ESG, Gestão de pessoas

Admirável mundo novo: o cuidado com ambientes estéreis produzidos por ilusões

Felicidade é um ponto crucial no trabalho para garantir engajamento, mas deve ser produzida em conjunto e de maneira correta. Do contrário, estaremos apenas nos iludindo em palavras gentis.
Rubens Pimentel é CEO da Trajeto Desenvolvimento Empresarial e já treinou mais de 32 mil executivos e profissionais.

Compartilhar:

Em 1931 Aldous Huxley escrevia uma fábula científica que antecipou uma sociedade onde a felicidade era garantida através do Soma, uma droga que mantinha todos contentes, independentemente das circunstâncias.

Corta para 2024.

Vemos uma evolução no ambiente empresarial: passamos de hierarquias baseadas no poder para estruturas hierárquicas centradas em responsabilidades. Esta mudança pragmática visa eficiência e realização profissional, essencial para um ambiente de trabalho feliz.

Contudo, tenho notado uma tendência preocupante entre clientes e alunos: uma busca exagerada por felicidade total no trabalho. Isso tem transformado líderes em figuras ambíguas e mal preparadas para organizar e gerenciar efetivamente o trabalho da equipe. Parece que a pressão das redes sociais se infiltrou no ambiente corporativo, colocando sobre os líderes a responsabilidade de manter uma equipe sempre feliz, em um ambiente que, paradoxalmente, se torna estéril.

Um ambiente estéril é aquele onde não há confronto de ideias, debate honesto, conflitos construtivos e conversas difíceis. Sem esses elementos, a criatividade, inovação, produtividade e realização profissional são comprometidas. A ausência de feedbacks construtivos, cobranças adequadas e até mesmo correções contribui para um clima artificial e contraproducente.

Por isso, temos visto um aumento na demanda por treinamentos, coaching e aulas que ensinem habilidades como a capacidade de dizer não, conduzir conversas difíceis e, quando necessário, enfrentar demissões de maneira responsável, sem comprometer o bem-estar geral da equipe.

Sem preparo adequado e improvisação, corremos o risco de desperdiçar tempo e tensionar os relacionamentos dentro da equipe. Liderança verdadeira significa criar um ambiente profissional e meritocrático, onde todos têm oportunidade de se desenvolver plenamente. Acredito que isso é suficiente para promover não apenas a felicidade no trabalho, mas também nas esferas familiar, social, pessoal e íntima.

Portanto, meu manifesto é claro: devemos mudar o foco para organizar melhor o fluxo de trabalho, investir no desenvolvimento pessoal e garantir segurança psicológica, seja no ambiente físico ou virtual. A felicidade genuína surgirá naturalmente, e uma liderança competente será reconhecida e aplaudida por isso.

Huxley previu nosso desejo pelo Soma. A droga não existe e, portanto, a busca por uma felicidade fácil e instantânea não é realista. O verdadeiro caminho hoje é o aprendizado contínuo em gestão, liderança e estratégia.

Pense nisso com carinho!

Compartilhar:

Rubens Pimentel é CEO da Trajeto Desenvolvimento Empresarial e já treinou mais de 32 mil executivos e profissionais.

Artigos relacionados

Passa conhecimento

Incluir intencionalmente ou excluir consequentemente?

A estreia da coluna “Papo Diverso”, este espaço que a Talento Incluir terá a partir de hoje na HSM Management, começa com um texto de sua CEO, Carolina Ignarra, neste dia 3/12, em que se trata do “Dia da Pessoa com Deficiência”, um marco necessário para continuarmos o enfrentamento das barreiras do capacitismo, que ainda existe cotidianamente em nossa sociedade.

Inteligência Artificial
Marcelo Murilo
Com a saturação de dados na internet e o risco de treinar IAs com informações recicladas, o verdadeiro potencial da inteligência artificial está nos dados internos das empresas. Ao explorar seus próprios registros, as organizações podem gerar insights exclusivos, otimizar operações e criar uma vantagem competitiva sólida.
13 min de leitura
Estratégia e Execução, Gestão de Pessoas
As pesquisas mostram que o capital humano deve ser priorizado para fomentar a criatividade e a inovação – mas por que ainda não incentivamos isso no dia a dia das empresas?
3 min de leitura
Transformação Digital
A complexidade nas organizações está aumentando cada vez mais e integrar diferentes sistemas se torna uma das principais dores para as grandes empresas.

Paulo Veloso

0 min de leitura
ESG, Liderança
Tati Carrelli
3 min de leitura
Gestão de Pessoas, Liderança, Times e Cultura
Como o ferramental dessa ciência se bem aplicado e conectado em momentos decisivos de projetos transforma o resultado de jornadas do consumidor e clientes, passando por lançamento de produtos ou até de calibragem de público-alvo.

Carol Zatorre

0 min de leitura
Gestão de Pessoas, Estratégia e Execução, Liderança, Times e Cultura, Saúde Mental

Carine Roos

5 min de leitura