Estratégia e Execução

Com a Lei Geral de Proteção de Dados, o CRM pode virar o jogo nos negócios

A LGPD inseriu novas camadas de complexidade à jornada do cliente. Elas não podem ser vistas como um complicador, mas como uma oportunidade
Renan Marafigo é CRM Manager da Cadastra, empresa global de marketing, tecnologia, estratégia de negócios, data e analytics.

Compartilhar:

Antes de 2020, o mercado de CRM (gestão de relacionamento com o cliente, na sigla em inglês) já vinha em expansão. Com a pandemia e o acelerado processo de digitalização das vendas e da vida das pessoas, o potencial impacto do CRM nos negócios cresceu exponencialmente, passando a ocupar um espaço central nas estratégias para o consumidor final e o segmento B2B. Soma-se a isso a gradativa implementação da Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) no Brasil, que impôs cuidados e procedimentos extras, e temos um novo cenário formado.

No contexto atual da digitalização, o CRM gerencia e unifica as informações e ações de comunicação de uma série de pontos de contato: e-mail marketing, programas de desconto, webpush, SMS, WhatsApp. Ele ainda pode se conectar a iniciativas no site, marketplaces, redes sociais e em estratégias de funil de vendas. Ou seja, fornece uma visão ampla do relacionamento com o consumidor e é uma fonte qualificada de dados diretos e proprietários.

Gerenciar essa atividade começa em reunir informações consistentes dos consumidores-alvo, tanto em relação a suas características gerais como a seus comportamentos e preferências. Aqui, quanto mais granular e profunda a informação, melhores tendem a ser os resultados.

Existem várias fontes no mercado, mas quero destacar aquelas geradas pela própria empresa, principalmente as informações de vendas, cadastros, programas de benefícios, feedbacks de ações de marketing e comportamento de navegação em canais proprietários. Esse conjunto de fontes possibilita atualmente um conhecimento muito individualizado do consumidor, mas ainda são poucas as empresas que aproveitam essa possibilidade ao máximo.

É nesse contexto que se insere a LGPD, que estabeleceu restrições ao acesso a certas bases de informação e a inclusão de uma nova etapa, o consentimento expresso do cliente. São complicadores que podem ser superados com o desenho correto dos touching points com os consumidores e com o desenvolvimento de estratégias específicas para coleta de dados, como o oferecimento de um brinde ou um desconto para quem se dispuser a preencher uma pesquisa, por exemplo.

Fazemos tudo isso para garantir que estamos falando com a pessoa certa – já temos ferramentas e modelos estatísticos que nos permitem evitar as incômodas abordagens com ofertas inadequadas. Com base nessas informações, então, identifica-se a jornada do cliente até chegar à marca, podendo-se, assim, programar iniciativas de estímulo em cada etapa. Essas são as bases de um CRM efetivo e que também pode gerar insights para diversas outras áreas da empresa.

Em seguida, escolhemos uma plataforma que armazene os dados, gerencie as ações e, principalmente, os resultados, permitindo uma retroalimentação de todo o processo. Aqui, começar pelo básico é importante: de um lado, selecionar corretamente a ferramenta, fazer a implantação, conectar com os demais sistemas da empresa, fazer os desenvolvimentos necessários. De outro, realizar as primeiras ações para verificar o comportamento da base, como mensagens de aniversário, ofertas especiais, regras para abandono de carrinho e garantir que os comunicados não vão para a lixeira.

Passamos então à operação propriamente dita, com o envio de ofertas e comunicados, acompanhamento de relatórios, realização de testes de hipóteses (como mudanças nos títulos e mensageria), ajustes nas políticas de preços e condições. Isso, paulatinamente, vai melhorando a performance. Inclusive, notamos que para clientes que ainda não eram maduros na área, ao adotar essa abordagem, os resultados melhoram muito (e rapidamente).

O próximo passo é deixar a operação mais completa, conectando as ações básicas com outros canais e iniciativas como webpush, desconto na primeira compra, mídia programática e redes sociais. Pode-se avançar também na inteligência analítica e segmentação da base, possibilitando ações ainda mais individualizadas e eficientes.

A tecnologia atual permite ir mais longe com o uso da inteligência artificial e do aprendizado de máquina para, por exemplo, prever a saída de usuários, a criação de scorings com novas clusterizações e o desenvolvimento de modelagens estatísticas para se antecipar comportamentos. Com isso, é possível dar um salto ainda maior nos resultados, mas é preciso ter maturidade digital e, principalmente, não pular as etapas anteriores.

