Ana Ribeiro acorda, prepara um café e medita sobre os pensamentos da noite anterior. “São 15 minutos para organizar a cabeça, para aproveitar o momento em que estou mais leve.” Ela então dirige até o Estúdio Árvore, em São Paulo, e deixa a mágica acontecer. Para a primeira desenvolvedora de jogos de realidade virtual do Brasil, é hora de criar novos universos, personagens e narrativas.
Reconhecida internacionalmente por seu trabalho com os games Pixel Ripped 1989 e 1995, Ribeiro, 36 anos, é natural de São Luís (MA). Até 2010, era funcionária pública no Tribunal de Justiça do estado. A mudança na carreira veio após participar de um curso para empreendedores. Na ocasião, um professor instigou: “Se a vida começasse agora, o que você gostaria de fazer?”. Ela sabia aquela resposta. Queria trabalhar com videogames.
Apostando na genuína paixão que tinha por jogos eletrônicos na infância, comprou uma passagem só de ida para a Inglaterra. Lá, cursou design e desenvolvimento de jogos na National Film and Television School. No ambiente certo, Ana Ribeiro viu as ideias florescerem. O Pixel Ripped 1989, seu título de estreia, nasceu como projeto de conclusão do curso. Mas sua concepção foi um pouco menos convencional. “Sonhei que estava jogando um gameboy e a tela explodia em um milhão de cores vibrantes, pixels e formas abstratas. Era uma representação da minha jornada no universo dos videogames”, relembra Ribeiro.
Pixel Ripped 1989 é um jogo dentro de um jogo: a protagonista, Nichola, é uma gamer que precisa enfrentar os obstáculos da rotina adolescente para fazer com que sua personagem (Dot) suba de fase e continue avançando na narrativa. “Para preservar a sensação de se estar em frente ao console, escolhi desenvolvê-lo em realidade virtual”, conta. O projeto rendeu prêmios e parcerias com a fabricante de óculos de realidade virtual Oculus VR, com a Samsung e com a Sony.
## Descanso e outras áreas
O sucesso se deve principalmente às escolhas criativas do jogo, segundo Ribeiro. Mas ela não acredita que haja uma fórmula para fazer isso. “Criatividade não depende de um processo fixo. Nem tudo funciona para todos. Eu, por exemplo, busco inspiração em áreas muito diferentes da minha, como livros, filmes e música”, diz a desenvolvedora. A criatividade, diz, traz benefícios para todas as profissões – até mesmo para funcionalismo público. Mas é preciso ousar pensar diferente.
E descansar. Como a sagrada pausa matinal dá a entender, uma mente relaxada é capaz de fazer entregas superiores. “A inspiração só surge quando o cérebro está livre para fazer novas conexões”, diz ela, que em 2020 lançou a sequência Pixel Ripped 1995, febre entre os entusiastas da realidade virtual.