Empreendedorismo

As figuras do agro

O agronegócio também tem suas personalidades emblemáticas. Narrar a biografia dessas pessoas revela o orgulho que precisamos sustentar na formação de uma nação

Ulisses Ferreira de Oliveira

Técnico Agrícola e administrador, especialista em cafeicultura sustentável, trabalhou na Prefeitura Municipal de Poços de...

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Uma das formas mais adequadas de inspirar pessoas é através da contação de histórias, relatos de vidas e conquistas de pessoas que, de uma maneira ou outra, transformaram empresas, governos, comunidades e a sociedade como um todo.

Como aluno e depois professor de administração, sempre recorri a essa estratégia para me inspirar e animar meus alunos. No entanto, como sempre fui muito ligado ao agronegócio, sempre senti falta de histórias de lideranças e pessoas relacionadas ao setor rural.

Por isso, neste artigo, gostaria de contribuir com um breve resumo da história de sucesso de duas personalidades importantíssimas para a produção sustentável de alimentos no Brasil.

## Paolinelli e a modernização da Embrapa
A primeira biografia que quero narrar, e talvez uma das mais emblemáticas, é a do ex-ministro da Agricultura (1974 – 1979) e atual presidente executivo da Associação Brasileira dos Produtores de Milho ([Abramilho](https://www.abramilho.org.br/)), Alysson Paolinelli.

A transformação do Brasil em celeiro agrícola passa pelas mãos e competência deste senhor, que aos 84 anos continua atuante no meio rural brasileiro, mas que muito antes disso já fez história ao modernizar a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, [a Embrapa](https://www.embrapa.br/), e criar as condições tecnológicas para o avanço do agronegócio no cerrado brasileiro.

Nossa agricultura tropical foi radicalmente transformada graças a uma Embrapa forte e capacitada e com isso garantiu-se a [segurança alimentar e nutricional de bilhões de pessoas](https://www.revistahsm.com.br/post/de-onde-vem-o-alimento) em todos os continentes.

Alysson Paolinelli, mineiro de Bambuí, com formação em Engenharia Agronômica e que dedicou a vida toda à procura de tornar o país autossuficiente na produção de alimentos. Vale lembrar que no contexto histórico de atuação de Paolinelli, na década de 70, o Brasil ainda dependia da importação para alimentar uma população cada vez mais urbana.

Uma das suas grandes realizações foi a implantação do programa de bolsas de estudos para estudantes brasileiros buscarem capacitações nos maiores centros de pesquisa em agricultura do mundo. Algo que atualmente ainda parece ser um desafio, imaginem na época.

Conhecer e divulgar os feitos de Paolinelli indicam que podemos, sem dúvida, ter grandes transformações sociais através de uma indústria a céu aberto.

Olhar para a biografia de um dos principais nomes da história da Embrapa nos faz lembrar nosso potencial como um país agrícola, mas também nos mostram os [desafios que ainda temos](https://www.revistahsm.com.br/post/um-alto-preco-a-ser-pago), como a de estruturar o trabalho de pesquisa e desenvolvimento tecnológico aplicado em cada uma das centenas de milhares de propriedades agrícolas espalhadas por este País.

## Professora Primavesi: dos livros à agricultura orgânica

Outra liderança e figura marcante do meio rural brasileiro que me vem à mente é a professora Ana Maria Primavesi. Precisamos que mais e mais pessoas conheçam Primavesi, bem como seus livros, ensinamentos e sua dedicação a um propósito que é a garantia de uma produção de [alimentos mais sustentável e em equilíbrio com a natureza](https://mitsloanreview.com.br/post/a-sustentabilidade-e-os-produtos-organicos).

Primavesi, assim como Alysson Paolinelli, representa nosso agronegócio, nossa busca pela produção de alimentos e o que há de melhor no país. Em suma, representam o Brasil que dá certo. Mesmo que muitas vezes de “lados opostos”, a união das duas personalidades representa a soma de esforços para uma agricultura e um País melhor.

A professora Ana foi uma engenheira agrônoma nascida na Áustria. Desde 1948 viveu no Brasil, e faleceu no dia 5 de janeiro de 2020, aos 99 anos. Foi pioneira no País na importante pesquisa sobre [agroecologia e da agricultura orgânica](https://www.revistahsm.com.br/post/agroecologia-high-tech-e-possivel-parte-i). Seus livros e ensinamentos viraram parâmetros para cientistas e pesquisadores brasileiros, assim como agricultores.

Primavesi ajudou ainda a fundar a [Associação da Agricultura Orgânica, a AAO](http://aao.org.br/aao/). Sua obra literária, “[Manejo ecológico do solo: a agricultura em regiões tropicais](https://www.amazon.com.br/Manejo-Ecol%C3%B3gico-Solo-Ana-Primavesi/dp/8521300042)”, lançada em 1984, ainda é considerada uma referência nas ciências agrárias.

O termo agroecologia que hoje é crescente no meio rural, com produtores, consultores, professores e cursos de graduação em universidades públicas foi disseminado graças a seu trabalho.

## Riquezas nacionais

Trazer para discussão duas figuras tão importantes e antagônicas é reconhecer a riqueza do que temos de melhor. Essas pessoas foram capazes de obter sucesso no meio rural, personalidades que enfrentaram todas as dificuldades econômicas, políticas e sociais, assim como a maioria dos brasileiros.

Como lição pessoal, as biografias de Primavesi e Paolinelli me revelam um Brasil que dá certo sim. No entanto, para isso, é preciso muito mais trabalho e entrega de resultados – muito maior do que estamos habituados a ter.

A [indicação de Alisson Paolinelli ao Prêmio Nobel da Paz](https://www.canalrural.com.br/noticias/agricultura/alysson-paolinelli-premio-nobel-da-paz/) pode ser o início de uma valorização maior do campo, que possamos sempre valorizar esse agronegócio que é o setor mais competitivo do Brasil, mas que muitas vezes acredita não ter o devido reconhecimento.

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