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Benefícios corporativos: por que as viagens de incentivo podem ser o novo queridinho dos RHs?

Entenda viagens de incentivo só funcionam quando deixam de ser prêmios e viram experiências únicas
CEO da Onhappy, empresa de benefícios corporativos de viagens a lazer da Onfly. É bacharel em Comunicação Social pela Universidade São Judas Tadeu e conta com certificado como Chief Happiness Officer (CHO) pela Reconnect – Happiness at Work & Human Sustainability. Com mais de 10 anos de experiência em vendas, gestão de times e desenvolvimento de talentos, possui passagens por empresas como Férias & Co. Beltis Tecnologia e Máquina Cohn e Wolfe

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O estalo pra escrever esse artigo veio depois de uma conversa com uma empresa que queria premiar seus colaboradores com viagens. A ideia era ótima, mas o modelo escolhido — aquele já batido, via agência, com pacotes prontos e pouca flexibilidade — virou um mini caos. Cotações demoradas, preferências individuais que não se encaixavam, agendas que não batiam. No fim, a viagem virou um problema para a empresa, não uma solução.


Essa situação traz à tona uma verdade sobre a forma como as empresas incentivam seus funcionários: não dá mais pra tratar reconhecimento como algo padronizado. Cada pessoa tem uma história, um momento, um desejo diferente. E os dados confirmam esse movimento. Segundo um estudo do Incentive Research Foundation, empresas que usam viagens de incentivo performam até 22% melhor.

Coincidência ou não, naquela mesma semana estive num evento sobre comportamento do novo consumidor — e, claro, do novo colaborador também. Falamos sobre propósito, experiências e o quanto a tecnologia tem sido mal utilizada. Tem muito algoritmo tentando prever o que a gente quer, mas pouca escuta ativa para entender de verdade quem está do outro lado.

Modelos tradicionais de incentivo estão defasados e pouco eficazes diante das novas demandas dos colaboradores. Em um cenário cada vez mais digital, torna-se evidente que a conexão humana continua sendo o principal fator de engajamento.

Viagens de incentivo ainda funcionam? Muito. Mas com novos códigos.

Se você acha que esse tipo de premiação ficou no passado, vale repensar. O mercado global de viagens de incentivo deve ultrapassar US$ 90 bilhões até 2027, de acordo com uma projeção da Allied Market Research — não é pouca coisa.

Hoje, mais do que nunca, as pessoas valorizam experiências que fazem sentido para elas, que se distanciam do convencional e que tenham “tamanho único”. Nesse contexto, as viagens de incentivo surgem não como brindes, mas como um reconhecimento genuíno do trabalho realizado. É aí que as viagens entram, como uma forma de dizer: a gente te enxerga. E a gente valoriza o que você constrói aqui.

Uma pesquisa da Eventbrite mostrou que 81% dos colaboradores, hoje, preferem experiências a prêmios materiais. Além disso, programas de incentivo bem estruturados aumentam em até 44% a retenção de talentos, conforme dados do Aberdeen Group. Ou seja, o objetivo não é apenas motivar, mas criar vínculos emocionais duradouros.

Os colaboradores não buscam mais “prêmios” comuns. Eles querem liberdade, autonomia e a oportunidade de escolher quando viajar, para onde ir e com quem compartilhar a experiência. Eles desejam moldar seu próprio roteiro, assim como desejam construir suas carreiras de forma personalizada, no seu tempo e no seu próprio ritmo. A lógica do incentivo evoluiu: sai o reconhecimento estático, entra a jornada personalizada.

E como a tecnologia se encaixa nesse novo modelo? 

A tecnologia, incluindo IA, automações e plataformas, precisa ser utilizada para potencializar o lado humano, sem perder seu propósito original. Quando bem aplicada aos benefícios de incentivo, a tecnologia se torna uma ponte que conecta, mas, quando mal utilizada, pode se tornar ruído. Três movimentos têm se destacado nesse novo cenário:

  1. Gamificação verdadeira: Não se trata de criar jogos simples, mas de desenhar jornadas que gerem envolvimento real, com metas claras, recompensas bem estruturadas e estímulos contínuos. Esses elementos se conectam de maneira mais eficaz do que simplesmente enviar e-mails.
  2. Analytics com intenção: Muitas empresas coletam dados, mas poucas utilizam essas informações para compreender melhor os colaboradores. Quando bem aplicado, o analytics revela padrões de comportamento, preferências e até sinais de desengajamento. Isso permite a personalização das experiências de maneira eficaz.
  3. Comunicação contextualizada: Enviar a mensagem certa, mas no canal errado pode gerar indiferença. O que funciona hoje é ser relevante e direto, escolhendo o tom certo e o canal adequado no momento oportuno — seja uma notificação no app, uma interação no Teams ou uma mensagem leve no WhatsApp.

No final, o que o colaborador quer, assim como eu e você, é ser tratado como indivíduo. O que a reflexão sobre viagens de incentivo nos ensina é que o desejo de ser reconhecido como uma pessoa única, com seus próprios desejos, momentos de vida e sonhos, está mais forte do que nunca. Portanto, o diferencial de uma estratégia de engajamento não está no que é oferecido, mas na forma como é entregue.

As viagens de incentivo continuam sendo uma das formas mais eficazes de engajar, reconhecer e construir cultura dentro das empresas. No entanto, o futuro exige mais do que boas intenções: exige experiências com liberdade, tecnologia com propósito e reconhecimento genuíno.

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