empresas como Slack e IBM mostraram que inovação exige romper com estruturas ultrapassadas e abraçar mudanças radicais.

Lilian Cruz

5 min de leitura
ESG
Conheça as 8 habilidades necessárias para que o profissional sênior esteja em consonância com o conceito de trabalhabilidade

Cris Sabbag

6 min de leitura
ESG
No mundo corporativo, onde a transparência é imperativa, a Washingmania expõe a desconexão entre discurso e prática. Ser autêntico não é mais uma opção, mas uma necessidade estratégica para líderes que desejam prosperar e construir confiança real.

Marcelo Murilo

8 min de leitura
Empreendedorismo
Em um mundo onde as empresas têm mais ferramentas do que nunca para inovar, por que parecem tão frágeis diante da mudança? A resposta pode estar na desconexão entre estratégia, gestão, cultura e inovação — um erro que custa bilhões e mina a capacidade crítica das organizações

Átila Persici

0 min de leitura
Tecnologias exponenciais
A ascensão da DeepSeek desafia a supremacia dos modelos ocidentais de inteligência artificial, mas seu avanço não representa um triunfo da democratização tecnológica. Embora promova acessibilidade, a IA chinesa segue alinhada aos interesses estratégicos do governo de Pequim, ampliando o debate sobre viés e controle da informação. No cenário global, a disputa entre gigantes como OpenAI, Google e agora a DeepSeek não se trata de ética ou inclusão, mas sim de hegemonia tecnológica. Sem uma governança global eficaz, a IA continuará sendo um instrumento de poder nas mãos de poucos.

Carine Roos

5 min de leitura
Tecnologias exponenciais
A revolução da Inteligência Artificial está remodelando o mercado de trabalho, impulsionando a necessidade de upskilling e reskilling como estratégias essenciais para a competitividade profissional. Empresas como a SAP já investem pesadamente na requalificação de talentos, enquanto pesquisas indicam que a maioria dos trabalhadores enxerga a IA como uma aliada, não uma ameaça.

Daniel Campos Neto

6 min de leitura
Marketing
Empresas que compreendem essa transformação colhem benefícios significativos, pois os consumidores valorizam tanto a experiência quanto os produtos e serviços oferecidos. A Inteligência Artificial (IA) e a automação desempenham um papel fundamental nesse processo, permitindo a resolução ágil de demandas repetitivas por meio de chatbots e assistentes virtuais, enquanto profissionais se concentram em interações mais complexas e empáticas.

Gustavo Nascimento

4 min de leitura
Empreendedorismo
Pela primeira vez, o LinkedIn ultrapassa o Google e já é o segundo principal canal das empresas brasileiras. E o seu negócio, está pronto para essa nova era da comunicação?

Bruna Lopes de Barros

5 min de leitura