Liderança, Times e Cultura

Canvas de modelo de negócio

Essa ferramenta é um booster por excelência: trata-se de um documento de 1 página que pode reestruturar toda uma empresa em torno do usuário e, assim, deixá- -la mais sustentável e relevante para os tempos atuais. Mas, para que funcione, o canvas precisa superar três obstáculos que se repetem, tratados neste artigo.
Ulisses Zamboni é atual chairman e sócio-fundador da Santa Clara, foi presidente do Grupo de Planejamento no Brasil, é membro do Comitê de Ética do Capitalismo Consciente, marketing & communication advisor para o Outback Steakhouse. Psicanalista, clinica há 15 anos.

Compartilhar:

Quando, em meados dos anos 2000, o suíço Alexander Osterwalder e o belga Yves Pigneur decidiram conceber uma ferramenta de apenas uma página para mostrar a empreendedores como suas companhias tinham o poder de fazer algo bom para a sociedade enquanto davam lucro, eles não imaginavam algo tão poderoso. Ambos notaram que os modelos de negócio da época eram complexos demais para gerar resultados – fosse para os acionistas, fosse para outros stakeholders.

Se ainda não usou, pelo menos você conhece o canvas. São aqueles nove blocos em que colamos post-its, que se constroem numa espécie de silogismo de negócios – um bloco se cria a partir da resposta lógica ao outro. Essa lógica se edifica a partir do que é mais nobre na metodologia: manter uma abordagem centrada no usuário. O pressuposto é o conhecimento profundo de hábitos e atitudes do consumidor.

O canvas pode virar uma empresa de cabeça para baixo, sempre com o intuito de deixá-la mais alinhada ao mundo contemporâneo, porque desafia suas dinâmicas – e, sutilmente, diz que elas não são mais sustentáveis para o mundo de hoje. Mas ele não faz milagre; é preciso usá-lo corretamente. Há ao menos três obstáculos na produção do documento: a definição do usuário, o papel do líder e a relação custo-investimento.

1. __O usuário__. É sempre bom começar com um workshop de canvas com o usuário, para que cada profissional da gestão do negócio que estiver no projeto tenha na cabeça o mesmo perfil de consumidor que será alvo do produto ou serviço.

O exemplo mais emblemático de minha experiência no preenchimento desse bloco é o de uma empresa de bebidas em que o diretor de trade, o de marketing e a vice-presidência tinham visões muito distintas sobre quem era o usuário. Com a experiência da “barriga no balcão”, o líder de trade enxergava o usuário como alguém menos sofisticado. O profissional de marketing via alguém mais glamouroso, com uma construção imagética que vinha primordialmente das análises de segmentação de público feita pela matriz. Já a vice-presidência, havia pouco tempo na companhia, tinha um usuário sem nuances claras.

Em minha experiência, a economia de tempo é sensível quando a maior parte do tempo é gasta nesse primeiro bloco, para que todos concordem em um mesmo usuário. No caso da empresa de bebidas, 70% do tempo foi gasto nisso.

2. __A liderança.__ ento. O que de fato dá trabalho nessa tarefa são os chamados “de acordo” dos executivos C-level após as decisões nos work-shops que cada bloco exige. Quando o assunto é canvas, não podemos ignorar as relações de poder nas empresas.

Após dezenas de projetos realizados, afirmo que muitas vezes o canvas acaba fortalecendo áreas e atividades que antes tinham menor poder de influência e enfraquecendo outras. Esse fato é mais complexo em empresas profissionalizadas de grande e médio porte, uma vez que a gestão está nas mãos de profissionais de mercado, com missões e tarefas preestabelecidas que disputam protagonismo dentro da companhia. As empresas de gestão familiar, por sua vez, acabam acatando e cumprindo o combinado de maneira até mais rápida e efetiva.

Como se supera esse obstáculo? Com um líder mais atuante e presente, que deixa pouco tempo para politicagem – e sabe que precisa mudar.

__3. Custo ou investimento.__ O preenchimento do canvas é uma tarefa mais fácil para os profissionais que têm o dom da abstração e da idealização (ou o DNA do empreendedorismo).

Um bom workshop começa pelo lado direito do documento, que foca a identificação do usuário-chave para a empresa, oferece uma proposição de valor e cria os vínculos dele com a marca. Mas o lado esquerdo, onde fica toda a estrutura de custos, tanto para financiar o negócio como as parcerias, é difícil de operar em workshops com alguns tipos de executivos, especialmente os líderes que só pensam em custos (porque o custo, nesse momento, deveria ser visto como investimento) e os atrelados aos modelos tradicionais, verticais (que dificilmente se imaginam fazendo parcerias estratégicas temendo a complexidade de negociação e não conseguindo ver um modelo financeiro para repartir receita).

