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CEOs contra a desigualdade

É imperativo que os líderes das empresas salvem a globalização e a tecnologia, que são de seu interesse; para isso, devem reduzir seus efeitos nocivos com uma nova agenda | por Rich Lesser, Martin Reeves e Johann Harnoss

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O mundo nunca foi tão próspero quanto é hoje. As pessoas vivem mais e com mais saúde do que jamais tiveram. Em contrapartida, a época também é de maior desigualdade econômica e social e de aumento da incerteza. Assim, a sociedade está sendo desafiada de maneiras nunca vistas – com retóricas populistas a favor de economias fechadas e profunda desconfiança em relação às elites políticas e empresariais. A população só se polariza e novos riscos podem surgir para reduzir o investimento (já baixo) e minar a prosperidade futura. 

Conforme mais pessoas se sentem deixadas para trás pelo progresso econômico, a insatisfação e a polarização podem crescer e viralizar. Assim, as empresas logo se veriam em um ambiente de risco político em termos de comércio, acesso ao talento, regras e restrições regulatórias e limitações quanto a novas tecnologias.

A desigualdade econômica atual é resultado de como escolhemos gerenciar a globalização e a tecnologia. Fato é que esses dois aspectos sempre repousaram sobre “falhas geológicas”. A geração de riqueza não resulta automaticamente em distribuição justa das recompensas; liberdade de comércio, capital e movimento da mão de obra criam vencedores e perdedores, assim como fazem as novas tecnologias. O apoio popular à globalização sempre se baseou na premissa de que a maioria se beneficiaria: muitos seriam bem-sucedidos com o próprio esforço, e uma rede de segurança social, providenciada pelos governos, protegeria os temporariamente prejudicados. (E as empresas poderiam concentrar-se em gerar crescimento, inovação e, em última análise, riqueza social.)

Só que os governos acham cada vez mais difícil desempenhar o papel que lhes cabe. Reformas políticas para ajudar pessoas e comunidades necessitadas em tempos de transição exigem estabilidade e consenso, justamente o que anda em falta hoje em dia. A capacidade dos governos de intervir é restrita em função do crescimento macroeconômico frágil, o que limita o escopo da política fiscal e monetária. Então, as rachaduras começam a aparecer.

Abordar o desafio distributivo em nossas sociedades é algo que interessa aos negócios. As empresas não têm nada a ganhar se o jogo atual for substituído por um muito mais radical, caracterizado por comércio e acesso restrito a talentos, recuo em relação à tecnologia e incertezas políticas e econômicas persistentes.

No entanto, os líderes empresariais em geral evitam questões sociais controversas, como a sustentabilidade do sistema econômico, preferindo confiá-las aos governos. Nós, do BCG, acreditamos o contrário: na atual situação, os líderes corporativos não podem mais se dar ao luxo de permanecer como observadores; eles devem atuar contra a desigualdade. 

![](https://revista-hsm-public.s3.amazonaws.com/uploads/345e3afa-97ab-47dc-a072-cc7aca5b2d6f.jpeg)

**UMA NOVA AGENDA**

Os líderes empresariais precisam equilibrar dois objetivos aparentemente conflitantes. Primeiro, garantir a sustentabilidade e a prosperidade de suas empresas. Isso continua sendo responsabilidade do CEO e se tornou muito mais difícil em uma era definida por crescimento menor, investidores impacientes, incerteza geopolítica e mudança tecnológica extremamente rápida. Segundo, moldar as condições para a prosperidade econômica contínua e mais inclusiva e, em particular, para a integração econômica global e o progresso tecnológico.

Para atingir esses fins, propomos que líderes empresariais abracem uma nova agenda que inclui sete áreas de oportunidades. Não é uma agenda fácil; implica escolhas pouco familiares e desconfortáveis, mas vemos isso como trade-offs que valem a pena.

**1. Formatar a nova onda da globalização.**

Se a última onda se concentrou em acessar mercados externos e criar cadeias de fornecimento globais de baixo custo, a próxima deve ser mais descentralizada, mais diferenciada geograficamente, mais interconectada digitalmente, mais consciente do impacto social e da importância de construir habilidades em vez de explorar o custo do trabalho.

Como os líderes empresariais podem assumir um papel ativo no sentido de moldar a próxima fase da globalização? Indo além da terceirização baseada em custos para buscar principalmente os benefícios do comércio e da tecnologia em bases geográficas e demográficas mais amplas. Não é difícil: tecnologias avançadas de manufatura, por exemplo, estão começando a reordenar o mapa da globalização. Software, sensores e analytics estão alterando a criação de valor de produtos únicos para produtos mais serviços. 

**2. Dar apoio a ecossistemas empreendedores.** 

Várias décadas de progresso econômico resultaram na concentração da atividade em grandes empresas. Dependendo de como o abordarmos, o avanço tecnológico acentuará ou atenuará essa tendência. Os negócios de plataforma digital, que facilitam a colaboração de milhares de indivíduos e organizações em ecossistemas dinâmicos, podem ajudar a restaurar o equilíbrio. Tais ecossistemas tornam possível para indivíduos e pequenas companhias participar do progresso tecnológico, catalisando tanto o emprego como a inovação.

