Liderança

CEO: Diga adeus à solidão

A vista lá de cima pode até ser bonita, mas frequentemente é relatada como solitária por quem está no topo das organizações. Como vencer essa barreira? Acredito que a resposta está em dois fatores principais.
Global CHRO da Minerva Foods e Board Member das startups DataSprints e Leo Learning. Sócio Fundador da AL+ People & Performance Solutions, empresa que atuo como Coach Executivo de CEOs formado pela Columbia University, Palestrante e Escritor. Conselheiro de Empresas certificado pelo IBGC, Psicólogo com MBA pela Universidade de São Paulo e Vanderbilt University com formação em RH Estratégico Avançado pela Michigan University. Executivo sênior com passagens em posições de Liderança Global e América Latina de áreas de Pessoas, Cultura, Estratégia e Atendimento ao Cliente em empresas como Neon, Dasa, Itaú Unibanco e MasterCard. Professor de Gestão de Pessoas do Insper e Professor convidado do MBA da FIA/USP. Colunista das revistas HSM Management e da Época Negócios.

Compartilhar:

Como coach executivo, é comum as pessoas me perguntarem sobre qual é a parte mais difícil de ser um CEO. Eu digo que a resposta de muitos que estão nessa posição é a tal da solidão. 

E uma pesquisa de 2012 da Harvard Business Review comprova: além de se sentirem só, 61% dos CEOs acreditam que este sentimento dificulta seu desempenho no trabalho. 

E o que explica essa solidão? Vejo dois fatores. Um conjuntural, provocado pela alta hierarquização e endeusamento dos CEOs por parte das práticas e políticas corporativas. E o outro comportamental, pois alguns CEOs de fato se comportam como deuses. 

Há ainda um terceiro fator, presente em muitas culturas organizacionais, que pioram consideravelmente este cenário: o excesso de bajulação por parte das equipes. 

Um caso real
————

Um líder me disse certa vez que a sensação de estar nessa posição é como se tivesse alcançado o topo do monte Everest. Para chegar lá, são anos de preparo físico e psicológico. 

O alpinista precisa abandonar outros sonhos e vontades para se dedicar à escalada. Muitas vezes amigos e família ficam em segundo plano, e há muito suor e lágrimas. E aí, quando se chega no topo, percebe-se que lá de cima é só o alpinista e a vastidão. E não há ninguém para socorre-lo. 

Esse executivo, que tinha dedicado sua vida para assumir a posição mais alta da organização, me relatava que aquela sensação era frustrante. Era como se todos os esforços tivessem sido em vão. 

A imagem de super-herói que ele criou, na realidade não existia. E ele não passava de uma pessoa acuada e com medo dos desafios proporcionados por aquela vastidão. 

Ele sentia vontade de chorar, mas isso era contra as regras corporativas. CEO não pode demonstrar fraqueza. 

Costumo dizer aos meus coachees que esse mix de sentimentos é normal para pessoas com esse tipo de responsabilidade. Todos sentimos esse pavor, uns de forma mais acentuada, outros com um toque mais brando. 

No entanto, precisamos entender que há sim pessoas ao nosso lado nessa imensidão. O trabalho de CEO não precisa ser solitário. 

“Agora que cheguei lá, tenho a sensação de que ninguém confia em mim. Ao percorrer os corredores da empresa, tenho a impressão de que as pessoas estão me bajulando. 

Vejo os jogos de poder e interesse e não sei em quem confiar. Não consigo mais me aproximar delas”, me contou o mesmo executivo.

Está aí outro elemento que pode agravar o sentimento de solidão: a falta de confiança nas pessoas. 

Dada a enorme responsabilidade e pressão para equilibrar todos os desafios do cargo com o crescimento dos negócios, muitos CEOs escolhem se isolar. Mas esse não é o caminho para a felicidade. 

