Liderança, Times e Cultura

Conector de ecossistema

Em uma economia em que, cada vez mais, o ecossistema de negócios se sobrepõe ao negócio individual, emergem novos papéis – e um dos principais é o do conector que faz fluir as relações em prol da geração de valor para todos. Conectores podem ser grandes boosters atuais. Este artigo aborda de onde eles vêm e como vivem.
__Bruno Pina__ é fundador e CEO da Synapse, consultoria que se dedica a mobilizar o ecossistema de healthcare. Cofundou a comunidade Hackmed. Foi executivo em várias empresas.

Compartilhar:

Um dia, atuando como consultor, ouvi de um CEO algo como “você tem um dom de se conectar com as pessoas de maneira genuína, sabia? E essas conexões de verdade acabam potencializando os negócios”.

Confesso que sempre me relacionei de maneira tão natural com os outros que não percebi haver “metodologia” ali. A percepção me fez reinventar a carreira. Entendi que o setor da saúde, no qual atuava, precisa muito de conectores, pela complexidade de sua cadeia de valor. Empresas concorrentes ou complementares têm de se conectar para que se gere valor e se transforme o mercado para melhor.

Há mesmo uma metodologia de conexão? Consigo explicar melhor a gênese. Alguns acharão que o fato de eu ser baiano diz muito a esse respeito. Faço gosto realmente em atividades de alto grau de relacionamento, como jogar bola, falar em público, papear com amigos – muitos amigos. Mas, desde novo com aptidão para exatas programação, fui estudar ciência da computação, o que por um tempo me inscreveu no time dos nerds. Então, minha gênese, ou metodologia, é juntar o lado nerd com o lado “pessoas”.

Por quê? Aparentemente a mistura de emoções e dados nos leva a posições de liderança. Foi o que ocorreu em praticamente todas as empresas em que trabalhei, desde meu primeiro estágio até quando troquei minha cidade natal, Salvador, por São Paulo. Passei por diversas empresas no setor financeiro como Fidelity e Bradesco, por grandes consultorias como a IBM e a McKinsey, pela farma AstraZeneca e também por startups como Distrito e The Bridge.

Em 202o cofundei uma startup no setor da saúde, a comunidade Hackmed, e, em 2021, uma consultoria estratégica e de investimento em saúde, a Synapse. A cada empresa, cliente, cidade e país, colecionei relações com pessoas e, sendo um curioso de carteirinha, aprendi muito sobre os papéis de todas elas.

## A NECESSIDADE DO ECOSSISTEMA

No ecossistema da saúde, fui desconfiando que muitos problemas não podiam ser resolvidos apenas por pessoas de uma função e/ou de uma empresa. Isso foi amplificado pelo comentário do CEO citado no início do artigo e com um insight, que veio quando integrei o board executivo de uma farma global e tive interações muito interessantes com países como China, Rússia, Índia, Reino Unido, EUA, Colômbia etc.

Olhar de fora outros sistemas de saúde me fez ver a necessidade gritante do “conector”. Mesmo as empresas que diziam querer inovação ecossistêmica acabavam só priorizando seus interesses. Então, eu me tornei um conector de ecossistema.
[Veja texto ao final.]

Há quase uma matemática para justificar a existência desse profissional na área de saúde:

1. Cada empresa do setor faz parte de um subsetor da saúde, que por sua vez, compõe uma cadeia de valor. Exemplos: laboratórios diagnósticos, prestadores de serviços, operadoras de saúde, indústria farmacêutica, indústria de medical devices, distribuidores do varejo farmacêutico etc.

2. Essas empresas são instituições com uma governança e uma liderança focadas em gerar resultados por meio da execução de diversas táticas/atividades conectadas com sua estratégia.

3. As dores do ecossistema de saúde não se resolvem trabalhando ações em uma única instituição; é necessário um trabalho em rede, no qual os elos se conectem genuinamente para pensar nessa resolução.

4. A estrutura existente para fomentar essa conexão entre os elos dessa rede é pautada num jogo de interesses individuais

O que está faltando na equação? Um “player” desses que esteja genuinamente interessado na melhoria do ecossistema como um todo. Alguém que consiga apoiar os elos individuais, sim, mas com o intuito de provocá-los a olhar para a cadeia que eles estão inseridos e entendendo que esse trabalho possui um objetivo “maior”.

Esse “novo elo” não surge dentro de um planejamento estratégico e uma estrutura organizacional tradicionais, a meu ver, mesmo que estejamos falando de uma consultoria ou de um departamento interno de open innovation. É necessário unir isso com human skills, o que pressupõe não conectar os elos “apenas” por uma ótica do próprio business development, mas entenda que, se forem importantes para fazer alguém prosperar, as conexões devem ser feitas e seu benefício virá “lá na frente”.

