Tecnologias exponenciais
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Amplitude é a nova profundidade: por que o futuro favorece os generalistas

Para líderes e empreendedores, a mensagem é clara: invista em amplitude, não apenas em profundidade. Cultive a curiosidade, abrace a interdisciplinaridade e esteja sempre pronto para aprender. O futuro não pertence aos que sabem tudo, mas aos que estão dispostos a aprender tudo.
Rafael Ferrari é sócio-líder da Deloitte Ventures, especialista em inovação e transformação digital. No ano de 2024 foi eleito um dos 3 brasileiro na lista do top 100 OutStanding global LGBT Executive Role Model. Com mais de 15 anos de experiência realizou trabalhos na América Latina e Canada. Liderou de projetos com abrangência global e atualmente lidera os maiores programas de inovação e transformação digital do país. É professor titular da Fundação Dom Cabral no MBA Internacional. Na escola Conquer é professor de transformação digital e inovação. Nos últimos quatro anos se dedicou a criação e evolução do DE&I LGBT+ no Brasil fazendo parte do conselho global do tema em nossa empresa.

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No cenário atual de transformações aceleradas, uma pergunta crucial surge para líderes, empreendedores e profissionais: o que é mais relevante, ser especialista ou generalista? 

Em sua palestra no SXSW 2025, Mike Bechtel, futurista-chefe da Deloitte, trouxe uma resposta provocativa: “Amplitude é a nova profundidade”. Segundo ele, o futuro pertence aos pensadores amplos e adaptáveis, capazes de conectar disciplinas distintas e aprender continuamente.

Bechtel começou traçando um panorama histórico do conhecimento:

  • Anos 80: O conhecimento era poder. Quem detinha informações específicas dominava o jogo.
  • Anos 90-2000: A internet democratizou o acesso à informação, reduzindo a barreira para adquirir conhecimento.
  • Década de 2020: A inteligência artificial (IA) transformou a forma como adquirimos e aplicamos conhecimento, tornando a memorização obsoleta.

Nesse contexto, a especialização tradicional está perdendo relevância. Em vez de “saber tudo”, o futuro exige a capacidade de “aprender tudo”. Parecido com o conceito Lifelong Learning, mote da HSM, a ideia é que neste futuro as pessoas se preocupem mais em constantemente aprender do que necessariamente memorizarem processos que antes eram feitos.

Por isso, Mike Bechtel propõe pensar em 6 pilares para o futuro do conhecimento:

1. Transformação do Conhecimento: A expertise tradicional está se tornando menos relevante. O acesso à informação mudou fundamentalmente e a IA processa informações mais rápido que os humanos. Nesse sentido, para o expert, a habilidade de memorização se tornará obsoleta.

Outro ponto interessante é que o pensamento interdisciplinar impulsionará a inovação, por isso, a capacidade de adaptação superará o conhecimento especializado.

O que você precisa estar atento neste processo: o custo marginal de lembrar informações se aproxima de zero; ao mesmo tempo, é necessário ter acesso instantâneo à informação via tecnologia; com isso, o valor humano muda de saber para interpretar.

2. Disrupção Tecnológica: As capacidades da IA estão se expandindo exponencialmente, Vários setores enfrentam transformações radicais. A IA, segundo ele, substituirá executores de tarefas especializadas e as funções humanas se concentrarão na criatividade e na solução de problemas complexos. As habilidades que combinem naturezas diferentes e interdisciplinaridade se tornarão a principal vantagem competitiva.

O que você precisa estar atento: A IA supera os humanos em tarefas específicas e repetitivas, Os humanos devem desenvolver capacidades cognitivas únicas, O futuro exige colaboração com a IA, não competição.

3. Metodologia da Inovação: Grandes inovações surgiram de conexões inesperadas, justamente porque o conhecimento exige complexidade de diferentes assuntos. Por isso, as inovações do futuro exigirão abordagens polimáticas, colaborações inesperadas gerarão ideias revolucionárias e o pensamento isolado se tornará ineficaz.

O que você precisa estar atento: Conectar áreas distintas gera valor exponencial; ter interações casuais, pois impulsionam o pensamento inovador.

4. Ecossistema de Aprendizagem Contexto: Os modelos educacionais tradicionais estão ficando obsoletos e a rápida evolução tecnológica exige adaptação contínua. Para o Bechtel, os currículos futuros priorizarão a adaptabilidade e o aprendizado será contínuo, não limitado a um período da vida.

O que é necessário estar atento: Dedicar 5 horas semanais para aprender novas habilidades; adotar uma “promiscuidade intelectual” (intelectual promiscuity); e desenvolver habilidades de meta-aprendizagem.

5. Evolução Profissional: O mercado de trabalho está se transformando rapidamente e as transições de carreira múltiplas se tornarão a norma. Para o especialista, profissionais terão entre 10 e 14 fases distintas de carreira e a adaptabilidade será a principal moeda de valor profissional.

O que você precisa estar atento: Focar em habilidades transferíveis; desenvolver flexibilidade cognitiva ampla; e cultivar a agilidade de aprendizado.

Outro ponto interessante se relacionou a questão de transformação organizacional. As práticas tradicionais de contratação estão ficando obsoletas. O desenvolvimento de talentos exige uma reconfiguração radical.

As empresas, segundo Mike Bechtel, darão prioridade ao potencial de aprendizado. As métricas baseadas em resultados substituirão contratações baseadas em diplomas. Por isso, as culturas colaborativas e adaptáveis se tornarão a maior vantagem competitiva. É necessário então que as próximas lideranças saibam contratar com base em valores e capacidade de aprendizado, criem ambientes de colaboração e apoiar o desenvolvimento contínuo dos colaboradores.

O conhecimento especializado está sendo transformado pela tecnologia. No futuro, o sucesso dependerá menos de “saber tudo” e mais de “aprender sempre”. Aqueles que dominam a adaptabilidade, o pensamento interdisciplinar e a colaboração com a IA terão a vantagem competitiva.

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Rafael Ferrari é sócio-líder da Deloitte Ventures, especialista em inovação e transformação digital. No ano de 2024 foi eleito um dos 3 brasileiro na lista do top 100 OutStanding global LGBT Executive Role Model. Com mais de 15 anos de experiência realizou trabalhos na América Latina e Canada. Liderou de projetos com abrangência global e atualmente lidera os maiores programas de inovação e transformação digital do país. É professor titular da Fundação Dom Cabral no MBA Internacional. Na escola Conquer é professor de transformação digital e inovação. Nos últimos quatro anos se dedicou a criação e evolução do DE&I LGBT+ no Brasil fazendo parte do conselho global do tema em nossa empresa.

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