Construção coletiva 
——————–

Para rebater os argumentos desse executivo narrei a história de um amigo. Ele e seus filhos, um com 6 anos e outro com 9, queriam um pet em casa, mas a mulher, Júlia, era contra a ideia. 

Só de pensar em cuidar de um cachorro ou um gato já vinha à mente da mulher “trabalho extra”. Ela já estava sufocada com a rotina de mãe, executiva, esposa, dona de casa e, provavelmente, não suportaria mais um papel de cuidadora de pet. 

Eis que esse meu amigo alistou seus filhos para uma campanha longa e persistente. O trio implorou e prometeu que passeariam e limpariam as necessidades do cachorro. 

Quando a esposa já estava baixando a guarda, ele deu mais um golpe de mestre. Pediu que as crianças deixassem que ela escolhesse a raça do cachorro e como ele seria chamado. Ele disse que aprendeu que as pessoas apoiam o que ajudam a construir. Hoje, Júlia é muito apegada à Golden Retrieven da família.

O isolamento pode ser, portanto, substituído pela colaboração. Há poucos CEOs que trabalham em equipe. Isso porque acabam criando muros ao seu redor, seja por medo ou por dificuldade de entender que sua cadeira compõe um conjunto, sozinho ele não consegue impulsionar a organização. 

É como um vocalista pop star; sem um baixista ou guitarrista para acompanhá-lo, sua voz não seria transformada em canção de sucesso. 

Mentoria, uma escuta ativa 
—————————

Outra chave para superar a solidão em qualquer trabalho, especialmente para CEO ou fundador da empresa, é ter um mentor. Nesta relação, o líder poder ser completamente honesto e vulnerável, compartilhando dores, perrengues e a falta de diálogo com sua equipe. 

Já o mentor, tem dois papéis relevantes. O primeiro como ouvinte. Ele precisa escutar atentamente o discurso do CEO e deixar que ele abra o coração e, como acontece em alguns casos, caia em lágrimas perante as dificuldades. 

O segundo papel do mentor é apontar caminhos. Diante do apresentado, ele pode trazer insights para que o líder consiga se autodesenvolver e lidar com os desafios em conjunto com outras pessoas.  

Existem casos de empresas mais abertas, CEOs mais próximos de suas equipes e isso é um grande alento. O momento atual pressupõe líderes próximos, acolhedores, inspiradores que liderem equipes além de geri-las. 

As cadeias formais de comando e controle estão se alterando para cadeias de engajamento e confiança. As relações pautadas na confiança são muito mais genuínas e potentes. 

A questão passa a ser trabalhar com e para as pessoas a sua volta. As oportunidades estão ao seu alcance. Portanto CEOs, olhem além do horizonte, certamente, encontrarão parceiros para a sua próxima escalada.

Compartilhar:

Artigos relacionados

Tecnologia

DeepSeek e IA global: Uma corrida por supremacia, não por ética

A ascensão da DeepSeek desafia a supremacia dos modelos ocidentais de inteligência artificial, mas seu avanço não representa um triunfo da democratização tecnológica. Embora promova acessibilidade, a IA chinesa segue alinhada aos interesses estratégicos do governo de Pequim, ampliando o debate sobre viés e controle da informação. No cenário global, a disputa entre gigantes como OpenAI, Google e agora a DeepSeek não se trata de ética ou inclusão, mas sim de hegemonia tecnológica. Sem uma governança global eficaz, a IA continuará sendo um instrumento de poder nas mãos de poucos.

Upskilling e reskilling: preparando-se na era da IA Generativa

A revolução da Inteligência Artificial está remodelando o mercado de trabalho, impulsionando a necessidade de upskilling e reskilling como estratégias essenciais para a competitividade profissional. Empresas como a SAP já investem pesadamente na requalificação de talentos, enquanto pesquisas indicam que a maioria dos trabalhadores enxerga a IA como uma aliada, não uma ameaça.

