Assunto pessoal

Distúrbios emocionais atingem 30% dos trabalhadores

Conforme estudo FEEx, da FIA, o ambiente corporativo continua a afetar a vida das pessoas no Brasil mesmo sem pandemia e com apoio psicológico
Sandra Regina da Silva é colaboradora de HSM Management.

Compartilhar:

Muitas empresas se mostram conscientes e preocupadas com a saúde mental dos funcionários, principalmente desde o início da pandemia de covid-19. Entretanto, as ações corporativas, de modo geral, não estão sendo suficientes para promover bem-estar físico e mental dos trabalhadores, principalmente das mulheres.

Isso é o que comprovou o estudo FIA Employee Experience (FEEx), da FIA Business School, que teve a participação de 188 mil pessoas e 419 empresas brasileiras. Mesmo finda a pandemia e mantido o apoio terapêutico, três em cada dez profissionais ainda apresentam sintomas de estresse excessivo e esgotamento mental (a chamada “síndrome de burnout”). E essa não é a única surpresa desagradável trazida pela última FEEx: descobriu-se também que a doença acomete 73% mais mulheres que homens.

A conclusão? O atual ambiente corporativo continua a acionar diversos gatilhos comportamentais e situações psicológicas que afetam a vida das pessoas de forma drástica, como explica Lina Nakata, professora da FIA Business School e uma das responsáveis pela FEEx.

Ao analisar os dados, coletados entre 2020 a 2022 {veja gráfico abaixo}, percebe-se que o pico de burnout (15%) ocorreu no primeiro ano de pandemia, consequência da adoção abrupta do home office, dos temores de contágio pelo vírus, de lutos etc. Nos dois anos seguintes, houve melhor entendimento sobre a pandemia, surgimento das vacinas, acomodação quanto ao trabalho remoto (e depois híbrido, na maioria dos casos, ou retorno presencial) e ações corporativas. Assim, os sintomas de estresse excessivo e de esgotamento mental, somados, reduziram-se de 37% (em 2020) para 30% nos dois últimos anos – o que ainda está muito longe do ideal.

![Thumbs HSM 157-19](//images.ctfassets.net/ucp6tw9r5u7d/5lTagYPH9znZ3KTJj39vWu/841cd0132810b45c97257d4387cbd5de/Thumbs_HSM_157-19.png)

“As empresas, embora estejam tentando evitar o problema, precisam ir além”, observa Nakata. Não basta disponibilizar serviços psicológicos e treinar os líderes para lidar com os desafios nessa seara. Há três frentes a atacar:

__Combater fatores desencadeantes.__ Pelo estudo, a maior queixa dos colaboradores é a sobrecarga de trabalho. Além de estar atenta a isso de modo individualizado, a empresa tem de promover melhorias nos processos – que muitas vezes exigem retrabalho. Nakata ainda sugere atentar: à falta de proximidade entre gestores e funcionários – assim como entre os colaboradores –; aos horários das reuniões fora do expediente; e ao sistema de vigia (intensificado com os modelos de trabalho remoto e híbrido). “Tudo isso gera estresse.”

Algo, entretanto, sobressai nos dados do estudo, segundo Nakata: o ponto que causa maior incômodo varia de acordo com o gênero. Para as mulheres, são os relacionamentos no trabalho; para os homens, a remuneração.

Todas as queixas dos trabalhadores geram impacto negativo na avaliação da experiência do trabalho, exceto uma delas: a autocobrança. Essa pressão sobre si mesmo gera estresse, mas “não vemos que isso faz alguém avaliar mal sua experiência profissional”.

__Observar mais as mulheres.__ De modo geral, elas têm mais sintomas do que os homens. Uma das razões é o fato de assumirem outros papeis além do trabalho, como o cuidado com os filhos e os idosos da família, afazeres domésticos etc. “Além de sentirem mais sobrecarga com os diferentes papéis, as mulheres ainda se exigem mais em cuidados pessoais.”

![Thumbs HSM 157-20](//images.ctfassets.net/ucp6tw9r5u7d/v69am7QDLuxoLxWr7KS58/f8ae67deed2fdabbd0717d4cb079b82e/Thumbs_HSM_157-20.png)

Nakata também atribui o resultado ao fato de a mulher ter maior autoconhecimento e ser mais autêntica nas respostas; muitos homens consideram o sofrimento mental uma fraqueza pessoal, evitando assumi-lo. Então, a cultura organizacional precisa se ajustar para escutar e acolher todos que estejam de alguma forma sofrendo por estresse.

