ENTREVISTA FRANCISCO SABOYA

Como parar de desperdiçar futuros

Nesta entrevista exclusiva, Francisco Saboya discute a maturidade do Brasil em empreendedorismo inovador e como acelerá-la para acabar com o embaraçoso paradoxo que vivemos. Saboya preside duas instituições-chave no fomento do empreendedorismo inovador, a Anprotec e a Embrapii
Adriana Salles Gomes é diretora-editorial de HSM Management.

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Quem olha hoje para o Porto Digital, parque tecnológico de Recife (PE) dedicado a desenvolver soluções inovadoras ligadas às tecnologias da informação e comunicação (TICs), impressiona-se: tem 360 empresas de software, emprega 15 mil trabalhadores e movimenta R$ 4 bilhões anualmente, sendo o terceiro contribuinte de impostos sobre serviços (ISS) do município, depois das áreas de saúde e educação. Ele é a prova cabal de quanto valor um ecossistema pode gerar.

Mas, quando começou, no ano 2000, o Porto Digital não impactava ninguém: tinha três empresas, 46 empregados e perdia, no ranking do ISS, para construção civil, turismo, transportes etc. O amadurecimento precisou de duas décadas. A história é similar em ecossistemas como Tecnopuc, Unisinos e o da UFRGS (RS), o da
Coppe (RJ) e o de São José dos Campos (SP). E se fosse possível escalar esses ambientes de inovação mais rápido e acelerar seu amadurecimento?

Expansão e aceleração do empreendedorismo inovador dependem de uma mentalidade da nova economia, mas sobretudo de institucionalidades e mecanismos de financiamento que aproximem ciência e o universo da produção.

Isso vem avançando no Brasil do século 21, mas ainda não o bastante. Sofremos com a falta de continuidade de políticas (da falta de verbas à não percepção das visões estratégicas), com insegurança jurídica (há uma visão punitivista dos órgãos de controle) e até com o déficit de conhecimento de gestão de ambientes de inovação (já que o aprendizado nessa área ainda é insuficiente).

Duas das maiores forças da institucionalidade da inovação no País são a Associação Nacional de Entidades Promotoras de Empreendimentos Inovadores (Anprotec), que agrega mais de 370 ambientes de inovação de diferentes tipos, e a Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii), que subsidia inovação para a indústria. Na presidência de ambas, e CEO do Porto Digital entre 2007 e 2018, Francisco Saboya concedeu entrevista exclusiva a HSM Management em que analisa avanços, problemas e soluções.

### No HSM+ deste ano, temos Ron Adner falando que estratégias competitivas baseadas em ecossistemas são o novo paradigma. Competir em ecossistema hoje é obrigatório? Por quê?
Sim, porque ecossistema gera inovação, e inovar é um dos principais modos de gerar novos empregos e receitas agora. O mundo se urbanizou muito rapidamente e os problemas urbanos são muito mais diversos e complexos, de mais difícil solução do que eram os problemas de uma sociedade agrária. Então, você precisa criar mais inovações e, para inovar, tem de criar e fazer circular o conhecimento, considerando que há mais divisão de trabalho – as pessoas são mais especializadas. Isso requer a articulação de diferentes atores da inovação, a exploração máxima das máximas sinergias entre eles e, mais, que trabalhem como uma rede. Não tem mais como a gente trabalhar de modo isolado hoje.

Agora, se os diferentes atores do ecossistema estiverem em um mesmo ambiente, como ocorre no ator “parque tecnológico”, por exemplo – um prédio, um bairro ou qualquer outra área geograficamente delimitada –, a circulação e a criação de conhecimento e inovação ficam potencializadas, porque se fazem convergir ativos mais diversos. As pessoas fazem trocas no ponto do ônibus!

Como aprendemos com a biologia, a riqueza de um ecossistema está na diversidade, e isso vale tanto na natureza quanto na economia humana. O que a Anprotec faz é estimular a criação desses ambientes de inovação e o aprendizado de uns com os outros.

