Gestão de pessoas, Comunidades: HR4T – HR For Tomorrow, Cultura organizacional

Colaboração: a tecnologia mais disruptiva que existe

Conheça o case da Travelex Confidence, que adotou a metodologia de análise de redes para mapear os influenciadores da empresa e contribuir para uma melhor gestão de pessoas
Paula é psicóloga formada pela PUC-SP, pós graduada em gestão de RH pela FGV SP, com MBA em administração pela Fundação Dom Cabral e formação como Conselheira de Administração pelo IBGC. Profissional com mais de 20 anos de experiência como executiva em empresas como Unilever, Banco Real, Santander, Lenovo e Votorantim Cimentos, Paula atuou em projetos de gestão de mudança e inovação em modelos, processos e ferramentas de gestão de pessoas e transformação cultural. Atualmente, Paula é diretora executiva de RH e comunicação do Grupo Travelex Confidence Brasil e membro de comitês de RH e conselhos consultivos na 99Jobs, AIESEC Brasil e Instituto Ser +. Miguel é fundador da Mapa de Talentos. Apaixonado pela psicologia positiva e convencido que existe

Compartilhar:

Nos últimos dois anos, temos vivenciado um cenário de pandemia que nos obrigou a rever todos os nossos conceitos sobre comunicação, cultura organizacional, liderança e gestão de pessoas. Estamos sendo desafiados a mudar processos enraizados, a forma como gerimos e valorizamos a contribuição individual, e principalmente a relação vida pessoal e trabalho.

Como ficarão as interações humanas, o conceito de produtividade e os processos organizacionais pós pandemia no [modelo de trabalho híbrido](https://www.revistahsm.com.br/post/aqui-estao-algumas-ideias-para-gerenciar-um-time-hibrido)?

O termo soft skills nunca esteve tão presente nos fóruns de discussões de executivos de RH e de líderes de negócio sobre gestão de pessoas. O desenvolvimento das competências interpessoais (que não são nada soft) sempre foram um grande desafio na gestão de pessoas, e agora e mais do que nunca, no trabalho remoto.

Historicamente, as organizações tradicionais se constituíram tendo como base o modelo “comando e controle”, estruturas hierárquicas e processos formais de comunicação. Mesmo com todo o investimento feito na capacitação dos líderes, na adoção de novos processos e metodologias de trabalho, ainda encontramos estruturas organizacionais definidas por funções, processos, cargos, papéis e responsabilidades. Este modelo aparentemente “sempre funcionou”, principalmente em um formato de trabalho presencial, quando a medida da produtividade e a entrega de resultados podiam ser vistas: o que foi feito e por quem.

Rompemos com este paradigma ao nos depararmos com o fato de que, para as atividades em que o modelo de trabalho remoto é possível, ele tem se mostrado mais produtivo que o presencial. Esta é a percepção de executivos em várias empresas e também o que demonstram estudos que estão sendo realizados, como o [Work Trend Index](https://www.microsoft.com/en-us/worklab/work-trend-index#:~:text=The%202021%20Work%20Trend%20Index%20provides%20data-driven%20insights,powerful%20insights%20about%20how%20people%20work%20and%20collaborate.), produzido pela Microsoft.

Estes estudos também demonstram um aumento no número de reuniões, e-mails, entregas e crescimento nos resultados, mesmo em empresas que tiveram seus quadros de funcionários impactados pela pandemia, ao mesmo tempo em que a construção da conexão entre pessoas de diferentes áreas, o sentimento de pertencimento de fazer parte de algo maior, aparentemente tem se enfraquecido, conforme ilustra a imagem a seguir.

![imagemartigoONA](//images.ctfassets.net/ucp6tw9r5u7d/47C5BDkTpDHre3Ds7wbdLP/5110cbe9ba22550b345fcaa2976b2fc3/imagemartigoONA.jpg)

Uma de nossas maiores inquietações neste contexto foi encontrar novas abordagens e ferramentas que auxiliassem a entender melhor estes efeitos do modelo de trabalho remoto e que nos trouxessem insights para atuar neste novo contexto, respondendo algumas questões: como manter o nível de engajamento e entrega, sem perder as conexões (empatia), a colaboração e a identidade da [cultura organizacional](https://www.revistahsm.com.br/post/como-preservar-a-cultura-organizacional-trabalhando-com-times-hibridos)? Como construir novos modelos de comunicação, que promovam maior interação? Como medir produtividade? Como cuidar do equilíbrio entre vida e trabalho? Com essas inquietações, decidimos testar algo novo.

## Explorando as redes de relacionamentos informais de uma organização

A análise das redes sociais não é um tema exatamente novo… As primeiras teorias e conceitos surgiram em 1736 com a Teoria dos Grafos, evoluindo ao longo do tempo em um vasto campo de estudo: teoria dos laços, teoria dos seis graus de separação, estudo do 1–9–90, número de Dunbar, tipologia das redes sociais e famílias, e outros estudos.

