Uncategorized

Aquecimento global: as empresas e o nosso papel

Acompanhando notícias sobre aquecimento global, fico sempre com um misto de sentimentos. Se por um lado observo feliz que o tema está em pauta, por outro me ocorre que muitas pessoas ainda não despertaram para o fato de que esse assunto é responsabilidade de cada um de nós. Por isso resolvi escrever este artigo: ele é didático, educativo até. Mas acredito que as grandes metas dependem das pequenas atitudes e esse despertar coletivo precisa acontecer. Há urgência e já estamos atrasados.
Mariana Fieri é engenheira ambiental especialista em mudanças climáticas, desenvolvimento de projetos de crédito de carbono e sustentabilidade empresarial.

Compartilhar:

Com 4,5 bilhões de anos e uma população de aproximadamente 7,2 bilhões de habitantes, nosso planeta Terra, formado por cinco oceanos e seis continentes, recheados das mais diversas formas de vida, a cada ano manda mais sinais de que não está nada bem. Uma das maiores preocupações ambientais da nossa geração é o aquecimento global e as mudanças climáticas. As notícias de desastres ambientais relacionados ao clima são cada vez mais frequentes, e protestos ocorrem no mundo todo cobrando a participação de líderes governamentais a tomarem atitudes e criarem iniciativas que ajudem a controlar esse problema.

**ENTENDENDO O AQUECIMENTO GLOBAL**

De forma resumida, o aquecimento global é o aumento da temperatura média dos oceanos e da camada de ar próxima à atmosfera. Esse processo é ocasionado, em grande parte, devido ao aumento das emissões de gases na atmosfera que causam o efeito estufa, como o dióxido de carbono (CO2), o óxido nitroso (N2O) e o metano (CH4). O Efeito Estufa é um processo natural e importante para a manutenção da vida. A Terra possui uma camada de gases que cobre sua superfície, e a radiação solar, quando chega a nosso planeta, atravessa a atmosfera. Parte dessa radiação é refletida de volta ao espaço, parte dela é absorvida pelos oceanos e pela superfície terrestre, e uma terceira parte fica retida nessa camada de gases, ocasionando o Efeito Estufa. Se essa camada não existisse, o planeta se tornaria extremamente frio, impossibilitando a vida de diversas espécies. Seu descontrole e consequente agravamento, porém, deixa a camada de ar na atmosfera mais espessa, e ela retém mais calor no planeta, aumentando a temperatura e ocasionando o aquecimento global.

Estudos mostram que, antes mesmo da Revolução Industrial, o planeta já vinha sofrendo com o aquecimento. Isso porque, em algumas regiões, povoados antigos utilizaram grande parte dos recursos naturais com o desenvolvimento da agricultura, o desmatamento, a caça e a pesca. Quando a Revolução Industrial se instalou, no século 18, a atmosfera passou a receber diariamente quantidades significativas de CO2, e, dessa época até os dias atuais, nossa produção cresceu exponencialmente, assim como a quantidade de gases poluentes liberados na atmosfera. 

Após a compreensão de que a ação antropogênica provocaria alterações no clima da Terra, foi criado em 1988 o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês). O órgão é composto por delegações de 130 governos e desde 1990 publica relatórios com estudos que reúnem evidências científicas das mudanças climáticas e o papel do homem, as consequências para o meio ambiente e a saúde humana e como mitigar as mudanças climáticas. Os cientistas do IPCC alertam que até o fim do século a temperatura média do planeta deverá subir entre 1,8°C e 4°C. Com o aumento da temperatura, estaremos mais suscetíveis a desastres ambientais relacionados ao clima, como tempestades, enchentes e secas; o nível do mar pode se elevar entre 18 e 58 cm, em decorrência do derretimento das camadas polares; um terço de espécies animais pode ficar ameaçada de extinção, algumas produções de alimentos (trigo, soja, milho) seriam prejudicadas e populações estariam mais vulneráveis a doenças e desnutrição. Kiribati, país composto por 33 ilhas na Oceania, será o primeiro a ser submerso pelo oceano em consequência do aumento do nível do mar.

**O PAPEL DAS EMPRESAS**

O mundo corporativo encontra-se num processo de aprendizagem para o desenvolvimento das melhores práticas a fim de combater o aquecimento global. Embora as grandes corporações estejam preocupadas com essa questão, em especial com a cobrança dos consumidores, o cenário geral de iniciativas ainda está longe do necessário. Um grande número de empresas sequer possui uma política ambiental ou ainda um departamento ou profissional da área.

Contudo, para as empresas que se encontram prontas para entrar na luta contra o aquecimento, o primeiro passo é inventariar as emissões; ou seja, pela contabilização de gases emitidos durante o período de um ano é possível reconhecer as fontes emissoras diretas e indiretas, seja de processos produtivos, seja da geração de energia, da utilização de frotas de veículos, das viagens aéreas, entre outros. Após essa contabilização, a empresa pode desenvolver uma gestão de carbono e definir metas de redução e medidas de mitigação. Incorporar a redução de emissões na política ambiental da empresa é fundamental, uma vez que a tendência é surgirem metas ousadas a serem exigidas pelo governo, conforme o cenário for se agravando.

