Dossiê HSM

Case ArcelorMittal: harmonizando métodos

A criação do Açolab, para fazer a ponte com o ecossistema de startups do setor siderúrgico, contribuiu muito para o processo

Compartilhar:

A operação de uma siderúrgica é complexa. Ainda mais se for multinacional. Por isso, é de se esperar que toda siderúrgica privilegie um modelo estruturado e seguro de gestão de projetos. Porém, em meio à acelerada transformação digital que vivemos, ficar restrito a esse caminho poderia comprometer o futuro no médio e no longo prazos. Adotar o ágil vira necessidade. A ArcelorMittal optou por ficar com o melhor das duas, criando um modelo em que ambas convivem em harmonia.

“A ArcelorMittal é uma empresa extremamente executora e já tinha a agilidade em seu DNA”, diz Raissa Bahia, gerente de PMO e transformação do negócio. “Quando começamos a adotar o ágil, a metodologia rapidamente foi abraçada pelas diversas áreas da empresa”, conta. “Mas isso criou outro tipo de problema: o gerenciamento de projeto preditivo passou a ser visto como burocrático e, de uma hora para outra, todas as áreas queriam usar ágil, o que poderia facilmente se tornar uma desculpa para não se ter um prazo final.” Como explica Bahia, se um projeto possui um método de solução bem definido, com cenário certo e previsibilidade, não há por que deixar de utilizar metodologias preditivas.

A escolha do método, na ArcelorMittal, é feita com base na avaliação do contexto. “Quando uma área pede para usar o ágil, primeiro fazemos uma avaliação. O cenário é de extrema complexidade? É um projeto de inovação? Os respectivos stakeholders concordam com os requisitos? Dependendo da resposta, usamos ágil, preditivo ou um mix deles.”

Em projetos simples, o melhor caminho pode ser aplicar noções de lean na metodologia tradicional, avaliando a real necessidade de cada uma das nove frentes pregadas pelo PMI. É preciso, de fato, fazer gestão de mudança, de comunicação, de recursos humanos? “Conseguimos usar a metodologia tradicional sem todas as pernas que são usadas em um projeto complexo. Naqueles com cenário bem definido, requisitos em concordância, maturidade elevada na gestão, não é preciso ir para a metodologia ágil. Às vezes, por incrível que pareça, o ágil pode fazer você perder agilidade.”

__Laboratório de inovação.__ Ficar muito próxima do ecossistema de inovação é um ponto estratégico para a ArcelorMittal que criou um laboratório, responsável pelos projetos de inovação da empresa. “Em 2018, a ArcelorMittal foi pioneira do setor nisso, ao lançar o Açolab, para fazer a ponte com o ecossistema de startups do setor siderúrgico”, diz Thiago Almeida, business partner de inovação da empresa. O Açolab trabalha em conjunto com o PMO, e ambos são subordinados à diretoria de estratégia.

A “dobradinha” é bem estruturada. O PMO tem um papel estratégico: analisa transversalmente todos os projetos da empresa, define prioridades e dá suporte à sua execução. E o Açolab se encarrega dos projetos de inovação, recebendo demandas de qualquer lugar da empresa – uma necessidade pode ser percebida por um departamento, funcionário ou executivo. No Açolab, os pedidos são analisados, filtrados e transformados em projeto. O laboratório ainda monitora o ecossistema de startups e identifica soluções que “dão match” com as dores da empresa ou possam trazer ganhos relevantes para ela.

E como definir a estrutura que cuidará de cada projeto? O critério é o da complexidade. “É preciso tratar os projetos com a complexidade que eles exigem”, pondera Bahia. “Nosso PMO utiliza as metodologias tradicionais, mas com um olhar mais lean. No Açolab, rodamos a fase de inovação. Uma vez que o MVP é validado, com a geração de valor bem consolidada, pensamos em fazer com que ele ganhe escala na empresa.”

Ela explica que, para expandir o piloto para outras unidades da empresa, é avaliado se o projeto deve ter um modelo um pouco mais preditivo ao verificar se cabe um planejamento mais robusto, ou uma linha de raciocínio linear. Com resposta positiva, adota-se uma prática mais tradicional. Caso contrário… “Se eu fiz um MVP que funcionou muito bem em uma das unidades industriais, mas outras têm uma complexidade um pouco diferente, essa expansão pode ser feita com um olhar um pouco mais ágil, para ter uma frequência de teste um pouco maior e ver se estamos no caminho certo”, esclarece Bahia.

O foco atual da empresa é a descentralização da inovação, com todas as áreas participando colaborativamente desse tipo de projeto. Segundo Almeida, tal prática levou a empresa a perceber que não existe um fluxo único de inovação. “O PMO pode trazer projetos para o Açolab. O laboratório, por sua vez, pode levar ideias para a área de sistemas, nosso centro de pesquisas pode colaborar… estamos o tempo todo trabalhando em conjunto e vendo qual a melhor abordagem para cada problema.”