Outra armadilha é confundir a ferramenta tecnológica que se utiliza com a estratégia de CRM. A plataforma é um viabilizador, mas sua correta execução depende de premissas de perfil do consumidor, estratégias de negócio (incluindo produto e preço) e adequação das mensagens. Por isso, é importante contar com um parceiro ou profissional especializado na área.

Como vimos, o papel do CRM agora é conduzir e estimular o cliente até que a venda seja efetivada, fazendo também o caminho de volta, identificar esse comportamento e ações que deram certo para alimentar uma estratégia de comunicação e relacionamento constante. Isso tudo com um investimento que possui retorno de médio prazo, um ferramental bem desenvolvido e menor dependência de outros stakeholders. Não raro, um CRM bem gerido e bem executado vira o jogo de uma empresa.

Compartilhar:

Artigos relacionados

Quando a IA desafia o ESG: o dilema das lideranças na era algorítmica

A inteligência artificial está reconfigurando decisões empresariais e estruturas de poder. Sem governança estratégica, essa tecnologia pode colidir com os compromissos ambientais, sociais e éticos das organizações. Liderar com consciência é a nova fronteira da sustentabilidade corporativa.

Semana Mundial do Meio Ambiente: desafios e oportunidades para a agenda de sustentabilidade

Construímos um universo de possibilidades. Mas a pergunta é: a vida humana está realmente melhor hoje do que 30 anos atrás? Enquanto brasileiros — e guardiões de um dos maiores biomas preservados do planeta — somos chamados a desafiar as retóricas de crescimento e consumo atuais. Se bem endereçados, tais desafios podem nos representar uma vantagem competitiva e um fôlego para o planeta

Tecnologia, mãe do autoetarismo

Ninguém fala disso, mas muitos profissionais mais velhos estão discriminando a si mesmos com a tecnofobia. Eles precisam compreender que a revolução digital não é exclusividade dos jovens

ESG
Brasil é o 4º país com mais crises de saúde mental no mundo e 500 mil afastamentos em 2023. As empresas que ignoram esse tsunami pagarão o preço em produtividade e talentos.

Nayara Teixeira

5 min de leitura
Tecnologias exponenciais
Empresas que integram IA preditiva e machine learning ao SAP reduzem custos operacionais em até 30% e antecipam crises em 80% dos casos.

Marcelo Korn

7 min de leitura
Empreendedorismo
Reinventar empresas, repensar sucesso. A megamorfose não é mais uma escolha e sim a única saída.

Alain S. Levi

4 min de leitura
Tecnologias exponenciais
A Inteligência Artificial deixou de ser uma promessa futurista para se tornar o cérebro operacional de organizações inteligentes. Mas, se os algoritmos assumem decisões, qual será o papel dos líderes no comando das empresas? Bem-vindos à era da gestão cognitiva.

Marcelo Murilo

12 min de leitura
ESG
Por que a capacidade de expressar o que sentimos e precisamos pode ser o diferencial mais subestimado das lideranças que realmente transformam.

Eduardo Freire

5 min de leitura
Tecnologias exponenciais
A IA não é só para tech giants: um plano passo a passo para líderes transformarem colaboradores comuns em cientistas de dados — usando ChatGPT, SQL e 360 horas de aprendizado aplicado

Rodrigo Magnago

21 min de leitura
ESG
No lugar de fechar as portas para os jovens, cerque-os de mentores e, por que não, ofereça um exemplar do clássico americano para cada um – eles sentirão que não fazem apenas parte de um grupo estereotipado, mas que são apenas jovens

Daniela Diniz

05 min de leitura
Empreendedorismo
O Brasil já tem 408 startups de impacto – 79% focadas em soluções ambientais. Mas o verdadeiro potencial está na combinação entre propósito e tecnologia: ferramentas digitais não só ampliam o alcance dessas iniciativas, como criam um ecossistema de inovação sustentável e escalável

Bruno Padredi

7 min de leitura
Finanças
Enquanto mulheres recebem migalhas do venture capital, fundos como Moon Capital e redes como Sororitê mostram o caminho: investir em empreendedoras não é ‘caridade’ — é fechar a torneira do vazamento de talentos e ideias que movem a economia

Ana Fontes

5 min de leitura