Tecnologia e inovação

Como será o agricultor do futuro?

Robôs? Inteligência artificial? Nada disso. Para prosperar, os profissionais do campo precisam se tornar eterno aprendizes
Técnico Agrícola e administrador, especialista em cafeicultura sustentável, trabalhou na Prefeitura Municipal de Poços de Caldas (MG) e foi coordenador do Movimento Poços de Caldas Cidade de Comércio Justo e Solidário. Ulisses é consultor de associações e cooperativas e certificações agrícolas.

Compartilhar:

Tente imaginar qual será o perfil do agricultor em 2050, quais competência ele deve ter? Que características serão dominantes? Por mais que essa reflexão pareça difícil, se nos atentarmos aos sinais de hoje, ela se torna simples. Isso porque o agricultor do futuro já está em plena atividade e ganha cada vez destaque mais no cenário rural.

Comecei a me dar conta disso em 2007, quando realizei uma visita a um cafeicultor no município de Espirito Santo do Pinhal, em São Paulo. Fiquei surpreso com a alta produtividade de suas lavouras e a adoção de boas práticas agrícolas, algo que ainda hoje são consideradas raras na cafeicultura da região. Perguntei a ele qual era o segredo da sua produção. Ele me contou que, embora não soubesse nada de café, tinha bastante experiência em gerenciar negócios lucrativos. Então, quando comprou a fazenda, a primeira decisão foi investir na contratação de serviços de assistência técnica de um dos melhores especialistas em cafeicultura do país e passou a seguir 100% de suas recomendações. Outra ação foi atribuir a um de seus gerentes mais confiáveis a responsabilidade de conduzir a fazenda. Com o plano tático 100% delegado, ele acompanhava indicadores, metas, abria mercado e conduzia a equipe.

Mas então, o agricultor do futuro será alguém que não entende nada do campo? Não necessariamente, mas fato é que este perfil de gestor, aberto a inovação, disposto a aprender, que aceita recomendações técnicas e tem foco em resultado será cada vez mais um imperativo no universo do agronegócio.

Com o avanço do conhecimento e tecnologias aplicadas no campo, os conhecimentos e habilidades do produtor adquiridos no dia a dia da produção, embora ainda tenham importância fundamental, não são mais barreiras de entrada para novos agricultores. Com assistência, consultorias, vídeos no youtube e capacitações diversas, é possível rapidamente aprender a fazer.

Recentemente participei de um grupo no whatsapp com mais de 250 pessoas que tinham como objetivo deixar as grandes cidades e iniciar um novo projeto no campo. É impressionante como cada vez mais pessoas estão querendo sair de uma vida estressante em centros urbanos e aplicar seus conhecimentos em propriedades rurais. Mais impressionante ainda é que muitas dessas pessoas são profissionais de sucesso, que têm formações diversas e tomam como ponto de partida a busca por informações e capacitações na busca da realização de seus sonhos.

Outro movimento interessante é a ampliação da participação e do impacto das mulheres na gestão de empreendimentos rurais. Cada vez mais à frente das decisões, tanto de comercialização como da gestão da propriedade, os efeitos positivos dessa diversidade já começam a aparecer no setor. 

É crescente, por exemplo, o número de mulheres que, ao assumir o protagonismo no campo, tornam a gestão ainda mais eficiente, influenciam positivamente a comunidade e, em alguns casos, conseguem impactar toda a cadeia produtiva. 

## O agricultor tradicional deve se preocupar?

O objetivo desse texto não é alarmar o agricultor tradicional, até porque vejo muitos deles abertos ao novo e buscando atualização. Porém, é inegável que a velocidade da mudança é cada vez maior e que essa adaptação é necessária para que todos continuem competitivos e contribuindo para o desenvolvimento do setor no Brasil. Para isso é preciso aprender, desaprender e aprender novamente, em um ciclo contínuo e virtuoso.

E vale destacar que essa resistência à mudança não tem a ver, necessariamente, com a idade do produtor. Há jovens resistentes, como também há pessoas mais velhas engajadas na mudança. E vice-versa. Para que o setor evolua conjuntamente, é importante que todos estejam dispostos a encarar esse aprendizado contínuo. 

