Uncategorized

Como o home office pode ser um santo remédio para a saúde mental das mulheres brasileiras

A saúde mental da mulher brasileira enfrenta desafios complexos, exacerbados por sobrecarga de responsabilidades, desigualdade de gênero e falta de apoio, exigindo ações urgentes para promover equilíbrio e bem-estar.
Letícia de Oliveira Alves é Psicóloga Clínica, palestrante e Idealizadora e Gestora do Projeto Café com os Psicólogos que atuam no SUAS (Sistema Único de Assistência Social) Ana Paula Moura Rodrigues é Psicóloga Clínica, pós- graduada em saúde mental e com Formação em Terapia Familiar Sistêmica

Compartilhar:

Pensamos em escrever sobre os cuidados com a saúde mental da mulher brasileira ao nos depararmos com a complexidade desse cenário. Ano passado, uma pesquisa do Lab Think Olga revelou um quadro femininamente preocupante: nossas mulheres estão esgotadas, sobrecarregadas, ansiosas, adoecendo, estressadas e insatisfeitas. E isso não é “coisa de mulher”, é coisa de sociedade.

A forma como nos organizamos desorganizou a Mulher Brasileira a esse ponto. A saúde mental dessas mulheres se tornou uma emergência nacional, pois somos um país feminino, são 6 milhões de mulheres a mais que homens, segundo o IBGE de 2022. E, ao mesmo tempo, somos o país mais ansioso do mundo e o quinto mais depressivo, de acordo com a OMS.

Quem acha que tudo isso é só TPM está redondamente enganado. É a dificuldade de equilibrar vida pessoal e trabalho, é a falta de tempo para cuidar de si, o excesso de responsabilidades e a sobrecarga do trabalho doméstico. Soma-se a isso o medo constante de perder o emprego e a responsabilidade e desafios com os filhos. É certo que os excessos fazem mal à saúde e equilibrar todos esses pratos é uma constante na vida delas.

As mulheres dedicam o dobro do tempo às tarefas domésticas e cuidados se comparado aos homens conforme dados do IBGE de 2019. São 13% da semana delas consumidos por essas demandas. Compartilhar responsabilidades domésticas ainda é um desafio numa sociedade patriarcal e com resíduos machistas.

E como se não bastasse, ainda temos a desigualdade salarial e de gênero. É uma sombra invisível que acompanha as mulheres brasileiras, e não é nada suave e nem refrescante. A desvalorização no mercado de trabalho é evidente, já que elas ganham até 20% menos que os homens em muitas funções.

Mesmo que não vejamos ou ouçamos, elas sentem. A pesquisa do Lab Think Olga aponta ainda que 38% das mulheres são a principal ou única fonte de renda familiar. Além disso, 15% dos lares brasileiros são chefiados por mães solo, representando 11 milhões de mães que criam seus filhos sozinhas e 72% delas não têm uma rede de apoio próxima, conforme dados do Instituto Brasileiro de Economia da FGV. O pão nosso de cada dia colocado à mesa pela mulher brasileira é o pão que a sociedade amassou porque esse contexto é fruto de uma organização social. E é aí que ficamos pensando: a mulher brasileira não é mal-amada, ela é mal considerada.

As empresas podem ampliar seu compromisso social promovendo atividades que ajudem essas mulheres a se cuidar e se reorganizar; promovendo campanhas de conscientização, palestras, rodas de conversas sobre o tema; sendo flexíveis com os horários e escalas e oferecendo a possibilidade de home office. As empresas podem se tornar uma grande rede de apoio na vida da Mulher Brasileira!

O modelo de trabalho remoto expandiu exponencialmente durante a pandemia por uma questão urgente de saúde e pode ser, novamente uma solução emergencial para a saúde mental feminina, diminuindo consideravelmente a exposição ao estresse devido ao trânsito desgastante das grandes cidades e a superlotação dos transportes públicos, além de conceder mais tempo para se cuidar. Esses são alguns benefícios evidentes.

