Gestão de Pessoas

Diversidade e antirracismo: empresas exercem o papel fundamental de investir na formação de líderes negros

Maioria no mercado de trabalho, pessoas pretas e pardas têm salários 61,4% mais baixos do que brancas e ainda são poucos os que ocupam espaços de liderança, por isso, medidas de diversidade e inclusão tornam-se urgentes,como iniciativas que promovam a equidade e garantam oportunidades iguais para todos no ambiente de trabalho
Fundadora da Singuê, Consultoria de diversidade que atende empresas como Itaú BBA, Natura e Gerdau.

Compartilhar:

Maioria no mercado de trabalho, pessoas pretas e pardas têm salários 61,4% mais baixos do que brancas e ainda são poucos os que ocupam espaços de liderança

Pretos e pardos são a maioria das pessoas no mercado de trabalho e, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), representavam a fatia de 54,2% das pessoas empregadas em 2022, enquanto os brancos eram 44,7%.

O dado não surpreende porque, no Brasil, a população negra é maior do que a branca, mas o índice traz preocupação ao olhar para o rendimento. A disparidade salarial entre pessoas negras e brancas é de 32 a 35%, segundo dados do estudo Números da Discriminação Racial: desenvolvimento humano, equidade e políticas públicas, produzido em 2023 por Michael França e Alysson Portela.

A população negra ainda é maioria em cargos operacionais e técnicos, com menores salários, e ainda é pouco o incentivo institucional para que avancem aos cargos de liderança, mais bem remunerados nas empresas.

Se seguirmos o que temos visto nos últimos anos em nosso trabalho de consultoria e especialmente quanto ao números de jovens negros nas universidades publicas onde já são maioria, o número de pessoas negras ocupando posições estratégicas nas instituições será sem dúvida maior em breve.

Assim como chegaram nas universidades públicas, especialmente através das políticas afirmativas, mostrando um potencial e até uma performance maior do que média, as empresas já estão sendo impactadas pelo movimento gerado por mais pessoas negras em seus quadros.

Mas ainda há muito o que fazer para garantir a equidade, especialmente no que se refere a políticas de promoção e renda. Para que a presença de pessoas negras em cargos de liderança seja ampliada, o movimento depende também das empresas, além das instituições públicas de governo e educação.

Algumas marcas estão se movimentando para criar ambientes mais inclusivos e de crescimento dentro das empresas. Programas de mentorias, coaching, projetos de capacitação para novos líderes e construção de Planos de Desenvolvimento Individuais são algumas estratégias possíveis para que os funcionários consigam ampliar suas habilidades de forma que alinhem suas próprias perspectivas aos objetivos da empresa.

# Ferramentas para desenvolver novos líderes

Depois de identificar quais as barreiras culturais à inclusão ainda presentes na organização e decidir corrigi-las, os líderes podem optar por diferentes ferramentas. No caso dos programas de mentorias, a ideia é que os líderes, negros ou não negros, sejam preparados para orientar os profissionais em cargos técnicos e operacionais na busca por aperfeiçoamento e especialização na área em que ocupa.

Os programas de desenvolvimento, sempre customizados a depender da necessidade da empresa, trazem insights e discussões que ampliam o autoconhecimento, o senso de coletividade e o desenvolvimento sobre os temas de liderança.

Já os Planos de Desenvolvimento Individual (PDI) são metas criadas por eles, preferencialmente com a orientação dos atuais líderes ou do recursos humanos, que objetivam alavancar a carreira por meio de passos objetivos.

Existem muitas formas de pensar em ampliar a diversidade em cargos de liderança, que consideram tanto o desenvolvimento do profissional, quanto o crescimento da empresa.

Temos visto o sucesso de muitas iniciativas em nossos clientes.

Toda a operação tende a ganhar força quando essas estratégias são construídas com responsabilidade e incentivadas pela organização de forma direta e com ações objetivas. Talentos são mantidos e desenvolvidos neste processo. Essa mudança passa, essencialmente, por ouvir as pessoas pretas e pardas que estão na empresa e acompanhá-las na busca pelo próprio crescimento profissional.

# Mudança urgente, mas que leva tempo

A mobilidade é o movimento que pessoas fazem, sejam famílias ou grupos, num sistema social hierárquico entre diferentes estratos da organização social. É um movimento também financeiro, de passar de uma classe para outra, melhorar a renda e o acesso.

