Uncategorized

COMO OS BRASILEIROS ACOMPANHAM O MOVIMENTO

COMO PODEMOS REDUZIR O GAP? HSM MANAGEMENT ACOMPANHOU TRÊS GERAÇÕES EM UMA MISSÃO AO VALE DO SILÍCIO PARA RESPONDER ESSA PERGUNTA

Compartilhar:

Que modelo de empreendedorismo inovador influenciará mais os brasileiros? Vale do Silício, China ou Israel? Hoje nossos polos empreendedores inovadores, como os de Recife e Florianópolis, inspiram-se culturalmente no Vale do Silício, mas demandam também uma participação governamental mais ativa, como na China e em Israel. 

Enquanto isso não acontece, cada vez mais brasileiros se aproximam do Vale do Silício, de dois modos – fazendo cursos em instituições como as universidades Singularity, Draper e Stanford, ou viajando para San Francisco em grupos organizados nos moldes de missões internacionais, em geral por uma semana. O segundo modo vem conquistando mais e mais executivos que querem ser mais intraempreendedores e criativos em sua prática. 

Qual o impacto dessas viagens? Teme-se que as pessoas tenham uma abordagem de turistas, daqueles que só tiram fotos para postar em redes sociais. Ou que se emocionem nas visitas, mas, diante da primeira dificuldade no retorno ao Brasil, voltem a fazer tudo igual. Ou que a transformação seja tão lenta que se perca o ritmo imposto pela Bay Area, por Shenzhen ou por Tel Aviv. 

Para entender a influência dessa experiência, em dezembro último **HSM Management** acompanhou uma dessas missões, organizada pelo Latin American Institute of Business (Laiob), a convite do Bancoob, o banco do sistema de cooperativas financeiras Sicoob, que assim premiou os jovens vencedores do hackaton que promoveu. 

**TRÊS GERAÇÕES**

Em diferentes estágios de vida e com objetivos diversos, os membros da missão absorveram a experiência de modos distintos: 

**Os jovens.** Em setembro, Nathiele Stedile Scheibner (19 anos, cursa análise e desenvolvimento de sistemas, além de trabalhar, e respondeu pela programação), Guilherme Cristófani (22 anos, cursa engenharia química e cuidou da user experience – UX), Rui de Lima e Castro (24 anos, formado em administração e já trabalhando) e Louize Pereira Oliveira (26 anos, formada em direito e trabalhando) haviam vencido um hackaton, no qual tinham de fazer a releitura de dois apps do Sicoob – Minhas Finanças e Conta Fácil –, tendo como alvo o público jovem. Eles haviam passado três dias em Maringá entre canvas, post-its, sprints e muito energético, e tinham desenvolvido uma solução que integrava quatro apps com novas funcionalidades, validado com o público, criado estratégias de negócios e de engajamento de mercado para ela e feito um pitch de cinco minutos. 

Depois de um desafio dessa proporção, eles não se impressionariam tão facilmente com o Vale do Silício, certo? Errado. 

A diversidade de modos de trabalhar foi a primeira coisa que chamou a atenção. “Vimos empresas com culturas enrijecidas e carga de trabalho acentuada e outras com um ócio criativo tão forte que parecem clubes, e o interessante é entender que os dois jeitos funcionam e os dois estão mudando o mundo”, conta Rui. Guilherme se espantou duas vezes: primeiro, ao entender que é possível – “mesmo” – viver de inovação e, segundo, ao ver tantos jovens no comando de negócios. “O fato de enxergar pessoas como eu produzindo inovação me inquietou. Entendi que qualquer um pode empreender e mudar o mundo e, agora, a ideia de empreender se tornou uma opção para mim”, afirma. 

