O tempo passa, o discurso muda, líderes vêm e vão. E falar sobre erros continua sendo um tabu. Até quando se comenta sobre falhas com leveza, sem um estigma negativo, vem alguém do topo da hierarquia fazer um contraponto. O discurso varia, a mensagem é a mesma: não podemos incentivar os erros.
Eu fico com pena. Porque, se você perguntar a qualquer líder se inovação e aprendizagem são importantes, 100% dirão “sim”. E é impossível inovar ou aprender sem errar.
Talvez você agora esteja pensando: “Mas, Rodrigo, há erros e erros. O tratamento para cada um difere”. Concordo contigo. Conheço um modelo que identifica três tipos de falhas.
A primeira categoria é das falhas __preveníveis__, que ocorrem em processos maduros, onde se espera repetição, não criação. Muitos acidentes na operação de máquinas e erros médicos se enquadram aí. Nesses casos, a solução envolve reforçar as diretrizes, por comunicação e treinamento, por exemplo.
O segundo tipo de erro são os __complexos__. É quando um desafio conhecido revela traços novos, por uma mudança das circunstâncias, que extrapolam a competência dos recursos alocados. Em um mundo tão caótico, no qual até os apelidos dados à confusão têm que ser atualizados (VUCA, BANI), esse tipo de falha é cada vez mais comum. Todos nós tivemos resultados não esperados por complexidade nos últimos 18 meses, graças à pandemia. Lidar com esse tipo de fracasso envolve redesenho de estruturas, para incluir as variáveis novas.
O último tipo de falha são as __inteligentes__. É quando eu sei que não sei algo e vou em frente, sabendo que vai dar problema. Nos modelos de agilidade, são os experimentos. Um erro inteligente nos ensina eliminando hipóteses.
“Tá vendo, Rodrigo? Está resolvido. Queremos mais do terceiro tipo, menos do segundo e nada do primeiro.”
Seria ótimo se o território em que operamos fosse igual ao mapa de que dispomos. Mas nunca é o que acontece. O mapa é sempre mais pobre. A melhor classificação de erros ainda será mais limitada que a realidade dinâmica diária. Na prática, tem um pouco de cada erro em toda situação. Nenhum cruzamento de avenidas é igual ao outro. Nenhum organismo corresponde aos livros ou ao que o cirurgião viu antes. Nem nós, os envolvidos, somos os mesmos: hoje estamos mais alertas, amanhã impacientes, depois cautelosos ou pressionados.
Terão vantagem competitiva as equipes que criarem as condições para que todo aprendizado e inovação latentes nos erros possam ser colhidos.
Essa estrada perde-se no horizonte futuro e não tem fim. Deixo aqui uma pergunta para inspirar o primeiro passo: as estratégias da sua organização para evitar erros intencionalmente incentivam os envolvidos a continuar arriscando e aprendendo? Ou inibem o novo e atrasam a evolução?