**5 – O sr. está lançando um novo livro sobre liderança, _A Boa Luta_ , em uma época em que as empresas buscam cada vez mais referências em empreendedores para inspirar seus líderes. Que momento é este que a liderança vive, afinal?**
A busca de referências em empreendedores faz todo o sentido para os líderes atuais, mas não pelo motivo que se supõe. Não é porque os empreendedores são inovadores. É porque, por definição, empreendedores sabem lutar para sobreviver em um mundo intensamente competitivo, turbulento e quase canibal, que é o que toda a vida econômica contemporânea está se tornando. E os líderes precisam saber fazer isso. Agora, mesmo os melhores esforços, feitos com inteligência, com os recursos necessários e com bom pensamento estratégico, podem falhar. E, ainda que a empresa tenha sucesso com sua contribuição, seu emprego pode ser cortado.
**4 – É por isso que mudam as respostas às questões que, segundo o sr., todo líder empresarial deve fazer-se… Poderia nos falar das principais respostas novas?**
Bem, à pergunta “Eu sei pelo que presto contas?”, as respostas-padrão até pouco tempo atrás eram duas: a primeira dizia que os líderes eram responsáveis por criar valor para os acionistas, e a segunda, que respondiam por vários stakeholders. Agora, as respostas são múltiplas, porque dependem dos objetivos de lucros de curto e longo prazos, crescimento, desenvolvimento da comunidade, direitos humanos etc. Hoje os líderes empresariais são responsáveis por prosperar dentro do conjunto específico de compromissos que tiver sido negociado. No caso da pergunta “Como tomar decisões cruciais?”, não há mais um plano preciso para o longo prazo por trás das decisões, mas apenas a indicação da direção na qual a organização tentará se mover. À pergunta “Por que eu escolhi esta vida?”, os gestores passam a responder em termos mais pessoais; o significado tem de vir dos projetos nos quais estão trabalhando, da equipe da qual fazem parte e, é claro, do pão que estão pondo na mesa para si mesmos e para sua família. Nos velhos tempos, e estou exagerando um pouco aqui, os gestores podiam entrar em uma organização e planejar trabalhar lá a vida toda, sentindo-se parte de algo estável, até permanente, acreditando que estavam contribuindo para algo maior. Hoje isso não é mais possível, porque nenhuma instituição está imune a choques sérios e até a ruir.
> **Canibal**
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> Para Badaracco, a vida econômica contemporânea está se tornando um “mundo quase canibal”, o que favorece os empreendedores
**3 – Nesse contexto, ainda existem valores a defender?**
Sim, mas não são os valores de consenso, aqueles que aparecem nas afirmações de missão e nas crenças formalizadas em plaquinhas. Creio que temos de defender os valores centrais, que aparecem no comportamento dos gestores quando eles se encontram sob pressão.
**2 – O sr. pode dar exemplos de líderes que fazem boas lutas?**
Desculpe-me, mas não posso. É muito difícil para alguém de fora como eu realmente saber o que está acontecendo dentro de uma empresa e em reu niões em pequena escala, nas quais executivos se dão bem ou fracassam no desafio da liderança responsável. Só as moscas na parede poderiam dizer isso de verdade.
**1 – No Brasil, os jovens gestores parecem ansiar por líderes inspiradores que sejam carismáticos, mas o sr., ao contrário, propõe a liderança discreta. Por quê? É mais responsável?**
Não, alguns líderes responsáveis não são discretos. Eles dizem o que precisa ser dito, tomam a posição que tem de ser tomada e então fazem o trabalho difícil e tiram o melhor dessas atitudes fortes. Mas acredito que a maioria dos gestores subestima a importância da liderança discreta –e a do trabalho constante, cuidadoso, consciente– e procura imediatamente líderes e visões inspiradores.