Se os dois rapazes, paulistanos, foram surpreendidos, as jovens do interior sofreram impacto ainda maior. Louize, que mora em Divinópolis (MG), encantou-se, por exemplo, com a gestão mais simples das startups (as de fato e as de espírito). “Nós nos acostumamos a complicar as coisas, como marcar reuniões que poderiam ser resumidas num e-mail, e tudo poderia ser mais simples”, comenta. Ela adorou também a ideia de poder trabalhar para salvar o mundo, tão presente no Vale do Silício, e o modo como é transmitida pela Draper University, que prepara empreendedores comparando-os a super- -heróis. Quando retornou ao trabalho, no Sicoob, Louize reuniu-se com a equipe para esclarecer seu “propósito”. “Eu sugeri que cada membro usasse seu ‘superpoder’ em favor desse propósito e só essa linguagem já mudou o ambiente, que ficou mais dinâmico e tornou o pessoal mais engajado.” 

Nathiele, que mora em Toledo (PR), já tinha dado uma virada na vida com o hackaton do Bancoob, que lhe permitiu mudar de emprego – foi contratada pelo Sicoob –, mas disse que a missão no Vale do Silício está lhe abrindo portas e talvez redesenhando sua história. “Tudo isso de startups, aceleradoras e investidores é muito novo e distante para mim; fiquei paralisada num primeiro momento.” Mas, depois de processar as informações, ela, programadora, decidiu aprofundar-se mais na área de negócios. 

**O empreendedor.** Marcos López, 33 anos, participou da missão do Laiob como um trabalho free-lance de guia, auxiliando o guia principal Luciano Bueno. O fato de ter recém-terminado o famoso Hero Training da Draper University, uma imersão de sete semanas, seria um diferencial para a missão. Há sete anos, Marcos fundou um negócio na área de sonorização de ambientes em São Paulo. Deu muito certo no início, mas, após um período, como grande parte das startups, piorou – ele quase foi à falência. Pediu uma consultoria ao Laiob para se reciclar – “queria me afastar um pouco do clima ruim no qual estava imerso e abrir a cabeça” – e lhe foi indicado Hero Training, da Draper. “Eu não conhecia a Draper e, logo no processo seletivo, já percebi que tinha métodos completamente disruptivos, o que me motivou mais ainda a conseguir a vaga”, conta. O curso, intenso, é pensado para o aluno superar seus limites, tanto físicos como psicológicos. “Nas sete semanas os alunos criam uma startup em duplas e fazem pitches para investidores no final. No processo, experimentamos o fracasso e a vitória, enfrentando situações inimagináveis e deixando nossos medos de lado”, conta. Graças ao grande relacionamento e reputação de Tim Draper, assim como na promessa da Singularity University [veja quadro na última página deste artigo], o curso não ensina história. “Ele ensina futuro”, afirma Marcos. 

Há um pacto de silêncio entre os alunos sobre o que acontece no programa, mas **HSM Management** apurou que inclui sobrevivência na selva (selva californiana, claro), com pouca comida, e ter de vender produtos “constrangedores”. A disciplina é requisito: quem se atrasa para as aulas é jogado na piscina de roupa e tudo – os alunos não têm desculpa, porque ficam abrigados no dormitório da Draper. “O idealizador disso é Tim Draper, um dos investidores mais famosos do mundo, com quem nos relacionamos mesmo e que é completamente maluco (no bom sentido) e não é raro que nomes como Elon Musk e Navin Jain passem pelo curso para dar palestras.” Seu pitch foi sobre uma startup de educação e lhes foi recomendado fazer um protótipo para avançar à segunda fase. Mas o desempenho de sua startup de sonorização no Brasil tem melhorado. 

**O executivo sênior.** O sistema Sicoob é a sétima instituição financeira do Brasil em patrimônio líquido e a sexta em rede de agências – são 2,6 mil pontos de atendimento. Luiz Ajita, hoje conselheiro da unidade de Maringá, o Sicoob Metropolitano, que cofundou, é um executivo sênior com influência em todo o sistema, e acostumado a lidar com altos valores, poder e desafios, além de viajar frequentemente pelo mundo em busca de lições de negócios. A visita ao Vale o levou, no entanto, a reorganizar seus pensamentos. “Voltei resolvido a tomar medidas no campo pessoal e profissional”, conta. “No pessoal, incentivei meu filho de 22 anos recém-formado em engenharia da produção, a passar um tempo no Vale do Silício, provavelmente na Draper University, onde, além dos cursos, há a aceleradora Hero City, e resolvi que vou procurar estar mais antenado no tema inovação.” 

