Do feed do LinkedIn à mesa de bar, não se fala em outra coisa a não ser sobre os avanços da inteligência artificial (IA). As reações e opiniões são variadas: há quem veja a inovação com entusiasmo, outros com reticências e alguns evitando sequer mergulhar no assunto e com certo ceticismo. Mas em meio a esse boom de informações, uma questão é recorrente nas rodas de conversa em que participo: afinal, a IA vai roubar os empregos?
As respostas são inúmeras, desde discursos mais fervorosos até visões utópicas. Considero que precisamos ser práticos, realistas e, acima de tudo, curiosos e questionadores. Afinal, apesar de todas as previsões futurísticas, o que está por vir ainda é incerto, com algumas tendências mais claras e previsíveis.
O GPT e outras tecnologias de IA têm o potencial de automatizar e otimizar certas tarefas, o que pode levar à criação de novas oportunidades de emprego, a transformação da natureza do trabalho em muitas indústrias e até mesmo a substituição de algumas atividades que antes eram realizadas manualmente por seres humanos.
Alguns dizem que viveremos a era das “profissões aumentadas”, já que ao eliminar atividades operacionais, o ganho de performance de um indivíduo pode aumentar exponencialmente.
É inegável que a IA tem o potencial de otimizar setores e isso levará à redução de atividades operacionais. Indústrias consolidadas como call center e atendimento, entre outras que dependiam exclusivamente da interação humana, estão na mira dessa revolução tecnológica.
Olhando sob essa ótica, a resposta para a pergunta que abre o texto é sim, as atividades operacionais estão ameaçadas. Esses processos de mudança, apesar de naturais no curso da história, são dolorosos, e, à primeira vista, podem ser bastante pessimistas.
Porém, entendo que de nada adianta nadar contra a maré. É importante adotarmos uma perspectiva atuante e que busque retornos positivos à sociedade, frente a uma transformação tecnológica inevitável, algo que nossos ancestrais já enfrentaram, a duras penas, em períodos históricos como a primeira revolução industrial, há mais de dois séculos.
Nesse contexto, te convido a refletir sobre dois aspectos importantes:
## 1 – O humano sempre se adapta às inovações tecnológicas
Ao longo da história, o ser humano sempre se adaptou às inovações tecnológicas. Desde a revolução industrial até a era da informação, testemunhamos a capacidade humana de se reinventar diante das mudanças. E não será diferente com a inteligência artificial.
O desaparecimento do call center, por exemplo, pode ser uma perspectiva assustadora para muitos que trabalham nesse setor, mas não há como ter certeza do que de fato virá. Assim como deve ter sido para os profissionais que conduziam carroças e charretes quando vieram os automóveis, ou quando os escrivães do século 15 foram aos poucos sendo substituídos pela impressora inventada por Johannes Gutenberg. Nesses dois últimos casos, sabemos bem o impacto irreversível do transporte via automóveis ou da disseminação sem precedentes da educação com a facilidade de imprimir fontes de conhecimento. Consegue imaginar hoje viver sem tais ferramentas?
A IA conversacional tem o potencial de abrir portas para novas oportunidades em outros campos digitais. Novos empregos surgirão nesse mercado em constante transformação, e precisaremos estar preparados para abraçar essas mudanças. O processo de mudança vem com alguma dor. Grande parte dos profissionais não estão habilitados e preparados com as competências necessárias, e algumas delas levam tempo para serem desenvolvidas.
Para isso, novas habilidades e competências serão exigidas dos profissionais. Copilotar a IA requer pensamento crítico, habilidade para fazer perguntas e technology literacy (ou alfabetização tecnológica, na tradução), a capacidade de usar, compreender, gerenciar e analisar a tecnologia de forma segura, eficaz e responsável.
À medida que certas tarefas são automatizadas, novas habilidades e funções podem se tornar mais relevantes, abrindo espaço para trabalhos mais especializados, criativos e de gestão de tecnologia.
## 2 – Qual será o compromisso e a responsabilidade das empresas nisso?
E aqui entra o papel crucial das empresas. Aquelas que abraçarem a IA precisam assumir a responsabilidade de lidar com o impacto social dessa revolução tecnológica. Ao adotar a automação, um bom caminho para que essas empresas atenuem os impactos sociais gerados é criar programas de qualificação profissional para os trabalhadores afetados. Não se trata apenas de substituir o emprego, mas de promover uma transição ética para uma nova realidade.
Quando falamos de ESG (governança ambiental, social e corporativa) nas empresas de IA, não podemos deixar de lado o “S” de social. Se empresas lidam com impactos negativos, como o desmatamento de empregos, é dever delas reflorestar esse campo de trabalho, investindo em educação e treinamento para garantir que os profissionais sejam capazes de se adaptar e prosperar nessa nova era.
A verdade é que a IA está chegando, e mudanças no mercado de trabalho são inevitáveis. No entanto, o ser humano sempre encontrou uma maneira de evoluir e se reinventar. Espero que possamos enxergar a IA como uma oportunidade de crescimento, desde que estejamos dispostos a aprender e a enfrentar os desafios que essa transformação trará. E que, como empresas, empregaremos mais do que nunca o nosso compromisso com o impacto social de nossas ações e em como geramos o bem para a sociedade.
Portanto, a pergunta não deve ser se a IA vai roubar empregos, mas sim como nós, como sociedade, empresas e indivíduos, nos adaptaremos para prosperar em um futuro impulsionado pela inteligência artificial. A hora de encararmos a mudança de frente e assumirmos nosso compromisso em criarmos um futuro harmonioso e vantajoso para todos já chegou.