Uncategorized

Como anda a saúde mental dos jovens?

Se queremos cuidar da saúde mental nas empresas, não podemos deixar de olhar para quem será responsável pelo futuro delas: os jovens. Traçar estratégias de cuidado nunca foi tão importante
É editora de conteúdos customizados em HSM Management e MIT Sloan Review Brasil.

Compartilhar:

A saúde mental dos jovens piorou durante a pandemia. De acordo com uma pesquisa internacional realizada pela Universidade São Judas em parceria com a Universidad Del Sur, no Perú, 77,4% dos estudantes apresentaram quadro de ansiedade, enquanto 76,8% apresentam sinais de estresse e 66,5% manifestam grau moderado a grave de depressão. O levantamento foi realizado de junho a agosto de 2020 e ouviu mais de 600 alunos.

Dentre outros fatores, tais índices podem ser explicados por situações de perda de parentes para a covid-19, receio em relação às práticas acadêmicas virtuais, falta de contato físico e aproximado com os colegas de sala e medo de ficar desempregado. “Observamos nesses jovens sinais de irritabilidade, apatia, falta de interesse e motivação, agitação psicomotora, reações emocionais exageradas e isolamento social”, destaca a coordenadora da pesquisa e professora do curso de psicologia da Universidade São Judas, Maria Rita Polo Gascón.

Se as mudanças abruptas na rotina e as incertezas em relação ao futuro têm impactado as pessoas de modo geral, é preciso ter um olhar ainda mais atento ao jovem no contexto pandêmico. Vivenciar a transição para a vida adulta já traz consigo uma série de dilemas e desafios, o que, por si só, já provoca ansiedade nos jovens. “Hoje, temos uma juventude ainda mais ansiosa. A ansiedade já vem nos acompanhando desde antes da pandemia, mas ela deixou seu lugar fixado no nosso dia a dia a partir do momento que iniciamos o isolamento social”, comenta Kamilly Oliveira, consultora de comunicação da Eureca, consultoria de recrutamento e desenvolvimento de jovens.

Segundo ela, para falar de saúde mental do jovem [é preciso considerar um cenário diverso](https://www.revistahsm.com.br/post/um-retrato-da-juventude-brasileira), já que muitas pessoas não tiveram o apoio mínimo para sustentar cuidados com a mente e as emoções durante a pandemia. “Enquanto uns tinham oportunidade de fazer encontros com um psicólogo semanalmente para falar das suas preocupações e dificuldades, teve gente que nunca nem imaginou essa possibilidade”, pondera.
Se considerarmos que metade de todas as condições de saúde mental começa aos 14 anos de idade, mas a maioria dos casos não é detectada nem tratada (segundo dados da Organização Pan-Americana de Saúde), a dificuldade ou falta de acesso dos jovens aos cuidados com a mente é ainda mais alarmante. “A depressão é a doença que mais afastará as pessoas de seus postos de trabalho. A ansiedade e a depressão podem tirar mais dias de vida de uma pessoa do que doenças e guerras juntas. Podem comprometer a vida social, acadêmica, pessoal e familiar, impossibilitando ou atrasando o desenvolvimento” alerta Gascón.

### Empresas mais acolhedoras

Para dar conta destes desafios relacionados à saúde mental dos jovens – que, vale reforçar, não são consequência da pandemia, mas foram trazidas à luz também por conta dela – é preciso haver esforços coletivos, com o desenvolvimento de políticas públicas e o envolvimento da sociedade civil em seus diferentes níveis e instituições. Preservar a saúde mental do jovem é viabilizar sua saúde de modo integral, construindo desde já o futuro das pessoas, das organizações e do País.
Dessa maneira, conhecer o que as empresas estão fazendo e as possibilidades de atuação para os líderes contrbui para construir ambientes favoráveis à promoção da saúde mental e emocional dos jovens. De acordo com Gascón, é possível começar com iniciativas simples como a produção e compartilhamento de materiais com conteúdos psicoeducativos e palestras. A USJT, por exemplo, também oferece acolhimento psicológico a todos os alunos e colaboradores da instituição com a finalidade de minimizar a dor e potencializar ações e saberes adequados no combate à ansiedade generalizada e depressão.

A psicóloga também sugere que as empresas incentivem e orientem os jovens sobre a [adoção de um estilo de vida saudável](https://www.revistahsm.com.br/post/produtividade-sustentavel-equilibrio-entre-trabalho-e-corpo) e ofereçam psicoeducação sobre saúde mental e acesso a tratamentos de qualidade, além de ter processos transparentes e uma trilha de carreira bem definida, que ajudam na diminuição da ansiedade e na promoção da saúde mental dentro das organizações.

Para os jovens que estão trabalhando no modelo home office, é preciso dedicar tempo para abordar pontos que podem parecer já muito básicos para os demais profissionais, mas que conferem estrutura e rotina – dois itens fundamentais para mitigar a ansiedade –, tais como a importância de preparar um ambiente da casa para o trabalho para que haja uma separação do que é doméstico do que é trabalho, se arrumar como se fosse trabalhar fora, ter uma rotina: hora de início, almoço e saída.

“Empresas de grande porte como a Google já se manifestaram contra o trabalho completamente remoto, portanto, é de suma importância que os jovens saibam fazer o trabalho de forma híbrida, que é a tendência do mercado daqui em diante”, orienta.

