A comunidade executiva mundial, e nós da HSM em particular, sofremos um forte revés no início deste ano. A partida prematura de Clayton Christensen, o professor de Harvard que materializou a inovação de ruptura, nos deixou órfãos. Tivemos o privilégio de organizar muitos eventos com ele, assim como esta revista também teve a honra de entrevistá-lo diversas vezes e de publicar muitos artigos de sua autoria. Eu não poderia, portanto, escrever esta mensagem sem homenagear o grande nome da inovação.
Para mim, as marcas de suas pesquisas e teorias são nítidas em vários conteúdos desta edição, começando pelo Dossiê sobre carreira internacional, estampado na capa (veja a partir da pág. 27). Lá por 2012, Clay – ele nos dava liberdade de chamá-lo pelo apelido – escreveu o livro Como avaliar sua vida?, em que convidava o leitor não só a uma reflexão, mas a desenvolver estratégias inovadoras para sua vida. Pois nos dias atuais a expatriação é uma grande estratégia de inovação, especialmente para nós, brasileiros, que temos uma economia ainda relativamente fechada.
Embora os gestores brasileiros sejam apreciados em muitas partes do mundo por sua flexibilidade, os expatriados brasileiros têm ganhado escala mais recentemente. O Dossiê não apenas descreve as novas cores do fenômeno – maior interesse de empresas e maior demanda por gestores, atuais e futuros – como traz informações práticas e benchmarks de como lidar com os respectivos dilemas (no plural) ao decidir enveredar por esse caminho. Em muitos casos, não é um caminho; lembra mais um labirinto à la Escher mesmo, como este que ilustra nossa capa. Quero registrar a entrevista com Roberto Funari, CEO da Alpargatas, que faz uma ótima reflexão sobre seus 18 anos como expatriado – e relaciona seu cargo com essa jornada.
Além do Dossiê, a reportagem sobre sprints de aprendizado, utilíssima, conversa com a convocação que fez no livro The Innovative University, rumo a um compromisso com a inovação na educação para negócios (veja pág. 81). Ele pregava que se mudasse o DNA de dentro para fora – falava sobretudo no DNA das universidades, mas nosso texto aborda o DNA das metodologias de ensino.
Clay também batia na tecla da diversidade para gerar inovação de ruptura – o que aqui é contemplado no texto sobre os esforços para incluir mais empresas de mulheres na cadeia de fornecimento (veja pág. 58). Clay falava da importância de andarmos pari passu com as novas tecnologias, e o artigo da Singularity University facilita isso.
Como uma pessoa de muita fé, Clay se preocupava com as pessoas e a compaixão, e os dois assuntos são bem abordados nestas páginas (nas págs. 76 e 64). Não sei o que ele acharia da adoção da ISO da inovação, mas suponho que daria as boas-vindas para tudo que ajudasse empresas de um mercado emergente como o Brasil a fazer esse movimento.