### O aspecto do adensamento geográfico é, então, o mais importante para criar esse tipo de ambiente que troca conhecimento? Ou o incentivo fiscal pelo governo também é essencial?
Em todos os lugares do mundo, você tem uma participação expressiva do governo na atividade de inovação, porque inovar custa caro, é muito arriscado e complexo. Se governos não incentivam, seja cobrando menos impostos ou com políticas públicas de compras, a inovação não acontece, e o País atrofia. Se entidades governamentais não fomentam esse adensamento geográfico, a energia criativa não se forma; ela não flui espontaneamente no setor produtivo.

No caso do Vale do Silício, a guerra fria foi a desculpa perfeita para o governo federal americano comprar o desenvolvimento de inovações de modo acelerado. No caso do Porto Digital, a prefeitura municipal do Recife reduziu a alíquota básica do ISS de 5% para 2% para empresas de software que ocupassem imóveis no bairro do Recife Antigo.

Além de o incentivo público ser fundamental para a inovação em todo o planeta, quero dizer que ele é fundamental na cultura empresarial brasileira, e isso precisa ser compreendido. A gente se assemelha aos países da Europa, em que a mão do Estado é mais forte.

O incentivo não é para ser algo para sempre: ele atrai empreendimento, há curva de crescimento – hoje o Porto Digital abarca mais de 150 mil m² do Recife Antigo –, e depois pode acabar. É claro que o empresário não quer abrir mão do incentivo fiscal se você lhe perguntar. Mas outros elementos vão se afigurar mais relevantes para ele com o tempo, como a facilidade de compartilhar conhecimento, infraestruturas, capital humano.

### Você cita a valorização desse compartilhamento, palavra-zeitgeist da nova economia, mas ainda observo gestores querendo guardar só para si tanto informações como pessoas. Muitos temem que – no espaço de coworking, por exemplo – “roubem” seu colaborador e, com este, o conhecimento da empresa…
Esse mesmo empregado que sai da sua empresa e vai para outra, daqui a pouco sai desta e vai para uma terceira e, em seis meses, retorna para você. Isso é positivo; ao levar métodos de uma empresa para outra, isso oxigena a economia do País. Eu diria que, em termos de mentalidade competitiva hoje, o melhor que pode acontecer a uma empresa é essa rotatividade; não se deve temê-la.

### E como está o Brasil em institucionalidade e em mentalidade para inovar?
Faz tempo que o Brasil tem uma institucionalidade madura de suporte à atividade de pesquisa e ciência na universidade – somos o 13º maior produtor de conhecimento científico do mundo. Mas isso não se transfere para o universo da produção, tanto que hoje o País ainda é o 47º mais inovador do mundo e o 96º em competitividade. Esse descompasso tem a ver com a institucionalidade, que começou a ser construída para valer na segunda metade da década de 1980, e conta com boas leis e mecanismos, mas que teve gaps importantes em um período-chave.

A criação de um Ministério da Ciência e Tecnologia, em 1985, e da Anprotec, em 1987, mostra que o Brasil começou a se dar conta razoavelmente cedo de que, no mundo que então se desenhava, ecossistemas de inovação e mecanismos específicos, como incubadoras e parques tecnológicos, passariam a ser elementos fundamentais na estratégia de desenvolvimento nacional.

