Finanças
0 min de leitura

Competitividade da Indústria Brasileira diante do Protecionismo Global

A recente vitória de Donald Trump nos EUA reaviva o debate sobre o protecionismo, colocando em risco o acesso do Brasil ao segundo maior destino de suas exportações. Porém, o país ainda não está preparado para enfrentar esse cenário. Sua grande vulnerabilidade está na dependência de um número restrito de mercados e produtos primários, com pouca diversificação e investimentos em inovação.
Fundador da Partner Consulting do Brasil, Rui Rocha atua há mais de 20 anos nas áreas de Governança Corporativa, Estratégia e Gestão. Além disso, foi fundador da Upside Investment.

Compartilhar:

A recente vitória de Donald Trump reacendeu o debate sobre o protecionismo global, especialmente para o Brasil, um país com várias fragilidades e desafios estruturais na sua indústria. Com o retorno de Trump e suas políticas protecionistas, o mercado americano, que é o segundo maior destino de exportações brasileiras, pode se tornar um terreno mais difícil de acessar. Mas será que estamos preparados para enfrentar essas barreiras? E mais: estamos prontos para competir lá fora, mesmo diante de políticas protecionistas não só dos EUA, mas também de outros países?

O mercado americano é um dos mais importantes para o Brasil, especialmente para setores como o agronegócio, aço e produtos industriais. Quando políticas protecionistas entram em ação, como tarifas adicionais e outras barreiras comerciais, a exportação brasileira para os Estados Unidos se torna mais cara e menos atrativa, ameaçando nossa fatia de mercado e nossa competitividade.

Esse impacto vai muito além dos EUA: o Brasil precisa lidar com o fato de que outros países podem adotar políticas protecionistas semelhantes para proteger suas próprias indústrias, como já vimos em várias regiões.

Nossa grande vulnerabilidade aqui é clara: o Brasil é dependente de um número restrito de mercados e produtos para exportação. E quando falamos de matriz de exportação, a maior parte ainda está concentrada em commodities (soja, minério de ferro, carne bovina, por exemplo), com pouco espaço para produtos de alto valor agregado. Isso torna o país mais exposto a mudanças no mercado e a políticas externas, limitando nossa capacidade de enfrentar de igual para igual as grandes economias.

Além das barreiras externas, o Brasil tem desafios internos que afetam diretamente sua competitividade. A indústria automotiva, por exemplo, sofre com defasagem tecnológica, basta comparar nossos carros com os modelos chineses ou europeus que chegam ao mercado, cheios de tecnologia e inovação. Enquanto outros países estão avançando com carros elétricos e tecnologias de ponta, a indústria brasileira continua limitada por altos custos de produção, burocracia e infraestrutura deficiente.

Por que isso acontece? Falta investimento consistente em pesquisa e desenvolvimento, além de políticas de incentivo que permitam a inovação. A carga tributária elevada e a complexidade da nossa burocracia desestimulam investimentos e tornam os produtos brasileiros mais caros no mercado internacional. E, como se não bastasse, a infraestrutura precária de rodovias e portos encarece o transporte e dificulta a exportação, comprometendo a competitividade de nossos produtos.

Estamos Prontos para Enfrentar o Protecionismo?

A verdade é que o Brasil ainda não está totalmente preparado para competir em um cenário de protecionismo global. Nossa dependência de commodities nos deixa vulneráveis a mudanças externas, e nossa falta de investimentos em setores de alto valor agregado limita nossa participação em mercados mais sofisticados e rentáveis. Isso significa que, quando um país como os EUA ou a União Europeia decide proteger sua indústria local, acabamos sofrendo o impacto sem ter muita margem para reagir.

Mas há alternativas para melhorar essa situação e tornar a indústria brasileira mais forte e competitiva, do meu ponto de vista algumas iniciativas poderão melhorar nossa competitividade:

Diversificação de Mercados e Produtos: Ampliar nossas exportações para outras regiões, como Ásia e Oriente Médio, pode nos ajudar a reduzir a dependência dos EUA e da China. Além disso, é essencial diversificar a oferta de produtos para incluir mais itens de valor agregado, reduzindo a vulnerabilidade às oscilações dos preços das commodities.

Investimento em Inovação e P&D: O Brasil precisa investir pesado em pesquisa e desenvolvimento para ter produtos mais inovadores e competitivos. Incentivos fiscais, parcerias com universidades e um ambiente regulatório mais favorável podem impulsionar a inovação nas empresas e elevar o nível tecnológico da nossa indústria.

Simplificação Tributária e Redução da Burocracia: Reformas que reduzam a carga tributária e simplifiquem a burocracia são fundamentais para melhorar o ambiente de negócios no Brasil. Com custos menores e menos complicação para operar, as empresas têm mais liberdade para investir e inovar.

Fortalecimento da Infraestrutura: Melhorar a logística de transporte, desde estradas até portos, é um passo essencial para reduzir os custos de exportação. Uma infraestrutura moderna e eficiente permitirá que o Brasil exporte com agilidade, competindo com outros países que já possuem uma infraestrutura mais avançada.

Promoção da Sustentabilidade e da Marca Brasil: O mundo está cada vez mais atento à sustentabilidade. Adotar práticas de responsabilidade ambiental e promover os produtos brasileiros como “verdes” e sustentáveis pode agregar valor e abrir novas portas, atraindo consumidores que priorizam a sustentabilidade.

