Cultura organizacional

Cinco pilares da gestão de pessoas no trabalho híbrido

Num momento de incertezas e mudanças radicais na trajetória de milhões de pessoas e empresas, é essencial praticar um senso de pertencimento, visibilidade e de escuta contínua entre líderes e colaboradores
Renato Navas é cofundador e head de People Success da Pulses. Psicólogo, com pós-graduação em Administração de Empresa pela SOCIESC/FGV e Dinâmica dos Grupos (SBDG). Atua como professor de Pós-graduação e MBA em Gestão estratégica de Pessoas (UNIVALI).

Compartilhar:

Se o desafio de 2020 para os gestores foi entender como manter a produtividade e engajamento dos colaboradores a distância, o de 2021 (e dos próximos anos) passa a ser como administrar uma equipe nos modelos híbrido e remoto de trabalho, que vêm ganhando cada vez mais espaço no mercado.

A ideia de ter alguns dias de atuação em casa e alguns dias no escritório parece ser bem aceita e até desejada por muitos profissionais, como mostram alguns dados de pesquisas realizadas pela Pulses, empresa que atuo como head de people science.

Em uma das mais recentes, nós perguntamos aos colaboradores como eles estavam se sentindo frente a uma possível retomada do trabalho presencial. Tivemos mais de 7 mil respondentes, e 80% deles afirmaram que estão gostando muito do [home office](https://www.revistahsm.com.br/post/compliance-no-home-office). Uma parcela ainda maior, de 85%, também destacou que se sente mais produtiva nesse novo formato de trabalho.

## Cuidado integral

Em contrapartida, essa busca contínua por produtividade pode acabar gerando mais ansiedade e estresse, acarretando num aumento de doenças como o [burnout](https://mitsloanreview.com.br/post/revisitando-o-burnout-a-luz-da-covid-19). Esse aumento da carga de trabalho, aliado ao contexto em que estamos vivendo, já estão causando grandes danos para a saúde mental. É justamente por conta desse cenário que precisamos nos preocupar com o bem-estar dos nossos colaboradores.

Se não houver nenhum tipo de cuidado para lidar com essas questões, não importa qual modelo você escolha para a sua empresa, porque ele não vai ser sustentável. Você pode optar por voltar ao trabalho presencial, decretar um formato híbrido ou manter o home office, mas é necessário entender que cada pessoa da equipe é um ser integral, sendo fundamental compreender que cada colaborador tem suas particularidades e anseios.

Não adianta, por exemplo, cuidar apenas do bem-estar físico e não pensar no aspecto financeiro. Acredito, nesse sentido, que existam cinco pilares importantes para manter em mente ao pensar nesse novo cenário:

### Previsibilidade

A nossa necessidade de previsibilidade está diretamente ligada à sensação de segurança. Por isso, o líder precisa ter alguns rituais de gestão que ajudem a impactar nessa questão, como feedbacks constantes, alinhamentos frequentes de prioridades e reuniões com o time onde cada um possa falar sobre o que está trabalhando e onde precisa de apoio.

Criar um [canal de comunicação](https://mitsloanreview.com.br/post/boas-praticas-de-comunicacao-em-tempos-de-home-office) único para repassar informações mais estratégicas da organização pode ser uma excelente ação visando a eliminação da dúvida sobre a veracidade das informações recebidas internamente. Todas essas ações trazem uma sensação de entendimento sobre o que está acontecendo na empresa, o que já está sendo feito e quais são os próximos passos. Isso é ainda mais importante a distância, já que fica mais difícil acompanhar o trabalho dos colegas e ter uma noção como um todo da organização.

### Visibilidade

Além da previsibilidade, nós também precisamos ter a sensação (e sentir, na prática) de que aquilo que é importante para nós está ecoando para o outro. Isso significa que precisamos garantir que nossas necessidades sejam realmente vistas e validadas pelo outro.

Na prática, o líder precisa c[onsiderar o que realmente importa para o colaborador](https://www.revistahsm.com.br/post/o-cuidado-como-proposito-de-lideranca), seja através de ferramentas que mapeiam o que a equipe está pensando e sentindo, seja com momentos para que eles tenham voz e vez na organização. É importante ver o seu time, mesmo que virtualmente, e ter momentos de interação para que as pessoas sejam vistas e ouvidas sem um interlocutor.

### Conexão e vínculo

Enquanto seres humanos precisamos, por essência, nos sentirmos conectados e vinculados a algo. Essa afirmação é particularmente importante quando falamos de engajamento, porque é preciso que as pessoas estejam conectadas para se sentirem envolvidas.

