Empreendedorismo
6 min de leitura

Conselhos e empresas: como alinhar expectativas para uma governança estratégica em 2025 

Em um mundo de incertezas, os conselhos de administração precisam ser estratégicos, transparentes e ágeis, atuando em parceria com CEOs para enfrentar desafios como ESG, governança de dados e dilemas éticos da IA
Sergio Simões é sócio e líder da prática de boards da EXEC, doutorando pela Poli-USP e atua como conselheiro de administração e consultivo em empresas do setor de saúde, educação, mídia e serviços. É investidor-anjo e senior advisor em startups e scaleups. Em 2020, foi eleito o Executivo do Ano em Transformação Digital e Cultural pela IT Midia/Korn Ferry.

Compartilhar:

Educação

O contexto global vive um momento delicado, marcado por questões como riscos digitais, tensões políticas, polarização, mudanças climáticas e incertezas econômicas. Tudo isso se reflete no dia a dia de empresas do mundo todo, inclusive no Brasil, que precisam encontrar nos conselhos um aliado forte para encarar os obstáculos de forma mais fácil. 

É importante, porém, que os membros do colegiado se lembrem de qual é seu papel junto à organização. Não é incomum que muitos empresários acreditem, erroneamente, que o board existe apenas para chancelar as ideias dos sócios e demais lideranças do negócio.

O conselho traz para a mesa a visão dos stakeholders e do mercado, orientando planos e ações para beneficiar não somente a empresa e seus acionistas, mas a sociedade. Sua função não é agradar a diretoria.

Outro tema polêmico que deve estar na pauta dos colegiados em 2025 são as iniciativas de DE&I (Diversidade, Equidade e Inclusão), muito porque tem ocorrido um movimento de afastamento de políticas nesse sentido por parte de diversas companhias. O ESG, de forma geral, vem sofrendo reveses, mas a preocupação com o planeta e com a sustentabilidade continua sendo obrigatória para a valorização do negócio – em especial, no longo prazo – assim como o cuidado com as pessoas.

Destaco ainda os dilemas éticos decorrentes dos avanços tecnológicos, especialmente quanto à Inteligência Artificial Generativa (IAGen). É um tema que exige o fortalecimento da governança de dados, outro ponto importante para os conselhos, que irão monitorar o cumprimento de normas e leis cabíveis quanto à coleta e uso de dados, além da privacidade dos usuários.

Evolução a passos lentos

O fato de os conselhos de administração estarem galgando novos passos, tornando-se mais estratégicos, ajuda os colegiados a lidarem com os desafios do mundo atual. Ressalto, no entanto, que no Brasil a mudança de foco dos boards vem ocorrendo de forma muito lenta.

A maioria dos conselhos ainda tem um olhar muito voltado para trás, no ‘retrovisor’, mirando os resultados e priorizando o lado financeiro. Essa mentalidade não cabe mais em uma realidade pautada pela tecnologia, inovação e transformação digital.

Hoje, cabe ao conselho ter uma mentalidade empreendedora, trazendo para si não somente a os direcionadores para a elaboração da estratégia, mas sua implementação, manutenção e modificação, tomando decisões baseadas em dados e levando em conta os novos comportamentos dos consumidores e demais stakeholders, cada vez mais empoderados e conscientes. 

Comunicação e transparência

Num cenário permeado por incertezas, a transparência e a comunicação clara e objetiva entre os membros do conselho e as lideranças empresariais precisam estar mais afiadas do que nunca. 

A falta de transparência e a má comunicação entre conselho e gestão podem ser catastróficas, pois dificultam a governança. A comunicação clara é essencial, pois ao evitar desentendimentos, atritos e erros, aumenta a eficiência, impulsiona a inovação e promove um ambiente mais colaborativo e positivo. É importante que o conselho aponte à gestão não o que as lideranças querem ouvir, mas o que, de fato, precisa ser feito na organização para que ela melhore e lide com os desafios. Comunicar isso de modo claro, firme e transparente é primordial.

Além disso, atuar em parceria com o CEO é crucial para o sucesso do trabalho dos colegiados. Como os boards são cada vez mais estratégicos, complexos e diversos, é necessário criar um contexto poderoso que oriente o negócio para frente e para cima. Assim, tal parceria, que antes poderia parecer impossível, torna-se fundamental, sendo que a responsabilidade de aplicar, manter e reportar os princípios deve ser compartilhada por conselho e CEO. Transformar a teoria em prática, contudo, não é simples. 

CEOs experientes fazem questão de promover empatia e facilitar conversas com seus conselhos, que podem atuar como verificadores da realidade, incluindo o momento atual e o futuro e questionando se a direção que a organização está tomando está correta, bem como se as ações são tomadas na mesma medida.

