**SAIBA MAIS SOBRE THOMAS FRIEDMAN**
**Quem é:** jornalista e escritor, colunista do jornal The New York Times.
**Renome:** ganhou o mundo com seu best-seller O Mundo É Plano.
**Novo livro:** está lançando Thank You for Being Late, que ele define como um guia otimista para prosperar na era das acelerações.
**5 O Sr. vai lançar um novo livro. Por acaso, o anterior, O Mundo É Plano, sobre globalização, foi superado por uma mudança maior?**
Meu livro anterior é de 2005 e nele eu discuti as mudanças do mundo trazidas pela globalização, com o fim das fronteiras culturais que a tecnologia proporcionou. Acontece que o ano de 2007 foi um marco de mudanças, com implicações sobre tudo o que ocorre agora. Foi nesse ano que surgiram o iPhone, que revolucionou o conceito de comunicação, o Facebook e o Twitter, sinônimos de redes sociais, o GitHub, uma central de armazenamento e troca de informações sobre softwares entre programadores de computador, o Kindle, o big data, o Android, o Airbnb. Logo em seguida veio a crise econômica mundial, que abalou algumas certezas do capitalismo tradicional, e as pessoas não prestaram atenção a 2007. Agora começam a entender as forças exponenciais que estão agindo – e daí surgiu a ideia de meu novo livro.
**4 Quais são essas forças exponenciais?**
São três: o mercado, a natureza e a Lei de Moore. O mercado, para mim, envolve a globalização, que não é mais só a capacidade de transportar informações e mercadorias entre os países, mas de romper, por exemplo, com os sistemas de pagamento, como faz o PayPal; é uma globalização decorrente da digitalização. A natureza inclui a biodiversidade, o crescimento populacional e as mudanças climáticas consequentes do aquecimento global. E a Lei de Moore é a máxima de que a capacidade de processamento de um chip dobra a cada 24 meses, o que leva à possibilidade de crescimento exponencial.
A temperatura da Terra, a tecnologia e o mercado crescem exponencialmente. Explico o exponencial contando a história de um homem que prestou um grande serviço para o rei. Agradecido, o rei lhe pergunta o que deseja em troca. O homem afirma que só precisa ter condições de alimentar sua família e propõe ao rei que coloque um grão de arroz no quadrado inicial de um tabuleiro de xadrez e vá dobrando a quantidade até preencher tudo. O rei concorda, sem se dar conta de que 1 grão de arroz elevado à 63a potência dá mais de 18 quinquilhões de grãos, mais do que toda a produção possível.
**3 Como as pessoas estão lidando com isso?**
Em geral, mal. Como todas essas forças estão agindo de maneira combinada, a resposta teria de ser combinada – e não tem sido. Sem alinhar o aprendizado e o ensino, a capacidade de adaptação e o governo, há disfunção. Aliás, esse é o motivo por que a sociedade está se voltando para a direita: as pessoas precisam de certezas quando as coisas começam a mudar muito rapidamente, e hoje todo mundo se sente flutuando. É como se estivéssemos em uma calçada que se move cada vez mais rápido do que nós.
O terrorismo é outra resposta a essa sensação de “pare o mundo que eu quero descer”.
O que meu livro discute são as forças que causam essa “falta de âncora” e tenta ajudar as pessoas a se ancorar novamente. O desafio dos governos será obter o melhor dessas forças exponenciais e proteger as pessoas do pior.
**2 Para as empresas, as oportunidades que surgem são muitas, exponenciais. Mas qual será o papel dos governos?**
De um lado, devem governar de maneira inteligente e mais rápida. Você sabe qual é a posição de São Paulo em relação a carros autoguiados, por exemplo? Deveria saber. Podemos testar um carro autoguiado no centro de São Paulo? O governo precisa de uma política inteiramente nova sobre esses carros, definindo coisas como: “Se três pessoas atravessam a rua e meu carro autoguiado está prestes a atropelá-las, ele se transforma em uma parede e me mata ou mata as três pessoas? Qual a orientação?”.
Tudo isso requer novas formas de lógica governamental, e não há muito tempo para pensar nisso, porque esse carro está chegando. Nossas tecnologias sociais têm de acompanhar nossas tecnologias físicas, e hoje isso não acontece.
**1 Com o nível de educação disponível, o que as pessoas podem fazer efetivamente para enfrentar a situação?**
É uma pergunta importante. Há duas coisas que estão totalmente sob o controle do indivíduo: a automotivação e a capacidade de aprender. Se você tem automotivação para aprender constantemente, você vai ficar bem. O novo contrato social diz: “Agora é comigo; eu preciso ter a automotivação para ser um aprendiz pela vida inteira”. O contratado então afirma: “Me dê oportunidades para ser um aprendiz contínuo. Se eu não quiser aproveitar, tudo bem, mas me dê”. E aí a obrigação do governo é orquestrar tudo para incentivar as empresas a dar a oportunidade às pessoas de serem aprendizes contínuos e incentivá-las a agarrar essas oportunidades.
Em meu livro, eu digo que toda educação superior deveria ser de graça. Um curso de quatro anos eu posso pagar, mas, se quero ser um aprendiz por 40 anos, não posso; o ensino deveria ser de graça. Precisamos reconfigurar tudo isso, e o trabalho do governo é permitir que eu e minha empresa sejamos parceiros para sempre.