O Brasil tem muito potencial, mas ainda precisa superar uma série de desafios estruturais para competir de igual para igual no cenário internacional. O protecionismo é uma realidade cada vez mais presente e não vai desaparecer tão cedo. Com reformas, investimentos e uma postura mais estratégica no comércio internacional, podemos reduzir nossa vulnerabilidade e conquistar mais espaço lá fora.

Por enquanto, o país ainda depende demais de poucos mercados e de produtos primários. E enquanto continuarmos assim, seguiremos vulneráveis a decisões externas que fogem ao nosso controle. Está na hora de investir em uma indústria mais robusta, moderna e preparada para enfrentar as barreiras do mundo.

Compartilhar:

Artigos relacionados

Competitividade da Indústria Brasileira diante do Protecionismo Global

A recente vitória de Donald Trump nos EUA reaviva o debate sobre o protecionismo, colocando em risco o acesso do Brasil ao segundo maior destino de suas exportações. Porém, o país ainda não está preparado para enfrentar esse cenário. Sua grande vulnerabilidade está na dependência de um número restrito de mercados e produtos primários, com pouca diversificação e investimentos em inovação.

Mercado de RevOps desponta e se destaca com crescimento acima da média 

O Revenue Operations (RevOps) está em franca expansão global, com estimativa de que 75% das empresas o adotarão até 2025. No Brasil, empresas líderes, como a 8D Hubify, já ultrapassaram as expectativas, mais que dobrando o faturamento e triplicando o lucro ao integrar marketing, vendas e sucesso do cliente. A Inteligência Artificial é peça-chave nessa transformação, automatizando interações para maior personalização e eficiência.

Uso de PDI tem sido negligenciado nas companhias

Apesar de ser uma ferramenta essencial para o desenvolvimento de colaboradores, o Plano de Desenvolvimento Individual (PDI) vem sendo negligenciado por empresas no Brasil. Pesquisa da Mereo mostra que apenas 60% das companhias avaliadas possuem PDIs cadastrados, com queda no engajamento de 2022 para 2023.

Regulamentação da IA: Como empresas podem conciliar responsabilidades éticas e inovação? 

A inteligência artificial (IA) está revolucionando o mundo dos negócios, mas seu avanço rápido exige uma discussão sobre regulamentação. Enquanto a Europa avança com regras para garantir benefícios éticos, os EUA priorizam a liberdade econômica. No Brasil, startups e empresas se mobilizam para aproveitar as vantagens competitivas da IA, mas aguardam um marco legal claro.

Governança estratégica: a gestão de riscos psicossociais integrada à performance corporativa

A gestão de riscos psicossociais ganha espaço nos conselhos, impulsionada por perdas estimadas em US$ 3 trilhões ao ano. No Brasil, a atualização da NR1 exige que empresas avaliem e gerenciem sistematicamente esses riscos. Essa mudança reflete o reconhecimento de que funcionários saudáveis são mais produtivos, com estudos mostrando retornos de até R$ 4 para cada R$ 1 investido

ESG
Com as eleições municipais se aproximando, é crucial identificar candidatas comprometidas com a defesa dos direitos das mulheres, garantindo maior representatividade e equidade nos espaços de poder.

Ana Fontes

ESG, Empreendedorismo
Estar na linha de frente da luta por formações e pelo desenvolvimento de oportunidades de emprego e educação é uma das frentes que Rachel Maia lida em seu dia-dia e neste texto a Presidente do Pacto Global da ONU Brasil traz um panorama sobre estes aspectos atuais.

Rachel Maia

Conteúdo de marca, Marketing e vendas, Marketing Business Driven, Liderança, times e cultura, Liderança
Excluído o fator remuneração, o que faz pessoas de diferentes gerações saírem dos seus empregos?

Bruna Gomes Mascarenhas

Blockchain
07 de agosto
Em sua estreia como colunista da HSM Management, Carolina Ferrés, fundadora da Blue City e partner na POK, traz atenção para a necessidade crescente de validar a autenticidade de informações e certificações, pois tecnologias como blockchain e NFTs, estão revolucionando a educação e diversos setores.
6 min de leitura
Transformação Digital, ESG
A gestão algorítmica está transformando o mundo do trabalho com o uso de algoritmos para monitorar e tomar decisões, mas levanta preocupações sobre desumanização e equidade, especialmente para as mulheres. A implementação ética e supervisão humana são essenciais para garantir justiça e dignidade no ambiente de trabalho.

Carine Roos

Gestão de Pessoas
Explorando a comunicação como uma habilidade crucial para líderes e gestores de produtos, destacando sua importância em processos e resultados.

Italo Nogueira De Moro

Uncategorized
Até onde os influenciadores estão realmente ajudando na empreitada do propósito? Será que isso é sustentavelmente benéfico para nossa sociedade?

Alain S. Levi

Gestão de Pessoas
Superar vieses cognitivos é crucial para inovar e gerar mudanças positivas, exigindo uma abordagem estratégica e consciente na tomada de decisões.

Lilian Cruz

Transformação Digital, Marketing e vendas, Marketing Business Driven, Marketing business-driven
Crescimento dos festivais de música pós-pandemia oferece às marcas uma chance única de engajamento e visibilidade autêntica.

Kika Brandão

Gestão de pessoas, Liderança, Liderança, times e cultura
Explorando como mudanças intencionais e emergentes moldam culturas organizacionais através do framework ‘3As’ de Dave Snowden, e como a compreensão de assemblages pode ajudar na navegação e adaptação em sistemas sociais complexos.

Manoel Pimentel