Carreira

Como equilibrar desempenho e autocuidado na carreira?

Peak performance: método utilizado por superatletas e artistas ecoa também no mundo corporativo: previne distrações, reforça a concentração e ajuda na construção de rotinas simples e intensas, impactando em melhorias de desempenho
Augusto é Diretor de Relações Institucionais do Instituto Four, Coordenador da Lifeshape Brasil, Professor convidado da Fundação Dom Cabral, criador da certificação Designer de Carreira e produtor do Documentário Propósito Davi Lago é coordenador de pesquisa no Laboratório de Política, Comportamento e Mídia da PUC-SP, professor de pós-graduação na FAAP e autor best-seller de obras como “Um Dia Sem Reclamar” (Citadel) e “Formigas” (MC). Apresentador do programa Futuro Imediato na Univesp/TV Cultura

Compartilhar:

Como é possível elevar o desempenho e prosperar sem cair no esgotamento? A obra Peak Performance de Steve Magness e Brad Stulberg apresenta descobertas práticas e inspiradoras sobre essa questão. A partir de uma ampla pesquisa com atletas de ponta, os autores sistematizaram as atitudes que diferenciam atletas de superatletas.

No estudo, verificou-se que o equilíbrio entre disciplina, intensidade e bem-estar é a base do sucesso dos superatletas. É óbvio que não há problema nenhum para um profissional entregar com responsabilidade o que se requer dele. Contudo, há profissionais com anseio de desenvolver melhor seu próprio potencial. Nem todos se contentam em entregar resultados meramente satisfatórios, mas pretendem entregar resultados de ponta. É uma questão de perspectiva pessoal.

Assim, do mesmo jeito que não há problema em ser um “atleta”, não há problema em trabalhar duro para seu um “superatleta”. Esse texto é para aqueles que desejam elevar o próprio desempenho profissional. Nosso objetivo neste artigo é realçar algumas lições dessa pesquisa para a manutenção de desempenho e autocuidado na carreira profissional.

## Uma equação de estresse e descanso

Os atletas de alta performance precisam da dose certa de estresse muscular. Ou seja, estresse não é necessariamente uma maldição: não há outro modo para desenvolver os músculos além de uma quantidade moderada de estresse. Com pouco exercício, não há progresso muscular, mas exercícios exagerados podem causar lesões graves.

A mesma ideia é aplicável ao desempenho profissional: é necessária a dose certa de tensão. O estresse moderado é o caminho incontornável para o desenvolvimento de habilidades valiosas, como diz o velho provérbio inglês: “mar liso não faz marinheiros habilidosos”.

Inquestionavelmente, profissionais bem-sucedidos superam seus próprios limites, mas têm [sabedoria para recuar e descansar](https://www.revistahsm.com.br/post/essa-tal-produtividade-no-trabalho). Sem descanso o corpo não se recupera, e a mente não tem energia para gerar soluções criativas. Portanto, planeje suas férias e folgas de acordo com o seu trabalho. Certifique-se de descansar bastante após um longo período de trabalho estressante.

### Restrições mentais impedem o loop de desempenho

A pesquisa constatou que atletas comuns alimentam ilusões sobre lesões. Ou seja, restrições mentais autoimpostas, completamente fora da realidade. Enquanto isso, os superatletas colocam diante de si objetivos claros e arrebatadores que os motivam a seguir em frente nos treinamentos.

Os obstáculos nos exercícios são fatores motivadores e não impeditivos para aqueles que alcançam uma performance superior. Essa lição é muito importante para carreiras profissionais: é necessário superar restrições mentais e ter diante de si um propósito motivador.

Quem tem objetivos pessoais claros consegue criar ciclos de feedbacks: o propósito traz motivação, e a motivação traz esforço. Consequentemente, o esforço leva ao melhor desempenho, e o [melhor desempenho reforça a convicção no objetivo proposto](https://www.revistahsm.com.br/post/criterios-de-carreira-como-a-clareza-de-valores-melhora-a-trajetoria). Este loop impulsiona os corredores de maratona a terminar a última milha, incentiva o paciente doente a sobreviver e ajuda o profissional a atingir seu objetivo.

### Decisões desnecessárias drenam energia

Outra diferença entre atletas e superatletas é a capacidades destes em renunciar a tudo aquilo que não é essencial para o aprimoramento físico, mental e técnico. Os atletas de ponta têm uma rotina intensa, mas simplificada. A prática do essencialismo é vital para elevar a relevância da carreira profissional.

