Uncategorized

As verdadeiras transformações digitais

O foco das empresas está no lugar errado: o que as tecnologias realmente estão mudando são as relações entre as pessoas
sociólogo francês, vem defendendo que o digital não é ferramenta, mas cultura.

Compartilhar:

Os últimos dez ou quinze anos testemunharam a mais forte transformação da história ocidental. Mais do que as pessoas, as relações entre elas estão mudando, ou seja, a configuração que mantêm com os colegas, as instituições, a hierarquia e as marcas. O que mudou principalmente com a disseminação das tecnologias digitais foi o design relacional. 

Isso influencia fortemente os modelos econômicos clássicos, definidos na diferenciação de papéis de produção/distribuição/consumo, que até então eram considerados exclusivos. O digital nos mostra hoje que esses papéis podem ser acumulados. Para dar um exemplo simples, um consumidor pode agora ter influência direta sobre uma empresa, o que estava completamente fora de questão há pouco tempo. 

Isso também restaura o vínculo social e a força de atração do coletivo, gerando uma forte motivação para redescobrir experiências de envolvimento, compartilhamento, participação e senso de pertencimento a um todo. Assim, fortalecem-se os modelos econômicos baseados no compartilhamento e circulação, as culturas gerenciais baseadas na colaboração, o retorno do mutualismo e do modelo cooperativo. 

**Há cinco consequências dessa transformação para as empresas:** 

**• O ego desaparece.** As culturas de marketing e RH das empresas são muito orientadas para a identificação individual de pessoas e subestimam as dimensões relacional e ambiental. Até o setor de luxo já mudou de abordagem: de uma centrada no valor do cliente individual (narcisismo, distinção em relação à massa) para uma inclusiva (imitação, recomendação, senso de pertencimento a um grupo).
**• A postura da marca é transformada.** Durante muito tempo, a marca sabia melhor do que o próprio consumidor o que era bom para ele. Hoje, essa postura já não é aceitável, especialmente para os millennials. Os clientes querem cocriar o valor da marca; então, a marca deve propiciar uma experiência para o cliente, mas sem tentar controlá-la.
**• Alarga-se o ambiente competitivo.** Uma vez que as relações de influência recíproca do ecossistema empresarial estão se expandindo, novos concorrentes surgem para as empresas, como a Apple concorrendo com os bancos.
**• Muda a definição do valor de uma empresa.** O valor de uma empresa é influenciado pelo papel que ela ocupa em toda a sociedade, não apenas no mercado. Entram na pauta confiança, lealdade, ética etc.
**• As estratégias de inovação são totalmente transformadas.** O digital mostrou que as fontes para inovar vão além das fontes internas da companhia e que a abertura da empresa a outros públicos traz valor. Passamos da cultura do sigilo e patentes à cultura aberta e de socialização dos processos de inovação.

Compartilhar:

Artigos relacionados

Organização

A difícil arte de premiar sem capitular

Desde Alfred Nobel, o ato de reconhecer os feitos dos seres humanos não é uma tarefa trivial, mas quando bem-feita costuma resultar em ganho reputacional para que premia e para quem é premiado

Gestão de Pessoas
O aprendizado está mudando, e a forma de reconhecer habilidades também! Micro-credenciais, certificados e badges digitais ajudam a validar competências de forma flexível e alinhada às demandas do mercado. Mas qual a diferença entre eles e como podem impulsionar carreiras e instituições de ensino?

Carolina Ferrés

9 min de leitura
Inovação
O papel do design nem sempre recebe o mérito necessário. Há ainda quem pense que se trata de uma área do conhecimento que é complexa em termos estéticos, mas esse pensamento acaba perdendo a riqueza de detalhes que é compreender as capacidades cognoscíveis que nós possuímos.

Rafael Ferrari

8 min de leitura
Inovação
Depois de quatro dias de evento, Rafael Ferrari, colunista e correspondente nos trouxe suas reflexões sobre o evento. O que esperar dos próximos dias?

Rafael Ferrari

12 min de leitura
ESG
Este artigo convida os profissionais a reimaginarem a fofoca — não como um tabu, mas como uma estratégia de comunicação refinada que reflete a necessidade humana fundamental de se conectar, compreender e navegar em paisagens sociais complexas.

Rafael Ferrari

7 min de leitura
ESG
Prever o futuro vai além de dados: pesquisa revela que 42% dos brasileiros veem a diversidade de pensamento como chave para antecipar tendências, enquanto 57% comprovam que equipes plurais são mais produtivas. No SXSW 2025, Rohit Bhargava mostrou que o verdadeiro diferencial competitivo está em combinar tecnologia com o que é 'unicamente humano'.

Dilma Campos

7 min de leitura
Tecnologias exponenciais
Para líderes e empreendedores, a mensagem é clara: invista em amplitude, não apenas em profundidade. Cultive a curiosidade, abrace a interdisciplinaridade e esteja sempre pronto para aprender. O futuro não pertence aos que sabem tudo, mas aos que estão dispostos a aprender tudo.

Rafael Ferrari e Marcel Nobre

5 min de leitura
ESG
A missão incessante de Brené Brown para tirar o melhor da vulnerabilidade e empatia humana continua a ecoar por aqueles que tentam entender seu caminho. Dessa vez, vergonha, culpa e narrativas são pontos cruciais para o entendimento de seu pensamento.

Rafael Ferrari

0 min de leitura
Tecnologias exponenciais
A palestra de Amy Webb foi um chamado à ação. As tecnologias que moldarão o futuro – sistemas multiagentes, biologia generativa e inteligência viva – estão avançando rapidamente, e precisamos estar atentos para garantir que sejam usadas de forma ética e sustentável. Como Webb destacou, o futuro não é algo que simplesmente acontece; é algo que construímos coletivamente.

Glaucia Guarcello

5 min de leitura
Tecnologias exponenciais
O avanço do AI emocional está revolucionando a interação humano-computador, trazendo desafios éticos e de design para cada vez mais intensificar a relação híbrida que veem se criando cotidianamente.

Glaucia Guarcello

7 min de leitura
Tecnologias exponenciais
No SXSW 2025, Meredith Whittaker alertou sobre o crescente controle de dados por grandes empresas e governos. A criptografia é a única proteção real, mas enfrenta desafios diante da vigilância em massa e da pressão por backdoors. Em um mundo onde IA e agentes digitais ampliam a exposição, entender o que está em jogo nunca foi tão urgente.

Marcel Nobre

5 min de leitura