Healing leadership

Ambiguidades na open talent Economy

Se o futuro é interdependente, a estratégia de gestão de talentos precisará de ajustes para sustentar organizações no longo prazo
Dario Neto é diretor geral do Instituto Capitalismo Consciente Brasil e CEO do Grupo Anga. Também é pai do Miguel e marido da Bruna. Marcel Fukayama é diretor geral do Sistema B Internacional e cofundador da consultoria em negócios de impacto Din4mo.

Compartilhar:

Mais de seis meses após o início da pandemia, é possível afirmar que a modernidade líquida de Bauman também afetou profunda e estruturalmente o mundo do trabalho. Uma nova dinâmica foi acelerada e tem exigido das lideranças uma importante e ágil adaptação de cultura organizacional, bem como capacidade de navegar nas ainda mais evidentes dualidades e ambiguidades nas múltiplas relações possíveis entre colaboradores e empresas.

Além disso, a Covid-19 transcende a crise sanitária e expõe fissuras estruturais no sistema. É crescente a consciência em torno da importância de uma ação coletiva para tratar a desigualdade e a crise climática, duas grandes assimetrias do capitalismo. Soma-se ainda, nos últimos 200 dias, o boom no mercado de capitais de investimentos em busca de impacto positivo nas dimensões ambiental, social e de governança (ASG).
Nesse contexto, como desenvolver uma estratégia de talentos com transições tão rápidas nas dinâmicas de mercado e dos negócios? Como investir em atração e retenção de talentos se as habilidades necessárias se alteram em ciclos cada vez mais curtos? E como lidar, por consequência, com a demanda de empregadores e profissionais por mais adaptabilidade e flexibilidade nas relações de trabalho, contrastando com padrões elevados exigidos pelos parâmetros ASG?

__Destacamos a seguir pontos relevantes para healing leaders navegarem com flexibilidade nas dualidades da open talent economy.__

## 1. Empreenda redes dinâmicas de talentos
A quarentena elevou o desemprego para cerca de 13 milhões de pessoas no Brasil e fez tantos outros milhões o temerem. Em contraponto, uma pesquisa da Robert Half evidenciou uma das muitas reflexões dos tempos de pandemia com interessantes 35% de profissionais que declararam repensar o equilíbrio entre vida e trabalho e buscar novas oportunidades que viabilizem essa harmonia. Na mesma pesquisa, 67% dos profissionais declararam perceber agora ser possível realizar o seu trabalho a distância. A aceleração da digitalização do trabalho, a busca por equilíbrio e qualidade de vida e a necessidade de mais autonomia e flexibilidade demandarão, como nunca, revisões profundas nas estratégias de talentos. Talvez substituir um funil por uma rede de pessoas talentosas seja a melhor maneira de trocar a dependência de alguns por interdependência de muitos.

## 2. Customize a abordagem
Lideranças provavelmente terão de conviver com colaboradores profundamente afetados pelas flexibilizações da lei trabalhista e dos direitos dos trabalhadores, enquanto sentirão a demanda por uma gestão de talentos em rede com essa visão muito mais líquida das relações profissionais. Aprender a adaptar a abordagem da estratégia de gestão dos talentos é fundamental para endereçar necessidades em transformação para dois “Brasis” – o do home office, que clama por mais flexibilidade e equilíbrio, e aquele que concretiza a economia real, com ou sem pandemia, e pede por mais estabilidade e proteção. Adicione a essa equação já complexa o fato de que ainda há muito oportunismo em tudo isso, onde o capitalismo consciente não chegou verdadeiramente para empregadores e empregados.

## 3. Promova rápida requalificação
Com tantas mudanças em pouco tempo, não há mais como procrastinar a busca por novos conhecimentos. Diante dos desafios apresentados, muitas lideranças estão sendo expostas ao aprendizado “on-the-job”, que possui uma dinâmica diferente da tradicional. Um dos relatórios do Fórum Econômico Mundial, “Covid-19 Risks Outlook”, mostrou que 49,3% dos analistas seniores apontam o desemprego estrutural como resultado da pandemia. Em outras palavras, muitos empregos deixaram de existir, o que impacta, principalmente, os mais jovens e aqueles que necessitam de requalificação. Como essa crise é sem precedentes, nunca atitudes como ressignificar o nosso papel na sociedade e “aprender a aprender” foram tão importantes. Portanto, investir em estratégias ágeis de requalificação das redes de talentos é fundamental para não ser surpreendido pelos ciclos encurtados de transição nas dinâmicas dos diferentes mercados.

## 4. Cultive habilidades socioemocionais
Do dia para a noite o mundo virou de cabeça para baixo e não há planejamento para a nova realidade. Profissionais demonstram alto nível de ansiedade e estresse, queda de produtividade e performance em meio à combinação de tarefas domésticas e profissionais. Os dias ficaram ainda mais curtos com a longa sequência de reuniões e a enxurrada de informações para absorver. Nesse contexto, as habilidades socioemocionais se apresentam como pré-requisito para a geração de resultados. A capacidade de lidar e acolher a angústia, a ansiedade, a incerteza, a ambiguidade e o desconhecido de toda a plural rede de talentos de uma organização marca a diferença de lideranças que curam por meio de altas doses de consciência e domínio emocional.

