Empreendedorismo

Clube do Zero, um negócio focado em restrições

O empreendimento gaúcho, com modelo de negócio por assinatura, entrega caixinhas com produtos zero para os clientes e faz ação de branding para os fornecedores

Compartilhar:

No Brasil, cerca de 12 milhões de pessoas são diabéticas, número maior que a população total de alguns países, como Grécia, Portugal e Bélgica. Mais que isso, 80 milhões de pessoas têm algum grau de intolerância a lactose. Para finalizar, mais de 2 milhões sentem dificuldade de digerir glúten. 

Três ex-executivos queriam empreender e a pesquisa que revelou o potencial desse mercado de restrição alimentar levou-os a montar o Clube do Zero em Porto Alegre (RS) um ano atrás. Qual seria o modelo de negócio? Optaram por solução similar à da Wine.com. “Queríamos ter um relacionamento de longo prazo com os clientes e a assinatura nos proporciona isso”, explica Daniel Walfrid, um dos sócios. 

Os clientes fazem uma assinatura e todo mês recebem um kit de produtos dietéticos em caixinhas coloridas, em que cada cor representa um tipo de restrição alimentar. A empresa não foi formatada do dia para a noite. Primeiro, os sócios aprofundaram-se nas restrições, conversando com profissionais da área de saúde. Então, segmentaram os produtos zero em três: zero açúcar, zero lactose e zero glúten. Em seguida, por 30 dias, cada um testou uma das três linhas. Resultado: logo no primeiro mês, em abril de 2014, o Clube do Zero conquistou 110 assinantes, por meio de amigos de amigos e das redes sociais. 

Para o cliente, o apelo é conveniência e preço. Conveniência, porque ele não precisa se preocupar em ler as letras miúdas dos rótulos para verificar se não há o elemento proibido de ser consumido e também porque os produtos variam todo mês. Preço, porque, se comprados avulsos, os mesmos produtos tendem a ser mais caros, superando os R$ 59,90 da assinatura mensal. “Em nosso primeiro aniversário, o valor do conteúdo, se comprado no supermercado, ultrapassava os R$ 100,00”, compara o empresário.

**PRIMEIRA EXPANSÃO**

Os assinantes começaram a ter ideias e sugeri-las, e logo o Clube do Zero criava, em seis meses, mais duas segmentações: (1) zero lactose e zero glúten juntos, para os que têm intolerância à proteína encontrada no leite e ao carboidrato do trigo, da cevada e do centeio, e (2) mix zero, mistura das demais opções, para quem faz dieta não restritiva ou visa a boa forma. Um desafio particular foi a busca de fornecedores. “Foi um verdadeiro garimpo, já que a gama de produtos zero glúten e zero lactose disponível é menor”, conta Walfrid. A seleção, validada por um nutricionista, contém cerca de 80% de produtos nacionais e 20% de importados. 

**DIFERENCIAL**

Para competir com o varejo, o Clube do Zero mantém uma estratégia agressiva de negociação direta com fabricantes como a alemã Schär, que produz na Itália produtos sem glúten. A empresa consegue barganhar o preço, além de comprar em escala e com frequência. Também faz degustação e branding para os fornecedores parceiros. Estes sabem que ali atingem o consumidor certo. “Quando fazem uma ação de degustação no ponto de venda, esses fornecedores não necessariamente encontram seu público-alvo”, explica Walfrid. 

O parceiro ainda pode formular dez perguntas sobre o produto degustado para os assinantes. As respostas são tabuladas pelo Clube do Zero e devolvidas. E há o branding com a exposição da marca estampada na caixa do kit e na revista com matérias, dicas e receitas que o Clube do Zero distribui para assinantes e seguidores das redes sociais – atualmente mais de 82 mil entre instagram e Facebook. 

**FUTURO**

A expectativa do Clube do Zero, que consumiu investimentos de R$ 100 mil de recursos próprios dos três sócios em sua criação, é ter pelo menos 3 mil assinantes até o final deste ano – hoje são 1,3 mil. O aumento da base é catalisado pela parceria com nutricionistas e blogueiras, para que entendam o modelo de negócio e o recomendem, e impulsionado pelo trabalho de divulgação da assessoria de imprensa, fundamental para a construção de credibilidade. 

E, no curto prazo, novas parcerias devem sustentar o avanço, agora estabelecidas com academias e com departamentos de recursos humanos de empresas, que podem fornecer para seus colaboradores uma opção mais saudável de cesta de Natal, por exemplo. Sem data prevista ainda, a empresa pretende montar um e-commerce para vender os produtos avulsos, para o que já existe demanda. “O e-commerce pede uma logística completamente diferente, que é a urgência de entrega, por isso estamos sendo cautelosos”, observa Walfrid. 