Parece utópico, não é? Mas está acontecendo de fato, ao menos em saúde. E se você for de outro setor, eu deixo uma pergunta: “Será que algo que mencionei acima ressoou como verdade no seu dia a dia?”. Porque, nesta nova economia, estou convicto de que muitos segmentos vivem dores similares às da saúde e precisam de conectores que fortaleçam os ecossistemas.

como conectar

Os projetos da Synapse, que sempre passam pelo conector Bruno Pina e envolvem geração de receita, servem para ilustrar o papel descrito neste artigo. Eles incluem:

• Colaboração estratégica com o InovaHC, núcleo de inovação tecnológica do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo (USP), para “buscar formas de colaborar bilateralmente em iniciativas que possam transformar a saúde”.

• Colaboração com o Department for Business Trade do governo britânico no Brasil para buscar oportunidades de colaboração entre Brasil e Reino Unido.

• Projeto entre Brasil e Portugal com foco em saúde.

• Colaboração com o Learning Village, o ecossistema de Inovação da HSM.

Compartilhar:

Artigos relacionados

A aposta calculada que levou o Boticário a ser premiado no iF Awards

Enquanto concorrentes correm para lançar coleções sazonais inspiradas em tendências efêmeras, o Boticário demonstra que compreende um princípio fundamental: o verdadeiro valor do design não está na estética superficial, mas em sua capacidade de gerar impacto social e econômico simultaneamente. A linha Make B., vencedora do iF Design Award 2025, não é um produto de beleza – é um manifesto estratégico.

Tecnologia & inteligencia artificial, Inovação & estratégia
19 de setembro de 2025
Sem engajamento real, a IA vira promessa não cumprida. A adoção eficaz começa quando as pessoas entendem, usam e confiam na tecnologia.

Leandro Mattos - Expert em neurociência da Singularity Brazil

3 minutos min de leitura
Cultura organizacional, Gestão de pessoas & arquitetura de trabalho
17 de setembro de 2025
Ignorar o talento sênior não é só um erro cultural - é uma falha estratégica que pode custar caro em inovação, reputação e resultados.

João Roncati - Diretor da People + Strategy

3 minutos min de leitura
Inovação
16 de setembro de 2025
Enquanto concorrentes correm para lançar coleções sazonais inspiradas em tendências efêmeras, o Boticário demonstra que compreende um princípio fundamental: o verdadeiro valor do design não está na estética superficial, mas em sua capacidade de gerar impacto social e econômico simultaneamente. A linha Make B., vencedora do iF Design Award 2025, não é um produto de beleza – é um manifesto estratégico.

Magnago

4 minutos min de leitura
Cultura organizacional, Bem-estar & saúde, Gestão de pessoas & arquitetura de trabalho
15 de setembro de 2025
O luto não pede licença - e também acontece dentro das empresas. Falar sobre dor é parte de construir uma cultura organizacional verdadeiramente humana e segura.

Virginia Planet - Sócia e consultora da House of Feelings

2 minutos min de leitura
Marketing & growth, Inovação & estratégia, Tecnologia & inteligencia artificial
12 de setembro de 2025
O futuro do varejo já está digitando na sua tela. O WhatsApp virou canal de vendas, atendimento e fidelização - e está redefinindo a experiência do consumidor brasileiro.

Leonardo Bruno Melo - Global head of sales da Connectly

4 minutos min de leitura
Liderança, Cultura organizacional, Inovação & estratégia, Tecnologia & inteligencia artificial
11 de setembro de 2025
Agilidade não é sobre seguir frameworks - é sobre gerar valor. Veja como OKRs e Team Topologies podem impulsionar times de produto sem virar mais uma camada de burocracia.

João Zanocelo - VP de Produto e Marketing e cofundador da BossaBox

3 minutos min de leitura
Cultura organizacional, compliance, Gestão de pessoas & arquitetura de trabalho, Liderança
10 de setembro de 2025
Ambientes tóxicos nem sempre vêm da cultura - às vezes, vêm de uma única pessoa. Entenda como identificar e conter comportamentos silenciosos que desestabilizam equipes e ameaçam a saúde organizacional.

Tatiana Pimenta - CEO da Vittude

5 minutos min de leitura
Cultura organizacional, Gestão de pessoas & arquitetura de trabalho, Inovação & estratégia
9 de setembro de 2025
Experiência também é capital. O ROEx propõe uma nova métrica para valorizar o repertório acumulado de profissionais em times multigeracionais - e transforma diversidade etária em vantagem estratégica.

Fran Winandy e Martin Henkel

10 minutos min de leitura
Inovação
8 de setembro de 2025
No segundo episódio da série de entrevistas sobre o iF Awards, Clarissa Biolchini, Head de Design & Consumer Insights da Electrolux nos conta a estratégia por trás de produtos que vendem, encantam e reinventam o cuidado doméstico.

Rodrigo Magnago

2 minutos min de leitura
Tecnologia & inteligencia artificial, Cultura organizacional, Gestão de pessoas & arquitetura de trabalho
5 de setembro de 2025
O maior desafio profissional hoje não é a tecnologia - é o tempo. Descubra como processos claros, IA consciente e disciplina podem transformar sobrecarga em produtividade real.

Diego Nogare

6 minutos min de leitura