Por isso o papel do líder é tão importante na criação de vínculos. [Rituais como feedbacks ](https://www.revistahsm.com.br/post/manual-do-feedback-7-passos-para-nao-errar)1:1, happy hours ou squads em que as pessoas possam criar projetos são fundamentais para gerar um senso de humanização, para que a gente deixe de estar naquela sensação de frieza da tela do computador e fomente o calor do relacionamento.

No modelo híbrido, é preciso pensar nas pessoas que não terão a oportunidade de estarem juntas fisicamente por morarem em outra cidade, por exemplo. Então é interessante traçar estratégias também para quem segue a distância.

### Saúde e bem-estar

A pandemia foi a gota d’água para diversas coisas que estavam latentes, como a nossa inabilidade para lidar com sentimentos, pressões e incertezas desse mundo que estamos vivendo. Se antes o conceito VUCA (do inglês, volátil, incerto, complexo e ambíguo) era o que ditava os negócios, hoje já estamos na era BANI (frágil, ansiosa, não-linear e incompreensível).

Em resumo, [estamos vivendo uma realidade onde tudo pode ruir a qualquer momento](https://www.revistahsm.com.br/post/o-ceo-que-lava-louca-e-a-importancia-da-vulnerabilidade), repleto de incertezas, sem possibilidades de previsões concretas e onde nossa capacidade de entender o mundo está sobrecarregada e desestabilizada por conta do excesso de informações com diferentes pontos de vista (alguns pautados em meras opiniões e outros em argumentos científicos).

Por isso é preciso monitorar com frequência a sua equipe, para entender o que ela está pensando e sentindo. Com o trabalho remoto, ficou impossível ter aquele momento de descontração do café ou a noção visível sobre o estado emocional dos colaboradores. Com a [escuta contínua, mesmo a distância](https://www.revistahsm.com.br/post/convivendo-com-os-espacos-vazios), é possível mostrar que as pessoas realmente importam para a organização, diminuir a ansiedade, aumentar a previsibilidade e atuar de forma muito mais rápida e assertiva sobre o que precisa ser melhorado na empresa.

### Senso de pertencimento

Por fim, é necessário que as pessoas se sintam verdadeiramente valorizadas dentro da empresa. [Organizações com maior clareza de cultura e propósito](https://www.revistahsm.com.br/post/afinal-para-que-serve-um-evp), que tenham uma comunicação clara e que cuidem da saúde e bem-estar dos colaboradores tendem a ter índices maiores de engajamento e produtividade. Também é importante valorizar a diversidade e inclusão, porque isso traz segurança de que a pessoa será respeitada e ouvida independente do quão singular ela seja.

## A era data driven

O nosso “novo normal” está mostrando o quanto as empresas precisam se reestruturar, e a tecnologia já está sendo uma importante aliada nesse processo. Com o trabalho remoto, cada vez mais a gestão vai precisar de dados para entender o que está se passando com suas equipes.

As organizações que já são data driven, e percebem que também precisam de informações e métricas sobre as pessoas (o que chamamos de [People Analytics](https://www.revistahsm.com.br/post/recrutar-reter-e-engajar-a-transformacao-digital-e-os-tres-grandes-desafios-do-rh)), estão saindo na frente nesse momento. No entanto, para isso acontecer, mais do que o apoio dos líderes, a empresa precisa estar estruturada e pronta para mudar ou ajustar sua cultura organizacional.

Olhar para todo esse processo, que exigiu de todos um imenso esforço de desenvolvimento, representa um grande exercício de amadurecimento. O conhecimento que foi construído no decorrer deste caminho permitirá aos líderes uma condição diferenciada em gestão de negócio, flexibilidade cognitiva, inteligência emocional e tomada de decisão em meio a crise. Isso não tem preço.

*Se você gostou deste artigo, baixe gratuitamente dois e-books relacionados ao tema: “[Gestão de pessoas high-tech & high-touch](https://materiais.revistahsm.com.br/e-book-gestao-de-pessoas-high-tech-high-touch)” e “[Liderança e trabalho remoto](https://materiais.revistahsm.com.br/lideranca-trabalho-remoto)”. Além desses conteúdos, confira ainda o dossiê [Saúde Mental nas Empresas](https://www.revistahsm.com.br/dossie/saude-mental-nas-empresas) e receba semanalmente informações sobre gestão, negócios e liderança [assinando nossas newsletters](https://www.revistahsm.com.br/newsletter).*

Compartilhar:

Artigos relacionados

Mercado de RevOps desponta e se destaca com crescimento acima da média 

O Revenue Operations (RevOps) está em franca expansão global, com estimativa de que 75% das empresas o adotarão até 2025. No Brasil, empresas líderes, como a 8D Hubify, já ultrapassaram as expectativas, mais que dobrando o faturamento e triplicando o lucro ao integrar marketing, vendas e sucesso do cliente. A Inteligência Artificial é peça-chave nessa transformação, automatizando interações para maior personalização e eficiência.