Para as cooperativas do sistema, ele resolveu gerar um “pensamento inovador”. Ajita e o presidente do Sicoob Unicoob, Jefferson Nogaroli, vão criar uma rede de espaços de inovação tecnológica, que terão programas de empreendedorismo, liderança e inovação. “O novo é inevitável; precisamos ser ágeis mesmo”, diz. 

![](https://revista-hsm-public.s3.amazonaws.com/uploads/d88e07d8-440a-45dc-a65c-a14bd3526727.png)![](https://revista-hsm-public.s3.amazonaws.com/uploads/3ee8166a-5977-48bb-bdbc-2546bb7e0c0d.png)

**UMA LIÇÃO EXTRA**

O Vale também ensinou mais uma coisa aos integrantes da missão do Bancoob: que a morte dos negócios está à espreita. A mensagem vem tanto do T-Rex do Google, como da placa na entrada do campus do Facebook – o FB só virou ao contrário a placa da finada Sun Microsystems, mantendo-a como um alerta.

**EM 2018, O VALE VAI SER AQUI TAMBÉM**

Às vezes, brasileiros que vão ao Vale do Silício se decepcionam: a mítica Singularity University, universidade que está lidando com os maiores problemas do mundo no campus da Nasa, é apenas uma “casinha”. Ao lado de um hangar de foguetes desativado, ela parece mesmo insignificante, mas manda um poderoso recado: os grandes problemas do mundo podem ser resolvidos de maneira simples, em lugares modestos e sem muitos recursos – com o uso de tecnologias exponenciais. 

Em 2018, esse Vale do Silício exponencial e simples também vem ao Brasil. Os já famosos encontros de dois a quatro dias da SU – os Summits – terão sua versão brasileira, organizada em conjunto com a HSM no final de abril. Países como Austrália, República Tcheca, Alemanha, África do Sul e Suécia já contavam com seu SU Summit internacional, e agora o Brasil vai integrar o time.

O evento de estreia explicará por que a “curva exponencial”, aquele momento em que uma tecnologia faz um mercado crescer de forma extremamente acentuada, é uma realidade. Trata-se de um dos dois conceitos-chave da SU; o outro é a era da abundância que supera a economia da escassez viabilizada pelas tecnologias exponenciais. Os palestrantes apontarão novos caminhos e mercados em impressão 3D, discutirão estratégias de nanotecnologia e próteses biônicas, mostrarão como a inteligência artificial em carros autônomos movidos a energia solar transformará para sempre nossas vidas e nossos negócios. Até a imortalidade humana, levada muito a sério na SU, estará em pauta.

Compartilhar:

Artigos relacionados

Tecnologia

DeepSeek e IA global: Uma corrida por supremacia, não por ética

A ascensão da DeepSeek desafia a supremacia dos modelos ocidentais de inteligência artificial, mas seu avanço não representa um triunfo da democratização tecnológica. Embora promova acessibilidade, a IA chinesa segue alinhada aos interesses estratégicos do governo de Pequim, ampliando o debate sobre viés e controle da informação. No cenário global, a disputa entre gigantes como OpenAI, Google e agora a DeepSeek não se trata de ética ou inclusão, mas sim de hegemonia tecnológica. Sem uma governança global eficaz, a IA continuará sendo um instrumento de poder nas mãos de poucos.

Upskilling e reskilling: preparando-se na era da IA Generativa

A revolução da Inteligência Artificial está remodelando o mercado de trabalho, impulsionando a necessidade de upskilling e reskilling como estratégias essenciais para a competitividade profissional. Empresas como a SAP já investem pesadamente na requalificação de talentos, enquanto pesquisas indicam que a maioria dos trabalhadores enxerga a IA como uma aliada, não uma ameaça.

Customer experience: como encantar e fidelizar clientes na era da personalização inteligente

Empresas que compreendem essa transformação colhem benefícios significativos, pois os consumidores valorizam tanto a experiência quanto os produtos e serviços oferecidos. A Inteligência Artificial (IA) e a automação desempenham um papel fundamental nesse processo, permitindo a resolução ágil de demandas repetitivas por meio de chatbots e assistentes virtuais, enquanto profissionais se concentram em interações mais complexas e empáticas.

