Espaço lifelong learning

Aula prática

O experimento coletivo que estamos vivendo com a pandemia me transportou de volta ao laboratório de ciências da escola

Thomaz Gomes

Jornalista com ampla experiência nas áreas de negócios, inovação e tecnologia. Especializado em produção de...

Compartilhar:

No início dos anos 1990, no auge da minha pré-adolescência, aulas em laboratórios de ciência eram relativamente comuns nas escolas particulares de São Paulo. Entre as atividades que eram apresentadas aos alunos, o processo de decantação era a primeira decepção da molecada que vestia o jaleco branco na expectativa de construir um foguete ou simular um vulcão em erupção. Para quem não viveu essa experiência, o processo consiste em separar componentes de densidades diferentes (como óleo e água) em um mesmo recipiente, com a ajuda de bastões, funis ou pistões.

Tenho lembrado bastante dessas sessões nos últimos meses. Talvez seja por causa do experimento coletivo de decantação que estamos vivendo. Família, trabalho, amigos. Estava tudo separado no seu devido recipiente, com alguma mistura aqui e ali. Corta para mais de um ano depois do início do distanciamento social. Pai, filha, esposa, profissional – apenas para citar algumas das inúmeras entidades que formam o que chamamos de personalidade –, passaram a ocupar o mesmo espaço físico e psíquico. O tempo todo. Ou 24/7, como gostam de dizer por aí.

Tem sido um privilégio de passar por esse período com as pessoas que mais amo neste mundo: minha companheira, Maitê, e minhas filhas, Alice e Nina. Ao longo desses meses, li diversos relatos de aproximação entre pais e filhos, almoços em família durante a semana e casais se redescobrindo em meio à pandemia. O lado cheio do copo. Sim, ele existe. Mas nem sempre mostra toda a verdade. A realidade é que processos de transformação são complexos, longos e subjetivos. Alguns têm vivenciado isso em banho-maria. Outros, em uma panela de pressão.

A intensidade da convivência com as pessoas mais íntimas (e conosco mesmos) pode ser tão prazerosa quanto avassaladora. É preciso empatia, diálogo, esforço e aceitação para reescrever as histórias de nossas relações, sejam elas profissionais ou pessoais. Isso passa a ser ainda mais complexo quando abrimos as câmeras de nossa vida para o resto do mundo, inclusive para o mundo do trabalho. Uma espécie de Big Brother particular, onde as diferentes telas que dividiam nossa rotina e intimidade passaram a ser reveladas diariamente.

Assimilar a grande mistura de sentimentos e relacionamentos que se tornou a vida é um desafio enorme. O cenário ainda é de incerteza. Mas precisamos nos mover para algum lugar. Assim como nas aulas de laboratório, temos a oportunidade de aprender com esse novo ciclo de decantação que se apresenta. Reagrupar, estudar, experimentar. Entender as mudanças e aprendizados que a pandemia nos trouxe. E aceitar os resíduos que ela deixará.

Compartilhar:

Artigos relacionados

Segredos para um bom processo de discovery

Com a evolução da agenda de transformação digital e a adoção de metodologias ágeis, as empresas se viram frente ao desafio de gerar ideias, explorar

Sim, a antropologia é “as a service”

Como o ferramental dessa ciência se bem aplicado e conectado em momentos decisivos de projetos transforma o resultado de jornadas do consumidor e clientes, passando por lançamento de produtos ou até de calibragem de público-alvo.

Sua empresa pratica o carewashing?

Uma empresa contrata uma palestra de gerenciamento de tempo para melhorar o bem-estar das pessoas. Durante o workshop, os participantes recebem um e-mail da liderança