Um grande exemplo é a tomada de decisão. Ao tomarmos decisões, gastamos mais energia mental. Quando tomamos muitas decisões desnecessárias diariamente, não temos energia suficiente reservada para nossas atividades principais. Profissionais inteligentes simplificam suas rotinas, eliminam distrações e não desperdiçam recursos em tarefas evitáveis.

### Rituais de preparo da mente são decisivos para alta performance

Grandes atletas – assim como os grandes artistas – geralmente têm um ritual de desempenho predefinido. As melhores corredoras, os recordistas da Fórmula 1, os medalhistas olímpicos, os jogadores mais bem pagos da NBA ou de futebol costumam preparar seu estado mental com essas ações. É como uma virada de página mental, que afasta todo o resto e prepara corpo e espírito para o desempenho atlético.

Esse tipo de atitude recebe cada vez mais atenção até mesmo dos neurocientistas que procuram compreender as dinâmicas cerebrais que possibilitam feitos extraordinários. Na literatura corporativa, a ideia foi popularizada pelo termo “flow”. Essa lição é muito pertinente ao trabalho profissional, sobretudo no contexto do trabalho remoto e home office.

Em síntese, é condição decisiva para postura profissional a capacidade de a pessoa em estar de “corpo presente” naquilo que faz. Elaborar pequenos rituais de concentração é um conceito simples e eficaz. Por exemplo: organizar a mesa, prensar uma xícara de café, lavar o rosto com algum esfoliante, ler um haikai. O ponto é situar a mente no desempenho responsável.

Portanto, um profissional com apetite para crescer pode aprender muito com os atletas peak performance. Não basta ficar só na zona de conforto, pois assim não se performa. Não basta também ficar só na zona de estresse, provocando uma estafa. É necessário escolher os desafios adequados, evitar distrações, estabelecer rotinas simples e intensas, criar processos de concentração e jamais manter restrições ilusórias na própria mente.

## Insights para sua carreira:

__1. Qual foi a última vez que você parou para contemplar?__

Contemplar é aquilo que vai além do descanso e do estresse. É aquele momento de celebrar, refletir, agradecer. A contemplação é necessária para equilibrar nosso trânsito entre zona de conforto e zona de estresse. O ser humano não é mera máquina voltada apenas a cumprir ordens e realizar tarefas. Desempenho pelo desempenho é desumanizador. Portanto, resgate a contemplação como valor de vida.

__2. Reavalie sua a quantidade de atividades e projetos:__

A conexão ininterrupta possibilitada pelas mídias sociais atrai uma série de spams, não apenas para nossa caixa de entrada e aplicativos comunicacionais, mas para nossa própria rotina. É muito importante reavaliar com regularidade a necessidade de nossas próprias atividades, cortar o supérfluo e focar naquilo que é crucial para nosso propósito. Não basta reclamar das atividades inúteis, é preciso agir para cortá-las. Como disse Confúcio: “é melhor acender uma vela que amaldiçoar a escuridão”.

*Gostou do artigo escrito por Augusto Jr. e Davi Lago? Saiba mais sobre carreira e peak performance assinando [nossas newletters](https://www.revistahsm.com.br/newsletter) e escutando [nossos podcasts](https://www.revistahsm.com.br/podcasts) em sua plataforma de streaming favorita.*

Compartilhar:

Augusto é Diretor de Relações Institucionais do Instituto Four, Coordenador da Lifeshape Brasil, Professor convidado da Fundação Dom Cabral, criador da certificação Designer de Carreira e produtor do Documentário Propósito Davi Lago é coordenador de pesquisa no Laboratório de Política, Comportamento e Mídia da PUC-SP, professor de pós-graduação na FAAP e autor best-seller de obras como “Um Dia Sem Reclamar” (Citadel) e “Formigas” (MC). Apresentador do programa Futuro Imediato na Univesp/TV Cultura

Artigos relacionados

Competitividade da Indústria Brasileira diante do Protecionismo Global

A recente vitória de Donald Trump nos EUA reaviva o debate sobre o protecionismo, colocando em risco o acesso do Brasil ao segundo maior destino de suas exportações. Porém, o país ainda não está preparado para enfrentar esse cenário. Sua grande vulnerabilidade está na dependência de um número restrito de mercados e produtos primários, com pouca diversificação e investimentos em inovação.