Idade não é limite: combatendo o etarismo e fortalecendo a inclusão geracional no trabalho

O etarismo continua sendo um desafio silencioso no ambiente corporativo, afetando tanto profissionais experientes quanto jovens talentos. Mais do que uma questão de idade, essa barreira limita a inovação e prejudica a cultura organizacional. Pesquisas indicam que equipes intergeracionais são mais criativas e produtivas, tornando essencial que empresas invistam na diversidade etária como um ativo estratégico.

Empreendedorismo
País do sudeste asiático lidera o ranking educacional PISA, ao passo que o Brasil despencou da 51ª para a 65ª posição entre o início deste milênio e a segunda década, apostando em currículos focados em resolução de problemas, habilidades críticas e pensamento analítico, entre outros; resultado, desde então, tem sido um brutal impacto na produtividade das empresas

Marina Proença

5 min de leitura
Empreendedorismo
A proficiência amplia oportunidades, fortalece a liderança e impulsiona carreiras, como demonstram casos reais de ascensão corporativa. Empresas visionárias que investem no desenvolvimento linguístico de seus talentos garantem vantagem competitiva, pois comunicação eficaz e domínio do inglês são fatores decisivos para inovação, negociação e liderança no cenário global.

Gilberto de Paiva Dias

9 min de leitura
Tecnologias exponenciais
Com o avanço da inteligência artificial, a produção de vídeos se tornou mais acessível e personalizada, permitindo locuções humanizadas, avatares realistas e edições automatizadas. No entanto, o uso dessas tecnologias exige responsabilidade ética para evitar abusos. Equilibrando inovação e transparência, empresas podem transformar a comunicação e o aprendizado, criando experiências imersivas que inspiram e engajam.

Luiz Alexandre Castanha

4 min de leitura
Empreendedorismo
A inteligência cultural é um diferencial estratégico para líderes globais, permitindo integrar narrativas históricas e práticas locais para impulsionar inovação, colaboração e impacto sustentável.

Angelina Bejgrowicz

7 min de leitura
Empreendedorismo
A intencionalidade não é a solução para tudo, mas é o que transforma escolhas em estratégias e nos permite navegar a vida com mais clareza e propósito.

Isabela Corrêa

6 min de leitura
Liderança
Construir e consolidar um posicionamento executivo é essencial para liderar com clareza, alinhar valores e princípios à gestão e impulsionar o desenvolvimento de carreira. Um posicionamento bem definido orienta decisões, fortalece relações profissionais e contribui para um ambiente de trabalho mais ético, produtivo e sustentável.

Rubens Pimentel

4 min de leitura
Empreendedorismo
Impacto social e sustentabilidade financeira não são opostos – são aliados essenciais para transformar vidas de forma duradoura. Entender essa relação foi o que permitiu ao Aqualuz crescer e beneficiar milhares de pessoas.

Anna Luísa Beserra

5 min de leitura
ESG
Infelizmente a inclusão tem sofrido ataques nas últimas semanas. Por isso, é necessário entender que não é uma tendência, mas uma necessidade estratégica e econômica. Resistir aos retrocessos é garantir um futuro mais justo e sustentável.

Carolina Ignarra

0 min de leitura
ESG
Atualmente, 2,5% dos colaboradores da Pernambucanas se autodeclaram pessoas trans e 100% dos colaboradores trans da varejista disseram que se sentem seguros para ser quem são dentro da empresa.

Nivaldo Tomasio

5 min de leitura
Marketing
A integração entre indicadores de trade marketing e inteligência competitiva está redefinindo o jogo corporativo. Monitorar a execução no PDV, antecipar tendências e reagir com agilidade às mudanças do mercado não são mais diferenciais, mas exigências para a competitividade. Utilizar dados como fonte de insights estratégicos é o caminho para decisões mais rápidas, investimentos otimizados e resultados superiores.

Arthur Fabris

4 min de leitura