__Ser mais ativo na prevenção.__ Nakata enumera quatro ocorrências comuns nas empresas que devem ser proativamente evitadas, pelas próprias pessoas e por líderes, colegas e RH: 

1. Sentimento de exaustão demora para ser identificado. Há pessoas sentindo angústia antes mesmo de começar a semana? Elas têm picos de ansiedade ou estresse? Incômodos específicos sobre o trabalho? Muitas vezes, a exaustão se esconde atrás da vontade de mostrar empenho e proatividade. 
2. O distanciamento mental da pessoa no trabalho é ignorado. Se alguém evita compromissos sociais, tem dificuldade em se envolver em algum projeto ou função, tem constantes desvios de foco e concentração, isso pode indicar que está emocional e mentalmente distante de seus afazeres.  
3. Não associação entre queda no desempenho e estresse patológico. A qualidade do trabalho e a produtividade estão começando a cair em quem antes trabalhava com engajamento, prazer e excelência? Desconfie.
4. Pressão e preocupação EXCESSIVAs. Se há novos projetos, há mais cobranças. Quando isso passa dos limites por parte do líder (que microgerencia, por exemplo) ou preocupa demais o liderado (até fora do expediente), é mau sinal.

__Leia também: [Saúde mental: um framework e mais cinco medidas](https://www.revistahsm.com.br/post/saude-mental-um-framework-e-mais-cinco-medidas)__

Artigo publicado na HSM Management nº 157.

Compartilhar:

Artigos relacionados

Marketing & growth
21 de outubro de 2025
O maior risco do seu negócio pode estar no preço que você mesmo definiu. E copiar o preço do concorrente pode ser o atalho mais rápido para o prejuízo.

Alexandre Costa - Fundador do grupo Attitude Pricing (Comunidade Brasileira de Profissionais de Pricing)

5 minutos min de leitura
Bem-estar & saúde
20 de outubro de 2025
Nenhuma equipe se torna de alta performance sem segurança psicológica. Por isso, estabelecer segurança psicológica não significa evitar conflitos ou suavizar conversas difíceis, mas sim criar uma cultura em que o debate seja aberto e respeitoso.

Marília Tosetto - Diretora de Talent Management na Blip

4 minutos min de leitura
Inovação & estratégia, Marketing & growth
17 de outubro de 2025
No Brasil, quem não regionaliza a inovação está falando com o país certo na língua errada - e perdendo mercado para quem entende o jogo das parcerias.

Rafael Silva - Head de Parcerias e Alianças na Lecom

3 minutos min de leitura
Bem-estar & saúde, Tecnologia & inteligencia artificial
16 de outubro de 2025
A saúde corporativa está em colapso silencioso - e quem não usar dados para antecipar vai continuar apagando incêndios.

Murilo Wadt - Cofundador e diretor geral da HealthBit

3 minutos min de leitura
Bem-estar & saúde
15 de outubro de 2025
Cuidar da saúde mental virou pauta urgente - nas empresas, nas escolas, nas nossas casas. Em um mundo acelerado e hiperexposto, desacelerar virou ato de coragem.

Viviane Mansi - Conselheira de empresas, mentora e professora

3 minutos min de leitura
Marketing & growth
14 de outubro de 2025
Se 90% da decisão de compra acontece antes do primeiro contato, por que seu time ainda espera o cliente bater na porta?

Mari Genovez - CEO da Matchez

3 minutos min de leitura
ESG
13 de outubro de 2025
ESG não é tendência nem filantropia - é estratégia de negócios. E quando o impacto social é parte da cultura, empresas crescem junto com a sociedade.

Ana Fontes - Empreendeedora social, fundadora da Rede Mulher Empreendedora (RME) e do Instituto RME

3 minutos min de leitura
Gestão de pessoas & arquitetura de trabalho, Estratégia
10 de outubro de 2025
Com mais de um século de história, a Drogaria Araujo mostra que longevidade empresarial se constrói com visão estratégica, cultura forte e design como motor de inovação.

Rodrigo Magnago

6 minutos min de leitura
Gestão de pessoas & arquitetura de trabalho, Liderança
9 de outubro de 2025
Em tempos de alta performance e tecnologia, o verdadeiro diferencial está na empatia: um ativo invisível que transforma vínculos em resultados.

Laís Macedo, Presidente do Future is Now

3 minutos min de leitura
Gestão de pessoas & arquitetura de trabalho, Bem-estar & saúde, Finanças
8 de outubro de 2025
Aos 40, a estabilidade virou exceção - mas também pode ser o início de um novo roteiro, mais consciente, humano e possível.

Lisia Prado, sócia da House of Feelings

5 minutos min de leitura

Baixe agora mesmo a nossa nova edição!

Dossiê #169

TECNOLOGIAS MADE IN BRASIL

Não perdemos todos os bondes; saiba onde, como e por que temos grandes oportunidades de sucesso (se soubermos gerenciar)

Baixe agora mesmo a nossa nova edição!

Dossiê #169

TECNOLOGIAS MADE IN BRASIL

Não perdemos todos os bondes; saiba onde, como e por que temos grandes oportunidades de sucesso (se soubermos gerenciar)