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A ciência de dados pode salvar vidas

Empresas do setor de saúde e pacientes têm grandes oportunidades com processos simples, como a chamada “interoperabilidade de dados clínicos”
Claudio Santos é diretor estratégico da divisão de saúde da Infor.

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Em quatro décadas, a expectativa de vida do brasileiro saltou de 62,52 anos em 1980 para 75 anos, em 2018, segundo dados apresentados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Embora o aumento da perspectiva de vida deva ser comemorado, os desafios na área da saúde, com a baixa capacidade do sistema de saúde em atender a alta demanda para esse tipo de atendimento, e a ineficiência em processos simples como a chamada “interoperabilidade de dados clínicos” trazem à luz a discussão sobre as oportunidades que o setor de tecnologia tem pela frente. Essa é uma das razões pelas quais a saúde é o setor da economia que mais tem experimentado uma modernização de processos com novas ferramentas e soluções tecnológicas, que estão provocando uma transformação no segmento. 

De acordo com a IDC, o mercado de TI vai movimentar US$ 2,7 trilhões até 2020 e boa parte desse montante será aplicada na área da saúde. Os avanços trouxeram inúmeros benefícios para essas instituições, mas ainda há um gargalo a ser superado: como registrar o histórico dos pacientes?

Do médico-residente de uma UBS ou de um hospital, do Norte ao Sul do país, as informações dos pacientes geralmente residem em vários locais dispersos. E pior que isso, a falta de conhecimento do histórico de atendimento é a causa de um enorme prejuízo para os hospitais  do Brasil. Segundo a Associação Nacional de Hospitais Privados (ANAHP), o desperdício com fraudes, compra indevida de insumos, e exames desnecessários, chegou à cifra de R$ 100 bilhões no ano passado. Infelizmente, a repetição de exame se tornou uma realidade do Brasil, porque os sistemas hospitalares ainda estão presos ao papel e os sistemas internos não se comunicam, e esse problema gera prejuízos tanto aos sistemas públicos e privados de saúde. Mas há uma saída para reduzir esses custos e garantir que os dados do paciente permaneçam acessíveis: Investimento em interoperabilidade.   

Mais do que uma tecnologia, a integração de dados  é um conceito que assegura que os sistemas de saúde e seus funcionários troquem informações de maneira eficaz e coordenada – evitando retrabalhos e desperdícios, mitigando riscos relacionados a falhas humanas quando lidam com informações sensíveis de pacientes. Isso acontece porque esse tipo de solução não visa apenas oferecer aos provedores de saúde uma vantagem competitiva em relação à concorrência, mas permitir que os pacientes sejam atendidos de forma mais rápida e eficiente. 

Sem acesso a todas as informações do paciente, os médicos não estão preparados para tomar as melhores decisões sobre diagnósticos. Concorda? Agora, basta três etapas simples para que as organizações se tornem bem sucedidas ao tornar os sistemas hospitalares interoperáveis.  

1º passo: integração interna
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O que motiva a digitalização de dados da saúde é a busca por eficiência operacional, um aspecto vital em um setor tão sensível. Embora a adoção generalizada de registros eletrônicos de saúde (EHRs) seja considerada uma vantagem estratégica, nem sempre é fácil de ser alcançada. Uma pesquisa da revista americana Becker’s Hospital Review, principal publicação do segmento hospitalar no mundo, mostra que para 72% dos gestores da área, a falta de capacidade de integrar todas as informações de vários setores dentro de um centro clínico, impede a redução de carga de trabalho de colaboradores e prejudica a eficiência da operação. Garantir o sucesso do gerenciamento de todas essas informações é o primeiro passo na preparação para uma interoperabilidade em larga escala.

2º passo: assegurar a integração com a automatização de processos manuais
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Muitas corporações ainda operam em uma infraestrutura desatualizada que requer trabalho manual para coletar e transferir todas as informações. Essa tarefa gera gastos excessivos com a força de trabalho e, mais do que isso, demanda tempo em atividades que poderiam ser facilmente automatizadas. A interoperabilidade aqui visa reduzir esses custos e liberar os funcionários para se concentrarem em atividades mais estratégicas e de maior valor para a organização e para a vida das pessoas.

3º passo: estar preparado para as transições constantes
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É possível que a criação de um novo departamento afete o orçamento da instituição. Ou talvez, a mudança de um fornecedor de estoque venha impactar a cadeia de fornecimento de insumos ou de equipamentos. Uma estratégia bem sucedida de interoperabilidade deve levar em conta essas mudanças, garantindo que elas não interrompam a capacidade de trafegar os dados entre sistemas.

Depois de cumpridas essas etapas, podemos – e devemos – levar a discussão para um próximo nível: o do empoderamento. É que, com os dados na palma da mão, o paciente pode ter acesso ao seu histórico clínico, tornando-se mais responsável pela sua própria saúde e capacitado para cobrar por um atendimento melhor. 

E as organizações? Para elas, o benefício é ainda maior, porque a eficiência criada por uma base analítica de informações clínicas permitem otimizar a oferta de serviços e reduzir custos desnecessários causados pela ineficiência e repetição de processos. Então, a área da saúde precisa enxergar que salvar vidas também depende de inteligência e integração de dados.

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