Inteligência artificial e gestão

Desmatamento no mercado de trabalho: quais os impactos da IA?

É inegável que a inteligência artificial já está modificando o mundo corporativo e as atividades operacionais estão ameaçadas pela tecnologia, mas é preciso ter em mente que o humano sempre se adapta às inovações tecnológicas
Marília Tosetto é a atual diretora de people operations na Blip. Formada em psicologia pela Universidade de Passo Fundo e cursando pós-graduação em psicologia positiva, ciência do bem-estar e autorrealização, a executiva atuou durante 3 anos na Stilingue e possui passagens pela RDStation e AIESEC Brasil e Egito.

Compartilhar:

Do feed do LinkedIn à mesa de bar, não se fala em outra coisa a não ser sobre os avanços da inteligência artificial (IA). As reações e opiniões são variadas: há quem veja a inovação com entusiasmo, outros com reticências e alguns evitando sequer mergulhar no assunto e com certo ceticismo. Mas em meio a esse boom de informações, uma questão é recorrente nas rodas de conversa em que participo: afinal, a IA vai roubar os empregos?

As respostas são inúmeras, desde discursos mais fervorosos até visões utópicas. Considero que precisamos ser práticos, realistas e, acima de tudo, curiosos e questionadores. Afinal, apesar de todas as previsões futurísticas, o que está por vir ainda é incerto, com algumas tendências mais claras e previsíveis.

O GPT e outras tecnologias de IA têm o potencial de automatizar e otimizar certas tarefas, o que pode levar à criação de novas oportunidades de emprego, a transformação da natureza do trabalho em muitas indústrias e até mesmo a substituição de algumas atividades que antes eram realizadas manualmente por seres humanos.

Alguns dizem que viveremos a era das “profissões aumentadas”, já que ao eliminar atividades operacionais, o ganho de performance de um indivíduo pode aumentar exponencialmente.

É inegável que a IA tem o potencial de otimizar setores e isso levará à redução de atividades operacionais. Indústrias consolidadas como call center e atendimento, entre outras que dependiam exclusivamente da interação humana, estão na mira dessa revolução tecnológica.

Olhando sob essa ótica, a resposta para a pergunta que abre o texto é sim, as atividades operacionais estão ameaçadas. Esses processos de mudança, apesar de naturais no curso da história, são dolorosos, e, à primeira vista, podem ser bastante pessimistas.

Porém, entendo que de nada adianta nadar contra a maré. É importante adotarmos uma perspectiva atuante e que busque retornos positivos à sociedade, frente a uma transformação tecnológica inevitável, algo que nossos ancestrais já enfrentaram, a duras penas, em períodos históricos como a primeira revolução industrial, há mais de dois séculos.

Nesse contexto, te convido a refletir sobre dois aspectos importantes:

## 1 – O humano sempre se adapta às inovações tecnológicas
Ao longo da história, o ser humano sempre se adaptou às inovações tecnológicas. Desde a revolução industrial até a era da informação, testemunhamos a capacidade humana de se reinventar diante das mudanças. E não será diferente com a inteligência artificial.

O desaparecimento do call center, por exemplo, pode ser uma perspectiva assustadora para muitos que trabalham nesse setor, mas não há como ter certeza do que de fato virá. Assim como deve ter sido para os profissionais que conduziam carroças e charretes quando vieram os automóveis, ou quando os escrivães do século 15 foram aos poucos sendo substituídos pela impressora inventada por Johannes Gutenberg. Nesses dois últimos casos, sabemos bem o impacto irreversível do transporte via automóveis ou da disseminação sem precedentes da educação com a facilidade de imprimir fontes de conhecimento. Consegue imaginar hoje viver sem tais ferramentas?

A IA conversacional tem o potencial de abrir portas para novas oportunidades em outros campos digitais. Novos empregos surgirão nesse mercado em constante transformação, e precisaremos estar preparados para abraçar essas mudanças. O processo de mudança vem com alguma dor. Grande parte dos profissionais não estão habilitados e preparados com as competências necessárias, e algumas delas levam tempo para serem desenvolvidas.

Para isso, novas habilidades e competências serão exigidas dos profissionais. Copilotar a IA requer pensamento crítico, habilidade para fazer perguntas e technology literacy (ou alfabetização tecnológica, na tradução), a capacidade de usar, compreender, gerenciar e analisar a tecnologia de forma segura, eficaz e responsável.

À medida que certas tarefas são automatizadas, novas habilidades e funções podem se tornar mais relevantes, abrindo espaço para trabalhos mais especializados, criativos e de gestão de tecnologia.