**O PAPEL DO CIDADÃO COMUM**

Todos nós podemos contribuir para o esfriamento do planeta com pequenas ações cotidianas que reduzem as emissões de gases do efeito estufa, tais como:

**1.** Realizar pequenos trajetos a pé, ao invés de utilizar o carro, ou mesmo pegar ou dar carona para alguém.

**2.** Apagar as luzes quando sair de ambientes, economizando energia elétrica. 

**3.** Reduzir o consumo de carne bovina, uma das principais fontes de emissão de gases no Brasil, tanto por causa do desmatamento associado, quanto devido à emissão de gás metano produzido no processo de digestão do gado.

**4.** Dar preferência a produtos de empresas comprometidas com o meio ambiente e que compensem as emissões de sua produção, seja pelo reflorestamento, seja pela compra de créditos de carbono. Se a empresa faz, com certeza colocará algum informativo na embalagem.

**5.** Evitar consumir copos plásticos, uma vez que eles emitem muitos gases na produção e são utilizados por pouco tempo, muitas vezes apenas para tomar um cafezinho.

**6.** Comprar roupas, equipamentos e utensílios de segunda mão também é um jeito prático e eficiente de economizar dinheiro e emissões de CO2. 

Será uma longa caminhada cheia de erros e acertos, recheada de desafios, para conseguirmos frear o aquecimento global. É primordial o investimento em educação ambiental para a mudança de comportamento da nossa sociedade, além de investimentos em pesquisa, tecnologia e inovação para que os processos sejam mais eficientes e estejam aptos a utilizar matrizes energéticas de fontes renováveis. Nossa responsabilidade com o meio ambiente vai desde a utilização ponderada dos recursos naturais e o consumo consciente de produtos até a escolha de nossos líderes governamentais e a educação que damos aos nossos filhos. O cenário está mudando a favor da natureza e juntos, sociedade, governantes e indústrias, temos o poder de mudar o rumo do planeta.

Compartilhar:

Artigos relacionados

Empreendedorismo
O empreendedorismo no Brasil avança com 90 milhões de aspirantes, enquanto a advocacia se moderniza com dados e estratégias inovadoras, mostrando que sucesso exige resiliência, visão de longo prazo e preparo para as oportunidades do futuro

André Coura e Antônio Silvério Neto

5 min de leitura
ESG
A atualização da NR-1, que inclui riscos psicossociais a partir de 2025, exige uma gestão de riscos mais estratégica e integrada, abrindo oportunidades para empresas que adotarem tecnologia e prevenção como vantagem competitiva, reduzindo custos e fortalecendo a saúde organizacional.

Rodrigo Tanus

8 min de leitura
ESG
O bem-estar dos colaboradores é prioridade nas empresas pós-pandemia, com benefícios flexíveis e saúde mental no centro das estratégias para reter talentos, aumentar produtividade e reduzir turnover, enquanto o mercado de benefícios cresce globalmente.

Charles Schweitzer

5 min de leitura
Finanças
Com projeções de US$ 525 bilhões até 2030, a Creator Economy busca superar desafios como dependência de algoritmos e desigualdade na monetização, adotando ferramentas financeiras e estratégias inovadoras.

Paulo Robilloti

6 min de leitura
ESG
Adotar o 'Best Before' no Brasil pode reduzir o desperdício de alimentos, mas demanda conscientização e mudanças na cadeia logística para funcionar

Lucas Infante

4 min de leitura
Tecnologias exponenciais
No SXSW 2025, a robótica ganhou destaque como tecnologia transformadora, com aplicações que vão da saúde e criatividade à exploração espacial, mas ainda enfrenta desafios de escalabilidade e adaptação ao mundo real.

Renate Fuchs

6 min de leitura
Inovação
No SXSW 2025, Flavio Pripas, General Partner da Staged Ventures, reflete sobre IA como ferramenta para conexões humanas, inovação responsável e um futuro de abundância tecnológica.

Flávio Pripas

5 min de leitura
ESG
Home office + algoritmos = epidemia de solidão? Pesquisa Hibou revela que 57% dos brasileiros produzem mais em times multidisciplinares - no SXSW, Harvard e Deloitte apontam o caminho: reconexão intencional (5-3-1) e curiosidade vulnerável como antídotos para a atrofia social pós-Covid

Ligia Mello

6 min de leitura
Empreendedorismo
Em um mundo de incertezas, os conselhos de administração precisam ser estratégicos, transparentes e ágeis, atuando em parceria com CEOs para enfrentar desafios como ESG, governança de dados e dilemas éticos da IA

Sérgio Simões

6 min de leitura
Tecnologias exponenciais
Os cuidados necessários para o uso de IA vão muito além de dados e cada vez mais iremos precisar entender o real uso destas ferramentas para nos ajudar, e não dificultar nossa vida.

Eduardo Freire

7 min de leitura