Dossiê HSM

Benchmarks para inspirar

Quatro casos, de diferentes setores e níveis de maturidade, permitem ver como são os esforços de ESG e revelam seu alinhamento com os objetivos de desenvolvimento sustentável da onu

Sandra Regina da Silva

Sandra Regina da Silva é colaboradora de HSM Management....

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Os gestores têm um guia prático de (re)orientação a ações ambientais, sociais e de governança: são os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas (ODS). Trata-se de uma agenda cuidadosamente negociada e consentida pelos países signatários ao longo de décadas, que deve ser alcançada até 2030. Várias empresas vinham se comprometendo com metas individuais, desconectadas do todo, como reduzir emissões de carbono ou evitar desmatamento. O que a ESG incentiva é que cada uma converta um ou mais objetivos da ONU [veja a lista ao lado] em parte central de sua estratégia e operações, contribuindo para o atingimento orquestrado das metas relacionadas aos ODS.

Como incorporar os ODS no dia a dia? Lá fora, em países como os Estados Unidos e a Alemanha, o processo se baseia na criação de mecanismos para que os diversos stakeholders tenham voz nas decisões e na supervisão das empresas – por exemplo, dando-lhes assento em comitês ligados aos conselhos de administração, como vem sendo feito. Isso requer a avaliação franca de quem são esses stakeholders, é claro; não vale incluir só funcionários e clientes, como diz Sarah Kaplan, da Rotman School of Management, do Canadá.

Já no Brasil, as exigências regulatórias dão o tom, bem como a posição na cadeia de valor – intermediários são mais atentos – e a exposição internacional. Segundo Sonia Consiglio Favaretto, especialista em sustentabilidade, empresas financeiras são mais avançadas, conforme métricas da B3. Mas quem atua em setores ligados a grandes propósitos também deve ser listado. Não à toa, dois dos cases que selecionamos a seguir são de empresas de energia limpa.

## Microsoft: as metas são ambiciosas

la termina 2020 como a segunda empresa mais valiosa do mundo. Seu market cap é mais de US$ 1,36 trilhão, só ficando atrás da petrolífera Saudi Aramco. Isso aumenta suas responsabilidades em termos ESG, e ela as enfrenta. Tanto que não promete nem reduzir, nem zerar sua pegada de carbono no planeta, mas negativá-la. Com a mesma lógica, diz que vai repor água em maior quantidade do que consome. Tudo até 2030, naturalmente.
As ODS 6 e 13 são, ao lado das ODS 2 e 15, as que têm recebido maior atenção da Microsoft. A maneira de trabalhar para isso é “tech-first”, usando principalmente inteligência artificial (IA), e atuando com milhares de organizações não governamentais em várias partes do mundo, num ecossistema. “As ONGs recebem nosso apoio por meio da tecnologia”, explica Lucia Rodrigues, líder de filantropia da Microsoft Brasil. Só no Brasil, em 2019, a empresa investiu
R$ 48,3 milhões para levar tecnologia gratuitamente ou com baixo custo para 2.038 ONGs.

### Governança forte
A Microsoft tem, desde 2018, um executivo-chefe ambiental: Lucas Joppa. Ele é muito próximo de Brad Smith, que é o presidente da empresa e braço do CEO, Satya Nadella, para os relacionamentos com os vários stakeholders. Joppa construiu seu caminho até o topo intraempreendendo, ao lançar um programa que virou modelo para as atuais estratégias da empresa, o “AI for Earth”, voltado aos desafios ambientais.
Apesar do background só ambiental – Joppa é ecologista –, seu sucesso vertiginoso originou o “AI for Good”, que provê financiamento, tecnologia e formação para ativistas e ONGs em cinco áreas:

1. “AI for Earth”, na frente ambiental.
2. “AI for Humanitarian Action”, para auxiliar esforços humanitários.
3. “AI for Accessibility”, para maior acessibilidade a pessoas com deficiência.
4. “AI for Health”, em prol das condições de saúde de pessoas e comunidades.
5. “AI for Heritage Culture”, para ajudar a proteger o patrimônio cultural da humanidade.