Mas temos déficits. Até há muito pouco tempo não tínhamos na arquitetura institucional do sistema brasileiro de fomento à inovação, por exemplo, algo importante como o instituto Fraunhofer, que a Alemanha criou em 1949; nós só viemos a ter em 2013 a Embrapii. É uma bela inovação institucional, com o modelo de tripartição de responsabilidade, descentralizada, não funciona com base em chamadas, mas em fluxo contínuo, e o governo tem menos interferência no destino dos recursos – ele sempre tem de ser minoritário no conselho de administração da Embrapii. {Veja texto abaixo.}

Saiba mais sobre a EMBRAPII

A Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii) é uma organização social, ou seja, uma entidade feita para implementar uma política pública com gestão privada. Criada em 2013, apoia instituições de pesquisa tecnológica fomentando a inovação na indústria brasileira, mas a diferença está em como o faz. Até sua criação, as opções de recursos do governo para inovação eram subsídio direto a fundo perdido l ou empréstimo reembolsável. Com a Embrapii, é introduzido no Brasil o modelo, muito usado na Europa, de tripartição de recursos:

• um terço é a contrapartida não reembolsável da Embrapii,
• um terço é a contribuição econômica (não financeira) da instituição de ciência e tecnologia (ICT) que distribui o recurso – em horas-homem trabalhadas, por exemplo –;
• um terço é a contribuição financeira da própria empresa beneficiária. Detalhe: se a empresa não conseguir arcar com o valor integral que lhe cabe, pode acionar condições especiais de contrapartida.

Outro diferencial da Embrapii é a contratação do desenvolvimento da inovação na ponta, entre as partes diretamente interessadas. Tudo é decidido, de modo descentralizado, pelas ICTs credenciadas num processo rigoroso, sendo que a empresa beneficiária pode mudar de ICT. A influência do governo na gestão da Embrapii é limitada: ele não pode ter mais do que 40% dos assentos do board.

Ganhamos nosso Marco Legal da Ciência, Tecnologia e Inovação, um grande avanço, só em 2018, quando regulamentado por um decreto, e foi ele que criou mais concretamente a aproximação do universo da academia e o universo da produção – entre outras coisas tipificando as figuras das ICTs, as instituições de ciência, tecnologia e inovação, e criando o conceito da “encomenda tecnológica”, que é a possibilidade de o governo dispensar licitação para comprar inovação.

A Lei das Startups foi sancionada só agora em 2021. A lei 8666, que rege licitações, foi modificada para simplificar processos de contratação de compras de serviço de inovação pelos governos só agora em 2023 – e sabe-se que essas compras são um instrumento-chave nos ecossistemas de inovação internacionais mais bem-sucedidos.

Além disso, a gente vem tendo descontinuidades importantes e enfrenta o fantasma da insegurança jurídica. Uma descontinuidade foi o contingenciamento do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico {FNDCT}, que fez vários parques tecnológicos e incubadoras ficarem hibernando. Os retrocessos incluem de projetos paralisados ao êxodo de talentos de inovação. Considerando que a formação dos quadros técnicos brasileiros para a inovação, e sobretudo para a gestão de ambientes de inovação, se dá na prática muito mais do que na universidade, foi um grande problema, revertido este ano. Outro foi a falta e chamadas da Finep, o braço financeiro do MCTI, desde 2013.

No campo da insegurança jurídica, a visão punitivista dos órgãos de controle é um grande problema de institucionalidade. Isso ficou mais do que evidente para mim numa audiência que houve no Congresso Nacional, há pouco tempo. Foi unânime entre procuradores federais, dirigentes de órgãos científicos etc. que o gestor público tem medo de utilizar os instrumentos legais para comprar inovação e ter o seu CPF questionado no futuro. Isso explica por que só 13% das nossas ICTs se beneficiaram das encomendas tecnológicas até agora.

### Agora a conexão com os investidores ainda deixa a desejar, certo?
Muitos investidores ainda se colocam à margem das iniciativas mais organizadas de fato. E essa é uma questão importante, em que devemos melhorar bastante. Porque, se os ambientes de inovação não aproximarem empreendedores de investidores, a inovação não vai acontecer. O nosso mercado de venture capital cresceu, mas ficou muito mais cauteloso com covid, guerras etc., muito mais seletivo. Ele cobra mais retorno e vai buscá-lo em empresas mais maduras, já com notas fiscais emitidas, e um ticket médio do investimento muito mais alto. O problema disso é que não se investe na divisão de base, né? Como no futebol. Quem não cuida da divisão de base não terá time mais tarde; a base que não for formada agora vai fazer falta para o investidor lá na frente. Temos de fazer o capital privado chegar às empresas em estágios iniciais no Brasil; esse capital está indo investir fora do Brasil.

