Liderança, Comunidades: CEOs do Amanhã

Cinco características essenciais para uma liderança a distância

Fundei uma startup durante a pandemia morando do outro lado do continente e já somos um time de 19 pessoas. Os cinco pilares da cultura do trabalho remoto me ajudaram muito e é sobre eles que vamos tratar aqui
Fundadora e CEO do Se Candidate, Mulher!. Faz parte da comunidade Valuable Young Leader.

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O trabalho home office não é uma moda passageira, é uma tendência do mercado de trabalho que já vinha em movimento crescente forte e foi acentuada em 2020. Segundo a [National Bureau of Economic Research](https://www.nber.org/papers/w18871.pdf), 10% dos trabalhadores nos Estados Unidos atuam em suas casas de maneira formal. Mas você pode pensar: “EUA é país de primeiro mundo”.

Tudo bem, de fato, o [modelo de trabalho a distância](https://www.revistahsm.com.br/post/quatro-tendencias-profissionais-que-vieram-para-ficar) na América Latina ainda está em fase de transição e aceitação. Contudo, dados compilados pela Workana mostram uma evolução em curso – em países como a Colômbia, a taxa de trabalhadores remotos aumentou em 238% nos últimos quatro anos.

Em parceria com a empresa chinesa Ctrip, Nicholas Bloom, professor de Stanford, realizou um estudo em que voluntários realizaram sua jornada empregatícia de suas casas durante nove meses, de forma a avaliar quais resultados poderiam ser gerados com a mudança para o home office. Veja o que os entrevistados responderam após o período em casa:

– Aumentaram seus níveis de produtividade em 13%;

– Diminuíram o número de faltas por doenças;

– Reportaram que trabalharam em um ambiente mais tranquilo;

– Manifestaram sentir-se mais satisfeitos com a empresa;

– Faltaram menos ao trabalho.

Devido aos resultados, a organização ofereceu a todos os seus colaboradores a oportunidade de trabalhar remotamente. Quase metade da empresa optou por esta modalidade, a qual representou um aumento de quase 22% no lucro da companhia.

## O lado bom e o lado ruim

A partir desses resultados, podemos tirar algumas conclusões sobre vantagens do trabalho remoto, como a redução do tempo que o colaborador perdia com deslocamentos, assim como os custos, a diminuição de discriminações raciais, sexuais ou de idade, o acesso abrangente ao talento qualificado, sem a preocupação com barreiras geográficas, o crescimento da criatividade e originalidade por meio de uma equipe mais diversa e, consequentemente, a criação de um ambiente corporativo mais justo e com igualdade de oportunidades.

Entretanto, apesar das vantagens se mostrarem atrativas, essa não é uma transição simples. Existem alguns fatores que, se não estiverem bem estruturados, podem dificultar o processo e torná-lo vulnerável. Uma revisão de estudos realizados por especialistas de universidades e instituições como Harvard, Jaypee Business School e Universidade da Georgia identificou sete principais problemas que o trabalhador remoto enfrenta atualmente.

São eles: falta de comunicação ou informação insuficiente; falta de confiança e de compromisso; tecnologia obsoleta ou inadequada; processos inadequados; falta de produtividade e má administração do tempo; barreiras geográficas, culturais ou ideológicas; falta de liderança. Em resumo, a migração do trabalho presencial para o remoto não se faz apenas com a mudança física, e exige um cuidado que envolve o CEO ao estagiário.

## Um pouco da minha experiência

Não estava nos meus planos a criar uma startup em 2020. Vim passar uma temporada nos Estados Unidos e o [planejamento era completamente diferente](https://www.revistahsm.com.br/post/de-um-reset-no-seu-proposito). Porém, sete milhões de mulheres no Brasil foram demitidas somente no início da pandemia e entendi que podia fazer algo para ajudá-las.

