Desenvolvimento pessoal

Depois do unicórnio

Em janeiro, o Brasil viu nascer seu primeiro unicórnio (startup de tecnologia que atingiu o patamar bilionário em valor de mercado), a 99. O ex-CEO do segundo aplicativo de transporte mais usado no país, atrás do Uber, conta os bastidores da negociação com a chinesa Didi Chuxing, e seus próximos passos.

Compartilhar:

**5 – QUAIS OS APRENDIZADOS DA NEGOCIAÇÃO COM OS CHINESES?**

Antes de completarmos a venda de 100% das ações para a Didi Chuxing, havíamos passado por um processo parecido de negociação de uma participação minoritária um ano antes, em uma transação até mais complexa. Então, tínhamos mais experiência e relacionamento nessa segunda vez, o que ajudou bastante.

Os chineses são muito objetivos e pragmáticos. Quando concordam com as ideias, avançam rápido; quando discordam, o processo anda devagar. Como eles não contrariam diretamente os interlocutores na negociação, é fundamental ter um bom ativo e garantir que entendam seu valor para alcançar o sucesso, assim como ter sensibilidade nas conversas para ler nas entrelinhas. Outro elemento importante é falar com as pessoas certas do lado de lá, aquelas que efetivamente tomarão as decisões. Na China, hierarquia é um fator forte e, em geral, os subordinados têm autonomia limitada comparada com o que vemos no Brasil.

**4 – E EM RELAÇÃO À GESTÃO CHINESA? O QUE VOCÊ APRENDEU?**

A escala deles é impressionante – a Didi, sozinha, faz na China mais corridas por aplicativo do que o Uber no mundo inteiro. Então, tem sido um período de muita transformação na 99, e acima de tudo de uma troca rica, em que os dois lados têm aprendido.

Os brasileiros têm mais jogo de cintura, mais cuidado no atendimento e no relacionamento. Já os chineses têm foco, senso de urgência e uma ambição gigante, até pela escala a que estão acostumados.

Aceleramos vários processos na 99 depois que começamos a trabalhar com eles. Lá é assim: se não bateu a meta de corridas da manhã, o que será feito à tarde para compensar? Costumávamos trabalhar com algumas rotinas trimestrais que viraram mensais, e com semanais que viraram diárias. Os chineses têm uma cadência de execução difícil de encontrar no Brasil.

**3 – PASSADOS DOIS MESES DO NEGÓCIO FECHADO, O QUE  MUDOU NA SUA ROTINA?**

Eu saí da transação, assim como meus sócios e investidores; a Didi ficou com 100% das ações. Foi uma negociação boa para todos, com um retorno excelente pelos cinco anos de trabalho na startup.

Como a transação é recente, ainda estou definindo meus próximos passos. Adoro startups e tenho certeza de que o setor de tecnologia irá proporcionar grandes oportunidades na próxima década. Ao longo do ano quero definir como vou trabalhar essas oportunidades.

**SAIBA MAIS SOBRE PAULO VERAS**

**QUEM É:** Cofundador e ex-CEO da 99, aplicativo de mobilidade urbana com 500 mil motoristas e milhões de corridas por mês, que antes de ser comprada pela Didi Chuxing havia recebido investimentos da própria e de Softbank, Riverwood, Tiger Global, Qualcomm e Monashees Capital.

**TRAJETÓRIA:** Membro do conselho da operadora de e-commerce B2W. Foi diretor-geral da Endeavor no Brasil e membro de seu conselho por oito anos, além de engenheiro da Asea Brown Boveri (ABB). É formado em engenharia mecatrônica pela USP e tem MBA pelo Insead, na França.

**EMPREENDIMENTOS:**  Fundou diversas startups digitais desde 1995, incluindo o portal GuiaSP,  a empresa de webdesign Tesla (assim batizada bem antes de Elon Musk ter a ideia) e a produtora de vídeos digitais Pixit.

