Comunidades: Marketing Makers, Estratégia e execução

Coopetição: o que as empresas de tecnologia têm a ensinar às outras indústrias?

Ao fazer uso desta estratégia de negócios, as organizações cooperam com seus concorrentes, promovendo inovação, gerando negócios e desenvolvendo seus mercados
Executivo com mais de 20 anos de experiência em empresas de grande porte, nacionais e multinacionais. Nos últimos dez anos atuou na indústria de eletrônicos, desenvolvendo serviços digitais como distribuição de aplicativos, e-wallet, plataforma de segurança mobile, entre outros.

Compartilhar:

O termo coopetição não é, nem de longe, novo e estima-se que surgiu no início dos anos 1990, é utilizado para descrever ações de cooperação entre empresas que são concorrentes em nichos ou em mercados específicos.

Atualmente, acredito que uma das indústrias mais competitivas é a de tecnologia e, aparentemente, é que mais faz uso da coopetição. E, além da colaboração, são as empresas que, de certa forma, mais consomem produtos e serviços umas das outras, como veremos ao longo do artigo.

No Brasil, acredito que um dos maiores cases de sucesso foi a criação da Autolatina, nos anos 1980 (1987-1996), joint venture formada pela Volkswagen e pela Ford, de onde saíram alguns modelos de carros que mesclavam as tecnologias criadas pelas duas montadoras gigantes, tais como o Verona, Apollo, Versailles, Escort XR3 1.8 e Volkswagen Pointer. Este é um dos grandes exemplos de como a coopetição pode trazer vantagens e ganhos não só para as empresas, mas também para o [mercado consumidor onde elas atuam](https://www.revistahsm.com.br/post/comunidade-empreendedora-e-alavanca-para-transformacao-digital).

São poucos os casos conhecidos do grande público, como o da Autolatina. Os episódios mais conhecidos de cooperação entre concorrentes, vem da indústria de tecnologia, a começar não necessariamente pelas empresas, mas por seus fundadores, que nunca foram exatamente amigos, embora não fossem inimigos públicos – não declarados, pelo menos.

## Coopetição entre os empreendedores da tecnologia
Quando Steve Jobs retornou à Apple por volta de 1998, a empresa estava em maus lençóis, tanto no que diz respeito a fluxo de caixa quanto a posicionamento de mercado. Naquele momento, apesar de a Apple ter diversos processos jurídicos em andamento contra a Microsoft, por diversas razões, [Jobs recorreu a ninguém menos que Bill Gates](https://www.revistahsm.com.br/post/o-poder-do-networking-na-crise) para conseguir dinheiro para colocar a operação no bom caminho novamente – e agradeceu publicamente o gesto de Gates por ajudar a salvar a empresa naquele momento tão difícil.

Marc Benioff, fundador da Salesforce, era vice-presidente na Oracle quando decidiu sair e montar a própria empresa, que iria concorrer diretamente com sua até então empregadora no nicho de softwares para gestão de vendas. Na ocasião, o fundador da Oracle, Larry Ellisson, entendeu o potencial da proposta e, ao invés de simplesmente ficar com raiva e tentar barrar a iniciativa, ele injetou dinheiro na empreitada de Benioff em troca de participação na empresa. Hoje, as duas empresas competem num nível altíssimo e o crescimento da concorrente da Oracle, além de fazer bem ao mercado, traz benefícios diretos aos bolsos do próprio Ellison.

Trazendo o conceito para as empresas, a Sony e Microsoft, que competem “joystick a joystick” no mercado de games, se uniram em 2019 para criar uma plataforma de streaming de games, beneficiando ambas as empresas e o público de games.

## Concorrentes e consumidores
Além disso, na indústria de tecnologia, algumas empresas, concorrentes diretos ou indiretos, consomem produtos ou serviços umas das outras. Uma importante fornecedora do mercado é a Samsung, que compete fortemente com outros fabricantes de celulares pela liderança no mercado mobile, e fornece diversos componentes para a fabricação do iPhone e do iPad e telas para outras marcas, incluindo a própria Apple.

Ainda sobre a empresa da maçã, precisamos destacar também o fato de que a Apple sempre utilizou o pacote do Microsoft Office em seus computadores desde praticamente o início de sua operação. Ela também se tornou o maior cliente corporativo de Google Cloud. O Google, por sua vez, que vinha numa briga jurídica com a Oracle há 10 anos, utilizava o ERP desta para gerenciar seus negócios, tendo mudado para o rival SAP somente no início desse ano.

## Maturidade do mercado para coopetir
Todos estes exemplos nos mostram que a indústria de tecnologia tem mais maturidade para enxergar que seu concorrente não precisa ser, necessariamente, seu inimigo – e se ele tiver produtos ou serviços que podem agregar valor ao seu portfólio ou mesmo à sua cadeia de suprimento, não há razão para que esta parceria não aconteça. Mais do que isso, caso estas empresas entendam que, ao criar algo juntas, elas irão gerar valor para o mercado, elas o farão sem titubear – como é o caso de Sony e Microsoft.

Nas demais indústrias o que vemos são algumas colaborações, de produtos ou serviços que se complementam, mas, dificilmente, uma cooperação para criar algo diferenciado para o mercado, mesmo que as empresas continuem competindo em outras áreas.

Se a indústria de tecnologia consegue enxergar benefícios na coopetição, por que outras indústrias não conseguem?

Independentemente do produto ou serviço, é possível enxergar diferenciais nas empresas que, provavelmente, juntando A+B [ofereceriam algo perfeito para o mercado](https://mitsloanreview.com.br/post/as-oportunidades-estao-onde-nao-existe-mercado), mesmo que A e B fossem mais baratos ou atendessem à grande parte da demanda. Ainda assim, como no caso da Autolatina, faria sentido criar a terceira opção e desenvolver, juntos, produtos para demandas específicas.