A grande novidade neste tema está relacionada ao uso de novas plataformas e tecnologias, principalmente ao uso das mídias sociais virtuais e algoritmos, que possibilitam visualizar, coletar, medir e analisar uma quantidade muito maior de informações sobre o comportamento nas redes em diversas dimensões, inclusive no ambiente organizacional.

As organizações que conhecemos estão definidas e descritas em estruturas e organogramas, porém mesmo estruturas matriciais e mais horizontais, não conseguem muitas vezes garantir uma maior colaboração entre áreas e funções. Existe uma dimensão que, em geral, não conhecemos e não gerimos, e que também afetam as interações e o desempenho de uma organização: as redes informais.

![imagemartigoONA2 colaboração](//images.ctfassets.net/ucp6tw9r5u7d/2fjaPNZvZ0O1qo5S1OChtO/037b56d2402c5056995f79ba5e318663/imagemartigoONA2.jpg)
Na figura, temos um exemplo de rede de colaboração em comparação ao organograma.

Os líderes informais têm enorme importância nos processos de transformação de uma organização. Pesquisas indicam que 3% dos líderes informais podem influenciar 85% dos colaboradores (e podem tanto facilitar quanto dificultar processos organizacionais e de mudança). Agora imagine esse poder a favor das transformações positivas de uma empresa?

Para entendermos como acontece esta colaboração em rede, no novo formato híbrido, utilizamos uma metodologia de people analytics conhecida como ONA — Organizational Network Analysis (análise da rede organizacional, em tradução literal), que permite mapear a rede de relacionamentos e interações na organização.

No piloto que realizamos no segundo semestre de 2021 na Travelex Confidence, abordamos colaboradores da organização incluindo todas as áreas de suporte e uma amostra das áreas comerciais. O mapeamento foi feito utilizando duas abordagens de análise de redes — ONA Passivo e Ativo. E aqui, é importante pontuar que, no Brasil, a Travelex, empresa especialista em câmbio, conta com aproximadamente 800 funcionários, em sua maioria estabelecidos na Região Sudeste, mas como estamos presentes em todo o País, nossa equipe é bastante diversa e espalhada pelo território nacional.

Na abordagem ONA Passivo, utilizamos uma plataforma integrada às ferramentas do Office 365, que identificou o conjunto de metadados sobre as interações e a comunicação dos colaboradores nos canais e sistemas formais de colaboração da empresa: o Teams e o Outlook. Isso permitiu identificar de forma objetiva volume de e-mails e reuniões, fornecendo hipóteses sobre dimensionamento e produtividade das equipes e possíveis alertas de sobrecarga de trabalho e risco de [burnout](https://mitsloanreview.com.br/post/revisitando-o-burnout-a-luz-da-covid-19).

A análise das redes organizacionais possibilita elevar o trabalho das equipes e entre diferentes times e áreas de organização a novos patamares de inovação e performance. Conhecer as redes de colaboração significa identificar possíveis silos, gargalos e pessoas que estão isoladas na organização, bem como identificar influenciadores naturais e líderes informais que criam pontes e conectam as áreas.

Para a análise ativa da rede — ONA Ativo —, realizamos uma pesquisa com 400 colaboradores voluntários, em que buscamos entender como as pessoas percebem as interações com seus colegas através de quatro perguntas, sendo que quanto mais um colaborador é mencionado nas quatro dimensões, maior é o seu nível de influência — centralidade na rede. As quatro perguntas são:

1. Quem compartilha regularmente com você as informações de que você precisa para fazer seu trabalho?
2. Quem você procura quando precisa de suporte técnico / especializado relacionado ao trabalho que requer conhecimento especializado?
3. A quem você recorre quando precisa de suporte pessoal em uma situação difícil relacionada ao trabalho?
4. Quem você considera um modelo e te inspira dentro da organização?

O resultado obtido foi um mapa claro da colaboração, com clareza do grau de influência de cada participante na rede e a conexão entre as áreas, cuja representação gráfica segue abaixo.

![imagemartigoONA3 colaboração](//images.ctfassets.net/ucp6tw9r5u7d/7d1bjAQDG259roW406ZyjO/82285d939450b16741d3aa8a338dd109/imagemartigoONA3.jpg)
*Mapeamento de rede de colaboração – fonte Mapa de Talentos / Cognitive Talent Solutions*

## Colaboração e influência como balizadores na gestão de pessoas

Descobrimos que, apesar do distanciamento físico, não tínhamos muitas pessoas isoladas e que nossa rede de colaboração era bastante coesa.

A pesquisa nos auxiliou a identificar: quais áreas trabalham de forma mais próxima; pessoas que atuam como elos entre vários departamentos e áreas; pessoas que são referências técnicas; e também pessoas que exercem um papel importante na organização — gestores, especialistas e talentos — e que estão isolados (periféricos na rede).

Este conhecimento nos fez refletir sobre algumas questões como: estas pessoas são novas ou antigas na organização? Qual o nível de engajamento dessas pessoas? Qual o risco de perdemos estes talentos? E, por fim, como podemos aprofundar nosso conhecimento sobre o contexto de cada indivíduo, para auxiliar em seu processo de inserção, para que possam se sentir parte e contribuir com o todo?