O orçamento para a iniciativa é de US$ 165 milhões em cinco anos. Há mais exemplos da abordagem tech-first, mesmo que com valores menores, entre os quais a iniciativa Wild Me (usa algoritmos de visão computacional e deep learning para escanear e identificar animais e espécies individuais), o app Seeing (descreve pessoas, objetos e textos para indivíduos cegos ou com baixa visão) e o FarmBeats (ajuda fazendeiros a aumentarem seu rendimento com menos recursos e menos impacto ambiental e leva conexão à internet de qualidade ao campo).

### Parcerias ambientais e sociais no Brasil
Uma das parceiras-chave da Microsoft no País, em ESG, é a Fundação SOS Mata Atlântica. “Pelo acordo, vamos aplicar tecnologia aos dados coletados no projeto ‘Observando os Rios’, que reúne comunidades e as mobiliza em torno da qualidade da água. Os dados subirão na nuvem Azure e lá a inteligência artificial (IA) vai analisá-los, fornecendo insights mais efetivos para a ONG”, conta Rodrigues.
Outra parceria é com a Vale e o Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon). Esta foi selada em outbro de 2020 e vai se materializar na estação de seca de 2021. A ideia é usar IA para proteger a floresta amazônica do desmatamento e das queimadas. “Com recursos avançados de IA aplicados a uma série de indicadores de predição – como estradas ilegais abertas em regiões florestais – e aos dados das imagens de satélite, o Imazon conseguirá prever as zonas de desmatamento mais prováveis”, explica a líder de filantropia.

Um terceiro exemplo de parceria brasileira é com a ONG Mães da Sé e a desenvolvedora de soluções Mult-Connect, em que a Microsoft entra com os serviços cognitivos Azure para a Mult-Connect desenvolver o app Family Faces. A iniciativa visa ajudar na busca de pessoas desaparecidas no Brasil. Voluntários da Microsoft cuidaram da digitalização do acervo da ONG, que já está na nuvem.

### Vale até meta retroativa
O compromisso global da Microsoft é chegar a 2030 tendo reduzido suas emissões de carbono em mais da metade, mas ela tentará fazer mais. “Removeremos mais carbono do que emitimos anualmente como empresa, resultando em um impacto abaixo de zero”, garante Rodrigues.

O leitor está surpreso? Outra meta surpreendente é a de remover do meio ambiente, até 2050, todo o carbono que a empresa emitiu diretamente ou consumindo eletricidade desde que foi fundada em 1975. E mais: ela pretende eliminar sua dependência do diesel até 2030.

“Além dessas três frentes, anunciamos uma iniciativa para disponibilizar nossa tecnologia e ajudar fornecedores e clientes em todo o mundo a reduzir suas respectivas pegadas de carbono e um novo fundo de inovação climática de US$ 1 bilhão para acelerar o desenvolvimento global de tecnologias de redução, captura e remoção de carbono”, observa.

Há, por fim, vários experimentos em curso para gerar energia limpa e evitar contribuir para a mudança climática, tais como usar células de combustível de hidrogênio na energia de backup dos data centers e habilitar data centers submarinos que economizem energia.

### Reputação em jogo
Em 2020, a marca Microsoft passou a valer 53% mais do que em 2019, superando os US$ 166 bilhões e ocupando a terceira posição do ranking mundial Interbrand. O fato de ser uma das marcas mais associadas a iniciativas ESG entre as líderes é consequência e causa. O ESG deve impactar bastante o branding e lhe servir de escudo diante de questionamentos sobre se atividades e materiais do setor de tecnologia não tendem a acelerar a crise climática.