Descentralização sim, mas com accountability e alinhamento. “Trabalhamos o empoderamento, o ownership, mas todos precisam estar muito bem alinhados à estratégia da empresa”, diz Bahia. E completa dizendo que a estratégia precisa estar clara e cristalina, além de bem comunicada, para que as pessoas trabalhem em torno de um objetivo comum e a descentralização funcione. O papel do PMO é fundamental nisso, por estabelecer prioridades. “Temos um portfólio de projetos estratégicos e o recurso para eles é finito. A inovação precisa estar no centro dessa estratégia para poder competir com projetos que vão gerar um Ebitda maior para a empresa no curto prazo.”

Compartilhar:

Artigos relacionados

Gestão de pessoas & arquitetura de trabalho, Cultura organizacional
21 de novembro de 2025
O RH deixou de ser apenas operacional e se tornou estratégico - desmistificar ideias sobre cultura, engajamento e processos é essencial para transformar gestão de pessoas em vantagem competitiva.

Giovanna Gregori Pinto - Executiva de RH e fundadora da People Leap

3 minutos min de leitura
Inteligência Artificial, Liderança
20 de novembro de 2025
Na era da inteligência artificial, a verdadeira transformação digital começa pela cultura: liderar com consciência é o novo imperativo para empresas que querem unir tecnologia, propósito e humanidade.

Valéria Oliveira - Especialista em desenvolvimento de líderes e gestão da cultura

3 minutos min de leitura
Cultura organizacional, Gestão de pessoas & arquitetura de trabalho
19 de novembro de 2025
Construir uma cultura organizacional autêntica é papel estratégico do RH, que deve traduzir propósito em práticas reais, alinhadas à estratégia e vividas no dia a dia por líderes e equipes.

Rennan Vilar - Diretor de Pessoas e Cultura do Grupo TODOS Internacional

3 minutos min de leitura
Inovação & estratégia
18 de novembro de 2025
Com agilidade, baixo risco e cofinanciamento não reembolsável, a Embrapii transforma desafios tecnológicos em inovação real, conectando empresas à ciência de ponta e impulsionando a nova economia industrial brasileira.

Eline Casasola - CEO da Atitude Inovação, Atitude Collab e sócia da Hub89 empresas

4 minutos min de leitura
Gestão de pessoas & arquitetura de trabalho
17 de novembro de 2025
A cultura de cocriação só se consolida quando líderes desapegam do comando-controle e constroem ambientes de confiança, autonomia e valorização da experiência - especialmente do talento sênior.

Juliana Ramalho - CEO da Talento Sênior

4 minutos min de leitura
Liderança
14 de novembro de 2025
Como dividir dúvidas, receios e decisões no topo?

Rubens Pimentel - CEO da Trajeto Desenvolvimento Empresarial

2 minutos min de leitura
Sustentabilidade
13 de novembro de 2025
O protagonismo feminino se consolidou no movimento com a Carta das Mulheres para a COP30

Luiza Helena Trajano e Fabiana Peroni

5 min de leitura
ESG, Liderança
13 de novembro de 2025
Saiba o que há em comum entre o desengajamento de 79% da força de trabalho e um evento como a COP30

Viviane Mansi - Conselheira de empresas, mentora e professora

3 minutos min de leitura
Inovação & estratégia
12 de novembro de 2025
Modernizar o prazo de validade com o conceito de “best before” é mais do que uma mudança técnica - é um avanço cultural que conecta o Brasil às práticas globais de consumo consciente, combate ao desperdício e construção de uma economia verde.

Lucas Infante - CEO da Food To Save

3 minutos min de leitura
Inovação & estratégia, ESG
11 de novembro de 2025
Com a COP30, o turismo sustentável se consolida como vetor estratégico para o Brasil, unindo tecnologia, impacto social e preservação ambiental em uma nova era de desenvolvimento consciente.

André Veneziani - Vice-Presidente Comercial Brasil & América Latina da C-MORE Sustainability

3 minutos min de leitura

Baixe agora mesmo a nossa nova edição!

Dossiê #170

O que ficou e o que está mudando na gangorra da gestão

Esta edição especial, que foi inspirada no HSM+2025, ajuda você a entender o sobe-e-desce de conhecimentos e habilidades gerenciais no século 21 para alcançar a sabedoria da liderança

Baixe agora mesmo a nossa nova edição!

Dossiê #170

O que ficou e o que está mudando na gangorra da gestão

Esta edição especial, que foi inspirada no HSM+2025, ajuda você a entender o sobe-e-desce de conhecimentos e habilidades gerenciais no século 21 para alcançar a sabedoria da liderança