Imagino o agricultor do futuro sendo uma pessoa jovem de espírito, com sede de aprendizado e consciente de que não sabe tudo – até porque em um cenário de constante mudanças e grande complexidade isso é praticamente impossível- mas que busca uma fonte segura de apoio para continuar prosperando em seu negócio.

Compartilhar:

Artigos relacionados

Calendário

Não, o ano ainda não acabou!

Em meio à letargia de fim de ano, um chamado à consciência: os últimos dias de 2024 são uma oportunidade valiosa de ressignificar trajetórias e construir propósito.

Empreendedorismo
Um guia para a liderança se antecipar às consequências não intencionais de suas decisões

Lilian Cruz e Andréa Dietrich

4 min de leitura
ESG
Entre nós e o futuro desejado, está a habilidade de tecer cada nó de um intricado tapete que une regeneração, adaptação e compromisso climático — uma jornada que vai de Baku a Belém, com a Amazônia como palco central de um novo sistema econômico sustentável.

Bruna Rezende

5 min de leitura
ESG
Crescimento de reclamações à ANS reflete crise na saúde suplementar, impulsionada por reajustes abusivos e falta de transparência nos planos de saúde. Empresas enfrentam desafios para equilibrar custos e atender colaboradores. Soluções como auditorias, BI e humanização do atendimento surgem como alternativas para melhorar a experiência dos beneficiários e promover sustentabilidade no setor.
4 min de leitura
Finanças
Brasil enfrenta aumento de fraudes telefônicas, levando Anatel a adotar medidas rigorosas para proteger consumidores e empresas, enquanto organizações investem em tecnologia para garantir segurança, transparência e uma comunicação mais eficiente e personalizada.

Fábio Toledo

4 min de leitura
Finanças
A recente vitória de Donald Trump nos EUA reaviva o debate sobre o protecionismo, colocando em risco o acesso do Brasil ao segundo maior destino de suas exportações. Porém, o país ainda não está preparado para enfrentar esse cenário. Sua grande vulnerabilidade está na dependência de um número restrito de mercados e produtos primários, com pouca diversificação e investimentos em inovação.

Rui Rocha

0 min de leitura
Finanças
O Revenue Operations (RevOps) está em franca expansão global, com estimativa de que 75% das empresas o adotarão até 2025. No Brasil, empresas líderes, como a 8D Hubify, já ultrapassaram as expectativas, mais que dobrando o faturamento e triplicando o lucro ao integrar marketing, vendas e sucesso do cliente. A Inteligência Artificial é peça-chave nessa transformação, automatizando interações para maior personalização e eficiência.

Fábio Duran

3 min de leitura
Empreendedorismo
Trazer os homens para a discussão, investir em ações mais intencionais e implementar a licença-paternidade estendida obrigatória são boas possibilidades.

Renata Baccarat

4 min de leitura
Uncategorized
Apesar de ser uma ferramenta essencial para o desenvolvimento de colaboradores, o Plano de Desenvolvimento Individual (PDI) vem sendo negligenciado por empresas no Brasil. Pesquisa da Mereo mostra que apenas 60% das companhias avaliadas possuem PDIs cadastrados, com queda no engajamento de 2022 para 2023.

Ivan Cruz

4 min de leitura
Tecnologias exponenciais
A inteligência artificial (IA) está revolucionando o mundo dos negócios, mas seu avanço rápido exige uma discussão sobre regulamentação. Enquanto a Europa avança com regras para garantir benefícios éticos, os EUA priorizam a liberdade econômica. No Brasil, startups e empresas se mobilizam para aproveitar as vantagens competitivas da IA, mas aguardam um marco legal claro.

Edmee Moreira

4 min de leitura
ESG
A gestão de riscos psicossociais ganha espaço nos conselhos, impulsionada por perdas estimadas em US$ 3 trilhões ao ano. No Brasil, a atualização da NR1 exige que empresas avaliem e gerenciem sistematicamente esses riscos. Essa mudança reflete o reconhecimento de que funcionários saudáveis são mais produtivos, com estudos mostrando retornos de até R$ 4 para cada R$ 1 investido

Ana Carolina Peuker

4 min de leitura