Diversidade

Como sua organização pode ser para todos e todas

Esse é um longo caminho que passa ainda por inclusão, equidade e pertencimento
Fred Alecrim é diretor de recursos humanos (CHRO) e cofundador da Credere, startup de compra e venda financiada de veículos

Compartilhar:

Não são poucos os executivos que acreditam que, ao impulsionar a diversidade na sua empresa, vão dormir com a sensação de missão cumprida. Se fosse assim, seria muito bom, e até fácil, atingir o modelo que, já se sabe, traz os melhores efeitos em termos humanos e de entrega para o negócio. Mas a diversidade é só o primeiro passo para uma transformação profunda e duradoura.

Nas organizações maiores, já é quase comum haver áreas dedicadas à diversidade. Várias delas conseguiram formar times diversos e veem muito valor nas iniciativas e no cenário que, aos poucos, vai se delineando. Esse avanço impacta a vida das pessoas que passam a integrar esses times, pois cria uma perspectiva de construir uma carreira, ascender profissionalmente e almejar cargos que, até então, foram quase sempre ocupados por homens brancos heterossexuais.

Mas a crença em diversidade por si só não se sustenta. Colaboradores precisam de ambientes baseados em respeito, empatia, atenção, equidade, inclusão, senso de pertencimento e humanidade. Aqueles que chegam para integrar uma equipe querem espaço onde possam ser ouvidos, atuar, se sentir e, de fato, ser parte do todo.

Resumo essa busca em quatro momentos: diversidade, inclusão, equidade e pertencimento. Um aspecto não pode vir separado dos outros, pois são interdependentes.

É um grande desafio para os gestores de RH, principalmente tendo como cenário os vieses inconscientes e preconceitos de todos os tipos. Durante uma existência inteira, times foram predominantemente brancos e masculinos. Transformá-los em diversos requer paciência, sensibilidade e muito esforço por parte da gestão. Mas não é uma missão impossível de realizar. Garanto por conhecimento de causa.

Na minha experiência recente de tornar a diversidade uma realidade na empresa, o primeiro movimento foi contratar um líder de recursos humanos que pertencesse a um dos grupos historicamente excluídos, no caso, da comunidade LGBTQIAPN+. Não apenas isso, mas que também se dedicasse a estudar e agir sobre a causa.

Acima de tudo, eu precisava ter uma pessoa no meu time que não tivesse os mesmos vieses que os meus. A presença dele acelerou o nosso processo de diversidade de forma muito positiva e infinitamente melhor.

Contratar alguém diferente de você em algum aspecto vai, de certa forma, desconstruir o seu próprio pensamento e provocar a mente. Vai ampliar a consciência.

Mas nada vai mudar e a diversidade não passará de marketing e semântica se a transformação não ocorrer de forma orquestrada. Em poucas palavras: todo mundo precisa estar envolvido. É preciso ter: um ambiente que favoreça a integração e o crescimento para que a diversidade chegue aos cargos de liderança; escuta e ouvidoria; posicionamento de não negociar com empresas que tenham políticas discriminatórias; vagas destinadas a grupos historicamente discriminados.

Ações de RH também ajudam a semear a cultura. Na nossa organização, para citar algumas, criamos um podcast com histórias dos funcionários, encontros com pessoas de fora para falar sobre temáticas da diversidade e provocar a reflexão e diálogos coletivos entre os funcionários, com apresentação e comentários sobre livros e artigos.

Nenhuma dessas ações envolve recursos absurdos. Mas o impacto é percebido em pessoas que se sentem valorizadas, respeitadas, ouvidas. O ambiente de negócios se tornou mais impactante nas suas entregas. Afinal, são pessoas diferentes olhando desafios e problemas por perspectivas diferentes. As chances de saírem dali soluções muito mais criativas e inclusivas são imensas.

Sem falar na energia incrível que circula nesse ambiente baseado em respeito, empatia, atenção e humanidade. Só temos a ganhar com isso!

