Durante muitas décadas, a única preocupação de uma empresa foi colocar a mercadoria na rua e vender. A demanda do consumidor por rapidez, praticidade e comodidade fez com que mais e mais embalagens fossem agregadas ao produto.
Mas os meses de isolamento nos trouxeram muitas reflexões: desde um olhar micro, analisando nossas relações intra e interpessoais, até a macro, trazendo questionamentos sobre a situação econômica e social do mundo.
No geral, crises e inquietações são o pontapé inicial da mudança e é exatamente isso que vem acontecendo com relação aos nossos hábitos de consumo e descarte. Hoje, as práticas socioambientais ganham mais visibilidade e adeptos.
Os impactos da produção, as emissões de carbono e a gestão dos resíduos e rejeitos têm sido alguns dos critérios decisivos, tanto para quem compra quanto para quem investe. É cada vez maior o interesse de acionistas por empresas com métricas de governança ambiental, social e corporativa.
A ESG, sigla para Environmental, Social and Corporate Governance, vem ganhando destaque e se tornando um diferencial na cotação de mercado de uma empresa. Isso porque quem se norteia por essas boas práticas tende a ser uma aposta mais sólida, resiliente às crises e com menor custo de capital.
Mas, ao mesmo tempo em que são cobradas soluções, cresce o número de iniciativas inovadoras que usam tecnologia e são capazes de ajudar o mercado a se adaptar a esse atual cenário, as chamadas “cleantechs”. Conhecidas também como “startups verdes”, elas utilizam tecnologia limpa para aproveitar melhor os recursos de uma empresa, tornar a produtividade mais eficiente e evitar desperdícios. De acordo com o Mapeamento do Ecossistema de Startups de Cleantech no Brasil, hoje são 136 startups deste segmento. E a tendência é que esse número aumente devido à Covid-19.
## Inspiração internacional para cleantechs
Precursora no quesito políticas sustentáveis, a Europa serve de referência para o mundo. Lá, a discussão sobre a reciclagem acontece desde a década de 70, quando foram criadas as primeiras regras para a gestão de resíduos. A mais recente lei de reciclagem de embalagens vem traçando metas, diretrizes e plano de ação que respeitem cada um dos países da União Europeia.
A lei tem como premissa a corresponsabilidade de todos, desde quem produz até quem consome, mas cabe ao poluidor pagador – que, neste caso, não é só o fabricante, mas também o distribuidor – arcar com os custos da reciclagem.
Bom, neste momento, você deve estar pensando o quão complexo é ter acesso aos resíduos depois que eles saem da fábrica. E é aí que as cleantechs entram novamente. Desde 96, a Ponto Verde, em Portugal, por meio da compensação ambiental, se compromete a dar o destino correto para a mesma quantidade em massa de embalagens que as empresas colocam no mercado. E este é um movimento em toda União Europeia, onde, por exemplo, segundo a [Ecoembes](https://www.ecoembes.com/es/ciudadanos/envases-y-proceso-reciclaje/datos-de-reciclaje-en-espana), a Espanha saiu de 4,7% de embalagens recicladas em 1998 para 78,8% em 2018.
**Realidade nacional para startups verdes**
Será que é possível buscar inspiração no modelo espanhol e aumentar a reciclagem no Brasil? Diferentemente da estrutura europeia, que dispõe de sistemas automatizados na separação dos tipos de materiais,por aqui a triagem é feita, praticamente, de forma manual.
Segundo o Panorama dos Resíduos Sólidos 2018, elaborado pela Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais, estima-se que o Brasil recicle apenas 3% dos materiais.
Sem contar que a conscientização ainda vem sendo construída e a grande maioria das pessoas não sabe distinguir o que dá e o que não dá para ser reciclado. A boa notícia é que os consumidores estão cada vez mais conscientes e ativos na busca de informações sobre o impacto das marcas e querem saber o que elas têm feito em relação a isso. Exemplo disso é o estudo publicado em 2018 pelo SPC Brasil e pelo Meu Bolso Feliz, no qual se mostrou que 71% dos consumidores davam preferência a produtos de marcas comprometidas com ações ambientais e sociais e 56% chegavam a desistir da compra se a empresa adotasse práticas nocivas ao meio ambiente.
Ainda que o consumo consciente tenha um papel importante nesta mobilização, é a legislação ambiental que tem feito mais barulho. Instituída em 2010, nossa Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) foi inspirada na europeia e, dentre outras coisas, atribui ao fabricante, importador, distribuidor e comerciante a responsabilidade por seus impactos no planeta.
Nesse sentido, tanto o Ministério Público, quanto os órgãos ambientais, exigem que as empresas cumpram com a logística reversa de pelo menos 22% das embalagens comercializadas.
Ao não se adequar à legislação, além do risco reputacional de forte impacto negativo para a imagem e o posicionamento da marca, há o risco potencial de multa e perda da licença de operação. Judicializações estão ocorrendo em diversos estados, como em São Paulo que, por meio das pressões da CETESB, é vanguarda na estruturação de uma solução de logística reversa.
Para evitar essa experiência e transformar a realidade da cadeia de reciclagem, algumas cleantechs têm criado tecnologias e modelos de negócios inovadores. Uma solução que surgiu no Brasil é [o selo eureciclo](https://eureciclo.com.br/)*, única empresa brasileira nomeada como uma das [#50towatch cleantechs](http://bit.ly/50toWatch2020), uma lista global que reúne companhias que estão entregando soluções inovadoras para combater a crise climática.
Por meio desta solução, as marcas conseguem comunicar suas ações de logística reversa em suas próprias embalagens com o selo eureciclo, criando uma relação de confiança com seus consumidores.
O selo criou uma dinâmica de equilíbrio entre a oferta de reciclagem pelas cooperativas e operadores privados e a demanda de embalagens recicladas por parte das empresas que comercializam bens de consumo. O processo possibilitou um sistema de incentivo financeiro (os certificados de reciclagem) para toda a cadeia e garantiu compensação ambiental das embalagens.
O selo eureciclo tem auxiliado empresas a se adequarem à [Política Nacional de Resíduos Sólidos](http://blog.eureciclo.com.br/2018/09/tudo-o-que-voce-precisa-saber-sobre-politica-nacional-de-residuos-solidos-pnrs/?utm_source=blog&utm_medium=blog-post&utm_campaign=organico&utm_content=interno-compensacao-ambiental-nao-e-so-plantar-arvores&utm_term=persona_b2b) com as metas de reciclagem (evitando processos frente ao Ministério Público e dificuldade de obtenção de licença ambiental frente aos órgãos ambientais), além de levar mais qualidade, dignidade e segurança aos que trabalham em cooperativas e operadores parceiros.
E todo mundo ganha: a cadeia de reciclagem se fortalece, as empresas cumprem com suas metas e comunicam de forma mais estruturada suas ações de sustentabilidade e o consumidor pode escolher produtos de marcas que se preocupam com uma cadeia tão importante para o nosso futuro.
São exemplos como esses que mostram que temos a capacidade e a tecnologia para mudar este cenário. Agora, precisamos de mais empresas engajadas em diminuir a emissão de poluentes e aumentar a qualidade de vida do planeta.
A corrida das metas agora é outra. E, só para avisar, ela já começou!
* *A eureciclo é uma empresa investida pela Redpoint eventures*