Vale Ocidental

De “grande resignação” para “grande remodelagem”

A guerra por profissionais e a falta de mão de obra levam as empresas do Vale a adotarem estratégias que vão do uso de robôs até campanhas de marketing para conquistar talentos
__Ellen Kiss__ é empreendedora e consultora de inovação especializada em design thinking e transformação digital, com larga experiência no setor financeiro. Em agosto de 2022. após um período sabático, assumiu o posto de diretora do centro de excelência em design do Nubank.

Compartilhar:

Nos EUA, os sinais estão por todo lado. Lojas fechadas por falta de atendentes, hotéis sem serviço de quarto, restaurantes quase sem garçons, falta de professores, obras em ritmo lento. Nos aeroportos, a regra é chegar com antecedência por conta das longas filas na inspeção. Motivo: falta de pessoal.

A pandemia terminou, a economia cresceu, os salários subiram e, nos EUA, há vagas em todo o lugar. A surpresa é o número de norte-americanos que não retornaram ao mercado de trabalho: 3,3 milhões. É a great resignation, êxodo em massa causado pela pandemia, que levou as pessoas a mudanças radicais de carreira e de estilo de vida.

Há de tudo, de trabalhadores que tinham baixa remuneração e hoje rejeitam ofertas “pouco atraentes”, antecipação de aposentadorias, quem só aceita trabalhar em casa, pais que querem passar mais tempo em família; e quem tirou um sabático. O melhor resumo foi a resposta de um entrevistado para um programa de TV: se antes os trabalhadores insatisfeitos reclamavam do trabalho; hoje simplesmente pedem demissão.

No Vale do Silício, a situação não é muito diferente. É certo que as empresas da região oferecem salários 70% acima da média do restante dos Estados Unidos. Com taxa de desemprego regional de apenas 2% (contra 3,5% no resto do país), o mercado de trabalho é ainda mais competitivo, redobrando os esforços para atrair e reter pessoas. Horário flexível e trabalho remoto são práticas padrão (o que levou a taxa de retorno ao escritório de São Francisco ser de 32%, a mais baixa dos EUA, afetando negativamente pequenos negócios no distrito comercial local). Para atrair talentos, opções pouco usuais de benefícios, como o custeio de tratamentos de fertilidade e a possibilidade de levar animais de estimação ao escritório, entre outros.

O problema da maioria virou oportunidade no mundo febril das startups: uma profusão delas tem projetos para solucionar a escassez de pessoal usando inteligência artificial e robótica. Na Califórnia vê-se táxis autônomos; robôs que elaboram os pratos nos restaurantes, atendentes virtuais direcionando consultas. O uso de IA sacode até mesmo a área de recrutamento.

Ao final, a grande resignação cede lugar para a grande remodelagem, movimento dos empregadores para atender aos anseios de trabalhadores insatisfeitos. Nesse contexto, chamou a atenção a campanha da Amazon enfatizando aumentos salariais, bônus e políticas de flexibilização. A empresa anunciou planos para contratar 125 mil pessoas e precisa de imagem positiva para conseguir atrair interessados. Há empresas mais agressivas, que oferecem incentivo em dinheiro para o candidato concordar em participar da entrevista.

Coincidência ou não, Beyoncé está no topo com Break my Soul, na qual canta {tradução livre para o português}: “Agora, eu simplesmente me apaixonei e acabei de largar o emprego. Eu vou encontrar um novo rumo, porra, eles me fazem trabalhar tão duro. Trabalho das nove até bem depois das cinco. E eles me irritam, é por isso que não consigo dormir à noite.” Um sinal dos novos tempos no âmbito do trabalho?

Artigo publicado na HSM Management nº 154

Compartilhar:

Artigos relacionados

Inovação

Living Intelligence: A nova espécie de colaborador

Estamos entrando na era da Inteligência Viva: sistemas que aprendem, evoluem e tomam decisões como um organismo autônomo. Eles já estão reescrevendo as regras da logística, da medicina e até da criatividade. A pergunta que nenhuma empresa pode ignorar: como liderar equipes quando metade delas não é feita de pessoas?

Liderar GenZ’s: As relações de trabalho estão mudando…

Mais da metade dos jovens trabalhadores já não acredita no valor de um diploma universitário — e esse é só o começo da revolução que está transformando o mercado de trabalho. Com uma relação pragmática com o emprego, a Geração Z encara o trabalho como negócio, não como projeto de vida, desafiando estruturas hierárquicas e modelos de carreira tradicionais. A pergunta que fica: as empresas estão prontas para se adaptar, ou insistirão em um sistema que não conversa mais com a principal força de trabalho do futuro?

Inovação
Estamos entrando na era da Inteligência Viva: sistemas que aprendem, evoluem e tomam decisões como um organismo autônomo. Eles já estão reescrevendo as regras da logística, da medicina e até da criatividade. A pergunta que nenhuma empresa pode ignorar: como liderar equipes quando metade delas não é feita de pessoas?

Átila Persici

6 min de leitura
Gestão de Pessoas
Mais da metade dos jovens trabalhadores já não acredita no valor de um diploma universitário — e esse é só o começo da revolução que está transformando o mercado de trabalho. Com uma relação pragmática com o emprego, a Geração Z encara o trabalho como negócio, não como projeto de vida, desafiando estruturas hierárquicas e modelos de carreira tradicionais. A pergunta que fica: as empresas estão prontas para se adaptar, ou insistirão em um sistema que não conversa mais com a principal força de trabalho do futuro?

Rubens Pimentel

4 min de leitura
Tecnologias exponenciais
US$ 4,4 trilhões anuais. Esse é o prêmio para empresas que souberem integrar agentes de IA autônomos até 2030 (McKinsey). Mas o verdadeiro desafio não é a tecnologia – é reconstruir processos, culturas e lideranças para uma era onde máquinas tomam decisões.

Vitor Maciel

6 min de leitura
ESG
Um ano depois e a chuva escancara desigualdades e nossa relação com o futuro

Anna Luísa Beserra

6 min de leitura
Empreendedorismo
Liderar na era digital: como a ousadia, a IA e a visão além do status quo estão redefinindo o sucesso empresarial

Bruno Padredi

5 min de leitura
Liderança
Conheça os 4 pilares de uma gestão eficaz propostos pelo Vice-Presidente da BossaBox

João Zanocelo

6 min de leitura
Inovação
Eventos não morreram, mas 78% dos participantes já rejeitam formatos ultrapassados. O OASIS Connection chega como antídoto: um laboratório vivo onde IA, wellness e conexões reais recriam o futuro dos negócios

Vanessa Chiarelli Schabbel

5 min de leitura
Marketing
Entenda por que 90% dos lançamentos fracassam quando ignoram a economia comportamental. O Nobel Daniel Kahneman revela como produtos são criados pela lógica, mas comprados pela emoção.

Priscila Alcântara

8 min de leitura
Liderança
Relatórios do ATD 2025 revelam: empresas skills-based se adaptam 40% mais rápido. O segredo? Trilhas de aprendizagem que falam a língua do negócio.

Caroline Verre

4 min de leitura
Liderança
Por em prática nunca é um trabalho fácil, mas sempre é um reaprendizado. Hora de expor isso e fazer o que realmente importa.

Caroline Verre

5 min de leitura