Os chineses antigos rogavam uma praga curiosa. Eles diziam: “Que vivas em tempos interessantes”. Hoje nós, sem dúvida, somos vítimas dessa maldição. É uma época exaustiva, de fato, mas fascinante por todas as escolhas que podemos fazer. Por exemplo, nas palavras do economista sueco Carl Benedikt Frey, “as próximas três décadas não vão ser iguais às três anteriores” – há algo mais interessante do que isso? Ele se refere à tecnologia se espalhando quase como um vírus. Outro aspecto instigante, como observa o pesquisador Daniel Susskind, da University of Oxford, é que nós nos acostumaremos fácil com “máquinas maravilhosamente simpáticas” e ficaremos menos tolerantes “com os seres humanos que não nos tratam tão bem”. As fronteiras entre o humano e o artificial vão se embaralhar e vão nos confundir.
Foi com esse cenário em mente que elegemos como capa desta edição o Dossiê sobre o futuro do trabalho, em uma abordagem muito concreta e pé no chão. Afinal, relativamente poucos executivos (47%) estão preocupados com o impacto da tecnologia na força de trabalho como deveriam estar. O que lhes tem tirado o sono (de 73%), como revelou uma pesquisa da Robert Half de 2017, é a dificuldade de obter profissionais qualificados para os cargos que precisam preencher de imediato. Só que as duas coisas estão relacionadas, e o ponto de intersecção é a mudança do trabalho, que interessa às empresas e aos profissionais individualmente.
Entendo que estejamos vivendo um episódio de ansiedade tecnológica, como já houve antes no mundo, na década de 1960, e confio em nossa capacidade, como humanidade, de superá-lo novamente, e de superar as dificuldades que surgirão no horizonte. Elas terão basicamente duas origens, como andou dizendo o futurista Peter Schwartz, ligado à Salesforce: ou a substituição de empregos humanos pelas máquinas será mais rápida do que a criação de novos empregos humanos, e aí muita gente ficará à deriva; ou a criação de novos empregos humanos será mais rápida do que a eliminação dos existentes, e não haverá pessoal suficientemente preparado para as funções.
Eu mesmo fui entrevistado sobre o assunto neste Dossiê, porque, aqui na HSM, dormimos e acordamos pensando na preparação das pessoas para protagonizar o futuro do trabalho e fazer das tecnologias suas aliadas. Pensando em termos microeconômicos, estou convencido de que as empresas que inserirem em sua cultura o aprendizado organizacional – com tolerância ao erro e tomadas de decisão descentralizadas, por exemplo – terão um importante diferencial competitivo, porque desenvolverão melhores soluções aos clientes. As pessoas que fizerem isso por conta própria também serão vencedoras. Daí vem meu otimismo.
Indo além da superfície, você notará que esta revista mostra casamentos quase perfeitos entre seres humanos e tecnologias. Da matéria sobre foodtechs à batalha de ideias entre datamakers e sensemakers, passando pelos textos que discutem powerpoint versus storytelling, a nova geração de games e o exemplo retratado em Assunto Pessoal, Jacson Fressatto. Mas, no fim do dia, as melhores empresas para trabalhar na América Latina, avaliadas pelo GPTW, continuam a ser as mais humanas. Sou do partido da humanidade.
Aproveito para saudar a chegada da nova editora-executiva de HSM Management, Gabrielle Teco, e a formação do nosso valioso conselho editorial, composto de craques – em ordem alfabética, Alexandre Pellaes, Ana Carolina Cury, Ana Fontes, Marcelo Nóbrega, Rubens Pimentel e Viviane Mansi. Sejam calorosamente bem-vindos e continuemos juntos a humanizar a gestão com inteligência!