Foi assim que surgiu a iniciativa “Se Candidate, Mulher!”, em abril de 2020. Em seis meses, impactamos a vida de muitas pessoas, temos mais de 75 mulheres recolocadas em nossa comunidade, mais de 150 mentoradas, mais de 1 mil inscrições em nossos eventos, somos finalistas do Startup Awards 2020 – o maior prêmio do ecossistema de inovação do Brasil – e não paramos de crescer.

Pelo contrário! A cada dia, nos motivamos a dar passos ainda maiores para ajudar, incentivar e encorajar as mulheres a se candidatarem a vagas em que elas quiserem, e ajudar empresas que querem aumentar a diversidade de gênero em suas equipes. Todo esse crescimento e impacto gerado se deve a um time que tem trabalhado duro para que isso aconteça. São 18 mulheres espalhadas de norte a sul do Brasil, além de mim, aqui nos Estados Unidos. Preciso dizer que se não fosse o trabalho remoto, não estaríamos chegando tão longe, tão rápido.

A prática de [liderar um time de maneira remota](https://www.revistahsm.com.br/post/caracteristicas-dos-ceos-na-era-pos-digital) mostra que, além das possibilidades que a descentralização possibilita, a experiência traz uma série de aprendizados. De tudo que posso listar, ressalto cinco características essenciais para que a liderança remota funcione.

## Transparência

Durante todo momento, é preciso alinhar expectativas, responsabilidades, inseguranças e objetivos. Na Se Candidate, Mulher!, temos reuniões semanais e quinzenais com as áreas para que sempre estejamos na mesma página. Além disso, elas são sempre comunicadas sobre as decisões com antecedência e enxergam o financeiro, mesmo que não estejam envolvidas diretamente nas decisões.

## Confiança

É necessário ter a certeza de que todos estão fazendo o que deve ser feito da melhor forma possível. Nos alinhamentos, buscamos levar sempre o contexto para que cada pessoa do time possa tomar decisões e agir com autonomia. Transmitir com palavras corretas qual é o objetivo de sua organização te ajuda a criar canais de [comunicação aberta com o seu time](https://www.revistahsm.com.br/post/licoes-de-lideres-humanizados-em-tempos-de-pandemia).

## Colaboração

Ninguém faz nada sozinho! Trabalhar em conjunto, de forma cooperativa, se torna ainda mais importante. Canais de comunicação e ferramentas como Trello e pastas compartilhadas no Drive ajudam a fazer esse acompanhamento e deixar todo o time na mesma página em cada uma das iniciativas. Quando cada membro do seu time é consciente do seu trabalho e como isso afeta os demais, fica mais fácil entender quais são as dificuldades e obstáculos que cada um enfrenta. Por isso, gera-se uma melhor compreensão de todo o processo e o sentido de responsabilidade.

## Foco no resultado

Medir o sucesso de acordo com as metas e métricas, não horas trabalhadas, sempre. Não importa de onde ou em qual horário o time vai trabalhar, o que importa é entregarmos com excelência aquilo com o que nos comprometemos. O que nos leva ao próximo ponto. Os nossos combinados são relacionados às nossas metas e entregas, se elas fizeram em 5 horas ou 10 horas, não importa; o que importa é que a entrega tenha sido feita no prazo e com a qualidade esperada.

## Autonomia

Liberdade para executar as tarefas onde, quando e como for melhor. Aqui chegamos na junção dos pontos anteriores. Quanto mais donos do negócio o time se sente, mais protagonistas eles se tornam. Deixar que elas tragam ideias de soluções e coloquem em prática as motiva e faz com que continuem sempre produzindo alto.

O trabalho remoto tem, sim, muitas vantagens para as empresas e para as pessoas, e, claro, não está isento de obstáculos e dificuldades. Em um futuro não tão distante, a competitividade das organizações e a qualidade de vida de seus trabalhadores dependerão muito dessas estratégias assertivas de colaboração. Ganha quem se adaptar mais rápido.

Confira mais artigos como esse no [Fórum: CEOs do Amanhã](https://www.revistahsm.com.br/comunidade/ceos-do-amanha).

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