Cultura organizacional

Ballet, minha inspiração para a agilidade organizacional

Este título pode parecer surpreendente para alguém que é espectador e nunca se aventurou na arte do ballet de forma inteira: dançando e coreografando.

Vera Regina Meinhard

Administradora pela EAESP – FGV, mestra em Sustentabilidade e Governança com artigo publicado em 2020...

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Fiquei muito feliz ao receber este artigo da Jennifer Jordan por meio do professor Emílio. Imediatamente pensei: “está mais do que na hora de trazer minha contribuição sobre este tema!”.  Muito obrigada, Professor Emílio.

## A arte da dança e a coragem para fluir

Além das habilidades que a Jennifer Jordan citou em seu artigo *Lessons in agility from a dancer turned professor*, eu quero trazer para vocês valores essenciais que a prática do ballet cultivou em mim. Eles estão conectados com as relações humanas, ponto chave para uma organização desenvolver as atitudes e comportamentos compatíveis com o mindset necessário à agilidade.

![Une image contenant plancher, pluie, silhouetteDescription générée automatiquement](https://lh6.googleusercontent.com/GELZFd41FEa1uN9AZpUfDzP6F-U3dRgpbiT6eyUtqxQYMcLNJFOlL2_b53vuGmvpOtZBpeyWKqqbLan95l9XcpEz2xZBzdjUHMEox7OhmHiFtQOkW7ruAaTaAXVuXiQK3Cwrnzk)

A importância crescente que se atribui ao Novo Normal e ao VUCA (Volatility, Uncertainty, Complexity and Ambiguity) sempre me deixam surpreendida. É como se de repente as pessoas estivessem acordando e percebendo uma realidade sempre presente: nem tudo depende da esfera das habilidades e decisões humanas; tudo é novo, por isso é VUCA. A crença absoluta na meritocracia e justiça implacáveis afastou o ser humano da capacidade de ler a vida como ela é. Hoje, isto causa impacto até nas questões de inclusão, uma vez que fica difícil com esta crença diferenciar privilégio, meritocracia e superação. Acaba polarizando e dificultando o exercício de valores básicos das relações humanas como abertura para lidar com os desafios e respeito às outras pessoas, suas ideias e visões. 

Quando dançamos, coreografamos e participamos de espetáculos, principalmente amadores, aprendemos que tudo pode acontecer. O mais importante é estar preparado para lidar com o incerto e com as diferentes visões e entendimentos! Por exemplo, quando entro em um palco, sei que mesmo fazendo o meu melhor, tudo pode acontecer. Preciso estar emocionalmente e tecnicamente pronta para lidar com estas incertezas. Você já tropeçou no palco fazendo um solo? Eu já; lidei da melhor maneira com a situação e capitalizei para aprender. E os figurinos retocados na véspera de forma errada e impossível de entrarem no seu corpo? 

Pois é, viver o VUCA demanda muita coragem para deixar fluir a criatividade de todas(os) com respeito e ousar utilizá-la para lidar abertamente com cada desafio. 

## Todo espetáculo é fruto de muita colaboração

Acredito que estes são naturalmente relacionados ao ballet e mesmo assim vale lembrar: o comprometimento total com o meu desenvolvimento pessoal são valores essenciais para eu tomar em minhas mãos o prazer de ser uma bailarina. Valor a gente repete onde estiver!

Dois outros valores que a dança me ensinou e creio fundamentais para a agilidade: interdependência e colaboração. Todas(os) sabem que um espetáculo demanda várias competências, por mais minimalistas que sejam. Isso me ensinou que preciso estar sempre pronta para ajudar e cooperar com as outras funções e sentir a importância de cada uma delas na construção de tudo que faço na vida. Com isto, o ballet me ensinou a valorizar a visão sistêmica: além de fundamental para nos percebermos no espaço de um palco, é a melhor maneira de compreender e sentir as conexões entre as diferentes pessoas e suas funções em qualquer processo. 

Aprendi a valorizar a confiabilidade em cada exercício. Sei que a execução de cada um deles com total comprometimento é que me leva a entregar o melhor de mim nesta arte dentro do meu potencial.  Aprendi a me ver como cliente desta arte, pois sou a primeira que preciso emocionar ao dançar. Para entregar um belo espetáculo, e isso inclui cada aula, preciso ter foco neste cliente para o ballet representar a total conexão com minha alma, meu corpo e mente e sentir o prazer desta emoção. Entro na sala de aula e no palco para sentir e repercutir tudo isso.

