Não há brasileiro que não conheça Bruno Mossa de Rezende, o Bruninho, célebre levantador da Seleção Brasileira de Vôlei. Olhando para suas três medalhas olímpicas – uma de ouro e duas de prata – e para sua genética – filho de um medalhista da geração de 1984 no vôlei feminino, Bernardinho, e da fantástica jogadora da Seleção Feminina Vera Mossa –, qualquer um diria que jogar vôlei para ele era a coisa mais fácil do mundo, que ele armava os ataques já no berçário da maternidade.
Em uma conversa comigo, no entanto, Bruninho contou uma história diferente. As incessantes comparações técnicas com outros levantadores que a Seleção do Brasil havia tido o faziam sentir como se precisasse provar sua capacidade técnica a todo momento. Ele sofria e, arrisco dizer, não desempenhava tudo que podia.
Foi só depois de um árduo processo de desenvolvimento que o Bruno entendeu que não precisava ter mãos tão brilhantes como as do levantador que ele sucedeu. No processo, Bruno basicamente refletiu sobre suas limitações (aceitou-as e ressignificou-as) e reconheceu suas virtudes diferenciais. Unir ambos os recursos – limitações e virtudes – foi seu modo de gerar ótimos resultados para o time. E não a comparação. Quando perguntei ao Bruno o que ele diria hoje ao Bruninho de 20 anos de idade, sabe o que ele respondeu? “Eu diria para ele acreditar no processo, no dia a dia. Não pensar só nos resultados.”
A verdade é que todo mundo pensa em resultados a priori. Pior ainda: em resultados comparados. E desiste por conta disso. É para haver resultados, sim, mas a posteriori. De fato, Bruno é reconhecido como um dos melhores levantadores do mundo. Já pensou se, por comparar-se, ele tivesse desistido?
Eu também quase desisti, e pelo mesmo motivo – a comparação excessiva com os demais. Quando criança, eu era asmático, limitação evidente na comparação com os coleguinhas. Minha mãe me colocou na natação, que em tese melhoraria meu sistema respiratório, mas surgiu outra limitação: alergia a cloro – a pele ficava toda empipocada. Depois, fui para o basquete, com minha altura de 1,80 m. E veio a terceira limitação: falta de coordenação motora.
Até o dia que a escola abriu processo seletivo para atletismo. Meu professor, de olho no tamanho de minhas pernas e na ausência de gordura, pediu que eu me inscrevesse. Eu me destaquei nos testes; fui bem na corrida, no salto em altura… Foi a primeira vez que não me comparei com ninguém; sabia que todos os outros treinavam há mais tempo do que eu. E só fiz aquilo que o professor me pedia. Cheguei em casa aos gritos: “Mãe, vou ser atleta!”.
Como você sabe, não segui com o atletismo. Mas ao trocar a comparação excessiva – essa que acontece o tempo todo nas redes sociais – pela ação, pude me tornar um atleta e um colecionador de resultados.
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Artigo publicado na HSM Management nº 156.