### Você assumiu a Anprotec em 2020… o que deu para fazer no olho do furacão?
Bom, ninguém podia imaginar que viria uma covid ou que haveria o contingenciamento do FNDCT. Acho que conseguimos nos reinventar em certa medida ao ficar mais presentes junto aos associados com os seminários online. Já foram mais de 50 nessas duas gestões {Saboya foi eleito para o primeiro mandato, de dois anos, em 2020 e reeleito em 2022}, reunindo mais de 10 mil pessoas da nossa comunidade, com discussões relevantes para essa área. Nunca tivemos tanto alcance.

Nossa conferência anual presencial, que é evento de referência em empreendedorismo e inovação na América Latina, voltou em 2022 e reuniu cerca de 800 pessoas em Salvador, o que foi ótimo. Eu diria que a Anprotec hoje tem uma condição boa do ponto de vista financeiro, está estabilizada. Conseguimos recuperar associados, fazer novos convênios e outras fontes de recursos.
Importante é que temos observado o crescimento dos ambientes de inovação no Brasil, apesar dos pesares. Nós temos hoje no Brasil 105 parques tecnológicos, dos quais 58, ou seja, metade, estão em operação. O resto é criação recente. O Sebrae mapeou 250 ambientes de inovação e estimamos que haja 500.

### Descontingenciou-se o FNDCT. Isso deve inspirar otimismo? No empresariado, percebo alguma frustração com o Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI)…
Parte da frustração tem a ver com desconhecimento, acredito. Nos primeiros meses, o MCTI se dedicou ao descontingenciamento do FNDCT, que era complexo, mas fundamental para o futuro da ciência, tecnologia e inovação do País. O resultado é que nós teremos R$ 12 bilhões para a área – os R$ 10 bi mais acréscimos. Muda a cena.

Razão para otimismo? Nunca tivemos tanto dinheiro para a área. No final de 2021, já tinha havido a retomada das chamadas da Finep, o braço financeiro do MCTI, para apoio a parques tecnológicos, centros de inovação e incubadoras, o que não havia desde 2013. Primeiro saiu o valor de R$ 360 milhões, depois mais R$ 240 milhões, 48 parques tecnológicos e 18 centros de inovação e incubadoras foram beneficiados com esse dinheiro não reembolsável, que está saindo.

Este ano, foi anunciado o programa “Mais Inovação Brasil”, alinhando a Finep ao BNDES, com um fundo de R$ 66 bilhões até 2026. Ele quer alavancar a economia criativa emprestando dinheiro a uma taxa de juros negativa na prática, porque fica travada em 4% ao ano, devendo ficar aquém da inflação.

Outro ponto é que tem muitas Fapes, as fundações de amparo à pesquisa, que têm aportado recursos para desenvolvimento tecnológico junto a pequenas empresas. Não estão só mais naquela linha de apenas bolsas de estudos para pesquisadores.

O desafio agora é usar esses recursos. Você primeiro tem de reaglutinar o capital humano altamente qualificado que havia e foi dispersado pela falta de recursos, indo para a iniciativa privada até para o exterior. Esse profissional é que tem expertise em converter conhecimento em negócios. Ele tem metodologias, habilidades e técnicas de (re)animação desses ambientes, entre instrumentos, processos, indicadores, ferramentas de ativação. Esse profissional que evita iniciativas de prédios bonitinhos com pufes coloridos e nada mais.