Se capitalismo de stakeholders se faz no longo prazo, as múltiplas e novas demandas dos mais distintos públicos de colaboradores das empresas mostram o quanto a adaptabilidade organizacional e de gestão é fundamental para se ter resiliência como produto dessa abordagem evolutiva na liderança e na gestão de talentos. Se o futuro é interdependente, em rede, líquido e orientado para todos os stakeholders, pautado por relações de amor, cuidado e presença, a gestão de talentos também precisa começar a ser para sustentar organizações no longo prazo.

Compartilhar:

Artigos relacionados

Mercado de RevOps desponta e se destaca com crescimento acima da média 

O Revenue Operations (RevOps) está em franca expansão global, com estimativa de que 75% das empresas o adotarão até 2025. No Brasil, empresas líderes, como a 8D Hubify, já ultrapassaram as expectativas, mais que dobrando o faturamento e triplicando o lucro ao integrar marketing, vendas e sucesso do cliente. A Inteligência Artificial é peça-chave nessa transformação, automatizando interações para maior personalização e eficiência.

Uso de PDI tem sido negligenciado nas companhias

Apesar de ser uma ferramenta essencial para o desenvolvimento de colaboradores, o Plano de Desenvolvimento Individual (PDI) vem sendo negligenciado por empresas no Brasil. Pesquisa da Mereo mostra que apenas 60% das companhias avaliadas possuem PDIs cadastrados, com queda no engajamento de 2022 para 2023.

Regulamentação da IA: Como empresas podem conciliar responsabilidades éticas e inovação? 

A inteligência artificial (IA) está revolucionando o mundo dos negócios, mas seu avanço rápido exige uma discussão sobre regulamentação. Enquanto a Europa avança com regras para garantir benefícios éticos, os EUA priorizam a liberdade econômica. No Brasil, startups e empresas se mobilizam para aproveitar as vantagens competitivas da IA, mas aguardam um marco legal claro.

Governança estratégica: a gestão de riscos psicossociais integrada à performance corporativa

A gestão de riscos psicossociais ganha espaço nos conselhos, impulsionada por perdas estimadas em US$ 3 trilhões ao ano. No Brasil, a atualização da NR1 exige que empresas avaliem e gerenciem sistematicamente esses riscos. Essa mudança reflete o reconhecimento de que funcionários saudáveis são mais produtivos, com estudos mostrando retornos de até R$ 4 para cada R$ 1 investido

Transformação Digital
A preocupação com o RH atual é crescente e fizemos questão de questionar alguns pontos viscerais existentes que Ricardo Maravalhas, CEO da DPOnet, trouxe com clareza e paciência.

HSM Management

Uncategorized
A saúde mental da mulher brasileira enfrenta desafios complexos, exacerbados por sobrecarga de responsabilidades, desigualdade de gênero e falta de apoio, exigindo ações urgentes para promover equilíbrio e bem-estar.

Letícia de Oliveira Alves e Ana Paula Moura Rodrigues

ESG
A crescente frequência de desastres naturais destaca a importância crucial de uma gestão hídrica urbana eficaz, com as "cidades-esponja" emergindo como soluções inovadoras para enfrentar os desafios climáticos globais e promover a resiliência urbana.

Guilherme Hoppe

Gestão de Pessoas
Como podemos entender e praticar o verdadeiro networking para nos beneficiar!

Galo Lopez

Cultura organizacional, Gestão de pessoas, Liderança, times e cultura, Liderança
Na coluna deste mês, Alexandre Waclawovsky explora o impacto das lideranças autoritárias e como os colaboradores estão percebendo seu próprio impacto no trabalho.

Alexandre Waclawovsky

Marketing Business Driven, Comunidades: Marketing Makers, Marketing e vendas
Eis que Philip Kotler lança, com outros colegas, o livro “Marketing H2H: A Jornada do Marketing Human to Human” e eu me lembro desse tema ser tão especial para mim que falei sobre ele no meu primeiro artigo publicado no Linkedin, em 2018. Mas, o que será que mudou de lá para cá?

Juliana Burza

Transformação Digital, ESG
A inteligência artificial (IA) está no centro de uma das maiores revoluções tecnológicas da nossa era, transformando indústrias e redefinindo modelos de negócios. No entanto, é crucial perguntar: a sua estratégia de IA é um movimento desesperado para agradar o mercado ou uma abordagem estruturada, com métricas claras e foco em resultados concretos?

Marcelo Murilo

Liderança, times e cultura, Cultura organizacional
Com a informação se tornando uma commoditie crucial, as organizações que não adotarem uma cultura data-driven, que utiliza dados para orientar decisões e estratégias, vão ficar pelo caminho. Entenda estratégias que podem te ajudar neste processo!

Felipe Mello

Gestão de Pessoas
Conheça o framework SHIFT pela consultora da HSM, Carol Olinda.

Carol Olinda

Melhores para o Brasil 2022
Entenda como você pode criar pontes para o futuro pós-pandemia, nos Highlights de uma conversa entre Marina gorbis, do iftf, e Martha gabriel

Martha Gabriel e Marina Gorbis