**2 – EM SUA VISÃO, QUAIS FORAM OS DIFERENCIAIS DA 99 QUE A TRANSFORMARAM NO PRIMEIRO UNICÓRNIO BRASILEIRO?**

Em primeiro lugar, acho que, mesmo com pouco capital, conseguimos atrair pessoas talentosas e comprometidas com o sucesso da empreitada. Sempre tivemos cuidado com o atendimento, tanto de motoristas quanto de passageiros. Essas características geraram diferenciais como mais segurança, um sistema de pagamentos eficiente e um app mais intuitivo e funcional que o dos concorrentes. Dessa forma, construímos um ativo de muito valor em pouco tempo.

Quisemos vender a empresa pela necessidade de capital, principalmente para concorrer com o Uber, que havia levantado bilhões de dólares com investidores. A Didi tem os recursos necessários.

**1 – COMO É CONSTRUIR UMA EMPRESA ATRAENTE MESMO COM CONCORRENTES COMO UBER?**

Creio que esta é a essência do empreendedorismo. Meus tempos na [ONG] Endeavor ajudaram bastante. Bons valores e uma cultura sólida fizeram a diferença em nosso favor. Enquanto os concorrentes ganhavam exposição negativa em função da forma como operavam, a 99 ganhava seguidas vezes o Prêmio ReclameAqui de atendimento no segmento de apps de transporte. Com menos investimento que a EasyTaxi montamos um time mais completo e alinhado para o longo prazo. Também é necessária perseverança, pois a jornada é recheada de desafios.

**DIDI VS. UBER – O ROUND DO BRASIL**

A aquisição da brasileira 99 é mais um indicativo do avanço da Didi Chuxing sobre o território da Uber, iniciado em 2016 quando arrematou os negócios da concorrente californiana na China por US$ 35 bilhões. “A globalização é uma prioridade estratégica máxima para nós. Com investimentos em soluções de Inteligência Artificial continuaremos a avançar na transformação do transporte urbano através de operações e parcerias internacionais diversificadas”, disse Cheng Wei, fundador e CEO da Didi, em comunicado oficial. O app da Didi tem 450 milhões de usuários em mais de mil cidades pelo mundo.

Compartilhar:

Artigos relacionados

Há um fio entre Ada Lovelace e o CESAR

Fora do tempo e do espaço, talvez fosse improvável imaginar qualquer linha que me ligasse a Ada Lovelace. Mais improvável ainda seria incluir, nesse mesmo

Tecnologia e inovação, Empreendedorismo
6 min de leitura
Inovação
Cinco etapas, passo a passo, ajudam você a conseguir o capital para levar seu sonho adiante

Eline Casasola

4 min de leitura
Transformação Digital, Inteligência artificial e gestão
Foco no resultado na era da IA: agilidade como alavanca para a estratégia do negócio acelerada pelo uso da inteligência artificial.
12 min de leitura
Negociação
Em tempos de transformação acelerada, onde cenários mudam mais rápido do que as estratégias conseguem acompanhar, a negociação se tornou muito mais do que uma habilidade tática. Negociar, hoje, é um ato de consciência.

Angelina Bejgrowicz

6 min de leitura
Inclusão
Imagine estar ao lado de fora de uma casa com dezenas de portas, mas todas trancadas. Você tem as chaves certas — seu talento, sua formação, sua vontade de crescer — mas do outro lado, ninguém gira a maçaneta. É assim que muitas pessoas com deficiência se sentem ao tentar acessar o mercado de trabalho.

Carolina Ignarra

4 min de leitura
Saúde Mental
Desenvolver lideranças e ter ferramentas de suporte são dois dos melhores para caminhos para as empresas lidarem com o desafio que, agora, é também uma obrigação legal

Natalia Ubilla

4 min min de leitura
Carreira, Cultura organizacional, Gestão de pessoas
Cris Sabbag, COO da Talento Sênior, e Marcos Inocêncio, então vice-presidente da epharma, discutem o modelo de contratação “talent as a service”, que permite às empresas aproveitar as habilidades de gestores experientes

Coluna Talento Sênior

4 min de leitura
Uncategorized, Inteligência Artificial

Coluna GEP

5 min de leitura
Cobertura de evento
Cobertura HSM Management do “evento de eventos” mostra como o tempo de conexão pode ser mais bem investido para alavancar o aprendizado

Redação HSM Management

2 min de leitura