A Microsoft ainda tem várias ações relativas a outros ODS, tais como:

– Parceria, nos EUA, com a Sol Systems, desenvolvedora de energia solar, que inclui o investimento em comunidades desproporcionalmente afetadas por desafios ambientais.
– Compromisso com a redução de resíduos e plásticos. “Pretendemos atingir o objetivo de zero desperdício nas operações diretas, produtos e embalagens da Microsoft até 2030”, diz Lucia Rodrigues.
– Investimento de US$ 30 milhões em fundos da Closed Loop Partners que visam ajudar a acelerar a infraestrutura, a inovação e os modelos de negócio para a digitalização de cadeias de fornecimento em geral, a coleta de lixo eletrônico e a redução de resíduos alimentares, além da reciclagem de produtos do setor eletrônico, para construir uma economia mais circular em escala.
– Criação de iniciativas de economia circular também para dispositivos e cadeias de valor de nuvem da Microsoft – e, mais especificamente, para embalagens e lixo eletrônico, evitando que cheguem aos aterros sanitários.
– Maior transparência em um novo relatório anual de sustentabilidade ambiental.

“Estamos estabelecendo metas realmente ambiciosas”, reconhece Lucia Rodrigues. “Mas ajuda o fato de não estarmos sozinhos ao persegui-las. Temos muitos parceiros conosco.”

## Omega energia: 5 pilares

Referência em ativos de energia renovável, a Omega Energia nasceu em 2008 com o propósito de transformar o mundo por meio da energia limpa, barata e simples, um caminho que tem de começar em sua própria sustentabilidade. “Acreditamos que sustentabilidade significa alinhar interesses sem deixar ninguém para trás e gerar valor de maneira complementar”, explica Andrea Sztajn, diretora-financeira e de relações com investidores da Omega. Por isso, a empresa está formalizando em 2020 uma nova política de sustentabilidade, com metas e compromissos baseados em todos os 17 ODS da ONU. E está dando a isso a mesma prioridade conferida no lançamento de sua plataforma de compra e gestão de energia feita de modo totalmente digital.

O plano de ação da Omega até 2023 tem cinco pilares: (1) governança corporativa e comportamento empresarial; (2) comunidade e direitos humanos; (3) meio ambiente; (4) recursos humanos e (5) práticas transversais. Nele, a correta comunicação com os stakeholders foi tratada como um tema relevante da estratégia.

### Proatividades nas três frentes
Sztajn posiciona a Omega como “um dos principais combatentes do aquecimento global no Brasil”. Há embasamento para isso: por lidar com energia limpa, a empresa evitou, de 2017 a junho de 2020, a emissão de 674,3 mil toneladas de CO2. “Isso é o equivalente ao que 240 mil carros emitem em um ano”, compara. Mas isso é de certo modo o esperado, pois é a sua “praia”. E o que ela faz fora dela?
No “E” do ESG, a Omega realiza campanhas de educação ambiental e o reflorestamento nas regiões onde está presente. “Cultivamos 668 hectares de Área de Preservação Permanente ao redor de nossas pequenas centrais hidrelétricas”, conta a executiva, uma área verde que corresponde a quase “810 Maracanãs”.

O “S” está inserido no programa “Janela para o Mundo”, que engloba todos os investimentos em iniciativas e projetos sociais. Foi criado para buscar transformação sustentável por meio de soluções específicas para os problemas locais das regiões com operações, cujo foco é em educação e geração de renda.
Um dos exemplos é o Centro de Educação Janela para o Mundo, nos municípios de Ilha Grande (PI) e Paulino Neves (MA). Ali são oferecidos cursos gratuitos, como de inglês, informática, redação e libras, para crianças, adolescentes e adultos das comunidades locais. “Esperamos em um futuro próximo superar a marca de mil alunos atendidos em nossos centros de educação.”

Outra iniciativa relevante, como destaca Sztajn, é o sistema Ecolar. “Idealizamos e planejamos a instalação de um sistema de tecnologia para tratamento doméstico de água nas comunidades das zonas rurais de Gentio do Ouro e Xique-Xique, na Bahia”, conta a diretora.

No “G” de ESG, a governança tem sido fortalecida desde o IPO da Omega, em 2017. Mas não são só as regras rígidas, por ter ações negociadas no Novo Mercado da B3, que definem as intenções da empresa. Seu objetivo é ir voluntariamente além dos padrões exigidos. Para isso, desenhou uma estratégia organizacional alinhada aos Princípios para a Governança Corporativa do G20 e da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).