## 2 – Qual será o compromisso e a responsabilidade das empresas nisso?
E aqui entra o papel crucial das empresas. Aquelas que abraçarem a IA precisam assumir a responsabilidade de lidar com o impacto social dessa revolução tecnológica. Ao adotar a automação, um bom caminho para que essas empresas atenuem os impactos sociais gerados é criar programas de qualificação profissional para os trabalhadores afetados. Não se trata apenas de substituir o emprego, mas de promover uma transição ética para uma nova realidade.

Quando falamos de ESG (governança ambiental, social e corporativa) nas empresas de IA, não podemos deixar de lado o “S” de social. Se empresas lidam com impactos negativos, como o desmatamento de empregos, é dever delas reflorestar esse campo de trabalho, investindo em educação e treinamento para garantir que os profissionais sejam capazes de se adaptar e prosperar nessa nova era.

A verdade é que a IA está chegando, e mudanças no mercado de trabalho são inevitáveis. No entanto, o ser humano sempre encontrou uma maneira de evoluir e se reinventar. Espero que possamos enxergar a IA como uma oportunidade de crescimento, desde que estejamos dispostos a aprender e a enfrentar os desafios que essa transformação trará. E que, como empresas, empregaremos mais do que nunca o nosso compromisso com o impacto social de nossas ações e em como geramos o bem para a sociedade.

Portanto, a pergunta não deve ser se a IA vai roubar empregos, mas sim como nós, como sociedade, empresas e indivíduos, nos adaptaremos para prosperar em um futuro impulsionado pela inteligência artificial. A hora de encararmos a mudança de frente e assumirmos nosso compromisso em criarmos um futuro harmonioso e vantajoso para todos já chegou.

Compartilhar:

Artigos relacionados

Calendário

Não, o ano ainda não acabou!

Em meio à letargia de fim de ano, um chamado à consciência: os últimos dias de 2024 são uma oportunidade valiosa de ressignificar trajetórias e construir propósito.

Cultura organizacional, Empreendedorismo
A ilusão da disponibilidade: como a pressão por respostas imediatas e a sensação de conexão contínua prejudicam a produtividade e o bem-estar nas equipes, além de minar a inovação nas organizações modernas.

Dorly

6 min de leitura
ESG
No texto deste mês do colunista Djalma Scartezini, o COO da Egalite escreve sobre os desafios profundos, tanto à saúde mental quanto à produtividade no trabalho, que a dor crônica proporciona. Destacando que empresas e gestores precisam adotar políticas de inclusão que levem em conta as limitações físicas e os altos custos associados ao tratamento, garantindo uma verdadeira equidade no ambiente corporativo.

Djalma Scartezini

4 min de leitura
Gestão de Pessoas
A adoção de políticas de compliance que integram diretrizes claras de inclusão e equidade racial é fundamental para garantir práticas empresariais que vão além do discurso, criando um ambiente corporativo verdadeiramente inclusivo, transparente e em conformidade com a legislação vigente.

Beatriz da Silveira

4 min de leitura
Inovação, Empreendedorismo
Linhas de financiamento para inovação podem ser uma ferramenta essencial para impulsionar o crescimento das empresas sem comprometer sua saúde financeira, especialmente quando associadas a projetos que trazem eficiência, competitividade e pioneirismo ao setor

Eline Casasola

4 min de leitura
Transformação Digital, Estratégia
Este texto é uma aula de Alan Souza, afinal, é preciso construir espaços saudáveis e que sejam possíveis para que a transformação ocorra. Aproveite a leitura!

Alan Souza

4 min de leitura
Liderança
como as virtudes de criatividade e eficiência, adaptabilidade e determinação, além da autorresponsabilidade, sensibilidade, generosidade e vulnerabilidade podem coexistir em um líder?

Lilian Cruz

4 min de leitura
Gestão de Pessoas, Liderança
As novas gerações estão redefinindo o conceito de sucesso no trabalho, priorizando propósito, bem-estar e flexibilidade, enquanto muitas empresas ainda lutam para se adaptar a essa mudança cultural profunda.

Daniel Campos Neto

4 min de leitura
ESG, Empreendedorismo
31/07/2024
O que as empresas podem fazer pelo meio ambiente e para colocar a sustentabilidade no centro da estratégia

Paula Nigro

3 min de leitura
ESG
Exercer a democracia cada vez mais se trata também de se impor na limitação de ideias que não façam sentido para um estado democrático por direito. Precisamos ser mais críticos e tomar cuidado com aquilo que buscamos para nos representar.
3 min de leitura