Dossiê HSM

Coletivo Boticário: sobre perfumes e personalidades

Compreenda o trabalho de inteligência olfativa do Grupo Boticário, que depende de conectar fragrâncias com contexto e emoções

Compartilhar:

Perfumar-se é uma sabedoria instintiva. E como toda arte, exige algum conhecimento de si própria. Para Clarice Lispector, o perfume era um catalisador da personalidade. Para as marcas de perfumaria, o excerto literário faz todo sentido. A criação de uma fragrância começa por um briefing que tem como objetivo refletir traços de quem vai usá-la.

Quando foi contratado pelo Grupo Boticário, na década de 1990, o farmacêutico Cesar Veiga esperava trabalhar na área de desenvolvimento. Mas acabou caindo na perfumaria, área responsável por novas fragrâncias. Em 24 anos de empresa, já frequentou os principais cursos e formações do ramo, inclusive na França e nos Estados Unidos. Hoje, é expert em perfumaria do Núcleo de Inteligência Olfativa do Grupo Boticário. Na prática, seu cargo é de avaliador. “Nossa rotina é cheirar. Somos a ponte entre o marketing e o perfumista, que é, ele sim, o grande artista.”

Para entender melhor essa dinâmica, é importante dizer que a criação de um perfume envolve três frentes. Na base, está o produtor de matéria-prima. É ele quem planta e colhe rosas, lavandas, jasmins, extrai óleos essenciais. Na etapa intermediária ficam os centros criativos (as casas de fragrâncias), onde os perfumistas trabalham combinações. Na ponta, os chamados transformadores. É o caso do Boticário, que leva suas demandas às casas de perfumaria para desenvolver, de fato, o produto e colocá-lo no mercado.

## Sensibilidade: tão importante quanto
A busca por uma nova fragrância exige de Veiga e equipe não apenas criatividade, mas muita sensibilidade. Tudo começa pelo diálogo entre o departamento de marketing e o Núcleo de Inteligência Olfativa. Juntos, eles tentam interpretar os anseios do público-alvo. “Pode envolver um gap, com um produto que ainda não temos no portfólio, ou uma tendência”, explica.

Definida a linha a seguir, o aspecto olfativo torna-se um entre vários pontos a considerar: é hora de observar vitrines, arquitetura, comportamento, artes. “Nosso briefing pode incluir imagem, som, qualquer coisa capaz de inspirar. Podemos incluir a foto de uma mulher num ambiente sofisticado, tomando champanhe, envolvida em cores quentes”, exemplifica Veiga.

Tão logo os primeiros testes são entregues pelos centros de criação, os avaliadores começam a filtragem. “É como a lapidação de um diamante bruto”, diz ele. A encomenda pode vir, por exemplo, com um tom indesejado de madeira, sem frescor ou sem brilho. Como a perfumaria envolve um sentido intangível, que é o olfato, os caminhos que definirão a nova fragrância são ligados ao emocional: “Temos que treinar o cérebro para fazer associar um determinado cheiro ao frescor da brisa da praia ou ao quentinho de um casaco de lã”.

Compartilhar:

Artigos relacionados

Competitividade da Indústria Brasileira diante do Protecionismo Global

A recente vitória de Donald Trump nos EUA reaviva o debate sobre o protecionismo, colocando em risco o acesso do Brasil ao segundo maior destino de suas exportações. Porém, o país ainda não está preparado para enfrentar esse cenário. Sua grande vulnerabilidade está na dependência de um número restrito de mercados e produtos primários, com pouca diversificação e investimentos em inovação.

Mercado de RevOps desponta e se destaca com crescimento acima da média 

O Revenue Operations (RevOps) está em franca expansão global, com estimativa de que 75% das empresas o adotarão até 2025. No Brasil, empresas líderes, como a 8D Hubify, já ultrapassaram as expectativas, mais que dobrando o faturamento e triplicando o lucro ao integrar marketing, vendas e sucesso do cliente. A Inteligência Artificial é peça-chave nessa transformação, automatizando interações para maior personalização e eficiência.

Uso de PDI tem sido negligenciado nas companhias

Apesar de ser uma ferramenta essencial para o desenvolvimento de colaboradores, o Plano de Desenvolvimento Individual (PDI) vem sendo negligenciado por empresas no Brasil. Pesquisa da Mereo mostra que apenas 60% das companhias avaliadas possuem PDIs cadastrados, com queda no engajamento de 2022 para 2023.

Regulamentação da IA: Como empresas podem conciliar responsabilidades éticas e inovação? 

A inteligência artificial (IA) está revolucionando o mundo dos negócios, mas seu avanço rápido exige uma discussão sobre regulamentação. Enquanto a Europa avança com regras para garantir benefícios éticos, os EUA priorizam a liberdade econômica. No Brasil, startups e empresas se mobilizam para aproveitar as vantagens competitivas da IA, mas aguardam um marco legal claro.

Governança estratégica: a gestão de riscos psicossociais integrada à performance corporativa

A gestão de riscos psicossociais ganha espaço nos conselhos, impulsionada por perdas estimadas em US$ 3 trilhões ao ano. No Brasil, a atualização da NR1 exige que empresas avaliem e gerenciem sistematicamente esses riscos. Essa mudança reflete o reconhecimento de que funcionários saudáveis são mais produtivos, com estudos mostrando retornos de até R$ 4 para cada R$ 1 investido

Inteligência Artificial
Marcelo Murilo
Com a saturação de dados na internet e o risco de treinar IAs com informações recicladas, o verdadeiro potencial da inteligência artificial está nos dados internos das empresas. Ao explorar seus próprios registros, as organizações podem gerar insights exclusivos, otimizar operações e criar uma vantagem competitiva sólida.
13 min de leitura
Estratégia e Execução, Gestão de Pessoas
As pesquisas mostram que o capital humano deve ser priorizado para fomentar a criatividade e a inovação – mas por que ainda não incentivamos isso no dia a dia das empresas?
3 min de leitura
Transformação Digital
A complexidade nas organizações está aumentando cada vez mais e integrar diferentes sistemas se torna uma das principais dores para as grandes empresas.

Paulo Veloso

0 min de leitura
ESG, Liderança
Tati Carrelli
3 min de leitura
Gestão de Pessoas, Liderança, Times e Cultura
Como o ferramental dessa ciência se bem aplicado e conectado em momentos decisivos de projetos transforma o resultado de jornadas do consumidor e clientes, passando por lançamento de produtos ou até de calibragem de público-alvo.

Carol Zatorre

0 min de leitura
Gestão de Pessoas, Estratégia e Execução, Liderança, Times e Cultura, Saúde Mental

Carine Roos

5 min de leitura