O Brasil ocupa a 60ª posição no ranking do Relatório Global de Mobilidade Social de 2020 do Fórum Econômico Mundial. Com isso, segundo o estudo, uma pessoa de baixa renda demora nove gerações para atingir a renda média da população brasileira. No país, pessoas pretas e pardas estão também entre os mais pobres.

As empresas, ao assumirem um compromisso antirracista, têm potêncial para contribuir com a formação de novas lideranças empresariais negras, melhorar a renda dessa população e impactar assim diretamente o desenvolvimento do país.

Como consequência, a comunicação da empresa com esse grupo da população, que é maioria no Brasil, melhora e amplia as possibilidades de negócio e crescimento. Cada vez mais os consumidores buscam por marcas com objetivos que são alinhados aos seus próprios interesses.

Compartilhar:

Artigos relacionados

Inovação

Living Intelligence: A nova espécie de colaborador

Estamos entrando na era da Inteligência Viva: sistemas que aprendem, evoluem e tomam decisões como um organismo autônomo. Eles já estão reescrevendo as regras da logística, da medicina e até da criatividade. A pergunta que nenhuma empresa pode ignorar: como liderar equipes quando metade delas não é feita de pessoas?

Liderar GenZ’s: As relações de trabalho estão mudando…

Mais da metade dos jovens trabalhadores já não acredita no valor de um diploma universitário — e esse é só o começo da revolução que está transformando o mercado de trabalho. Com uma relação pragmática com o emprego, a Geração Z encara o trabalho como negócio, não como projeto de vida, desafiando estruturas hierárquicas e modelos de carreira tradicionais. A pergunta que fica: as empresas estão prontas para se adaptar, ou insistirão em um sistema que não conversa mais com a principal força de trabalho do futuro?

Empreendedorismo
Contratar um Chief of Staff pode ser a solução que sua empresa precisa para ganhar agilidade e melhorar a governança

Carolina Santos Laboissiere

7 min de leitura
ESG
Quando 84% dos profissionais com deficiência relatam saúde mental afetada no trabalho, a nova NR-1 chega para transformar obrigação legal em oportunidade estratégica. Inclusão real nunca foi tão urgente

Carolina Ignarra

4 min de leitura
ESG
Brasil é o 2º no ranking mundial de burnout e 472 mil licenças em 2024 revelam a epidemia silenciosa que também atinge gestores.
5 min de leitura
Inovação
7 anos depois da reforma trabalhista, empresas ainda não entenderam: flexibilidade legal não basta quando a gestão continua presa ao relógio do século XIX. O resultado? Quiet quitting, burnout e talentos 45+ migrando para o modelo Talent as a Service

Juliana Ramalho

4 min de leitura
ESG
Brasil é o 4º país com mais crises de saúde mental no mundo e 500 mil afastamentos em 2023. As empresas que ignoram esse tsunami pagarão o preço em produtividade e talentos.

Nayara Teixeira

5 min de leitura
Tecnologias exponenciais
Empresas que integram IA preditiva e machine learning ao SAP reduzem custos operacionais em até 30% e antecipam crises em 80% dos casos.

Marcelo Korn

7 min de leitura
Empreendedorismo
Reinventar empresas, repensar sucesso. A megamorfose não é mais uma escolha e sim a única saída.

Alain S. Levi

4 min de leitura
Tecnologias exponenciais
A Inteligência Artificial deixou de ser uma promessa futurista para se tornar o cérebro operacional de organizações inteligentes. Mas, se os algoritmos assumem decisões, qual será o papel dos líderes no comando das empresas? Bem-vindos à era da gestão cognitiva.

Marcelo Murilo

12 min de leitura
ESG
Por que a capacidade de expressar o que sentimos e precisamos pode ser o diferencial mais subestimado das lideranças que realmente transformam.

Eduardo Freire

5 min de leitura
Tecnologias exponenciais
A IA não é só para tech giants: um plano passo a passo para líderes transformarem colaboradores comuns em cientistas de dados — usando ChatGPT, SQL e 360 horas de aprendizado aplicado

Rodrigo Magnago

21 min de leitura