### Desafiador… Não dá para acelerar a formação de novos quadros? Vi MBAs sendo criados no Sul, por exemplo.
Pessoas com 20 anos trabalhando nos seus respectivos mecanismos e ambientes de inovação não são substituídas tão fácil. Há uns 15 anos, a USP {Universidade de São Paulo} criou, a pedido da Anprotec, uma pós-graduação em gestão de ambientes de inovação – muitos, que hoje são presidentes ou diretores de parques tecnológicos ou de incubadoras, fizeram essa formação. A Unisinos está com essa formação e o próprio Porto Digital fez uma pós-graduação junto com a Universidade de Pernambuco, para formação de gestores de ambiente de inovação.

Mas ainda é pouca oferta. E a gente tem que ter processos contínuos e sistemáticos de capacitação de pessoas para a matéria; não precisa ser uma pós-graduação tão longa como um MBA ou uma especialização de pelo menos 360 horas. Também é além de algo como nossa metodologia CERNE – mais de cem incubadoras já passaram ou passam por processo, por programa de qualificação, que vai formando os profissionais em níveis de maturidade.

### Voltando à frustração do empresariado, vejo queixas em relação à falta de estratégia. O governo estaria sinalizando investir em tudo, até em semicondutores, mercado onde o Brasil não consegue competir mais mundialmente, em vez de ter um foco como teve no caso da Embraer…
De fato, o Brasil perdeu todas as ondas tecnológicas dos últimos 50 anos – a da computação, a da microcomputação, a dos semicondutores, a da internet, a da rede social, a da inteligência artificial agora… E perdeu por não ter estratégia , o que implica foco, escolhas, renúncias. Como diz o Michael Porter, estratégia é, entre outras coisas, exercer opções excludentes, os tradeoffs. O Brasil só acertou umas quatro ou cinco vezes, quando mirou no petróleo e criou uma Petrobras, quando mirou na aviação civil e criou uma Embraer, quando mirou em tecnologias apropriadas para nossos biomas e criou uma Embrapa – e o Brasil deve bastante do que ele é hoje a essas escolhas acertadas.

Então, de um modo geral, o Brasil tem um déficit de futuro estrutural. Ele se dá muito bem olhando para o passado, mas, quando olha para o futuro, tem dificuldade de dizer qual a aposta para os próximos 30 anos. Nisso estamos de acordo.

Onde discordamos é na avaliação do quadro atual. Se olharmos para pilares, das políticas do MCTI e do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), veremos que há um caminho traçado na direção de inovação e sustentabilidade, que são dois pilares. Existem as dez linhas em que os fundos do FNDTC devem ser investidos – todos os projetos têm que caber nessas dez linhas ou não recebem dinheiro. No programa Mais Inovação Brasil, 70% serão gastos em projetos que se encaixem nos seis eixos de política industrial definidos pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Industrial (CNDI). Cruzando as dez linhas com os seis eixos, você verá que há uma sinalização de estratégia, sim. {[Confira as dez linhas de aplicação de recursos do FNDCT](http://www.finep.gov.br/noticias/todas-noticias/6615-fndct-vai-investir-r-1-25-bilhao-em-10-programas-estrategicos-em-2023) e [cruze isso com os
seis eixos de política industrial do CNDI](https://www.gov.br/mdic/pt-br/assuntos/noticias/2023/julho/cndi-publica-resolucao-com-diretrizes-da-nova-politica-industrial-do-pais).}

### Mas não é muita coisa para focar? E o investimento em semicondutores?
Se você cruzar as dez linhas e os seis eixos, verá um direcionamento, a meu ver – um foco em inovação e sustentabilidade. Amplo? Sim. Eu particularmente acho que nossa estratégia poderá ser um combinado de transição energética – decidimos que o Brasil vai ser um campeão em transição energética, focando combustíveis híbridos, hidrogênio verde etc. – e outro eixo, talvez esse de desenvolver um complexo industrial de saúde no Brasil, que é algo de interesse interno nosso; não podemos depender só do exterior, como vimos na pandemia.