Arrisco dizer que existam casos no mercado, mas que não são conhecidos do grande público e isso não é bom, porque levar estas iniciativas ao conhecimento do público pode servir de estímulo para que outras empresas e indústrias expandam seus horizontes e criem produtos pensando não somente na sua participação de mercado, mas no consumidor.

A coopetição traz benefícios para todos os envolvidos. Ao desenvolver projetos compartilhados, as empresas podem reduzir seus custos operacionais, ampliar sua expertise em determinada área, inovar na criação de produtos e serviços, ampliar sua participação de mercado e promover a maturidade da sua indústria de atuação, para citar apenas alguns dos benefícios desta estratégia de negócios.

E aí, que indústrias além da tecnologia você enxerga coopetindo para criar diferenciais para o mercado?

Compartilhar:

Artigos relacionados

Os sete desafios das equipes inclusivas

Inclusão não acontece com ações pontuais nem apenas com RH preparado. Sem letramento coletivo e combate ao capacitismo em todos os níveis, empresas seguem excluindo – mesmo acreditando que estão incluindo.

Reaprender virou a palavra da vez

Reaprender não é um luxo – é sobrevivência. Em um mundo que muda mais rápido do que nossas certezas, quem não reorganiza seus próprios circuitos mentais fica preso ao passado. A neurociência explica por que essa habilidade é a verdadeira vantagem competitiva do futuro.

Carreira
HSM Management faz cinco pedidos natalinos em nome dos gestores das empresas brasileiras, considerando o que é essencial e o que é tendência

Adriana Salles Gomes é cofundadora de HSM Management.

3 min de leitura
Liderança, Bem-estar & saúde
24 de dezembro de 2025
Se sua agenda lotada é motivo de orgulho, cuidado: ela pode ser sinal de falta de estratégia. Em 2026, os CEOs que ousarem desacelerar serão os únicos capazes de enxergar além do ruído.

Bruno Padredi - CEO da B2B Match

2 minutos min de leitura
Gestão de pessoas & arquitetura de trabalho, Cultura organizacional
23 de dezembro de 2025
Marcela Zaidem, especialista em cultura nas empresas, aponta cinco dicas para empreendedores que querem reduzir turnover e garantir equipes mais qualificadas

Marcela Zaidem, Fundadora da Cultura na Prática

5 minutos min de leitura
Uncategorized, Gestão de pessoas & arquitetura de trabalho
22 de dezembro de 2025
Inclusão não acontece com ações pontuais nem apenas com RH preparado. Sem letramento coletivo e combate ao capacitismo em todos os níveis, empresas seguem excluindo - mesmo acreditando que estão incluindo.

Carolina Ignarra - CEO da Talento Incluir

4 minutos min de leitura
Lifelong learning
19 de dezembro de 2025
Reaprender não é um luxo - é sobrevivência. Em um mundo que muda mais rápido do que nossas certezas, quem não reorganiza seus próprios circuitos mentais fica preso ao passado. A neurociência explica por que essa habilidade é a verdadeira vantagem competitiva do futuro.

Isabela Corrêa - Cofundadora da People Strat

8 minutos min de leitura
Tecnologia & inteligencia artificial, Inovação & estratégia
18 de dezembro de 2025
Como a presença invisível da IA traz ganhos enormes de eficiência, mas também um risco de confiarmos em sistemas que ainda cometem erros e "alucinações"?

Rodrigo Cerveira - CMO da Vórtx e Cofundador do Strategy Studio

3 minutos min de leitura
Cultura organizacional, Gestão de pessoas & arquitetura de trabalho
17 de dezembro de 2025
Discurso de ownership transfere o peso do sucesso e do fracasso ao colaborador, sem oferecer as condições adequadas de estrutura, escuta e suporte emocional.

Rennan Vilar - Diretor de Pessoas e Cultura do Grupo TODOS Internacional

4 minutos min de leitura
Gestão de pessoas & arquitetura de trabalho
16 de dezembro de 2025
A economia prateada deixou de ser nicho e se tornou força estratégica: consumidores 50+ movimentam trilhões e exigem experiências centradas em respeito, confiança e personalização.

Eric Garmes é CEO da Paschoalotto

3 minutos min de leitura
Inovação & estratégia, Gestão de pessoas & arquitetura de trabalho
15 de dezembro de 2025
Este artigo traz insights de um estudo global da Sodexo Brasil e fala sobre o poder de engajamento que traz a hospitalidade corporativa e como a falta dela pode impactar financeiramente empresas no mundo todo.

Hamilton Quirino - Vice-presidente de Operações da Sodexo

2 minutos min de leitura
Cultura organizacional, Inovação & estratégia
12 de dezembro de 2025
Inclusão não é pauta social, é estratégia: entender a neurodiversidade como valor competitivo transforma culturas, impulsiona inovação e constrói empresas mais humanas e sustentáveis.

Marcelo Vitoriano - CEO da Specialisterne Brasil

4 minutos min de leitura

Baixe agora mesmo a nossa nova edição!

Dossiê #170

O que ficou e o que está mudando na gangorra da gestão

Esta edição especial, que foi inspirada no HSM+2025, ajuda você a entender o sobe-e-desce de conhecimentos e habilidades gerenciais no século 21 para alcançar a sabedoria da liderança

Baixe agora mesmo a nossa nova edição!

Dossiê #170

O que ficou e o que está mudando na gangorra da gestão

Esta edição especial, que foi inspirada no HSM+2025, ajuda você a entender o sobe-e-desce de conhecimentos e habilidades gerenciais no século 21 para alcançar a sabedoria da liderança