**3. Alavancar a tecnologia primeiro na linha de frente.**

O efeito da tecnologia sobre os seres humanos depende de como a desenvolvemos e usamos. Se a alavancamos antes no back-office, focados principalmente em aumentar a eficiência e otimizar processos internos, então nosso uso de tecnologia resulta no deslocamento do trabalho. Perdemos oportunidades não só de aumentar o valor para consumidores, como também de criar trabalhos inovadores e melhorar a vida das pessoas. 

As empresas deveriam começar pela linha de frente na hora de adotar tecnologias, com foco claro em resolver necessidades dos clientes não atendidas e entregar novo valor tangível. (Aviso: essa abordagem pode exigir algumas escolhas desconfortáveis.) Os benefícios podem vir de melhorias de eficiência – com a eliminação de intermediários e a provável perda de muitos empregos no processo – ou da criação de serviços e mercados valiosos.

**4. Investir em capital humano.**

Agora, com o maior dinamismo do ambiente de negócios, é preciso adaptar as próprias habilidades a um ritmo mais rápido. Encontrar maneiras efetivas e financeiramente acessíveis de ajudar as pessoas a adquirir habilidades durante sua carreira, não apenas antes de começarem, é um grande desafio. 

A educação de base é essencial para criar mobilidade de carreira e igualdade de oportunidades. No entanto, se as empresas não ajudarem a fechar o círculo, demora muito para o sistema educacional conseguir entregar novas habilidades profissionais – as empresas podem trabalhar com fornecedores de educação online ou assumir a responsabilidade direta pela recapacitação.

**5. Adotar o mindset de negócio social.**

Para contribuir para a sociedade e ter seu apoio, as empresas devem estar profundamente imbricadas nela. Uma forma de conseguirem isso é criando negócios sociais adjacentes a seus modelos de negócio centrais, resolvendo problemas fundamentais da sociedade ao alavancar suas habilidades principais (e não fazendo filantropia). 

O Prêmio Nobel da Paz Muhammad Yunus é um defensor apaixonado do negócio social e sua capacidade de criar valor sustentável para comunidades em risco. Ele define negócio social como aquele que fornece benefícios claros para populações subatendidas, retorna o capital inicial investido e reinveste os dividendos para criar empreendimentos sustentáveis. Negócios sociais também podem gerar capacidades dentro da empresa patrocinadora e criar inovações a serem implementadas de maneira mais ampla.

A inclusão financeira com frequência é fundamental para fazer os modelos de negócio social funcionarem. Dar a grupos subatendidos acesso a paga mento e serviços de transferência de dinheiro, contas de depósito, crédito e outras ferramentas financeiras pode ter um impacto de longo alcance no bem-estar. Isso foi citado como fator importante não só na redução da pobreza e no crescimento econômico, mas também na igualdade de gênero e na redução do desemprego entre jovens.

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**6. Reequilibrar e realinhar as recompensas.** A noção de autovalor das pessoas está intimamente ligada à natureza de seu trabalho e de sua remuneração relativa. Isso é especialmente verdade quando consideramos não só salários e benefícios, mas também recompensas como mobilidade de carreira, reconhecimento baseado em mérito e valor intangível do propósito (frequentemente relacionado com alguma meta social mais alta) no trabalho. Descompassos entre recompensas e desempenho ao longo de toda a folha de pagamento, de trabalhadores iniciantes a líderes, minam as percepções de justiça e fé no sistema. Alinhando desempenho com remuneração, os líderes corporativos podem formatar diretamente as percepções das pessoas quanto a autovalor, justiça e acesso a oportunidades. Muitas empresas já começam a aumentar a remuneração e a dar apoio a funcionários de menor salário. Nos anos vindouros, isso será ainda mais necessário.

**7. Renovar a narrativa.**

A crise atual tem tanto a ver com inspiração e ideias como com economia. A globalização e a tecnologia são difíceis de vender se não abordarmos os efeitos colaterais da desigualdade. Mais ainda, os contadores de histórias – as “elites” de negócios e governo – são cada vez mais alvo de desconfiança e perderam sua audiência. Nesse vácuo, as histórias que apelam para instinto, medo e emoção ganham espaço. Líderes tradicionalmente evitam questões sociais mais amplas e focam seu papel mais estreito. Nos anos à frente, eles vão precisar assumir um papel mais ativo – jogar ofensivamente e não só na defesa.

**FUTURO POSITIVO**

Alguns líderes empresariais já confessam em off que não gostam do que veem e estão abertos a considerar novas medidas para enfrentar os desafios. Se nós, como líderes, não dermos um passo à frente para criar um futuro mais positivo, correremos um risco cada vez maior de um recuo que vai limitar nossa capacidade de criar valor em nossos negócios.

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