Pessoas mais velhas e líderes de empresas adquiridas por fundo de investimento (cujo objetivo é otimizar despesas para venda futura) se encaixam nessa categoria.

Osterwalder e Pigneur devem ficar tristes quando sabem de algum mau uso de sua extraordinária criação. Mas, se evitar esses obstáculos, não será você a entristecê-los.

> Produtos e serviços viraram commodities. Só as empresas que ficarem mais próximas das necessidades humanas do consumidor prosperarão

Compartilhar:

Artigos relacionados

Inovação & estratégia, ESG
24 de novembro de 2025
Quando tratado como ferramenta estratégica, o orçamento deixa de ser controle e passa a ser cultura: um instrumento de alinhamento, aprendizado e coerência entre propósito, capital e execução.

Dárcio Zarpellon - Chief Financial Officer na Hypofarma

3 minutos min de leitura
Inovação & estratégia
22 de novembro de 2025
Antes dos agentes, antes da IA. A camada do pensamento analógico

Rodrigo Magnano - CEO da RMagnano

5 minutos min de leitura
Gestão de pessoas & arquitetura de trabalho, Cultura organizacional
21 de novembro de 2025
O RH deixou de ser apenas operacional e se tornou estratégico - desmistificar ideias sobre cultura, engajamento e processos é essencial para transformar gestão de pessoas em vantagem competitiva.

Giovanna Gregori Pinto - Executiva de RH e fundadora da People Leap

3 minutos min de leitura
Inteligência Artificial, Liderança
20 de novembro de 2025
Na era da inteligência artificial, a verdadeira transformação digital começa pela cultura: liderar com consciência é o novo imperativo para empresas que querem unir tecnologia, propósito e humanidade.

Valéria Oliveira - Especialista em desenvolvimento de líderes e gestão da cultura

3 minutos min de leitura
Cultura organizacional, Gestão de pessoas & arquitetura de trabalho
19 de novembro de 2025
Construir uma cultura organizacional autêntica é papel estratégico do RH, que deve traduzir propósito em práticas reais, alinhadas à estratégia e vividas no dia a dia por líderes e equipes.

Rennan Vilar - Diretor de Pessoas e Cultura do Grupo TODOS Internacional

3 minutos min de leitura
Inovação & estratégia
18 de novembro de 2025
Com agilidade, baixo risco e cofinanciamento não reembolsável, a Embrapii transforma desafios tecnológicos em inovação real, conectando empresas à ciência de ponta e impulsionando a nova economia industrial brasileira.

Eline Casasola - CEO da Atitude Inovação, Atitude Collab e sócia da Hub89 empresas

4 minutos min de leitura
Gestão de pessoas & arquitetura de trabalho
17 de novembro de 2025
A cultura de cocriação só se consolida quando líderes desapegam do comando-controle e constroem ambientes de confiança, autonomia e valorização da experiência - especialmente do talento sênior.

Juliana Ramalho - CEO da Talento Sênior

4 minutos min de leitura
Liderança
14 de novembro de 2025
Como dividir dúvidas, receios e decisões no topo?

Rubens Pimentel - CEO da Trajeto Desenvolvimento Empresarial

2 minutos min de leitura
Sustentabilidade
13 de novembro de 2025
O protagonismo feminino se consolidou no movimento com a Carta das Mulheres para a COP30

Luiza Helena Trajano e Fabiana Peroni

5 min de leitura
ESG, Liderança
13 de novembro de 2025
Saiba o que há em comum entre o desengajamento de 79% da força de trabalho e um evento como a COP30

Viviane Mansi - Conselheira de empresas, mentora e professora

3 minutos min de leitura

Baixe agora mesmo a nossa nova edição!

Dossiê #170

O que ficou e o que está mudando na gangorra da gestão

Esta edição especial, que foi inspirada no HSM+2025, ajuda você a entender o sobe-e-desce de conhecimentos e habilidades gerenciais no século 21 para alcançar a sabedoria da liderança

Baixe agora mesmo a nossa nova edição!

Dossiê #170

O que ficou e o que está mudando na gangorra da gestão

Esta edição especial, que foi inspirada no HSM+2025, ajuda você a entender o sobe-e-desce de conhecimentos e habilidades gerenciais no século 21 para alcançar a sabedoria da liderança