Dizem que tempo é dinheiro e aqui, podemos dizer que tempo é saúde e vida! O tempo economizado com deslocamento e horário de almoço permite a inclusão de novos hábitos, aprendizados e um melhor aproveitamento da vida. No setor de saúde e beleza, muitas mulheres utilizam esse tempo para ir à academia, ao salão, ou para consultas médicas e psicológicas.

O retorno ao trabalho presencial pode contribuir para aumento da ansiedade e estresse, já que muitas precisam repensar tantas logísticas e excluir atividades, geralmente do autocuidado, para atender às demandas profissionais.

O Brasil ocupa uma posição expressiva no ranking mundial de adoecimento mental e as mulheres são a maioria. Diante desse cenário, a preferência pelo home office é clara para muitas delas, ainda que essa necessidade pareça não ser tão óbvia para algumas empresas. Que possamos contribuir para a construção de um futuro onde a saúde das nossas mulheres seja tão importante e necessária quanto todos os seus inúmeros trabalhos diários. Que o pão nosso de cada dia contenha equidade, valorização e consideração.

Saúde Mulher!

Compartilhar:

Artigos relacionados

Organização

A difícil arte de premiar sem capitular

Desde Alfred Nobel, o ato de reconhecer os feitos dos seres humanos não é uma tarefa trivial, mas quando bem-feita costuma resultar em ganho reputacional para que premia e para quem é premiado

Tecnologias exponenciais
A IA não é só para tech giants: um plano passo a passo para líderes transformarem colaboradores comuns em cientistas de dados — usando ChatGPT, SQL e 360 horas de aprendizado aplicado

Rodrigo Magnago

21 min de leitura
ESG
No lugar de fechar as portas para os jovens, cerque-os de mentores e, por que não, ofereça um exemplar do clássico americano para cada um – eles sentirão que não fazem apenas parte de um grupo estereotipado, mas que são apenas jovens

Daniela Diniz

05 min de leitura
Empreendedorismo
O Brasil já tem 408 startups de impacto – 79% focadas em soluções ambientais. Mas o verdadeiro potencial está na combinação entre propósito e tecnologia: ferramentas digitais não só ampliam o alcance dessas iniciativas, como criam um ecossistema de inovação sustentável e escalável

Bruno Padredi

7 min de leitura
Finanças
Enquanto mulheres recebem migalhas do venture capital, fundos como Moon Capital e redes como Sororitê mostram o caminho: investir em empreendedoras não é ‘caridade’ — é fechar a torneira do vazamento de talentos e ideias que movem a economia

Ana Fontes

5 min de leitura
Empreendedorismo
Desde Alfred Nobel, o ato de reconhecer os feitos dos seres humanos não é uma tarefa trivial, mas quando bem-feita costuma resultar em ganho reputacional para que premia e para quem é premiado

Ivan Cruz

7 min de leitura
ESG
Resgatar nossas bases pode ser a resposta para enfrentar esta epidemia

Lilian Cruz

5 min de leitura
Liderança
Como a promessa de autonomia virou um sistema de controle digital – e o que podemos fazer para resgatar a confiança no ambiente híbrido.

Átila Persici

0 min de leitura
Liderança
Rússia vs. Ucrânia, empresas globais fracassando, conflitos pessoais: o que têm em comum? Narrativas não questionadas. A chave para paz e negócios está em ressignificar as histórias que guiam nações, organizações e pessoas

Angelina Bejgrowicz

6 min de leitura
Empreendedorismo
Macro ou micro reducionismo? O verdadeiro desafio das organizações está em equilibrar análise sistêmica e ação concreta – nem tudo se explica só pela cultura da empresa ou por comportamentos individuais

Manoel Pimentel

0 min de leitura
Gestão de Pessoas
Aprender algo novo, como tocar bateria, revela insights poderosos sobre feedback, confiança e a importância de se manter na zona de aprendizagem

Isabela Corrêa

0 min de leitura