O marketing também começa a entrar nos planos. Por exemplo, no final deste ano, a startup apoiará a corrida em prol dos diabéticos que acontecerá em Porto Alegre. Faz bem à consciência e divulga a marca. A equipe do Clube do Zero continua magra. Ali atuam dez pessoas, incluindo os três sócios – Walfrid responde por comunicação e Ti, outro cuida da expansão e gestão de atendimento, e o terceiro é responsável pelas finanças e negociações. E no período de pico mensal na logística, quando se embalam e despacham as caixas? Seis extras ajudam, mas todos põem as mãos na massa.

Compartilhar:

Artigos relacionados

Calendário

Não, o ano ainda não acabou!

Em meio à letargia de fim de ano, um chamado à consciência: os últimos dias de 2024 são uma oportunidade valiosa de ressignificar trajetórias e construir propósito.

Empreendedorismo
Um guia para a liderança se antecipar às consequências não intencionais de suas decisões

Lilian Cruz e Andréa Dietrich

4 min de leitura
ESG
Entre nós e o futuro desejado, está a habilidade de tecer cada nó de um intricado tapete que une regeneração, adaptação e compromisso climático — uma jornada que vai de Baku a Belém, com a Amazônia como palco central de um novo sistema econômico sustentável.

Bruna Rezende

5 min de leitura
ESG
Crescimento de reclamações à ANS reflete crise na saúde suplementar, impulsionada por reajustes abusivos e falta de transparência nos planos de saúde. Empresas enfrentam desafios para equilibrar custos e atender colaboradores. Soluções como auditorias, BI e humanização do atendimento surgem como alternativas para melhorar a experiência dos beneficiários e promover sustentabilidade no setor.
4 min de leitura
Finanças
Brasil enfrenta aumento de fraudes telefônicas, levando Anatel a adotar medidas rigorosas para proteger consumidores e empresas, enquanto organizações investem em tecnologia para garantir segurança, transparência e uma comunicação mais eficiente e personalizada.

Fábio Toledo

4 min de leitura
Finanças
A recente vitória de Donald Trump nos EUA reaviva o debate sobre o protecionismo, colocando em risco o acesso do Brasil ao segundo maior destino de suas exportações. Porém, o país ainda não está preparado para enfrentar esse cenário. Sua grande vulnerabilidade está na dependência de um número restrito de mercados e produtos primários, com pouca diversificação e investimentos em inovação.

Rui Rocha

0 min de leitura
Finanças
O Revenue Operations (RevOps) está em franca expansão global, com estimativa de que 75% das empresas o adotarão até 2025. No Brasil, empresas líderes, como a 8D Hubify, já ultrapassaram as expectativas, mais que dobrando o faturamento e triplicando o lucro ao integrar marketing, vendas e sucesso do cliente. A Inteligência Artificial é peça-chave nessa transformação, automatizando interações para maior personalização e eficiência.

Fábio Duran

3 min de leitura
Empreendedorismo
Trazer os homens para a discussão, investir em ações mais intencionais e implementar a licença-paternidade estendida obrigatória são boas possibilidades.

Renata Baccarat

4 min de leitura
Uncategorized
Apesar de ser uma ferramenta essencial para o desenvolvimento de colaboradores, o Plano de Desenvolvimento Individual (PDI) vem sendo negligenciado por empresas no Brasil. Pesquisa da Mereo mostra que apenas 60% das companhias avaliadas possuem PDIs cadastrados, com queda no engajamento de 2022 para 2023.

Ivan Cruz

4 min de leitura
Tecnologias exponenciais
A inteligência artificial (IA) está revolucionando o mundo dos negócios, mas seu avanço rápido exige uma discussão sobre regulamentação. Enquanto a Europa avança com regras para garantir benefícios éticos, os EUA priorizam a liberdade econômica. No Brasil, startups e empresas se mobilizam para aproveitar as vantagens competitivas da IA, mas aguardam um marco legal claro.

Edmee Moreira

4 min de leitura
ESG
A gestão de riscos psicossociais ganha espaço nos conselhos, impulsionada por perdas estimadas em US$ 3 trilhões ao ano. No Brasil, a atualização da NR1 exige que empresas avaliem e gerenciem sistematicamente esses riscos. Essa mudança reflete o reconhecimento de que funcionários saudáveis são mais produtivos, com estudos mostrando retornos de até R$ 4 para cada R$ 1 investido

Ana Carolina Peuker

4 min de leitura