“Em 2019, lançamos, além disso, nosso Código de Conduta e Políticas, um conjunto de ferramentas que nos ajudam a traduzir plenamente nossas crenças em tudo que fazemos”, diz a diretora. Que crenças? “Acreditamos que a sustentabilidade nas empresas e na sociedade começa por uma atuação ética e sustentável e que resultados superiores só são válidos se atingidos respeitando as leis, nossos valores e uns aos outros.”

A plataforma lançada durante a pandemia não deixa de ser uma maneira de amplificar o ESG na letra “E”. “Esperamos que traga bons resultados em longo prazo, para nós e para o meio ambiente”, diz Sztajn. Com a plataforma, clientes do mercado livre podem gerir sua energia de forma simples, rápida e flexível, podendo economizar até 30% de seu gasto, de acordo com ela. “A plataforma incentiva a migração das empresas para o mercado livre de energia, o que tende a facilitar seu acesso a energia limpa.”

### A estrutura de ESG
A Omega tem um Comitê de Sustentabilidade, formado pelo CEO, a diretora de pessoas e gestão social, a diretora de meio ambiente e compliance e o responsável por sustentabilidade. A responsabilidade do órgão é garantir que todos os compromissos de sustentabilidade estejam incorporados em todas as atividades e negócios.

Por exemplo, o comitê faz a avaliação anual das metas de ESG traçadas para o longo prazo. Em 2023, a avaliação final da efetividade das metas contará com notas atribuídas por índices relevantes sobre o assunto e feedback do mercado. “Também foram tratados critérios e indicadores relacionados ao desempenho socioambiental da companhia entre as métricas de avaliação e de remuneração variável, bem como mecanismos para o engajamento nos temas sociais e ambientais, ressaltando a importância dessas questões”, detalha Sztajn.

Além do comitê, há um grupo de trabalho que é responsável pela agenda de sustentabilidade da Omega. Esse grupo é composto por pessoas das áreas de relações com investidores, gestão social, gestão ambiental, gestão de pessoas, marca e governança. Nessa composição, a empresa garante a diversidade de ideias e visões, segundo Sztajn, o que agrega muito às discussões.

Qual o maior desafio de ESG da Omega atualmente? A diretora responde que é “manter a cultura empreendedora, e o propósito que nos trouxe até aqui, numa organização que cresce dia após dia”. O crescimento pode atrapalhar os melhores propósitos, como se sabe, mas os executivos da Omega estão vigilantes.

## Atlas energy: atuação em 4 ondas

Trabalhar com comunidades locais e respeitar as diretrizes ambientais durante a construção, o desenvolvimento e a operação das usinas de energia limpa tem sido o principal compromisso ESG da Atlas Renewable Energy do Brasil. Foi assim, por exemplo, nas três usinas construídas em 2019 no Nordeste, um investimento de US$ 152 milhões. E se repetirá na usina fotovoltaica de Jacarandá, na Bahia.

Agir assim tem a ver com a origem do capital obtido, inclusive. Para o novo projeto, a Atlas obteve empréstimo de US$ 67 milhões viabilizado principalmente pelo IDB Invest (do Inter-American Development Bank Group), a partir de fundos que administra, como Clean Technology Fund e Canadian Climate Fund, além da participação do norueguês DNB ASA. Mas é compromisso público da Atlas, definido em seu Green Finance Framework. Por ele, todos os projetos devem preservar e proteger o meio ambiente, além de garantir engajamento social e ambiental.

Segundo Luis Pita, diretor da Atlas no Brasil, investimento social estratégico e diversidade e inclusão são duas das “quatro ondas de atuação ESG” estabelecidas pela empresa, fora o combate ao aquecimento global, que é o foco da energia limpa. As outras duas serão trabalhadas no futuro: biodiversidade e compras & aquisições responsáveis. Como é cada onda? Pita explica.

Investimento social estratégico: As iniciativas sociais da Atlas devem focar educação e vida rural sustentável. Os critérios utilizados são a sustentabilidade ao longo do tempo, projetos de impacto mensurável, projetos de geração de capacidades e autossuficiência das comunidades.