Mas também temos de lembrar que estamos sucateados em áreas básicas para o mercado interno. A infraestrutura científica foi sucateada: se você for num laboratório de uma universidade, você vai chorar vendo o resultado de nove anos de penúria, com uns equipamentos quebrados, outros obsoletos, falta de estoque de reagentes. É preciso ter dinheiro para recuperar essa infraestrutura.

O investimento nos semicondutores se justifica por aí, inclusive: nunca o Brasil vai ser um campeão em semicondutores, mas precisamos dominar esse conhecimento minimamente, disponibilizando fábrica para a comunidade acadêmica. Não pode fechar isso. Temos de ter um pé nessa plataforma global.

Em se tratando de estratégia, é importante não errar na dose do foco, não fazer como a Joana daquela música do Chico Buarque, que “errou na dose, errou no amor. Joana errou de João”. E é importante ter perenidade.

### Certo. Você assumiu em julho a presidência da Embrapii. Qual vai ser o papel dessa organização no nosso rearranjo da inovação?
A Embrapii captura recursos públicos, incluindo o FNDCT, e consegue distribuí-los com muito foco e eficiência através de uma rede de 96 instituições de ciência e tecnologia já credenciadas para trabalhar em certas áreas.

### Só para deixar claro ao leitor, vou dar um exemplo de ICT: o Instituto Eldorado, com unidades em Brasília, Campinas, Manaus e Porto Alegre, e atuação que vai do agronegócio a TI e telecom; outro . Agora, Chico, como dá para fazer tudo isso acontecer se há essa visão punitivista dos órgãos de controle que inibe a inovação?
Temos que conseguir fazer o que o Banco Central fez, que foi low profile entre os órgãos de controle para desenvolver o Pix , uma inovação no sentido clássico de Peter Drucker, que muda o comportamento dos agentes no mercado. Para isso, estamos discutindo, o caminho passa por sandboxes regulatórios, ambientes protegidos para experimentar, com permissão para errar, sem culpa e sem medo.

Saiba mais sobre a ANPROTEC

A Associação Nacional de Entidades Promotoras de Empreendimentos Inovadores foi criada em 1987, como entidade de direito privado sem fins lucrativos, para responder pela congregação de mecanismos de inovação, interagir com esferas governamentais nacionais e estrangeiras na busca de apoio e incentivos aos mecanismos, disseminar a cultura de empreendedorismo inovador e efetuar produção e disseminação de conhecimentos específicos para isso, entre outros pontos. Reúne mais de 370 associados e funciona com uma estrutura enxuta, de sete funcionários e extensões. Suas receitas vêm da contribuição de associados e convênios. Por exemplo, para a implantação da qualificação e certificação CERNE de incubadoras, a Anprotec tem dez consultores externos credenciados e o convênio é feito com o Sebrae.

SAIBA MAIS SOBRE FRANCISCO SABOYA
Conhecido como Chico, o economista e presidente de ANPROTEC e EMBRAPII é professor da UPE

Francisco Saboya tem atuação nos três setores da economia: governo, setor privado e terceiro setor. Já foi secretário de desenvolvimento econômico de Cabo de Santo Agostinho (PE), sócio de consultorias e empresa de planejamento na área de tecnologia da informação; foi CEO do Porto Digital por 11 anos, superintendente do Sebrae Pernambuco e presidente da Divisão da América Latina da Associação Internacional de Parques Científicos e Áreas de Inovação (IASP). Hoje, além de professor na Universidade de Pernambuco (UPE) e presidente da Anprotec e da Embrapii, atua como conselheiro do Sebrae Nacional, da Finep e da Confederação Nacional das Indústrias (CNI). E é assessor de inovação e transformação digital na Federação das Indústrias de Pernambuco (Fiepe).

__Leia também: [Carreira solo como liderança de conexões](https://www.revistahsm.com.br/post/carreira-solo-como-lideranca-de-conexoes)__

Artigo publicado na HSM Management nº 160.

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