Como lembra meu amigo [Thiago Henriques](https://www.linkedin.com/in/thiago-henriques-26199083/), um case bem interessante de agilidade organizacional com foco no cliente é a Zappos, fundada em 1999 por Tony Hsieh. Ele montou uma empresa on-line de venda de sapatos que se diferenciou de tudo que existia na época. Para que isso fosse possível, deu total foco ao cliente e criou um ambiente de trabalho seguro onde o fit cultural foi critério para a entrada de novos colaboradores(as), e era mais importante que as habilidades técnicas dos(as) candidatos(as). 

Seu elemento fundamental para criar a [agilidade](https://revistahsm.com.br/post/cultura-agil-e-desafios-comportamentais) necessária que demanda o foco no cliente: favorecer uma cultura orgânica e descentralizada. Por meio de comunicação clássica como call center, a Zappos conseguiu montar uma máquina de vendas, sendo inspiração para outros mercados. Seus atendentes têm autonomia para resolver o problema do(a) cliente, e são incentivados a fazer isto, realmente colocando o “cliente em primeiro lugar”. Resultado interessante: os clientes que devolveram sapatos e foram excelentemente atendidos, estatisticamente são clientes que compram mais do que clientes que nunca tiveram qualquer tipo de problema com a Zappos. O fundador Tony Hsieh diz que o negócio da Zappos é vender felicidade.

Esta autonomia espelha a capacidade de integrar todos(as) de forma orgânica no processo com respeito, confiabilidade, coragem, comprometimento, desenvolvimento pessoal, abertura, foco no cliente e visão sistêmica! Cultura de bailarinas(os), como em um espetáculo de ballet!

## A cultura do Ballet provoca valores do Ágil!

Minhas experiências com o ballet são minha motivação e me orientam na atuação profissional. Sempre brinco: aprendi mais com Nice Leite no ballet do que em 4 anos na EAESP- FGV. Claro, são aprendizados complementares. No entanto, os valores me guiam de maneira estrutural, as competências desenvolvo, revejo e incremento em função das necessidades do mundo em que vivo e dos novos desafios que assumo. O bom é que acredito que podemos desenvolver os comportamentos que se conectam com estes valores. 

Lembrando novamente do meu amigo Thiago Henriques, por esta razão, além de recebermos formação sobre métodos e técnica ágeis, é necessário aprendermos como ser os valores essenciais do ágil. A organização pode ter “Agilistas” excepcionais e contratar caríssimos “Agile Coaches” para tentar evangelizar a empresa; contudo, se os [valores ágeis](https://revistahsm.com.br/post/empresas-ageis-conseguem-se-adaptar-melhor-em-meio-a-crise) deixam de ser introduzidos como um novo modelo de comportamentos ligados a estratégia e cultura organizacional, estes esforços serão pontuais, doloridos e pouco perenes, levando muitas vezes à frustação das equipes pioneiras e descredito dos executivos sêniores sobre a viabilidade da implementação de uma cultura ágil na organização.

O artigo da Jennifer Jordan, citado no início do meu texto, me deixa muito feliz, pois reforça a intenção que Thiago Henriques e eu colocamos neste nosso novo programa innovAGILE, cuja base são os valores essenciais para ser ágil.

![](https://lh4.googleusercontent.com/uQy45DOek76oyacgOBjVFwIX98981ctWe90k3BZUR6sbqXX80gllSzbwJTPB3xy01MV-XUdWjDtaAGhy-TTRODeUVLZk9dEYNeDVUut3nraaMiY2CrK8zph3HVOdsHmEym-9opc)

Recomendo a leitura da Jennifer Jordan, ela traz 4 relações que são também essenciais:

– *Core strength*, valores fundamentais para seguir seu propósito pessoal, desdobrá-lo na vida profissional e evitar que modismos desviem sua atenção do essencial.

– *Ability to change focus quickly*, conexão com os movimentos para fluir.

– *Extreme flexibility and range of motion*, agilidade nas ideias e conexão destas com foco na solução para saber quando se desapegar ou realmente seguir em frente.

– *Knowing where you want to go*, criar uma visão e saber realizá-la por meio de etapas de curto prazo.

Espero que gostem do meu artigo e do que me inspirou.

Leia outros artigos sobre cultura ágil no [blog](https://revistahsm.com.br/blog) da Revista HSM.

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