Os investimentos sociais se baseiam na criação de valor compartilhado, sempre com os objetivos de negócios e competências da Atlas em harmonia com as prioridades de desenvolvimento das comunidades locais. “Temos nos concentrado muito na construção de capital social e num senso de propriedade local. Fazemos isso criando estratégias de transferência de conhecimento desde a concepção do projeto do investimento social. Também medimos os resultados e os divulgamos, para otimizar o valor comercial derivado desse investimento social e lhe dar sustentação”, detalha o executivo.

Diversidade & inclusão: “Implementamos a variável gênero com todas as suas pluralidades e interseccionalidades, como raça, etnia, orientação sexual.” Reconhecendo que a indústria é dominada por homens, a Atlas direciona esforços para mudar esse paradigma, especialmente no empoderamento econômico feminino.
Merece destaque o programa de força de trabalho feminina (WWP, na sigla em inglês) chamado “Somos parte da mesma energia”. “O objetivo é aumentar o acesso das mulheres locais a empregos, oportunidades empresariais e posições de liderança em sua cadeia de valor corporativa”, conta Pita.

Biodiversidade: “Queremos levar a indústria a um nível totalmente novo em termos ambientais.” A meta, diz o executivo, é deixar de ver a conservação como algo imposto, para ser desejado coletivamente. “Cuidar dos ecossistemas é crucial para cuidar de todos os humanos. E cuidar de todas as formas de vida é uma necessidade moral.”

Apesar de produzir energia limpa, a Atlas utiliza a tecnologia fotovoltaica, que cobre áreas de terra, as quais abrigam vida. A perda de seu habitat leva à extinção de espécies, causando outros impactos negativos sobre a biodiversidade. Por isso, “devemos ter em conta o impacto que um projeto como o nosso pode causar à biodiversidade da área de implantação”, completa. Então, os próximos projetos da Atlas seguirão a estratégia declarada de zero perda líquida de biodiversidade.
Compras e aquisições responsáveis: “Acreditamos que, se as empresas mudarem a forma como compram, elas podem mudar fundamentalmente o mundo”, diz Pita. A premissa é que a cadeia de fornecimento representa um grande risco ESG, mas também abre as maiores oportunidades para gerar impacto positivo.

Segundo ele, provocar mudanças no comportamento do fornecedor e em suas abordagens ambientais e sociais tende a trazer resultados em curto, médio e longo prazos para a Atlas e seus investidores, como redução de custos, maior eficiência, inovação de produtos, acesso a novos mercados. Os resultados mais importantes vêm da melhoria das condições de trabalho para os funcionários de fornecedores, pois isso reduz a rotatividade e gera maior produtividade, qualidade e confiabilidade da entrega.

### O ESG na liderança
“Como a sustentabilidade faz parte do core business da Atlas, a área de ESG está inteiramente envolvida em todos os processos da empresa”, conta Luis Pita. Em cada país em que atua, há um gerente de ESG e dois coordenadores, um ambiental e outro social. Todos são liderados pela head global de ESG, que tem apoio de uma coordenadora de inovação social, diversidade e inclusão. E a head se reporta ao COO.

“Além disso, a expectativa é que o CEO global da Atlas e os country managers de cada país se envolvam pessoalmente no monitoramento das atividades ESG, oferecendo seu apoio explícito para garantir que atendamos aos mais altos padrões e que transformemos nossa equipe ESG em uma referência na região”, revela Pita.

### Interface entre áreas
Na Atlas, ESG colabora com todas as áreas de negócios, com interface constante. “Isso mostra a importância da área para integrar os negócios da companhia nas ações no âmbito externo”, comenta o diretor da empresa no Brasil. De quebra, isso ajuda a evitar os temidos silos. Cinco áreas têm, no entanto, um relacionamento mais estreito com ESG: comercial (por desenvolver projetos de interesse do cliente), estruturação financeira (já que é atrativo de fundos e, depois, no cumprimento de metas estabelecido para o financiamento), legal (ESG na perspectiva de contratos, pela conformidade com padrões internacionais), desenvolvimento (nos estudos de viabilidade ambiental e social em aquisições e a serem submetidos às autoridades), engenharia e organização, sistemas e métodos (para que projetos da empresa evitem ao máximo os impactos socioambientais).