O (bom) uso destas informações tem como objetivo melhorar a colaboração, dar mais reconhecimento às pessoas na rede, reduzir a sobrecarga de trabalho, e nos ajudar a tomar decisões em algumas iniciativas como:

– Identificar e indicar líderes informais que antes não estavam em nosso radar para programas de liderança.
– Identificar e reconhecer “treinadores” e “engajadores” internos.
– Revisar a formação de equipes multidisciplinares em projetos de transformação ou mudança.
– Apoiar a escolha de mentores em programas de mentoria.
– Contribuir com a estratégia do negócio na tomada de decisões e modelagem de processos, estruturas, automatizações ou ampliação de headcount.

Acreditamos que a análise das redes organizacionais é mais uma ferramenta que contribuirá com o avanço do people analytics, atendendo as mais diversas demandas organizacionais, desde revisão de processos objetivos até questões mais subjetivas da cultura organizacional como o entendimento mais profundo de ‘role models’ de comportamentos e valores.

Projetos como este permitem utilizar a tecnologia de dados para potencializar a construção de [relações de confiança](https://mitsloanreview.com.br/ebooks/o-impacto-da-confianca-na-lideranca) e a colaboração entre as pessoas e as áreas, multiplicando a capacidade de inovação e entrega do capital humano existente na organização.

*Gostou do artigo da Paula Gianetti e do Miguel Nisembaum? Saiba mais sobre gestão de times híbridos no e-dossiê __[Gestão de Times Híbridos](https://www.revistahsm.com.br/dossie/gestao-de-times-hibridos)__ e na comunidade __[HR for Tomorrow](https://www.revistahsm.com.br/comunidade/hr4t-hr-for-tomorrow)__.*

Compartilhar:

Artigos relacionados

Quando a IA desafia o ESG: o dilema das lideranças na era algorítmica

A inteligência artificial está reconfigurando decisões empresariais e estruturas de poder. Sem governança estratégica, essa tecnologia pode colidir com os compromissos ambientais, sociais e éticos das organizações. Liderar com consciência é a nova fronteira da sustentabilidade corporativa.

Semana Mundial do Meio Ambiente: desafios e oportunidades para a agenda de sustentabilidade

Construímos um universo de possibilidades. Mas a pergunta é: a vida humana está realmente melhor hoje do que 30 anos atrás? Enquanto brasileiros — e guardiões de um dos maiores biomas preservados do planeta — somos chamados a desafiar as retóricas de crescimento e consumo atuais. Se bem endereçados, tais desafios podem nos representar uma vantagem competitiva e um fôlego para o planeta

Tecnologia, mãe do autoetarismo

Ninguém fala disso, mas muitos profissionais mais velhos estão discriminando a si mesmos com a tecnofobia. Eles precisam compreender que a revolução digital não é exclusividade dos jovens

ESG
Brasil é o 4º país com mais crises de saúde mental no mundo e 500 mil afastamentos em 2023. As empresas que ignoram esse tsunami pagarão o preço em produtividade e talentos.

Nayara Teixeira

5 min de leitura
Tecnologias exponenciais
Empresas que integram IA preditiva e machine learning ao SAP reduzem custos operacionais em até 30% e antecipam crises em 80% dos casos.

Marcelo Korn

7 min de leitura
Empreendedorismo
Reinventar empresas, repensar sucesso. A megamorfose não é mais uma escolha e sim a única saída.

Alain S. Levi

4 min de leitura
Tecnologias exponenciais
A Inteligência Artificial deixou de ser uma promessa futurista para se tornar o cérebro operacional de organizações inteligentes. Mas, se os algoritmos assumem decisões, qual será o papel dos líderes no comando das empresas? Bem-vindos à era da gestão cognitiva.

Marcelo Murilo

12 min de leitura
ESG
Por que a capacidade de expressar o que sentimos e precisamos pode ser o diferencial mais subestimado das lideranças que realmente transformam.

Eduardo Freire

5 min de leitura
Tecnologias exponenciais
A IA não é só para tech giants: um plano passo a passo para líderes transformarem colaboradores comuns em cientistas de dados — usando ChatGPT, SQL e 360 horas de aprendizado aplicado

Rodrigo Magnago

21 min de leitura
ESG
No lugar de fechar as portas para os jovens, cerque-os de mentores e, por que não, ofereça um exemplar do clássico americano para cada um – eles sentirão que não fazem apenas parte de um grupo estereotipado, mas que são apenas jovens

Daniela Diniz

05 min de leitura
Empreendedorismo
O Brasil já tem 408 startups de impacto – 79% focadas em soluções ambientais. Mas o verdadeiro potencial está na combinação entre propósito e tecnologia: ferramentas digitais não só ampliam o alcance dessas iniciativas, como criam um ecossistema de inovação sustentável e escalável

Bruno Padredi

7 min de leitura
Finanças
Enquanto mulheres recebem migalhas do venture capital, fundos como Moon Capital e redes como Sororitê mostram o caminho: investir em empreendedoras não é ‘caridade’ — é fechar a torneira do vazamento de talentos e ideias que movem a economia

Ana Fontes

5 min de leitura