Dossiê HSM

Como migrar de organizações-máquinas para organizações-ecossistemas

Para que as organizações se tornem mais interdependentes, elas devem se estruturar como comunidades. Essa proposta está baseada em duas hipóteses: a hipótese de Dunbar e as redes de pequeno mundo
Marcelle Xavier desenha experiências que permitem que pessoas e relacionamentos se desenvolvam. Fundadora do Instituto Amuta, atua como designer de conexões e facilitadora do amor nas organizações. Marina Galvão é facilitadora e consultora. É designer de aprendizagem no Instituto Amuta e desde 2015 organiza e facilita o hub para aprendizagem e prática da Teoria U.

Compartilhar:

As organizações foram desenhadas como máquinas, com o objetivo de gerar estabilidade e produtividade. Mas essa estrutura previsível e controlável é artificial e, por isso, nossas organizações estão destruindo as pessoas e a si mesmas. Muitas delas já entenderam que precisam mudar: reduzir hierarquias; aumentar a autodireção; instalar sistemas de autogestão; facilitar a fluidez do aprendizado e a colaboração; criar relações significativas com seus clientes. Essas são algumas mudanças que o mundo corporativo já vem tentando implementar nos últimos anos.

Para nós, porém, o maior desafio das organizações hoje é que se tornem cada vez mais parecidas com ecossistemas – responsivos, adaptativos, evolutivos. E esse é, invarialmente, um desafio de relacionamentos.

O leitor pode observar que, na economia das plataformas digitais e com a priorização das cadeias de fornecimento, as empresas estão cada vez mais interconectadas. Faz sentido. No entanto, a configuração dessas conexões parece reduzir, e não aumentar, nossa inteligência. Será que a estrutura das empresas, com múltiplas conexões de baixo vínculo, é a melhor forma de nos organizarmos? Nossa hipótese é que não.

Para que as organizações se tornem mais interdependentes, elas devem se estruturar como comunidades. Essa proposta está baseada em duas hipó­teses. A primeira é biológica: a hipótese de Dunbar sugere que nosso cérebro tem capacidade para cultivar relações (pessoais ou profissionais) com no máximo 150 pessoas. O problema é que, na atualidade, estamos conectados a um número muito maior de pessoas, possivelmente muito maior do que nosso cérebro consegue gerenciar.

Chegamos então à segunda hipótese: as redes de pequeno mundo, que se baseiam em pequenos grupos com amplas conexões ligadas entre si. É a estrutura dessas redes que vai configurar conexões mais poderosas e uma comunidade mais inteligente.

## Hipótese biológica: o número de Dunbar
Ao comparar o tamanho do cérebro dos nossos primatas com o tamanho do seu grupo social, o antropólogo britânico Robin Dunbar identificou o “número mágico” de relações que os seres humanos conseguem cultivar.

Sua hipótese parte do princípio que quanto maior o número de pessoas no bando, mais complexa a política que possibilita essa organização. Como o neocórtex é a área do cérebro responsável pelo planejamento executivo, memória e linguagem, quanto maior o bando, maior o neocórtex. O nosso parece dar conta de não mais que 150 conexões.

Coincidentemente ou não, esse padrão pode ser observado em muitas organizações sociais, como tribos de caçadores coletores que tinham em média 150 membros, aldeias agrícolas neolíticas e, mais recentemente, no número de pessoas em unidades militares.

No entanto, estamos inseridos em redes com um número cada vez maior de elos fracos, e, geneticamente o nosso cérebro ainda é o de um caçador coletor acostumado a se conectar de maneira mais próxima e restrita.

Sim, pois, ao analisarmos o tempo do Homo sapiens no planeta Terra, percebemos que em praticamente 99% da história da nossa evolução nós fomos caçadores coletores. Ou seja, nosso cérebro é tribal e nossa organização social é global, e esse novo modo de organização exige de nós uma política mais complexa que possibilite a nossa conexão.

## Hipótese antropológica: redes de pequeno mundo
Os cientistas sociais parecem ter um caminho para facilitar a nossa conexão nesses tempos em que estamos conectados com muito mais de 150 pessoas: a organização de redes de pequeno mundo.

A ciência das redes parte do princípio que para entender o comportamento de grupos, não deveríamos olhar para as os indivíduos, mas sim, para suas conexões – pois é a qualidade dessas conexões que vai indicar se uma multidão se torna mais ou menos inteligente.

O termo “redes de pequeno mundo” foi desenvolvido por Stanley Milgram após estudar uma diversidade de campos científicos e encontrar uma configuração de rede ótima: que se organiza através de pequenos grupos com ligações profundas, conectados entre si.

Estudos apontam que essa configuração – que se assemelha a tribos -, aumenta a criatividade, a inteligência e a capacidade de colaboração do grupo. Partindo dessa lógica, as organizações deveriam se parecer cada vez mais com comunidades.
Mas não basta se organizar no formato de tribos (squads) para criar uma rede de pequeno mundo, é preciso facilitar a criação de relações significativas – vínculos profundos e pontes entre os grupos, que criam unidade sem uniformidade e diversidade sem divisão.