Lembro também que advisors e lideranças são figuras que se complementam em prol da perenidade e sucesso da organização: é mandatório, então, atuar em conjunto e em sinergia. 

É uma relação que será guiada pela honestidade e franqueza, pois é essencial que o conselheiro se sinta à vontade para, eventualmente, questionar as decisões dos gestores. O que já estamos vendo, em alguns casos, são conselhos com uma postura mais proativa e ágil, exercendo um papel indispensável no fortalecimento da cultura da organização.

Compartilhar:

Artigos relacionados

Semana Mundial do Meio Ambiente: desafios e oportunidades para a agenda de sustentabilidade

Construímos um universo de possibilidades. Mas a pergunta é: a vida humana está realmente melhor hoje do que 30 anos atrás? Enquanto brasileiros — e guardiões de um dos maiores biomas preservados do planeta — somos chamados a desafiar as retóricas de crescimento e consumo atuais. Se bem endereçados, tais desafios podem nos representar uma vantagem competitiva e um fôlego para o planeta

Tecnologia, mãe do autoetarismo

Ninguém fala disso, mas muitos profissionais mais velhos estão discriminando a si mesmos com a tecnofobia. Eles precisam compreender que a revolução digital não é exclusividade dos jovens

Inovação

Living Intelligence: A nova espécie de colaborador

Estamos entrando na era da Inteligência Viva: sistemas que aprendem, evoluem e tomam decisões como um organismo autônomo. Eles já estão reescrevendo as regras da logística, da medicina e até da criatividade. A pergunta que nenhuma empresa pode ignorar: como liderar equipes quando metade delas não é feita de pessoas?

Saúde mental, Gestão de pessoas
Como as empresas podem usar inteligência artificial e dados para se enquadrar na NR-1, aproveitando o adiamento das punições para 2026
0 min de leitura
ESG
Construímos um universo de possibilidades. Mas a pergunta é: a vida humana está realmente melhor hoje do que 30 anos atrás? Enquanto brasileiros — e guardiões de um dos maiores biomas preservados do planeta — somos chamados a desafiar as retóricas de crescimento e consumo atuais. Se bem endereçados, tais desafios podem nos representar uma vantagem competitiva e um fôlego para o planeta

Filippe Moura

6 min de leitura
Carreira, Diversidade
Ninguém fala disso, mas muitos profissionais mais velhos estão discriminando a si mesmos com a tecnofobia. Eles precisam compreender que a revolução digital não é exclusividade dos jovens

Ricardo Pessoa

4 min de leitura
ESG
Entenda viagens de incentivo só funcionam quando deixam de ser prêmios e viram experiências únicas

Gian Farinelli

6 min de leitura
Liderança
Transições de liderança tem muito mais relação com a cultura e cultura organizacional do que apenas a referência da pessoa naquela função. Como estão estas questões na sua empresa?

Roberto Nascimento

6 min de leitura
Inovação
Estamos entrando na era da Inteligência Viva: sistemas que aprendem, evoluem e tomam decisões como um organismo autônomo. Eles já estão reescrevendo as regras da logística, da medicina e até da criatividade. A pergunta que nenhuma empresa pode ignorar: como liderar equipes quando metade delas não é feita de pessoas?

Átila Persici

6 min de leitura
Gestão de Pessoas
Mais da metade dos jovens trabalhadores já não acredita no valor de um diploma universitário — e esse é só o começo da revolução que está transformando o mercado de trabalho. Com uma relação pragmática com o emprego, a Geração Z encara o trabalho como negócio, não como projeto de vida, desafiando estruturas hierárquicas e modelos de carreira tradicionais. A pergunta que fica: as empresas estão prontas para se adaptar, ou insistirão em um sistema que não conversa mais com a principal força de trabalho do futuro?

Rubens Pimentel

4 min de leitura
Tecnologias exponenciais
US$ 4,4 trilhões anuais. Esse é o prêmio para empresas que souberem integrar agentes de IA autônomos até 2030 (McKinsey). Mas o verdadeiro desafio não é a tecnologia – é reconstruir processos, culturas e lideranças para uma era onde máquinas tomam decisões.

Vitor Maciel

6 min de leitura
ESG
Um ano depois e a chuva escancara desigualdades e nossa relação com o futuro

Anna Luísa Beserra

6 min de leitura
Empreendedorismo
Liderar na era digital: como a ousadia, a IA e a visão além do status quo estão redefinindo o sucesso empresarial

Bruno Padredi

5 min de leitura