### Desafios e futuro
Os desafios são, naturalmente, muitos. A equidade de gênero tem sido especialmente desafiadora para a Atlas, segundo Pita, ao mesmo tempo que traz a vantagem de ser muito transformadora. A Atlas tem tanto esforços voltados ao desenvolvimento profissional das mulheres que trabalham na empresa quanto ações para que as que vivem nas comunidades ao redor das usinas tenham acesso a estudo e trabalho.

Pensando nos próximos anos, Pita considera também que “um enorme desafio é acompanhar a originação dos projetos e seu desenvolvimento para garantir que nosso pipeline de projetos amadureça com saúde na perspectiva ESG”.
Outro desafio significativo é a finalização e a aplicação da política de biodiversidade. “O que nos motiva é saber que o mundo precisa muito disso e que, por isso, ela nos permitirá fazer uma enorme diferença em relação a outras empresas de energia renovável”, pontua o executivo.

Como ESG não é algo estático, os desafios também estão sempre mudando, como destaca o principal executivo da Atlas no Brasil. “O planejamento tem de ser constante, pois os territórios em que atuamos são muito diversos e necessitam de estudos frequentes, além de um engajamento estratégico constante com os principais stakeholders.”

E o futuro? “Entendemos nossa função como uma oportunidade de criar um mundo mais limpo, mais justo, onde as pessoas tenham mais e iguais oportunidades. Queremos contribuir para que as gerações seguintes encontrem um planeta melhor do que é hoje”, diz Pita, confirmando o sonho que convive com o realismo das ações que comanda. A Atlas, afinal, é apontada como um modelo de ESG em seu setor, e quer continuar a sê-lo.

## UBS: ESG como a primeira opção

Em setembro de 2020, o UBS anunciou uma importante decisão: passará a recomendar investimentos sustentáveis no lugar dos investimentos tradicionais. Foi a primeira empresa global de gestão de patrimônio a erguer essa bandeira. Esse banco de origem suíça tem um histórico de 25 anos em investimentos sustentáveis, administrando quase US$ 500 bilhões em ativos sustentáveis ​​essenciais em todas as suas divisões de negócios no mundo.
“Em 2018, fomos os primeiros gestores de patrimônio a conceituar e oferecer um portfólio 100% sustentável, que era totalmente diversificado. E o mais importante é que já conseguimos demonstrar a viabilidade de uma carteira variada, sustentável e com retornos financeiros comparáveis ​​e até superiores às carteiras tradicionais”, destaca Sylvia Brasil Coutinho, presidente do Grupo UBS no Brasil, vice-presidente do conselho do UBS BB Investment Bank (a
joint-venture entre o suíço UBS e o Banco do Brasil) e head da área de wealth management para a América Latina.
Como garante Frederic De Mariz, diretor-executivo do UBS BB e especialista em ESG, o compromisso do banco com iniciativas de sustentabilidade é profundo, tanto em operações como em negócio. “O assunto surge em todas as nossas atividades do dia a dia”, diz.
Na temática ESG, segundo De Mariz, tanto a equipe do banco quanto os clientes precisam levar em conta três abordagens principais:

– Exclusões. O banco exclui de suas relações empresas que não atendam a valores sustentáveis, sejam clientes, sejam fornecedoras.
– Integração. Refere-se à inclusão de fatores ESG nas métricas de investimento analisadas, desde que sejam métricas relevantes para o desempenho financeiro da empresa.
– Impacto. O banco sempre escolhe estratégias de investimento que gerem impactos sociais e ambientais positivos mensuráveis, juntamente com retornos financeiros competitivos, em detrimento de outras estratégias que só visam os retornos financeiros.

“De maneira global, o UBS tem o compromisso de criar impacto positivo de longo prazo para clientes, funcionários, investidores e a sociedade como um todo. Especificamente no Brasil, onde lidamos com grandes desafios nas áreas ambiental e social, que vão do desmatamento à infraestrutura hídrica ou educação e acesso a serviços financeiros, isso é ainda mais importante e já está incorporado às nossas estratégias de negócios como empresa e como gestora de recursos”, destaca De Mariz.