__Leia mais: [Relações no centro dos desafios organizacionais](https://www.revistahsm.com.br/post/relacoes-no-centro-dos-desafios-organizacionais)__

Compartilhar:

Artigos relacionados

Reaprender virou a palavra da vez

Reaprender não é um luxo – é sobrevivência. Em um mundo que muda mais rápido do que nossas certezas, quem não reorganiza seus próprios circuitos mentais fica preso ao passado. A neurociência explica por que essa habilidade é a verdadeira vantagem competitiva do futuro.

Lifelong learning
19 de dezembro de 2025
Reaprender não é um luxo - é sobrevivência. Em um mundo que muda mais rápido do que nossas certezas, quem não reorganiza seus próprios circuitos mentais fica preso ao passado. A neurociência explica por que essa habilidade é a verdadeira vantagem competitiva do futuro.

Isabela Corrêa - Cofundadora da People Strat

8 minutos min de leitura
Tecnologia & inteligencia artificial, Inovação & estratégia
18 de dezembro de 2025
Como a presença invisível da IA traz ganhos enormes de eficiência, mas também um risco de confiarmos em sistemas que ainda cometem erros e "alucinações"?

Rodrigo Cerveira - CMO da Vórtx e Cofundador do Strategy Studio

3 minutos min de leitura
Cultura organizacional, Gestão de pessoas & arquitetura de trabalho
17 de dezembro de 2025
Discurso de ownership transfere o peso do sucesso e do fracasso ao colaborador, sem oferecer as condições adequadas de estrutura, escuta e suporte emocional.

Rennan Vilar - Diretor de Pessoas e Cultura do Grupo TODOS Internacional

4 minutos min de leitura
Gestão de pessoas & arquitetura de trabalho
16 de dezembro de 2025
A economia prateada deixou de ser nicho e se tornou força estratégica: consumidores 50+ movimentam trilhões e exigem experiências centradas em respeito, confiança e personalização.

Eric Garmes é CEO da Paschoalotto

3 minutos min de leitura
Inovação & estratégia, Gestão de pessoas & arquitetura de trabalho
15 de dezembro de 2025
Este artigo traz insights de um estudo global da Sodexo Brasil e fala sobre o poder de engajamento que traz a hospitalidade corporativa e como a falta dela pode impactar financeiramente empresas no mundo todo.

Hamilton Quirino - Vice-presidente de Operações da Sodexo

2 minutos min de leitura
Cultura organizacional, Inovação & estratégia
12 de dezembro de 2025
Inclusão não é pauta social, é estratégia: entender a neurodiversidade como valor competitivo transforma culturas, impulsiona inovação e constrói empresas mais humanas e sustentáveis.

Marcelo Vitoriano - CEO da Specialisterne Brasil

4 minutos min de leitura
Inovação & estratégia, Marketing & growth
11 de dezembro de 2025
Do status à essência: o luxo silencioso redefine valor, trocando ostentação por experiências que unem sofisticação, calma e significado - uma nova inteligência para marcas em tempos pós-excesso.

Daniel Skowronsky - Cofundador e CEO da NIRIN Branding Company

3 minutos min de leitura
Estratégia
10 de dezembro de 2025
Da Coreia à Inglaterra, da China ao Brasil. Como políticas públicas de design moldam competitividade, inovação e identidade econômica.

Rodrigo Magnago - CEO da RMagnago

17 minutos min de leitura
Bem-estar & saúde
9 de dezembro de 2025
Entre liderança e gestação, uma lição essencial: não existe performance sustentável sem energia. Pausar não é fraqueza, é gestão - e admitir limites pode ser o gesto mais poderoso para cuidar de pessoas e negócios.

Tatiana Pimenta - Fundadora e CEO da Vittude,

3 minutos min de leitura
Bem-estar & saúde
8 de dezembro de 2025
Com custos de saúde corporativa em alta, a telemedicina surge como solução estratégica: reduz sinistralidade, amplia acesso e fortalece o bem-estar, transformando a gestão de benefícios em vantagem competitiva.

Loraine Burgard - Cofundadora da h.ai

3 minutos min de leitura

Baixe agora mesmo a nossa nova edição!

Dossiê #170

O que ficou e o que está mudando na gangorra da gestão

Esta edição especial, que foi inspirada no HSM+2025, ajuda você a entender o sobe-e-desce de conhecimentos e habilidades gerenciais no século 21 para alcançar a sabedoria da liderança

Baixe agora mesmo a nossa nova edição!

Dossiê #170

O que ficou e o que está mudando na gangorra da gestão

Esta edição especial, que foi inspirada no HSM+2025, ajuda você a entender o sobe-e-desce de conhecimentos e habilidades gerenciais no século 21 para alcançar a sabedoria da liderança