Customer experience: como encantar e fidelizar clientes na era da personalização inteligente

Empresas que compreendem essa transformação colhem benefícios significativos, pois os consumidores valorizam tanto a experiência quanto os produtos e serviços oferecidos. A Inteligência Artificial (IA) e a automação desempenham um papel fundamental nesse processo, permitindo a resolução ágil de demandas repetitivas por meio de chatbots e assistentes virtuais, enquanto profissionais se concentram em interações mais complexas e empáticas.

Idade não é limite: combatendo o etarismo e fortalecendo a inclusão geracional no trabalho

O etarismo continua sendo um desafio silencioso no ambiente corporativo, afetando tanto profissionais experientes quanto jovens talentos. Mais do que uma questão de idade, essa barreira limita a inovação e prejudica a cultura organizacional. Pesquisas indicam que equipes intergeracionais são mais criativas e produtivas, tornando essencial que empresas invistam na diversidade etária como um ativo estratégico.

Gestão de Pessoas
Conheça o conceito de Inteligência Cultural e compreenda os três pilares que vão te ajudar a trazer clareza e compreensão para sua comunicação interpessoal (e talvez internacional)

Angelina Bejgrowicz

4 min de leitura
Liderança
Entenda como construir um ambiente organizacional que prioriza segurança psicológica, engajamento e o desenvolvimento genuíno das equipes.

Athila Machado

6 min de leitura
Empreendedorismo
Após a pandemia, a Geração Z que ingressa no mercado de trabalho aderiu ao movimento do "quiet quitting", realizando apenas o mínimo necessário em seus empregos por falta de satisfação. Pesquisa da Mckinsey mostra que 25% da Geração Z se sentiram mais ansiosos no trabalho, quase o dobro das gerações anteriores. Ambientes tóxicos, falta de reconhecimento e não se sentirem valorizados são alguns dos principais motivos.

Samir Iásbeck

4 min de leitura
Empreendedorismo
Otimizar processos para gerar empregos de melhor qualidade e remuneração, desenvolver produtos e serviços acessíveis para a população de baixa renda e investir em tecnologias disruptivas que possibilitem a criação de novos modelos de negócios inclusivos são peças-chave nessa remontagem da sociedade no mundo

Hilton Menezes

4 min de leitura
Finanças
Em um mercado cada vez mais competitivo, a inovação se destaca como fator crucial para o crescimento empresarial. Porém, transformar ideias inovadoras em realidade requer compreender as principais fontes de fomento disponíveis no Brasil, como BNDES, FINEP e Embrapii, além de adotar uma abordagem estratégica na elaboração de projetos robustos.

Eline Casalosa

4 min de leitura
Empreendedorismo
A importância de uma cultura organizacional forte para atingir uma transformação de visão e valores reais dentro de uma empresa

Renata Baccarat

4 min de leitura
Tecnologias exponenciais
Em meio aos mitos sobre IA no RH, empresas que proíbem seu uso enfrentam um paradoxo: funcionários já utilizam ferramentas como ChatGPT por conta própria. Casos práticos mostram que, quando bem implementada, a tecnologia revoluciona desde o onboarding até a gestão de performance.

Harold Schultz

3 min de leitura
Gestão de Pessoas
Diferente da avaliação anual tradicional, o modelo de feedback contínuo permite um fluxo constante de comunicação entre líderes e colaboradores, fortalecendo o aprendizado, o alinhamento de metas e a resposta rápida a mudanças.

Maria Augusta Orofino

3 min de leitura
Tecnologias exponenciais
A Inteligência Artificial, impulsionada pelo uso massivo e acessível, avança exponencialmente, destacando-se como uma ferramenta inclusiva e transformadora para o futuro da gestão de pessoas e dos negócios

Marcelo Nóbrega

4 min de leitura
Liderança
Ao promover autonomia e resultados, líderes se fortalecem, reduzindo estresse e superando o paternalismo para desenvolver equipes mais alinhadas, realizadas e eficazes.

Rubens Pimentel

3 min de leitura