Lutar contra o preconceito estrutural na sociedade depende de políticas públicas, de medidas de grande alcance e da mobilização de setores da sociedade. É um processo complexo, longo e permanente. No caso de uma organização, porém, as decisões dependem da gestão. Está em nossas mãos transformar e inspirar outros gestores.

Compartilhar:

Artigos relacionados

Calendário

Não, o ano ainda não acabou!

Em meio à letargia de fim de ano, um chamado à consciência: os últimos dias de 2024 são uma oportunidade valiosa de ressignificar trajetórias e construir propósito.

Empreendedorismo
Um guia para a liderança se antecipar às consequências não intencionais de suas decisões

Lilian Cruz e Andréa Dietrich

4 min de leitura
ESG
Entre nós e o futuro desejado, está a habilidade de tecer cada nó de um intricado tapete que une regeneração, adaptação e compromisso climático — uma jornada que vai de Baku a Belém, com a Amazônia como palco central de um novo sistema econômico sustentável.

Bruna Rezende

5 min de leitura
ESG
Crescimento de reclamações à ANS reflete crise na saúde suplementar, impulsionada por reajustes abusivos e falta de transparência nos planos de saúde. Empresas enfrentam desafios para equilibrar custos e atender colaboradores. Soluções como auditorias, BI e humanização do atendimento surgem como alternativas para melhorar a experiência dos beneficiários e promover sustentabilidade no setor.
4 min de leitura
Finanças
Brasil enfrenta aumento de fraudes telefônicas, levando Anatel a adotar medidas rigorosas para proteger consumidores e empresas, enquanto organizações investem em tecnologia para garantir segurança, transparência e uma comunicação mais eficiente e personalizada.

Fábio Toledo

4 min de leitura
Finanças
A recente vitória de Donald Trump nos EUA reaviva o debate sobre o protecionismo, colocando em risco o acesso do Brasil ao segundo maior destino de suas exportações. Porém, o país ainda não está preparado para enfrentar esse cenário. Sua grande vulnerabilidade está na dependência de um número restrito de mercados e produtos primários, com pouca diversificação e investimentos em inovação.

Rui Rocha

0 min de leitura
Finanças
O Revenue Operations (RevOps) está em franca expansão global, com estimativa de que 75% das empresas o adotarão até 2025. No Brasil, empresas líderes, como a 8D Hubify, já ultrapassaram as expectativas, mais que dobrando o faturamento e triplicando o lucro ao integrar marketing, vendas e sucesso do cliente. A Inteligência Artificial é peça-chave nessa transformação, automatizando interações para maior personalização e eficiência.

Fábio Duran

3 min de leitura
Empreendedorismo
Trazer os homens para a discussão, investir em ações mais intencionais e implementar a licença-paternidade estendida obrigatória são boas possibilidades.

Renata Baccarat

4 min de leitura
Uncategorized
Apesar de ser uma ferramenta essencial para o desenvolvimento de colaboradores, o Plano de Desenvolvimento Individual (PDI) vem sendo negligenciado por empresas no Brasil. Pesquisa da Mereo mostra que apenas 60% das companhias avaliadas possuem PDIs cadastrados, com queda no engajamento de 2022 para 2023.

Ivan Cruz

4 min de leitura
Tecnologias exponenciais
A inteligência artificial (IA) está revolucionando o mundo dos negócios, mas seu avanço rápido exige uma discussão sobre regulamentação. Enquanto a Europa avança com regras para garantir benefícios éticos, os EUA priorizam a liberdade econômica. No Brasil, startups e empresas se mobilizam para aproveitar as vantagens competitivas da IA, mas aguardam um marco legal claro.

Edmee Moreira

4 min de leitura
ESG
A gestão de riscos psicossociais ganha espaço nos conselhos, impulsionada por perdas estimadas em US$ 3 trilhões ao ano. No Brasil, a atualização da NR1 exige que empresas avaliem e gerenciem sistematicamente esses riscos. Essa mudança reflete o reconhecimento de que funcionários saudáveis são mais produtivos, com estudos mostrando retornos de até R$ 4 para cada R$ 1 investido

Ana Carolina Peuker

4 min de leitura