Se a desigualdade define o nosso tempo, como alertou António Guterres, secretário-geral da ONU, em julho de 2021, a América Latina é um exemplo bastante ilustrativo dessa realidade, agravada pela pandemia. Há mais de um século, a concentração de renda na região é a maior no mundo. As estimativas indicam que tanto no México quanto no Brasil o 1% mais rico da população detém o equivalente a cerca de 30% da renda total dos países.
O resultado dessas desigualdades são impactos econômicos, sociais e políticos significativos, resultando em educação de baixa qualidade, baixo índice de investimento em P&D, instabilidade política, instituições fracas e o surgimento de líderes populistas. Em todos os países latino-americanos, há baixo grau de confiança nas pessoas e nas instituições.
Apesar desse histórico, Diego Sánchez-Ancochea, pesquisador e chefe do departamento de Desenvolvimento da Oxford University, acredita que a América Latina também pode oferecer lições úteis para enfrentar a desigualdade no futuro pós-pandemia. Ele analisa o tema em profundidade no livro *[The Costs of Inequality in Latin America: lessons and warnings for the rest of the world](https://www.amazon.com.br/Costs-Inequality-Latin-America-Warnings/dp/1838606246)*, e apresentou alguns desses aprendizados em um artigo recente publicado no perfil da universidade no Medium.
O primeiro aprendizado vem dos movimentos sociais. Dos estudantes chilenos aos sem-terra brasileiros, são pessoas que unem forças para combater a pobreza e promover melhor distribuição de oportunidades, renda e riqueza. Esses grupos são bem-sucedidos quando se concentram em necessidades concretas, mas se vinculam a uma agenda mais ampla de desenvolvimento.
As ocupações e locais de ações seguem um processo que começa no micro (em uma escola ou empresa) e depois se amplia, a ponto de influenciar debates nacionais. Um ponto comum a esses movimentos é a capacidade de fazer alianças com outros grupos, o que facilita, por exemplo, a adoção de políticas sociais universais.
Outra conclusão de Sánchez-Ancochea é a contribuição desses movimentos sociais para além das demandas políticas, colaborando para criar novas narrativas e novas perspectivas de outros grupos minoritários. É o caso de indígenas. Para ele, o impacto dos movimentos sociais fica mais significativo quando eles se mantêm independentes de partidos políticos, mas estabelecem uma agenda de colaboração.
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