Uso de PDI tem sido negligenciado nas companhias

Apesar de ser uma ferramenta essencial para o desenvolvimento de colaboradores, o Plano de Desenvolvimento Individual (PDI) vem sendo negligenciado por empresas no Brasil. Pesquisa da Mereo mostra que apenas 60% das companhias avaliadas possuem PDIs cadastrados, com queda no engajamento de 2022 para 2023.

Regulamentação da IA: Como empresas podem conciliar responsabilidades éticas e inovação? 

A inteligência artificial (IA) está revolucionando o mundo dos negócios, mas seu avanço rápido exige uma discussão sobre regulamentação. Enquanto a Europa avança com regras para garantir benefícios éticos, os EUA priorizam a liberdade econômica. No Brasil, startups e empresas se mobilizam para aproveitar as vantagens competitivas da IA, mas aguardam um marco legal claro.

Governança estratégica: a gestão de riscos psicossociais integrada à performance corporativa

A gestão de riscos psicossociais ganha espaço nos conselhos, impulsionada por perdas estimadas em US$ 3 trilhões ao ano. No Brasil, a atualização da NR1 exige que empresas avaliem e gerenciem sistematicamente esses riscos. Essa mudança reflete o reconhecimento de que funcionários saudáveis são mais produtivos, com estudos mostrando retornos de até R$ 4 para cada R$ 1 investido

Transformação Digital
A preocupação com o RH atual é crescente e fizemos questão de questionar alguns pontos viscerais existentes que Ricardo Maravalhas, CEO da DPOnet, trouxe com clareza e paciência.

HSM Management

Uncategorized
A saúde mental da mulher brasileira enfrenta desafios complexos, exacerbados por sobrecarga de responsabilidades, desigualdade de gênero e falta de apoio, exigindo ações urgentes para promover equilíbrio e bem-estar.

Letícia de Oliveira Alves e Ana Paula Moura Rodrigues

ESG
A crescente frequência de desastres naturais destaca a importância crucial de uma gestão hídrica urbana eficaz, com as "cidades-esponja" emergindo como soluções inovadoras para enfrentar os desafios climáticos globais e promover a resiliência urbana.

Guilherme Hoppe

Gestão de Pessoas
Como podemos entender e praticar o verdadeiro networking para nos beneficiar!

Galo Lopez

Cultura organizacional, Gestão de pessoas, Liderança, times e cultura, Liderança
Na coluna deste mês, Alexandre Waclawovsky explora o impacto das lideranças autoritárias e como os colaboradores estão percebendo seu próprio impacto no trabalho.

Alexandre Waclawovsky

Marketing Business Driven, Comunidades: Marketing Makers, Marketing e vendas
Eis que Philip Kotler lança, com outros colegas, o livro “Marketing H2H: A Jornada do Marketing Human to Human” e eu me lembro desse tema ser tão especial para mim que falei sobre ele no meu primeiro artigo publicado no Linkedin, em 2018. Mas, o que será que mudou de lá para cá?

Juliana Burza

Transformação Digital, ESG
A inteligência artificial (IA) está no centro de uma das maiores revoluções tecnológicas da nossa era, transformando indústrias e redefinindo modelos de negócios. No entanto, é crucial perguntar: a sua estratégia de IA é um movimento desesperado para agradar o mercado ou uma abordagem estruturada, com métricas claras e foco em resultados concretos?

Marcelo Murilo

Liderança, times e cultura, Cultura organizacional
Com a informação se tornando uma commoditie crucial, as organizações que não adotarem uma cultura data-driven, que utiliza dados para orientar decisões e estratégias, vão ficar pelo caminho. Entenda estratégias que podem te ajudar neste processo!

Felipe Mello

Gestão de Pessoas
Conheça o framework SHIFT pela consultora da HSM, Carol Olinda.

Carol Olinda

Melhores para o Brasil 2022
Entenda como você pode criar pontes para o futuro pós-pandemia, nos Highlights de uma conversa entre Marina gorbis, do iftf, e Martha gabriel

Martha Gabriel e Marina Gorbis