Mercado de RevOps desponta e se destaca com crescimento acima da média 

O Revenue Operations (RevOps) está em franca expansão global, com estimativa de que 75% das empresas o adotarão até 2025. No Brasil, empresas líderes, como a 8D Hubify, já ultrapassaram as expectativas, mais que dobrando o faturamento e triplicando o lucro ao integrar marketing, vendas e sucesso do cliente. A Inteligência Artificial é peça-chave nessa transformação, automatizando interações para maior personalização e eficiência.

Uso de PDI tem sido negligenciado nas companhias

Apesar de ser uma ferramenta essencial para o desenvolvimento de colaboradores, o Plano de Desenvolvimento Individual (PDI) vem sendo negligenciado por empresas no Brasil. Pesquisa da Mereo mostra que apenas 60% das companhias avaliadas possuem PDIs cadastrados, com queda no engajamento de 2022 para 2023.

Regulamentação da IA: Como empresas podem conciliar responsabilidades éticas e inovação? 

A inteligência artificial (IA) está revolucionando o mundo dos negócios, mas seu avanço rápido exige uma discussão sobre regulamentação. Enquanto a Europa avança com regras para garantir benefícios éticos, os EUA priorizam a liberdade econômica. No Brasil, startups e empresas se mobilizam para aproveitar as vantagens competitivas da IA, mas aguardam um marco legal claro.

Governança estratégica: a gestão de riscos psicossociais integrada à performance corporativa

A gestão de riscos psicossociais ganha espaço nos conselhos, impulsionada por perdas estimadas em US$ 3 trilhões ao ano. No Brasil, a atualização da NR1 exige que empresas avaliem e gerenciem sistematicamente esses riscos. Essa mudança reflete o reconhecimento de que funcionários saudáveis são mais produtivos, com estudos mostrando retornos de até R$ 4 para cada R$ 1 investido

ESG
Com as eleições municipais se aproximando, é crucial identificar candidatas comprometidas com a defesa dos direitos das mulheres, garantindo maior representatividade e equidade nos espaços de poder.

Ana Fontes

ESG, Empreendedorismo
Estar na linha de frente da luta por formações e pelo desenvolvimento de oportunidades de emprego e educação é uma das frentes que Rachel Maia lida em seu dia-dia e neste texto a Presidente do Pacto Global da ONU Brasil traz um panorama sobre estes aspectos atuais.

Rachel Maia

Conteúdo de marca, Marketing e vendas, Marketing Business Driven, Liderança, times e cultura, Liderança
Excluído o fator remuneração, o que faz pessoas de diferentes gerações saírem dos seus empregos?

Bruna Gomes Mascarenhas

Blockchain
07 de agosto
Em sua estreia como colunista da HSM Management, Carolina Ferrés, fundadora da Blue City e partner na POK, traz atenção para a necessidade crescente de validar a autenticidade de informações e certificações, pois tecnologias como blockchain e NFTs, estão revolucionando a educação e diversos setores.
6 min de leitura
Transformação Digital, ESG
A gestão algorítmica está transformando o mundo do trabalho com o uso de algoritmos para monitorar e tomar decisões, mas levanta preocupações sobre desumanização e equidade, especialmente para as mulheres. A implementação ética e supervisão humana são essenciais para garantir justiça e dignidade no ambiente de trabalho.

Carine Roos

Gestão de Pessoas
Explorando a comunicação como uma habilidade crucial para líderes e gestores de produtos, destacando sua importância em processos e resultados.

Italo Nogueira De Moro

Uncategorized
Até onde os influenciadores estão realmente ajudando na empreitada do propósito? Será que isso é sustentavelmente benéfico para nossa sociedade?

Alain S. Levi

Gestão de Pessoas
Superar vieses cognitivos é crucial para inovar e gerar mudanças positivas, exigindo uma abordagem estratégica e consciente na tomada de decisões.

Lilian Cruz

Transformação Digital, Marketing e vendas, Marketing Business Driven, Marketing business-driven
Crescimento dos festivais de música pós-pandemia oferece às marcas uma chance única de engajamento e visibilidade autêntica.

Kika Brandão

Gestão de pessoas, Liderança, Liderança, times e cultura
Explorando como mudanças intencionais e emergentes moldam culturas organizacionais através do framework ‘3As’ de Dave Snowden, e como a compreensão de assemblages pode ajudar na navegação e adaptação em sistemas sociais complexos.

Manoel Pimentel