### Evangelização entre as Ações
O UBS contabiliza várias iniciativas de ESG nos últimos anos. Desde o lançamento em 2014 do UBS and Society, plataforma que ajuda a tornar a sustentabilidade o padrão diário nos negócios, à criação do Prêmio UBS ao Empreendedor Social, lançado no Brasil em 2009, passando por destinar US$ 30 milhões a projetos globais e locais voltados à Covid-19 – parte desse montante direcionado a comunidades carentes na América Latina.

“O UBS também se orgulha de ser o único banco no Brasil com uma diretoria composta igualmente por mulheres e homens”, afirma Coutinho. Ainda no front da diversidade, o banco participa do projeto Dn’A, lançado em 2019, que tem como objetivo promover a inclusão de mulheres (cisgênero e transgênero) no mercado financeiro – incluindo treinamento e coaching com profissionais de bancos.

No Brasil, o banco educa ativamente seus clientes quanto a investimentos de impacto. Realiza workshops com os clientes corporativos para discutir os benefícios e as percepções dos investidores sobre os títulos verdes, apresenta startups brasileiras para investidores potenciais, promove seu contato com o Align17, plataforma de capital de risco do UBS hospedada na área de wealth management que foi construída propositalmente para remover os atritos dos clientes de wealth management com o investimento de impacto.

### Reporte ao ceo global
Todas as áreas do UBS – como banco de investimento, gestão de ativos, corretora e pesquisa – contam com executivos capacitados e envolvidos em ESG, mas, como explica Sylvia Coutinho, o UBS and Society é a organização do grupo dedicada ao tema. Sua head global, Phyllis Costanza, reporta-se diretamente ao CEO do grupo, Ralph Hamaers, o que ainda não é muito comum nas empresas.

No Brasil, é a própria CEO que cuida de ESG, em colaboração com os executivos de cada área. “Sempre tive uma paixão pelo tema de sustentabilidade, desde que me formei como engenheira agrônoma, e acredito firmemente no papel de liderança que os bancos podem ter nessa área. Também acredito que o Brasil pode se tornar um líder global em finanças verdes, e estamos fazendo o possível para fomentar essa pauta no País”, reforça ela. Traduzindo num número, o objetivo é triplicar os ativos sob gestão com característica de ESG até 2022. “No banco de investimento, todas as transações seguem um crivo ESG e são aprovadas em um comitê que acompanha os três temas; e nossa meta é acompanhar nossos clientes para melhorarem seu score ESG”, complementa Coutinho.

Assim como todas as análises consideram as questões ambientais, sociais e de governança envolvidas, o norte da tomada de decisão é o investimento sustentável. “Para as decisões finais, aplicamos, com nossos analistas, um ‘modelo de competição’ com base no fato de acharmos que o cenário competitivo engloba riscos e oportunidades ESG.”

Coutinho garante que não tem havido conflitos de interesses de fato, mas, em situações com visões diferentes, a equipe do UBS é orientada a engajar as empresas por meio do diálogo.

### Desafios que são oportunidades
O que está no horizonte? Fazer mais pessoas saírem da lógica restrita de risco para enxergar todo o potencial de negócios em torno do ESG. É algo bem desafiador, mas, segundo a CEO local do UBS, isso seria uma imensa oportu­ni­dade de geração de empregos e riqueza. “O País pode usar tecnologia e sustentabilidade ao seu favor para se tornar a grande potência agrícola do
século 21.”

Há desafio e oportunidade também em levar as finanças sustentáveis além das empresas que já são verdes. “Queremos assessorar quem começa a trilhar esse caminho”, diz a CEO.

Na opinião de Sylvia Coutinho, o que contribuiria bastante nessas duas frentes seria uma padronização de conceitos em torno do ESG. “Desenvolver uma taxonomia seguindo os padrões globais ajudaria a evitar o risco de greenwashing, por exemplo”, observa ela.

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