Reavaliar os processos seletivos dos jovens também é um ponto crucial, de acordo com a consultora da Eureca. “Se as pessoas não tiveram suporte para cuidar da saúde mental durante a pandemia, como elas olham para dentro? Quanto ela teve a oportunidade de [se conhecer para conseguir expressar suas habilidades e qualidades](https://www.revistahsm.com.br/post/a-coragem-de-ser-autentico) em um processo seletivo? Como esse talento chega na sua organização e como fazer para que esse jovem sinta-se aberto a ser ele mesmo?”

Assim, falar sobre autocuidado ao longo desse processo se torna necessário, caso contrário, as empresas poderão dar a mesma oportunidade para os jovens, mas não as tornarão equânime. “Quando a gente faz um processo seletivo em Eureca e queremos trazer perfis diversos, precisamos ter esse cuidado de empoderá-los e acolhê-los para que possam demonstrar suas melhores habilidades”, explica Oliveira.

### E lideranças mais conscientes

O papel do líder também é essencial para o desenvolvimento dos jovens no trabalho e é preciso prepará-los para esta jornada. “O desenvolvimento de uma liderança humanizada faz toda diferença no combate às doenças mentais em decorrência do trabalho, além de engajar e desenvolver jovens trabalhadores. Eles também precisam ser orientados para que saibam trabalhar com equipes remotas, potencializando o trabalho em equipe e criando um ambiente de cooperação. Por fim, incentivem momentos de lazer, respeitem os horários e, acima de tudo, tenham uma ‘escuta’ sobre as dificuldades e inseguranças das equipes”, conclui a professora.

Embora a saúde mental tenha se tornado um dos assuntos mais procurados durante a pandemia, pouco tem se discutido e feito para a promoção e preservação da saúde mental dos jovens, que começam suas vidas profissionais cheios de energia, expectativas, mas também receios e muita ansiedade. Endereçar estes assuntos, prover conhecimento e promover espaços seguros contribuirá para a formação de uma nova geração de trabalhadores saudáveis e mais bem preparados para lidar com os desafios profissionais.

Compartilhar:

Artigos relacionados

Inovação & estratégia
24 de outubro de 2025
Grandes ideias não falham por falta de potencial - falham por falta de método. Inovar é transformar o acaso em oportunidade com observação, ação e escala.

Priscila Alcântara e Diego Souza

6 minutos min de leitura
Cultura organizacional, Gestão de pessoas & arquitetura de trabalho
23 de outubro de 2025
Alta performance não nasce do excesso - nasce do equilíbrio entre metas desafiadoras e respeito à saúde de quem entrega os resultados.

Rennan Vilar - Diretor de Pessoas e Cultura do Grupo TODOS Internacional.

4 minutos min de leitura
Uncategorized
22 de outubro de 2025
No setor de telecom, crescer sozinho tem limite - o futuro está nas parcerias que respeitam o legado e ampliam o potencial dos empreendedores locais.

Ana Flavia Martins - Diretora executiva de franquias da Algar

4 minutos min de leitura
Marketing & growth
21 de outubro de 2025
O maior risco do seu negócio pode estar no preço que você mesmo definiu. E copiar o preço do concorrente pode ser o atalho mais rápido para o prejuízo.

Alexandre Costa - Fundador do grupo Attitude Pricing (Comunidade Brasileira de Profissionais de Pricing)

5 minutos min de leitura
Bem-estar & saúde
20 de outubro de 2025
Nenhuma equipe se torna de alta performance sem segurança psicológica. Por isso, estabelecer segurança psicológica não significa evitar conflitos ou suavizar conversas difíceis, mas sim criar uma cultura em que o debate seja aberto e respeitoso.

Marília Tosetto - Diretora de Talent Management na Blip

4 minutos min de leitura
Inovação & estratégia, Marketing & growth
17 de outubro de 2025
No Brasil, quem não regionaliza a inovação está falando com o país certo na língua errada - e perdendo mercado para quem entende o jogo das parcerias.

Rafael Silva - Head de Parcerias e Alianças na Lecom

3 minutos min de leitura
Bem-estar & saúde, Tecnologia & inteligencia artificial
16 de outubro de 2025
A saúde corporativa está em colapso silencioso - e quem não usar dados para antecipar vai continuar apagando incêndios.

Murilo Wadt - Cofundador e diretor geral da HealthBit

3 minutos min de leitura
Bem-estar & saúde
15 de outubro de 2025
Cuidar da saúde mental virou pauta urgente - nas empresas, nas escolas, nas nossas casas. Em um mundo acelerado e hiperexposto, desacelerar virou ato de coragem.

Viviane Mansi - Conselheira de empresas, mentora e professora

3 minutos min de leitura
Marketing & growth
14 de outubro de 2025
Se 90% da decisão de compra acontece antes do primeiro contato, por que seu time ainda espera o cliente bater na porta?

Mari Genovez - CEO da Matchez

3 minutos min de leitura
ESG
13 de outubro de 2025
ESG não é tendência nem filantropia - é estratégia de negócios. E quando o impacto social é parte da cultura, empresas crescem junto com a sociedade.

Ana Fontes - Empreendeedora social, fundadora da Rede Mulher Empreendedora (RME) e do Instituto RME

3 minutos min de leitura

Baixe agora mesmo a nossa nova edição!

Dossiê #169

TECNOLOGIAS MADE IN BRASIL

Não perdemos todos os bondes; saiba onde, como e por que temos grandes oportunidades de sucesso (se soubermos gerenciar)

Baixe agora mesmo a nossa nova edição!

Dossiê #169

TECNOLOGIAS MADE IN BRASIL

Não perdemos todos os bondes; saiba onde, como e por que temos grandes oportunidades de sucesso (se soubermos gerenciar)